11 | 2016
Verano/Verão 2015
Notas de la redacción
Este número de Estudos Fichteanos recolhe algumas das contribuições apresentadas no III Congresso internacional da ALEF, que teve lugar em Belo Horizonte em 2014. O congresso, intitulado J.G. Fichte. Uma vida filosófica, uma filosofia viva, teve o intuito de abraçar todos os aspectos da filosofia de Fichte, mostrando a vitalidade e a atualidade do seu pensamento. É notório que a questão mais especifica da relação entre filosofia e vida desenvolve-se num diálogo polêmico e profícuo com Jacobi, cujas críticas podem ser resumidas pela famosa analogia do idealismo fichteano com a atividade de tricotar (tricotieren), que a partir do eu, produz mundo, sol, estrelas, tudo o que se queira, mas continua sendo algo diferente da vida, do plano da realidade. Ao longo das multíplices formulações da doutrina da ciência e dos escritos populares Fichte elabora e articula as relações entre filosofia e vida, elaborando um projeto de um saber (Wissen) que, como sabedoria (Weisheit), tem de voltar à vida. Neste sentido a pesquisa acerca dos princípios do funcionamento da consciência e, em seguida, o esclarecimento das relações do saber com o Absoluto que o fundamenta, não é apenas um ponto de chegada, o resultado de um percurso de pensamento, mas também pode se tornar começo de uma vida nova, assim como mostra o artigo de Federico Ferraguto. O autor promove um dialogo entre dois textos pouco estudados pela Fichte Forschung: A Ascetica como apêndice à moral (Aschetik als Anhang zur Moral) e Maquiavel como escritor (Machiavelli als Schriftsteller) e a filosofia da arte de viver de Foucault e de W. Schmid.
A vida então continua ser âmbito caracterizado pelo contingente e nunca completamente permeável a princípios racionais, porém, a atividade da consciência pode adquirir uma atitude autoformante que só nasce a partir da autoconsciência reflexiva. Por isso, é importante manter firme o ponto de partida: a ação originária desempenhada pelo sujeito cognoscente. O artigo de Thiago Suman Santoro pretende, por meio de uma indagação acerca desta ação originária, mostrar que a doutrina-da-ciência permanece “historiografia do espírito humano”, durante todo o seu desenvolvimento.
Juliana de Albuquerque Barreto vai até as raízes deste desenvolvimento no escrito programático de Fichte Sobre o conceito de doutrina-da-ciência e mostra como as características do principio faz com que Fichte coloque em questão a relação entre filosofia e lógica. O artigo analisa o §6 do escrito de Fichte em que é posta a questão: “Como se relaciona a doutrina da ciência universal com a lógica em particular?”
O artigo de Matteo Vincenzo d’Alfonso, desenvolvendo uma sugestão de Wolfram Hogrebe da metade dos anos 1970, mostra as possibilidades de uma leitura inédita da doutrina da ciência como desdobramento sistemático que ilustra o funcionamento e as condições de possibilidade da própria lógica, procurando explicar as condições de possibilidade do exercício da razão.
A mesma racionalidade que abre e fundamenta o espaço lógico deve ser a que regulamenta o agir individual e comunitário do homem rumo à realização da liberdade no mundo e nas instituições. Esta espécie de racionalidade aplicada, tema do direito, è investigada no artigo de Felipe Augier que traz à luz as aporias de O Estado comercial fechado de 1800.
Estes artigos, aparentemente tão heterogêneos, mostram como a filosofia de Fichte permanece ainda viva, não apenas porque seja possível construir um dialogo entre questões da filosofia de Fichte e temas contemporâneos, mas também porque a racionalidade proposta por Fichte não deixa de constituir um modelo fascinante e profundamente flexível apesar do rigor da sua fundamentação, ou melhor, precisamente por ele.
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Artículos/Artigos
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Sobre a posição da lógica segundo a doutrina-da-ciência de Fichte [Texto completo]
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A gênese do espaço semântico na filosofia tardia de Fichte [Texto completo]
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Doutrina da ciência e arte de viver [Texto completo]
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Reseñas/Recensões