1As viagens e turismo têm desempenhado um papel extremamente importante em várias economias globais nas últimas décadas, apresentando tendências de crescimento. Em 2022, contribuiu com 7,6% para o PIB global, um aumento de 22% em relação a 2021 e apenas 23% abaixo dos níveis de 2019, quando alcançou o recorde de 10,4% (World Travel & Tourism Council, 2023).
2Considerando isto, muitos Países Menos Desenvolvidos (PMDs) veem o turismo como uma forma de alcançar o desenvolvimento desejado, tentando estabelecer-se como destinos turísticos. No entanto, o desenvolvimento do turismo não equivale ao desenvolvimento sustentável, podendo, por vezes, levar ao surgimento e intensificação de determinados problemas e desafios.
3Infelizmente, os estudos de caso sobre os impactos do turismo nos Países Menos Desenvolvidos são escassos, dificultando a análise detalhada dos seus contextos e a implementação de medidas de ação e prevenção. No entanto, apesar da informação limitada disponível, é possível recolher dados que permitem destacar as limitações na otimização do desenvolvimento do turismo para o desenvolvimento nacional, particularmente através das fugas económicas (Diaz Benavides, 2001; Kamuzora and Jeyacheya, 2019), falta de acesso das comunidades locais às cadeias de valor (Snyman and Spenceley, 2012), dificuldade na cobrança de impostos devido à economia informal, desrespeito pelos recursos naturais (Matias et al., 2022), conflitos entre investidores e a população local, turismo sexual (DW, 2023; Martins and Moreira, 2023; Nyanzi et al., 2005), entre outras, que podem resultar na intensificação das desigualdades sociais existentes.
4Deste modo, este estudo tem como objetivo analisar e definir a perceção e as expectativas dos stakeholders em relação à forma como o turismo pode ser utilizado para catalisar o desenvolvimento sustentável, a sua perspetiva sobre os impactos positivos e negativos do turismo, e, assim, permitir a apresentação de possíveis linhas de ação para superar esses desafios.
5O estudo envolveu i) entrevistas semiestruturadas e ii) análise de conteúdo segundo o Modelo da Quíntupla Hélice. Foram realizadas 21 entrevistas entre 13 de maio e 15 de outubro de 2022, com diferentes stakeholders da Guiné-Bissau, categorizados em cinco grupos (hélices): academia, agentes privados, agentes públicos, agentes ambientais e sociedade civil (locais e turistas).
6Os resultados são apresentados e discutidos, juntamente com os aspetos teóricos e empíricos, as limitações e as perspetivas futuras da pesquisa.
7A evolução da literatura sobre turismo para o desenvolvimento e a redução da pobreza passa por quatro principais períodos históricos de abordagem, nos quais diferentes princípios, paradigmas e teorias de desenvolvimento são debatidos (Figura 1).
Figura 1. Evolução da abordagem paradigmática do turismo para o desenvolvimento dos Países Menos Desenvolvidos
Fonte: Elaboração própria, com base nos dados apresentados em Novelli (2017).
8De acordo com a evolução definida por Novelli (2017), a primeira fase, nas décadas de 1950 e 1960, percecionava o turismo como um meio de modernização através do crescimento económico, criação de empregos e partilha de conhecimentos, com a crença de que os seus benefícios eventualmente alcançariam os mais desfavorecidos. Foi também durante este período que começaram a surgir as primeiras abordagens neocoloniais do turismo para o desenvolvimento e a exploração dos recursos naturais pelos países em desenvolvimento.
9Na década de 1970, dominada pelo neoliberalismo económico, o investimento estrangeiro direto era visto como uma forma de estimular economias estagnadas, sendo o investimento em turismo percecionado como uma nova oportunidade para atrair comércio externo. Contudo, no final desta fase, os resultados esperados em relação ao desenvolvimento económico e aos benefícios sociais não haviam sido alcançados. Esta abordagem revelou uma dependência de capital estrangeiro (Clancy, 1999), ineficácia, crescimento económico lento, assim como o aumento das disparidades sociais e económicas e a repatriação de lucros (Brohman, 1996). As culturas locais e as estruturas sociais também foram frequentemente desvalorizadas e enfraquecidas.
10A terceira fase, nas décadas de 1980 e 1990, mantém a perceção do aspeto económico do turismo para o desenvolvimento, como uma forma de saída da dívida, incentivando o investimento estrangeiro e desenvolvendo o setor privado para proporcionar emprego e promover o comércio internacional. No entanto, a década de 1980 também é marcada pelo surgimento de estratégias alternativas que colocam a sustentabilidade ambiental e o envolvimento das comunidades locais como prioridades. É nesta fase que a cultura e o conhecimento locais são colocados como base para o desenvolvimento do turismo, defendendo o desenvolvimento de políticas que combinem a modernização com o conhecimento local e tradicional. No final desta fase, na década de 1990, o lobby antiglobalização entendia o turismo como um avanço das forças capitalistas em lugares e culturas mais remotos. Holden et. al (2011) mencionam autores pós-coloniais que notam o fascínio dos turistas pela pobreza e a sua associação com experiências mais cultural e naturalmente autênticas.
11Na quarta e última fase do modelo de Novelli (2017), nos anos 2000, observa-se uma dificuldade em determinar diretrizes e parâmetros para o desenvolvimento turístico bem-sucedido na redução da pobreza. Pela primeira vez, é introduzido o termo envolvimento tokenistic nas comunidades, usado para definir uma situação em que parece que os locais estão envolvidos no processo de tomada de decisão, quando, na realidade, a sua influência é mínima (Gutierrez, 2023; Tosun, 2000). É nesta fase final que se compreendem as verdadeiras barreiras do turismo e do desenvolvimento, bem como as limitações do progresso socioeconómico alcançado, em grande parte devido à falta de priorização do empoderamento e do fortalecimento de capacidades como meios para o desenvolvimento comunitário, em detrimento dos resultados económicos e dos objetivos comerciais.
12A evolução do conceito de desenvolvimento sustentável e da sua abordagem tende a seguir a mesma cronologia evolutiva representada na Figura 1, com uma tendência para a priorização do crescimento económico, o que, inevitavelmente, resulta em sérias consequências ambientais e sociais, exigindo uma mudança de paradigma.
13É amplamente entendido pelos académicos (Hajian and Jangchi Kashani, 2021; Higgins-Desbiolles, 2010; Mihalic, 2020; Neiva Fernandes and Eusébio, 2014; Pan et al., 2018; Sharpley and Telfer, 2008) que o conceito de desenvolvimento sustentável se consolidou em 1987 com a publicação de Our Common Future, comumente conhecido como Relatório Brundtland.
14Hajian and Jangchi Kashani (2021) na sua análise evolutiva do conceito, fazem uma observação muito interessante sobre a distinção entre os conceitos de desenvolvimento e crescimento, bem como a preferência pelo uso do primeiro. O crescimento é entendido como refletor apenas dos aspetos quantitativos dos países, sem considerar outros elementos qualitativos, como educação, saúde e igualdade. O argumento é que o crescimento é um aumento quantitativo numa escala física, enquanto o desenvolvimento é uma melhoria qualitativa ou a concretização de potencialidades.
15Portanto, o conceito de desenvolvimento sustentável evoluiu de uma estratégia ecológica para o reconhecimento de quatro pilares essenciais: económico, social, cultural e ambiental, transformando-se de um foco na preservação ambiental para uma abordagem mais abrangente.
16O alcance do desenvolvimento sustentável e do turismo sustentável revela-se ainda mais importante nos Países Menos Desenvolvidos, que o entendem como uma alavanca, principalmente económica. Deste modo, seguiremos a ação do turismo, nesses países, nos quatro pilares definidos para a sustentabilidade: impactos económicos, ambientais, culturais e sociais.
17A dimensão económica é inevitavelmente uma das principais prioridades dos PMDs na sua abordagem ao desenvolvimento do turismo, como representado na Figura 2, onde as referências no Diagnostic Trade Integration Study – DTIS – sobre como o turismo pode contribuir para o desenvolvimento são principalmente económicas. Assim sendo, é pertinente avaliar vários aspetos.
Figura 2. Número de referências no DTIS sobre como o turismo pode contribuir para o desenvolvimento (número de DTIS com referências)
Fonte: Elaboração própria, com base nos dados disponíveis em World Tourism Organization et al. (2016)
18Snyman and Spenceley (2012), na sua análise do continente africano, que possui a maior concentração de PMDs, definem três mecanismos-chave do turismo sustentável para a redução da pobreza no continente: (i) emprego, (ii) equidade na propriedade empresarial e (iii) fornecimento através de vínculos às cadeias de valor, nos quais foram observadas várias limitações.
19A oferta de emprego às comunidades locais é uma das formas mais diretas de beneficiar a população e reduzir a pobreza. No entanto, esta realidade nem sempre se verifica, seja pela falta de mão de obra local qualificada ou pela oferta de mão de obra estrangeira qualificada a custos competitivos. A questão requer ação governamental e disposições legais, uma vez que frequentemente existe uma discrepância entre as disposições políticas e o quadro institucional que apoia o emprego local.
20As Maldivas, um país que saiu da categoria de País Menos Desenvolvido em 2011, é um dos países que aborda de forma mais abrangente a questão do emprego local no seu DTIS, tanto em termos de representação de género quanto de representação de trabalhadores locais. Enquanto ainda mantinha o estatuto de PMD, o país enfrentava o desafio de mais da metade dos empregos da atividade turística serem ocupados por trabalhadores estrangeiros, o que levou à criação de disposições legais para limitar o emprego estrangeiro (United Nations Development Programme, 2011).
21Naquilo que diz respeito à equidade na propriedade de empresas, existem diferentes acordos de operação no continente, sendo que os benefícios variam conforme os acordos entre as partes. O envolvimento das comunidades nas condições de equidade, apresentam no community-based tourism (CBT) um nível mais elevado de envolvimento, e mais limitado nas parcerias público-privadas. Contudo, na maioria dos casos, o turismo é operado sem equidade comunitária, sendo comummente observado o modelo puramente privado.
22As iniciativas para o CBT desenvolveram-se principalmente desde a década de 1980, quando o envolvimento da comunidade começou a ser amplamente valorizado (Stone and Stone, 2011). É sugerido que o CBT providencia segurança de subsistência, fugas mínimas de dinheiro, eficiente resolução de conflitos, aumento da capacidade de suporte social das comunidades locais e melhor conservação. A intervenção de várias ONGs e de 36 agências de desenvolvimento permitiu o desenvolvimento de várias destas iniciativas, que proliferam por África, Ásia e neotrópicos.
23Para a redução da pobreza, o nível e distribuição dos benefícios económicos, o CBT depende da atratividade do ativo turístico (Tamir, 2015), do tipo de operação turística, da natureza e do nível de envolvimento da comunidade (Shikida et al., 2010), assim como do destino dos ganhos, se são direcionados para rendimentos privados ou se são canalizados para projetos comunitários e/ou outros mecanismos de distribuição de benefícios.
24São detetados vários problemas associados ao desenvolvimento deste tipo de abordagem, como o elevado custo para a sua fundação e a criação de elevadas expectativas que por vezes não são cumpridas. Também é previsível uma instabilidade por parte dos mecenas dos projetos, que podem retirar os seus apoios a qualquer momento, visto raramente existir uma obrigatoriedade e compromisso de apoio até ao projeto ser sustentável. É igualmente importante referir que, frequentemente, as comunidades não estão capacitadas para providenciar serviços que estejam ao nível do padrão requeridos pelos turistas, deixando grandes operações turísticas sem competição ou incentivos para distribuição de riqueza.
25Deste modo, é possível concluir que o conceito desta abordagem comunitária necessita de ser reconfigurada (Burgos and Mertens, 2017; Spenceley, 2008), principalmente quando o principal objetivo passa pela diminuição dos níveis de pobreza, colocando a sustentabilidade dos projetos, o foco comercial e a independência financeira de terceiros como iguais prioridades, aliadas à capacitação, sustentabilidade e justiça sociais, garantindo a capitalização e otimização máxima dos projetos.
26Ainda referente à equidade na propriedade de empresas, existem três outras possibilidades, as parcerias público-privadas (PPPs) e joint ventures (empreendimento conjunto) e a abordagem puramente privada.
27Um dos melhores exemplos de sucesso das parcerias público-privadas (PPPs) e joint ventures é representado no estudo realizado por Varghese (2008) à estratégia de comercialização dos parques naturais da África do Sul (SANParks), através de uma parceria público-privada que tinha como principais objetivos a redução da dependência de fundos estatais e a melhoria da eficiência de serviços. Neste caso, a combinação da experiência em conservação por parte das entidades públicas dos parques naturais, com a experiência de negócios das empresas privadas permitiu uma maximização dos seus benefícios, através da criação de emprego, da melhoria dos serviços prestados, das infraestruturas, da capacitação da mão-de-obra e do desenvolvimento das comunidades o que, consequentemente, permitiu diminuir o seu nível de pobreza através do emprego sustentável.
28Outra perspetiva do desenvolvimento bem-sucedido de um negócio em turismo, do qual as comunidades locais podem beneficiar, e que começa a substituir as iniciativas CBT na África subsariana, é das parcerias joint ventures. Esta iniciativa reconheceu que as parcerias em que as comunidades providenciam os recursos (por exemplos, terras ou atrações naturais) e o sector privado contribui com a perspetiva de negócio e de rede (por exemplo, bases de clientes, contactos com operadores turísticos, planeamento de negócios e experiência de promoção), permite criar uma dinâmica da qual beneficiam as duas partes (Snyman and Spenceley, 2012).
29Estes empreendimentos conjuntos entre as comunidades e os operadores privados do turismo podem possuir um grande potencial, gerando receitas, e são mais prováveis de obter sucesso do que projetos unicamente comunitários. Porém, as comunidades frequentemente necessitarão de assistência para organização e reivindicação dos seus direitos, assim como para compreenderem as suas obrigações nas parcerias.
30A última abordagem, diz respeito ao investimento exclusivo do setor privado e é comummente utilizada pelos Estados africanos, como consequência da falta de foco comercial para gerar receitas, apoiando-se assim no setor privado para assistência de gestão e manutenção.
31As principais vantagens do investimento privado passam pela sua experiência em identificar oportunidades, em desenvolver planos estratégicos de negócios, vendas e marketing, em estabelecer contactos com outros stakeholders, alargando a sua network, apoiando atividades secundárias, como a alimentar, o artesanato ou as limpezas, o que potencializa a adoção de estratégias eficientes para o desenvolvimento dos destinos e dos benefícios para as comunidades e dos seus meios de subsistência (Simpson, 2008). Porém, esta abordagem possui uma grande limitação para o sucesso dos benefícios comunitários e redução dos níveis de pobreza, estando dependente de objetivos éticos e do envolvimento que cada investidor pretende ter para com a comunidade, através da oferta de emprego a locais, ações de filantropia, construção e desenvolvimento de infraestruturas e de projetos sociais.
32O terceiro e último mecanismo-chave é a aquisição através de ligações às cadeias de valor, estando diretamente relacionado com os dois primeiros. O termo cadeia de valor refere-se à sequência de atividades relacionadas com negócios, desde o fornecimento de inputs específicos para um determinado produto, passando pela produção primária, transformação, marketing, até à venda do produto final aos consumidores (Springer-Heinze, 2007).
33Deste modo, definindo-se cadeia de valor, constata-se a grande abrangência e diversidade das cadeias de valor em turismo, desde os serviços de animação turística, até à alimentação, passando pelos transportes e serviços de limpeza. Garantindo o acesso das comunidades locais às cadeias de valor, aumentam-se os níveis de emprego, capacitação, sustentabilidade e desenvolvimento, enquanto se diminuem os níveis de pobreza, apresentando maior potencial para benefício financeiro das comunidades o alojamento, alimentação, artesanato, compras e excursões. Sendo o turismo uma atividade económica extremamente complexa, dependente de várias outras atividades, como os transportes, alojamento e retalho, e sendo igualmente uma atividade exportadora que depende da compra por parte do turista no seu país de origem, mas que viaja para consumir num outro país, são frequentemente levantadas questões relacionadas com as leakages económicas, isto é, as fugas de capital da atividade turística.
34Durante um simpósio organizado pela UNCTAD sobre Serviços em Turismo, Diaz Benavides (2001) define o processo de leakage como o processo no qual parte das receitas geradas pelo turismo, em vez de serem retidas pelos países recetores de turistas, são retidas pelos países de origem dos turistas, ou são repatriadas na forma de lucros, rendas e remessa de royalties, reembolso de empréstimos estrangeiros, importações de equipamentos, materiais, bens de capital e de consumo para atender as necessidades de turistas internacionais e despesas promocionais no exterior, sendo que a UNEP-WCMC avança com valores que podem chegar aos 80% de receitas retidas ou repatriadas para fora dos países recetores de turismo, como citado em Kamuzora and Jeyacheya (2019), sendo o número real bastante difícil de precisar, variando para cada território e realidade político-económica.
35Para abordar esta questão, é necessário compreender as razões pelas quais ela ocorre de forma tão proeminente em Países Menos Desenvolvidos e Países em Desenvolvimento (Kamuzora and Jeyacheya, 2019; Kariyapol and Agarwal, 2020; Rylance and Spenceley, 2017), com um foco particular no Caribe e na África Oriental. Em primeiro lugar, como resultado da falta de indústrias, do acesso limitado a matérias-primas, da falta de mão de obra qualificada e dos baixos rendimentos por parte da população local que impossibilita o investimento nacional, são países com uma enorme dependência de investimento estrangeiro, de negócios multinacionais de lazer e hospitalidade, assim como de turistas estrangeiros, o que os tornará extremamente vulneráveis a estas fugas de receitas.
36Deste modo, estes países enfrentam três desafios para se apropriarem economicamente dos benefícios do turismo: (i) acesso às cadeias de valor, (ii) (des)equilíbrio entre proprietários de negócios nacionais e estrangeiros e (iii) desenvolvimento ao nível das infraestruturas, educação e capacitação da população local.
37A dimensão ambiental para a sustentabilidade é outro desafio global definido nos ODSs, sendo que os impactos do turismo nesta esfera são cada vez mais avaliados, tendo em conta a enorme pressão que este coloca sobre o ambiente e a exploração dos seus recursos. Inevitavelmente, a atividade turística consumirá recursos naturais, contudo, é cada vez mais observado um consumo excessivo, que representa uma ameaça acrescida para os territórios de interesse natural, atrativos para o turismo, mas com oferta de recursos a priori mais limitados e vulneráveis.
38Portanto, existem vários impactos negativos do turismo insustentável no ambiente (Matias et al., 2022), como a imprópria utilização das terras, nomeadamente no desequilíbrio da urbanização para o turismo, alteração dos padrões hidráulicos, contaminação da água, aumento da produção de lixo, perda de habitats naturais e ameaça aos ecossistemas e espécies. Estes desafios ambientais acarretam consequências sociais, particularmente para as comunidades locais dependentes dos recursos naturais, impactando a sua subsistência e economia. Isto destaca a transversalidade da insustentabilidade ambiental nas dimensões do turismo sustentável.
39Os Países Menos Desenvolvidos e em Desenvolvimento são os territórios mais vulneráveis a estas ameaças. Normalmente, não possuem serviços de saneamento e tratamento de resíduos, e as atividades turísticas agravam estes problemas e aumentam os níveis de poluição. A definição de legislação para a proteção ambiental é, cada vez mais, uma prioridade para estes países, contudo, é comum enfrentarem desafios na alocação de recursos, capacitação e fiscalização, o que afeta a aplicabilidade da legislação definida (Kolhoff et al., 2013).
40Por último, na análise da sustentabilidade, são apresentados os aspetos sociais e culturais. Considerando o turismo como o processo migratório que atualmente mais promove o contacto intercultural, dele decorrerão várias consequências positivas e negativas. Através da perspetiva positiva, podemos afirmar que as comunidades conseguem beneficiar desta partilha, principalmente pela troca de conhecimentos, competências, técnicas, experiências e ideias, potenciando-se o seu desenvolvimento e a tolerância cultural. Contudo, impactos negativos como o aumento de conflitos, crime, degradação da cultura indígena, erosão de valores e diluição do caráter multicultural da sociedade são mencionados (Lei et al., 2023). A assimilação cultural, particularmente em Países Menos Desenvolvidos, envolve a adoção de comportamentos semelhantes aos dos turistas e a adaptação dos serviços locais às expectativas e padrões dos estrangeiros.
41Estas preocupações são apoiadas e comprovadas pelos testemunhos recolhidos nas entrevistas realizadas aos stakeholders do estudo de caso, a Guiné-Bissau. O governo deste mesmo país destaca-se por, recentemente, após inúmeras queixas e reivindicações por parte da população local, ter lançado um despacho para a obrigatoriedade de todos os restaurantes no espaço nacional incluírem pratos de gastronomia local (Ministério do Turismo e Artesanato, 2022).
42É importante salientar que as medidas de proteção cultural beneficiam não só a preservação dos elementos culturais dos países, como também permitem conservar a singularidade do destino, possibilitando a sua sustentabilidade enquanto destino cultural atrativo.
43A Guiné-Bissau, classificada como País Menos Desenvolvido desde 1981 pelas Nações Unidas, é atualmente um dos países mais pobres e frágeis do mundo, com uma fragilidade política e institucional que remonta à sua independência do domínio colonial português. Localiza-se na África Ocidental, fazendo fronteira com o Senegal, a Norte, com a Guiné, a Este e a Sudeste, e com o Oceano Atlântico a Sul e Oeste. A sua superfície é de 36125 km2, sendo 1500 km2 referentes à região insular do país, o arquipélago dos Bijagós, atingindo a extensão máxima de 300 km, e uma largura de cerca de 250 km.
Figura 3. Contexto geográfico da Guiné-Bissau
Fonte: elaboração própria
44O país é um dos mais instáveis politicamente, e mais propenso a golpes de Estado, contando com quatro golpes de Estado registados, e com 16 tentativas de golpe, desde a sua independência (World Bank, 2023), afetando as situações económica e social do país e representando um obstáculo ao seu desenvolvimento. Esta instabilidade também se reflete nas organizações nacionais de turismo que, desde 2000, sofreram mais de 15 mudanças institucionais, com variações frequentes de estatuto, entre secretariado e ministério (Monteiro, 2022), assim como as suas designações.
45A instabilidade nos órgãos governamentais do turismo cria obstáculos significativos na definição de planos estratégicos para o turismo no país, bem como para a sua implementação bem-sucedida, uma vez que não existem condições para a continuidade dos programas estratégicos. Esta mesma situação política afetará a atração de investidores estrangeiros, dos quais a Guiné-Bissau depende para criar condições para o desenvolvimento do turismo, principalmente no que diz respeito às infraestruturas.
46Nas últimas duas décadas, o país tem apresentado uma tendência crescente na entrada de passageiros estrangeiros (Figura 4), tendo começado com a entrada de 7.800 passageiros em 2001 e atingido o valor de 52.400 em 2019. Apesar de alcançar valores bastante elevados, quando comparados ao início da década, em 2019 houve uma diminuição de aproximadamente 5% em relação ao ano anterior, 2018. Embora seja difícil definir as causas dessa diminuição, o ano de 2019 foi, mais uma vez, marcado pela política, com eleições presidenciais acompanhadas de perto pela ONU (United Nations, 2019), o que pode justificar esta variação percentual.
47O período entre 2012 e 2014 é marcado pela estagnação da tendência de crescimento na entrada de passageiros no país, provavelmente causada pelo golpe de Estado de 2012. Os anos de 2002, 2003 e 2004 não possuem dados disponíveis, assim como os anos posteriores a 2019, o que limita uma análise mais detalhada para evidenciar tendências mais recentes.
Figura 4. Entrada de passageiros estrangeiros na Guiné-Bissau (2001-2019)
*Sem dados disponíveis
Fonte: elaboração própria, baseada em dados disponíveis em (World Bank, 2024).
48Os autores analisaram os alojamentos turísticos na Guiné-Bissau utilizando várias fontes, como Booking.com, Airbnb, guias turísticos de ONGs e o IBAP, permitindo listar os alojamentos do país e mapeá-los. O mercado informal na Guiné-Bissau exige uma pesquisa aprofundada e o cruzamento de várias fontes para obter uma lista abrangente e precisa. Porém, é importante notar que os dados apresentados, embora utilizados como referência, não são vinculativos.
49A capital, com 46% dos alojamentos existentes no país, apresenta uma elevada concentração, essencialmente motivada por uma concentração equivalente de meios de transporte, acesso a bens e serviços, bem como pelo turismo de negócios em Bissau.
50Em segundo lugar, com 26% dos alojamentos do território guineense, está o Arquipélago dos Bijagós, o principal destino de sol e praia da Guiné-Bissau, turismo ornitológico, de pesca e sexual, justificando-se assim a sua concentração. Apesar das dezenas de ilhas que compõe o arquipélago, é observada uma concentração na ilha de Bubaque, com 16 dos 31 alojamentos existentes. Esta concentração é motivada pelos acessos, sendo que Bubaque dispõe de um porto, onde chegam barcos de passageiros diretamente da capital, Bissau, facilitando a chegada de visitantes. É comum que os turistas, ao visitarem as ilhas circundantes, cheguem ao porto e, a partir daí, usem lanchas rápidas oferecidas pelos alojamentos para chegar ao destino final. O transporte para as restantes ilhas está dependente de serviços de transporte providenciados pelos próprios alojamentos, com pequenas lanchas, o que dificulta e encarece as viagens. A título de exemplo, para viajar para a ilha de Keré, o turista deverá deslocar-se até Quinhamel e, daí, apanhar a lancha para o alojamento. Sobre a referida centralização, é importante mencionar que Bubaque é o maior destino de turismo sexual no país, o que é relevante para compreender a quantidade e a variedade dos serviços existentes.
51Os restantes alojamentos distribuem-se pelo território continental da Guiné-Bissau, com especial predominância em áreas costeiras ou próximas, como Canchungo, Buba, Quinhamel, Cacheu, Varela ou Mansoa. Destes territórios, é de salientar o potencial da região de Varela, a única grande praia continental da Guiné-Bissau, com uma extensão de 35 quilómetros de areal, tornando-o o principal destino com potencial para a construção de resorts e investimento no turismo all-inclusive e de massas, representando atualmente uma das prioridades de captação de investimento por parte da Direção Geral de Promoção e Investimento Turístico e Hoteleiro, de modo a evitar uma concentração no Arquipélago dos Bijagós e a proteger a sua biodiversidade (Kassimo Cunha, 2022).
52A metodologia utilizada para recolher a perceção dos stakeholders sobre o turismo na Guiné-Bissau foi a entrevista semiestruturada, devido à sua flexibilidade (Bryman, 2012; Hofisi et al., 2014; Veal, 2018), o que foi, de fato, necessário, permitindo a possibilidade de modificar perguntas e investigar questões subjacentes, que se revelaram relevantes durante a condução das entrevistas.A informação disponível sobre o turismo na Guiné-Bissau, assim como a perceção dos stakeholders sobre o tema, é bastante limitada e incompleta, tornando imprudente o desenvolvimento de uma entrevista estruturada e/ou com perguntas fechadas e pré-codificadas. Nesse contexto, foi adequado garantir que os entrevistados tivessem a flexibilidade necessária para expor questões que, muito provavelmente, não seriam conhecidas pela investigadora.
53Um total de 21 entrevistas semiestruturadas foi realizado entre 13 de maio e 15 de outubro de 2022, sendo 13 presenciais e 8 por telemóvel (usando o WhatsApp), com diversos stakeholders do turismo, divididos em 5 grupos distintos. Foram entrevistados 2 agentes públicos, 5 agentes privados, 4 da academia, 1 agente ambiental, 5 da sociedade civil – locais, e 4 da sociedade civil – turistas, de acordo com o Modelo da Quíntupla Hélice. As entrevistas foram gravadas, exceto a Entrevista n.º 13, conforme solicitado pelo entrevistado. A análise de conteúdo foi realizada utilizando o NVivo.
54Aquando da definição do painel de entrevistados, foi escolhido o modelo de inovação da Quíntupla Hélice, que compreende cincos hélices/perspetivas, agentes públicos e privados, academia, sociedade civil e ambiente. Este modelo de inovação, com origem na Tripla Hélice, foi sofrendo alterações e melhorias, acompanhando a evolução socioeconómica do século XXI.
55A Tripla Hélice, centrada na Academia, Indústrias e relações governamentais, enfatiza a produção de conhecimento e inovação como resultado da interação entre instituições, academia e negócios. A Quádrupla Hélice adiciona o conhecimento/perspetiva da sociedade civil ao modelo, defendendo que, para atingir o desenvolvimento sustentável de uma economia de conhecimento, é requerida uma coevolução com o conhecimento social (Maruccia et al., 2020).
56A Quíntupla Hélice é o modelo mais amplo, contextualizando a terceira e quarta hélices, e adicionando a perspetiva ambiental, reforçando a necessária transição socio ecológica da economia e sociedade atuais. Neste modelo de inovação, a sociedade e os ambientes naturais da economia também devem ser impulsionadores da produção de conhecimento e inovação, definindo oportunidades para a economia do conhecimento (Carayannis et al., 2012).
57Seguindo a evolução da abordagem da sustentabilidade no turismo e a inclusão de todos os agentes durante o processo de desenvolvimento, mostrou-se pertinente incluir os cinco agentes no grupo de entrevistados e categorizar as suas respostas, permitindo uma análise mais detalhada dos resultados e a deteção de concordâncias e divergências de perspetivas entre eles. No entanto, como apontado por Iqbal et al. (2022) o fenómeno deve ser analisado como um todo e não como a soma de componentes individuais, pois eles interagem e evoluem na forma de clusters, e esses clusters estão, por sua vez, interconectados com outros.
58Duas das questões mais relevantes para entender a perceção dos stakeholders sobre o turismo e o seu possível papel no desenvolvimento sustentável do país dizem respeito às vantagens e desvantagens percecionadas.
59Relativamente às vantagens (Figura 5), existe um consenso entre os diferentes grupos sobre as vantagens económicas do turismo, com uma alta percentagem de respostas focadas no crescimento económico, criação de empregos, desenvolvimento do setor primário, atração de investimentos e, consequentemente, na redução dos níveis de pobreza e melhoria da qualidade de vida da população. Com uma representação menor, os entrevistados acreditam que o turismo poderia beneficiar a imagem internacional do país, o desenvolvimento de pesquisas científicas no território e a valorização da cultura nacional.
Figura 5. Perceção dos stakeholders sobre as vantagens do turismo na Guiné-Bissau
Fonte dos dados: entrevista semiestruturada, ‘Perceção dos stakeholders sobre o turismo na Guiné-Bissau’, realizada de 13 de maio a 15 de outubro de 2022.
60Ao analisar a perceção sobre as desvantagens do turismo (Figura 6), não se observa o mesmo consenso. Embora o turismo sexual seja a desvantagem mais mencionada, nota-se a ausência de referências por parte dos agentes ambientais e da sociedade civil – turistas. Outro ponto importante a ser mencionado é a nacionalidade dos entrevistados, pois 100% das referências são de cidadãos de nacionalidade guineense, destacando a diferença na perceção e/ou preocupação entre a população local e os seus visitantes e investidores. Realça-se que, no último caso, nenhum dos investidores estrangeiros entrevistados expressou preocupação com esse fenómeno social no país.
61Esta questão revelou a vantagem e a importância do Modelo Quíntupla Hélice, considerando que apresentou perceções diferentes entre os entrevistados, principalmente ao considerar a sociedade civil – turistas, que raramente mencionou desvantagens para a comunidade, mas principalmente para a preservação do destino turístico, como a aculturação.
62Em segundo lugar, com uma representação de 15%, é mencionada o aumento do crime no país, com um total de 6 respostas, das quais 3 menções referiram-se ao tráfico de drogas e 2 ao tráfico de seres humanos. A perspetiva dos intervenientes segue a atual pontuação de criminalidade do país, 5.10, onde ambas as questões são referidas (Global Initiative Against Transnational Organized Crime, 2023).
63Com um total de 5 respostas cada, a aculturação e a degradação ambiental são apresentadas como preocupações e, com menor ênfase, o turismo de massas, a sobreindustrialização, a apropriação cultural, os choques culturais e os conflitos entre locais e investidores.
64A Guiné-Bissau é extremamente vulnerável às ameaças ambientais, notavelmente devido à falta de redes de saneamento, acesso limitado à água potável para a população, fácil contaminação de corpos hídricos e deficiência nos serviços de tratamento de resíduos. Portanto, a preocupação dos stakeholders em relação ao impacto do turismo no meio ambiente é importante e justificada, especialmente considerando a alta dependência da população local da agricultura e da pesca.
65Além disso, 4/5 dos agentes privados e 1/5 da sociedade civil – locais acreditam que a atividade turística não traz desvantagens para a Guiné-Bissau. Esses dados destacam a priorização do crescimento económico pelos agentes privados, muitas vezes em detrimento dos potenciais impactos sociais e ambientais, o que pode representar um obstáculo significativo para a promoção de um modelo de desenvolvimento sustentável.
Figura 6. Perceção dos stakeholders sobre as desvantagens do turismo para a Guiné-Bissau
Fonte dos dados: entrevista semiestruturada, ‘Perceção dos stakeholders sobre o turismo na Guiné-Bissau’, realizada de 13 de maio a 15 de outubro de 2022.
66As considerações sobre a importância do envolvimento da comunidade na atividade turística (Figura 7) concentram-se principalmente nas vantagens da partilha cultural autêntica e na questão da pertença territorial, o que antecipa a gestão e prevenção de conflitos com investidores e operadores turísticos. Devido à diversidade étnica da Guiné-Bissau e à ancestralidade de seu território, a proeminência e importância que a academia e a sociedade civil – local, ambiental e agentes públicos atribuem a esta questão são compreensíveis. Mais uma vez, é evidente a falta de preocupação dos agentes privados com estes aspetos.
Figura 7. Perceção dos stakeholders sobre a importância de envolver as comunidades locais na atividade turística
Fonte dos dados: entrevista semiestruturada, ‘Perceção dos stakeholders sobre o turismo na Guiné-Bissau’, realizada de 13 de maio a 15 de outubro de 2022.
67Os stakeholders foram questionados sobre as competências que consideram imperativas para que a população se possa apropriar dos benefícios do turismo. Entre as várias respostas e sugestões apresentadas (Figura 8), destacam-se o empreendedorismo e a literacia financeira, com o objetivo de capacitar a população a ser um investidor ativo no desenvolvimento do turismo. Em segundo lugar, destacam-se a melhoria das habilidades de comunicação, a redução do analfabetismo, o conhecimento cívico e os investimentos em escolas de hotelaria que permitam o acesso da comunidade às oportunidades de emprego. Devido aos baixos níveis de educação na Guiné-Bissau, o seu isolamento territorial, político e social, e o domínio quase exclusivo dos dialetos locais e do crioulo, as capacidades de comunicação serão inevitavelmente limitadas, assim como as competências técnicas, colocando a comunidade local numa posição de fragilidade laboral, com relatos de importação de mão-de-obra mais qualificada e igualmente barata, nomeadamente senegalesa. No entanto, ao analisar as respostas por hélice, é possível notar que os agentes públicos, a academia e a sociedade civil – local, priorizam competências para a equidade na propriedade de empresas e o acesso a cadeias de valor, mecanismos chave do turismo sustentável para a redução dos níveis de pobreza nas comunidades locais. Por seu lado, os agentes privados enfatizam competências relacionadas com o desenvolvimento de infraestruturas e recursos humanos, como a formação na área da saúde e melhoria das capacidades de comunicação.
Figura 8. Perceção dos stakeholders sobre as habilidades e conhecimentos que as comunidades devem deter para se apropriarem dos benefícios do turismo
Fonte dos dados: entrevista semiestruturada, ‘Perceção dos stakeholders sobre o turismo na Guiné-Bissau’, realizada de 13 de maio a 15 de outubro de 2022.
68Em suma, há uma concordância generalizada entre os stakeholders entrevistados sobre os diversos tópicos abordados, especialmente em relação às vantagens do turismo e como este pode contribuir para o desenvolvimento sustentável da Guiné-Bissau. No entanto, há uma discordância quanto às desvantagens, destacando-se particularmente a questão do turismo sexual e as suas implicações para a comunidade local. Esta divergência na perceção do grupo da sociedade civil – turistas pode decorrer da falta de informação, educação e consciencialização, o que limita uma postura mais consciente por parte dos turistas durante as suas viagens, especialmente em relação a este assunto.
69De uma maneira geral, os stakeholders demonstram sensibilidade à situação atual do país, permitindo-lhes realizar uma análise abrangente de diagnóstico próprio e externo, listando os principais obstáculos ao desenvolvimento do país, que ainda está num estado embrionário no que diz respeito à atividade turística.
70Este estudo tem o mérito de abordar o turismo num país do Sul Global, que tem recebido pouca atenção por parte da comunidade científica que realiza pesquisas em turismo: a Guiné-Bissau. Com uma população de cerca de 1,8 milhões, a Guiné-Bissau é um destino turístico em crescimento e seguro, com uma população jovem e um grande potencial turístico, devido às suas ilhas, recursos naturais, flora e fauna, e diversidade étnica e cultural.
71Para os Países Menos Desenvolvidos do Sul Global, o turismo é uma atividade económica importante que pode contribuir para o seu crescimento económico e desenvolvimento. No entanto, a realidade é que, em muitos destes países, o desenvolvimento nem sempre é sustentável, ou seja, nem sempre contribui para a inclusão social, a redução da pobreza e das desigualdades sociais, o uso eficiente dos recursos naturais, a proteção ambiental, a preservação do património e dos valores culturais e sociais. A instabilidade política, as infraestruturas precárias, a falta de recursos humanos qualificados, a dependência de financiamento e investimento externos, entre outros fatores, têm prejudicado o desenvolvimento e tornado estes países mais vulneráveis e dependentes do Norte Global.
72Em destinos no Sul Global, como a Guiné-Bissau, o turismo deve considerar as especificidades locais e promover um desenvolvimento sustentável genuíno. Deve ser devidamente planeado e gerido, com a participação ativa das comunidades locais, permitindo que estas se envolvam nos processos de tomada de decisão e beneficiem do desenvolvimento que o turismo pode proporcionar.
73A pesquisa empírica revela um consenso, entre os stakeholders entrevistados, de que o turismo contribui para o crescimento económico e a criação de empregos, assim como para a imagem internacional do país. No entanto, várias desvantagens do turismo também foram registadas, e foi nesse aspeto que se observou maior discordância entre os stakeholders, com menor consciencialização por parte dos agentes privados e da sociedade civil – turistas. Portanto, embora a Guiné-Bissau deva estruturar-se como um destino turístico, esta deve otimizar os seus recursos e envolver as comunidades locais.
74Uma das limitações do estudo foi o número de entrevistas realizadas, 21. A comunidade local fala dialetos específicos, por isso frequentemente foi necessário contar com intérpretes locais, o que, somado ao baixo nível educacional da comunidade, limitou as entrevistas. Outra limitação foi a sub-representação de algumas hélices, como os agentes ambientais. Não foi fácil encontrar membros que estivessem dispostos a serem entrevistados.
75Pesquisas futuras devem explorar o planeamento e a gestão do turismo, com foco no impacto nas comunidades locais e no turismo responsável, monitorizando os stakeholders e garantindo a sustentabilidade, enquanto se abordam as limitações existentes.