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O Insight Originário de Fichte. O ensaio pioneiro de Dieter Henrich meio século depois

Günter Zöller

Notas de la redacción

Originalmente publicado em inglês como quarto capítulo em Gjesdal, K. (Ed.) Debates in Nineteenth-Century European Philosophy - Essential Readings and Contemporary Responses, New York: Routledge, 2016. Tradução e revisão de Thiago S. Santoro.

Texto completo

  • 1 Immanuel Kant, Crítica da Razão Pura, Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2018: A 346/B 404.

“este Eu, ou Ele, ou Aquilo (a coisa) que pensa.”1

1. O texto de Henrich em contexto

  • 2 Dieter Henrich, “Fichtes ursprüngliche Einsicht.” In: Subjektivität und Metaphysik. Festschrift f (...)

1 Quase há meio século, Dieter Henrich contribuiu com um longo artigo intitulado O insight originário de Fichte para um Festschrift a Wolfgang Cramer2, naquela época uma das principais mentes filosóficas da Alemanha, que tentou combinar o legado crítico de Kant e dos neo-kantianos com a tradição ontológica, especialmente a metafísica racionalista de Espinosa e Leibniz. Henrich ainda não tinha completado 40 anos então, e mudava recentemente de um cargo de professor na Universidade Livre de Berlim para outro na Universidade de Heidelberg, onde Ernst Tugendhat era seu colega e onde eventualmente encontrou seu ex-colega de Berlim, Michael Theunissen, antes de trocar Heidelberg por Munique em 1981 e permanecer lá até sua aposentadoria compulsória em 1994.

2 O duplo título do Festschrift, “Subjetividade e Metafísica”, refletiu o duplo foco da obra de W. Cramer e a orientação geral do volume produzido em sua homenagem. Outros participantes do Festschrift incluíam Hans-Georg Gadamer, Hans Friedrich Fulda, Erich Heintel e Conrad Cramer (filho do homenageado) – tornando-se um ‘quem é quem’ da filosofia contemporânea de língua alemã da vertente continental, com sua característica combinação de orientação histórica e abordagem sistemática. Os pontos de referência das outras contribuições foram Kant, Schelling e Hegel. Os outros tópicos tratados abarcaram desde a certeza em Descartes, passando pelo a priori kantiano, até a construção do Cristianismo em Schelling.

  • 3 Dieter Henrich, Fichtes ursprüngliche Einsicht (Frankfurt am Main: Klostermann, 1967)
  • 4 Aqui há uma menção à tradução parcial (Introdução e Seções I e VII) em inglês do texto de Henrich q (...)

3 O artigo de Henrich era o único sobre Fichte e um dos mais extensos no volume. O texto foi republicado como livreto separado de pouco mais de cinquenta páginas pela mesma editora do ano seguinte.3 Para sua republicação, a seção introdutória não numerada recebeu o subtítulo de ‘Introdução’ e às sete seções do texto com numeração romana foram atribuídos os seguintes subtítulos no sumário do livro: I. O eu é reflexão de si; II. O eu põe a si mesmo absolutamente; III. O eu põe a si mesmo como pondo a si; IV. O eu é uma força na qual é inserido um olho; V. O eu é aparência; VI. Referências ao desenvolvimento histórico; VII. Panorama.4 Exceto pela adição do sumário e da subtítulo ‘Introdução’ adicionado à seção inicial, o texto das duas edições é idêntico até em suas linhas e quebras de página, o que indica que a antiga tipografia foi reutilizada.

4 Tanto na composição específica do Festschrift a Wolfgang Cramer quanto no contexto mais amplo da filosofia contemporânea neoclássica alemã, o texto de Henrich foi muito representativo. Ele fez parte da tentativa da época em retomar Kant e os idealistas alemães para o trabalho atual em filosofia teórica, em tópicos como a natureza da mente ou do espírito (Geist), da reflexão (Reflexion) e da razão (Vernunft). Tal trabalho era realizado principalmente em artigos e ensaios, enquanto livros combinando uma importante figura histórica com um tema sistemático relevante eram tipicamente as publicações prévias da qualificação do autor (Qualifikationsschriften), isto é, suas teses doutorais ou de habilitação.

5 Mas além de ter sido representativo e típico pelo design e escopo dentro de seu contexto contemporâneo, o texto de Henrich era também inusitado e atípico em seu foco em Fichte e em sua defesa filosófica de Fichte em contraste e contraposição a Kant assim como a Hegel. Ainda que Fichte tenha sido longamente reconhecido como a ligação crucial entre Kant e o movimento conhecido como ‘Idealismo Alemão’, no final da década de 1960 Fichte não era nem uma figura formidável dominando a cena filosófica alemã, nem um filósofo especialmente estimado por sua originalidade. Ao abordar no próprio título de sua contribuição o “insight originário” de Fichte, Henrich não estava se referindo a uma entidade conhecida no discurso filosófico da época. Pelo contrário, ele estava anunciando uma descoberta a ser realizada, uma que ele realizou e estava por compartilhar. Além disso, a originalidade do insight de Fichte, ademais não ter sido notado e apreciado, acabaria por envolver um insight da parte de Fichte, como revelado por Henrich, sobre um assunto original – um assunto envolvendo uma origem, especificamente a origem da autoconsciência (“eu”).

  • 5 Kuno Fischer, Fichte und seine Vorgänger (Heidelberg: Bassermann, 1869).
  • 6 Heinz Heimsoeth, Fichte (Munich: Reinhardt, 1923); Max Wundt, J. G. Fichte (Stuttgart: Frommann-Kur (...)

6 No entanto, a filosofia de Fichte, mesmo não tendo recebido o status e a significância atribuídos a Kant ou Hegel, não era forma alguma desconhecida na época. De fato, Fichte passava por uma redescoberta e trabalhos sobre sua filosofia estavam aproveitando uma espécie de renascença na década de 1960. Historicamente, o interesse filosófico em Fichte sempre esteve atrelado com o interesse em Kant. O neokantismo do final do século XIX trouxe consigo certo neofichtianismo5, assim como a interpretação metafísica de Kant do início do século XX trouxe em seu rastro uma leitura metafisicamente orientada de Fichte6. Contudo, depois do uso, ou melhor, abuso ideológico do pensamento político de Fichte para propósitos e propagandas nacionalistas durante as duas Guerras Mundiais, a filosofia de Fichte parecia comprometida e contaminada.

  • 7 Johann Gottlieb Fichte, Gesamtausgabe der Bayerischen Akademie der Wissenschaften, ed. Reinhard Lau (...)

7 Sob tais circunstâncias, um novo começo da pesquisa acadêmica sobre Fichte foi dado na Alemanha do pós-guerra ao focar na filosofia teórica mais estrita de Fichte, principalmente sua “filosofia primeira”, a qual ele denominou “doutrina da ciência” (Wissenschaftslehre) e expôs em quinze versões diferentes, e exceto pela primeira todas outras não foram publicadas ao longo de sua vida. Uma indicação externa do retorno politicamente neutralizado de Fichte à cena acadêmica – que refletiu bem como elevou o estatuto filosófico de Fichte – foi o empreendimento monumental de uma edição crítica das obras completas de Fichte, incluindo suas obras publicadas, seu espólio literário (Nachlaß), sua correspondência (tanto cartas escritas quanto recebidas por ele) e suas preleções (tal como preservadas em manuscritos de alunos). A edição foi realizada pela Academia Bávara de Ciências e resultou em 42 largos volumes publicados durante meio século (1962-2012).7

  • 8 Dieter Henrich, O insight originário de Fichte, p. 209, nota 26. Todas as citações de Fichtes urspr (...)
  • 9 Johann Gottlieb Fichte, Werke, ed. Immanuel Hermann Fichte, 11 vols. (Berlin: de Gruyter, 1971; pri (...)

8 Na época do texto de Henrich sobre Fichte a Edição da Academia tinha apenas começado a sair e ainda não incluía nada do material previamente não publicado que daria ensejo a uma imagem profundamente ampliada e radicalmente revisada do trabalho filosófico de Fichte, e válida desde as décadas seguintes até hoje. Ainda assim, o trabalho de Henrich sobre Fichte refere-se repetidamente a materiais previstos para publicação futura e agradece a um dos incentivadores da Edição da Academia, Hans Jacob, por lhe ter providenciado alguns materiais não publicados8. No todo, entretanto, o trabalho de Henrich está baseado na edição em 11 volumes da obra publicada de Fichte em conjunto com uma seleção de textos póstumos bastante modificados pelo editor e filho de Fichte, Immanuel Hermann Fichte (ele próprio também filósofo), editada na metade do século XIX e que seria reeditada com uma reimpressão poucos anos depois que o influente texto de Henrich apareceu.9

  • 10 Reinhard Lauth, “Le problème de l’interpersonnalité chez J. G. Fichte.” Archives de philosophie, (...)
  • 11 Wolfgang Janke, Fichte. Sein und Reflexion—Grundlagen der kritischen Vernunft (Berlin: de Gruyter, (...)

9 O texto de Henrich sobre Fichte foi precedido no início da década de 60 por trabalhos sobre aspectos gerais e abrangentes da filosofia de Fichte, incluindo uma série de artigos programáticos pelo outro incentivador da Edição da Academia, Reinhard Lauth, e um livreto de Wilhelm Weischedel, o qual já havia escrito sua tese de Habilitation sobre Fichte na metade da década de 30, um dos poucos trabalhos daquele período não influenciado pela política e pela propaganda nacional socialista10. Por sua vez, o trabalho de Henrich do final da década de 60 seria sucedido por um número de livros publicados desde o início dos anos 70, especialmente os magistrais e extensivos estudos de Wolfgang Janke, Peter Baumanns e Hansjürgen Verweyen11, os quais marcaram o início de uma crescente pesquisa e publicação acadêmica internacional sobre um amplo espectro de textos e tópicos da obra vasta de Fichte que estava, lenta e progressivamente, emergindo da obscuridade e do descaso.

2. Linhas gerais do texto de Henrich

10A declaração de abertura do texto de Henrich combina o fato fundamental de que a autoconsciência é o princípio do pensamento de Fichte com a observação de que justamente o foco na autoconsciência acaba por tornar a filosofia de Fichte desinteressante em um cenário filosófico contemporâneo dominado pela filosofia existencial e pela filosofia da linguagem. Sob tais circunstâncias, o trabalho de Henrich se propõe a reabilitar Fichte como filósofo argumentando pela significância sistemática da autoconsciência enquanto questão central da filosofia moderna e pelo papel principal de Fichte em identificar o problema filosófico peculiar posto pela autoconsciência. Mais especificamente, o trabalho de Henrich se propõe a delinear o percurso do pensamento de Fichte como uma série de tentativas cada vez melhor sucedidas de resolver o enigma que é a autoconsciência.

11 Antes de voltar-se para as soluções em série de Fichte sobre o problema da autoconsciência, Henrich situa sua leitura de Fichte no contexto mais amplo de retomar o percurso da filosofia moderna desde Descartes, que ele considera insuficientemente compreendido quando é reduzido à auto-entronização do sujeito soberano no caminho desde o cogito de Descartes, passando pelo eu absoluto de Fichte até a vontade de potência de Nietzsche. Ao invés disso, Henrich propõe apresentar Fichte como parte importante de uma história alternativa da consciência moderna e suas repercussões atuais. A tese exegética guia do texto de Henrich é que o desenvolvimento geral do pensamento de Fichte, tal como documentado nas sucessivas versões da Wissenschaftslehre, deve ser interpretado como uma análise progressiva do conceito de eu. Henrich posiciona Fichte em um ponto crucial do pensamento moderno sobre o estatuto e a função da autoconsciência, que abrange desde Descartes através de Leibniz, Locke e Hume até Rousseau e Kant. Na abordagem de Henrich, as posições muito variadas assumidas por esses filósofos concordam que a “estrutura do eu” envolve um ato de retorno a si mesmo por meio do qual o sujeito desvia sua atenção de qualquer objeto particular e assegura-se de sua unidade continua consigo mesmo. No processo, assim Henrich relata, o eu se relaciona consigo enquanto seu próprio objeto, e isso de modo que o eu-sujeito e o eu-objeto não são seres distintos senão uma e a mesma entidade. Fazendo uso de uma metáfora visual, Henrich apresenta a auto-identidade peculiar do eu sob a fórmula da essência do eu enquanto “reflexão” [195].

12 Uma consequência crucial da natureza do eu assim concebida é que a reflexão do eu em si mesmo não é a origem do eu, mas apenas sua detecção, ou mesmo sua autodetecção. Ao estabelecer reflexivamente a auto-identidade do eu, esse eu assim afirmado é já pressuposto. Destarte, a assim denominada teoria reflexiva do eu não explica o surgimento do eu, mas somente como ele vem a se conhecer. Falando logicamente, o eu da “teoria da reflexão” é preso em um círculo no qual o eu qua sujeito deve ser pressuposto para então se tornar seu próprio objeto, portanto implicando a teoria reflexiva do eu em uma petitio principii [195].

13 Na avaliação de Henrich, Fichte foi o primeiro a perceber a falha explicativa da tradicional teoria reflexiva do eu, a qual, de acordo com Henrich, maculou inclusive a perspectiva de Kant sobre o assunto. Conforme Henrich, o ponto específico de Fichte contra a teoria reflexiva do eu é inaptidão de uma atividade reflexiva autoretornante de constituir a autorrelação cognitiva que marca de forma única o eu. O caráter cognitivo do eu, longe de ser resultado de uma atividade reflexiva, é já pressuposto e não de fato alcançado pelo retorno reflexivo. Assim, na teoria reflexiva do eu, o eu como tal permanece escondido na medida em que não é nem o objeto, nem o resultado da reflexão sobre o eu, mas sua própria condição oculta ou “fundamento” [196].

14 Na leitura de Henrich, o insight de Fichte sobre a deficiência da teoria reflexiva resulta em uma ruptura dramática dentro da teoria filosófica moderna da autoconsciência. A história contada por Henrich é a seguinte: antes de Fichte, a autoconsciência como tal, enquanto objeto de considerações antagônicas, é tomada como óbvia; com Fichte, o próprio funcionamento da autorrelação cognitiva torna-se misterioso, porque uma diferença, “talvez até mesmo um abismo” [197] se abre entre as propriedades fenomênicas da autoconsciência e seu fundamento. Para Henrich, Fichte percebe e satisfaz a necessidade de uma descrição mais completa e mais adequada da autoconsciência do que aquela oferecida pela teoria reflexiva, uma que seja capaz de penetrar no até então oculto fundamento da autoconsciência. Mas Henrich também vê os esforços de Fichte por uma descrição adequada da autoconsciência enredarem Fichte em desafios explicativos extraordinários, resultando em um “embaraço” teórico e em um esgotamento dos recursos lógicos e linguísticos a seu dispor [197, 206s, 215].

15 Henrich resume os esforços consideráveis de Fichte por uma compreensão adequada do eu em três fórmulas fichtianas sobre o eu. As fórmulas pretendem representar, de forma abreviada, os três estágios do progressivo insight de Fichte sobre a origem do eu. Além disso, Henrich vincula cada uma das três fórmulas a uma versão ou apresentação específica da Wissenschaftslehre na qual cada uma primeiramente aparece. Na consideração de Henrich, portanto, o desenvolvimento das apresentações da Doutrina da Ciência registra a evolução da teoria de Fichte sobre o eu. As três exposições da Doutrina da Ciência destacadas por suas contribuições concretas à teoria do eu datam de 1794, 1797 e 1801. Elas são, em ordem cronológica, os textos intitulados Fundamentos de toda a Doutrina da Ciência (Grundlage der gesammten Wissenschaftslehre), Nova apresentação da Doutrina da Ciência (Neue Darstellung der Wissenschaftslehre), nomeada alternativamente como Doutrina da Ciência Nova Methodo e Apresentação da Doutrina da Ciência (Darstellung der Wissenschaftslehre).

16 O estágio inicial da teoria fichtiana sobre o eu é representado pela fórmula “o eu põe pura e simplesmente a si mesmo” [198]. Henrich propõe separar a tese de Fichte da autoposição absoluta do eu de suas associações culturais e políticas com a Revolução Francesa. Reduzida à sua significância sistemática, a formula fichtiana do eu tético absoluto, argumenta Henrich, capta a substituição da teoria reflexiva do eu por uma teoria da produção, de acordo com a qual o eu surge por uma atividade de autoprodução. Diferente da teoria da reflexão, o eu-sujeito não antecede a autoconsciência, mas emerge conjuntamente a ela e “em um instante” [199]. Na concepção original de Fichte, tal como reconstruída por Henrich, a auto-identidade constitutiva do eu consiste em uma produção peculiar: uma atividade real resultando em um produto que inclui conhecimento dessa mesma atividade [200].

17 Contra as habituais críticas sobre o eu absoluto de Fichte enquanto expressão de uma arrogância egoísta, Henrich ressalta sua dimensão deflacionária. Afirmar a autoposição absoluta do eu, de acordo com Henrich, não é nada mais do que sustentar que o eu, imediatamente e como tal, envolve conhecimento de si mesmo ou “ser-para-si” [200]. Ele ressalta também o caráter ativo do eu, declarando que a “consciência do eu” em Fichte é “a consciência do ato” [201]. Ainda assim, Henrich critica a primeira fórmula de Fichte e o estágio da teoria sobre o eu que ela expressa. Por um lado, ele detecta resquícios da teoria da reflexão na redução fichtiana do autoconhecimento a uma atividade que retorna a si. Além disso, para Henrich, a ocorrência da consciência no curso de uma atividade que retorna a si pressupõe uma dimensão de “ipseidade” [202] que não pode ser reduzida a tal atividade, mesmo que ela seja uma atividade que retorna a si.

18 A próxima etapa da progressiva teoria fichtiana sobre o eu, como detalha Henrich, dimensiona e redimensiona os defeitos diagnosticados, atribuindo ao eu autoponente uma percepção cooriginal do sua autoposição original, concebida pela fórmula emendada “o eu põe-se pura e simplesmente como se pondo” [202]. Para Henrich, a nova fórmula reconhece a diferença entre uma atividade que retorna a si como um “fenômeno universal da natureza”, encontrado em toda vida orgânica, e o “saber de si” que define particularmente o eu [203]. Além disso, Henrich credita à nova teoria de Fichte sobre o eu, tal como expressa na segunda fórmula, a compreensão de que a autoconsciência não se esgota em um “conceito de si”, mas inclui também e substancialmente a “certeza da própria existência” [203s]. Servindo-se da terminologia kantiana reutilizada por Fichte, Henrich percebe um componente conceitual e um componente intuitivo intimamente conectados e originalmente vinculados no eu fichtiano, de modo que a autoconsciência deve ser considerada como “ao mesmo tempo intuição e conceito” [204].

19 Para Henrich o principal êxito articulado na segunda formula de Fichte é o insight de que, no eu, conhecimento e existência são “cooriginários” [205]. Mas a distinção explícita entre os dois momentos co-constitutivos do eu também aponta para além do eu em direção a seu “fundamento” [206]. De acordo com Henrich, esse fundamento não pode ter a mesma natureza dúplice conceitual-intuitiva do eu que ela fundamenta. Portanto, a fundamentação do eu em algo outro traz ao eu uma dependência profunda em algo diferente dele mesmo, mas subjacente a ele e de fato o condicionando.

20 Henrich vê Fichte articular justamente essa conclusão na terceira e última fórmula do eu, conforme a qual a autoconsciência é “uma atividade na qual um olho está inserido” [206]. Para Henrich, a locução metafórica é engendrada para captar a profunda fusão de cognição e atividade na constituição do eu. O olho representa o componente conceitual que guia a atividade do eu. Henrich prossegue ressaltando o caráter autorreferencial do olho, que ao ver qualquer coisa ao mesmo tempo vê a si mesmo e, portanto, envolve um “um olhar que capta a si mesmo” [209]. Contudo, mesmo que a terceira fórmula expresse a unidade interna entre saber e fazer, entre atividade teórica e prática, conforme a avaliação de Henrich, ainda lhe falta uma consideração sobre a alto-relação peculiar que é a autoconsciência. Mesmo que a elaborada consideração fichtiana não envolva a clandestina assunção prévia do próprio eu que deve ser objetificado por reflexões subsequentes, uma autocognição de algum tipo é sempre pressuposta em toda autocognição manifesta, de modo que tal autoconsciência possa primeiramente ocorrer. Na concepção expressa pela terceira fórmula, a cognição relacionada ao eu é sempre, ao menos em certa medida, um “reconhecer” (Wiedererkennen) [212].

21 Na avaliação geral de Henrich, a progressiva insight sobre a constituição do eu alcançado por Fichte é acompanhado da crescente dificuldade de compreender e tornar inteligível as estruturas e funções nele descobertas. Para Henrich, a lição a ser aprendida com o insight originário de Fichte é que “o mais próximo, nós próprios, o saber-eu (Ich-Wissen), é o que há de mais obscuro ao nosso conhecimento discursivo” [216]. Com relação à teoria fichtiana e qualquer outra teoria sobre o eu, esse insight equivale ao reconhecimento de que “ ‘Eu’ não é nem fundamento de si mesmo, nem dispensa qualquer fundação ulterior” [218]. De acordo com Henrich, a autoconsciência é uma “unidade interna a partir do fundamento não disponível e impensável” [220]. Ele atribui ao Fichte tardio o reconhecimento da dependência existencial originária do eu, retratada pela reconceituação do eu enquanto a “manifestação” de algum “absoluto” ou “Deus” [218, 220].

22 A extensa parte final do trabalho de Henrich prossegue com a reconstrução sistemática da teoria fichtiana em 3 estágios sobre o eu, com reflexões sobre o sistema filosófico de Fichte como um todo e seu desenvolvimento ao longo do tempo. Henrich enfatiza a unidade no percurso da Doutrina da Ciência e rejeita explicitamente tentativas usuais de atribuir a Fichte perspectivas e posições radicalmente divergentes, e que vinculam tais alegadas mudanças a influências externas, variando desde a ocorrência de ataques públicos (especialmente a assim denominada querela do ateísmo) até o surgimento ou encontro de posições filosóficas concorrentes (principalmente aquelas de F. H. Jacobi e Schelling). Em contraste, Henrich insiste na unidade e consistência do pensamento filosófico de Fichte em geral e de sua teoria sobre o eu em particular. Concluindo, Henrich contrasta brevemente as abordagens alternativas de Fichte e Hegel da teoria da autoconsciência, atribuindo a Hegel, ao invés de Fichte, o projeto de conectar a universalidade e a individualidade do eu. Sob outra consideração, metodológica, contudo, Henrich nota a superioridade de Fichte ante Hegel, cuja dialética procura unidade na perspectiva do resultado e não, como Fichte, na dimensão da origem.

3. O trabalho de Henrich em retrospectiva

  • 12 Ernst Tugendhat, Vorlesungen zur Einführung in die sprachanalytische Philosophie (Frankfurt am Mai (...)
  • 13 Dieter Henrich, Konstellationen. Probleme und Debatten am Ursprung der idealistischen Philosophie ( (...)

23 Considerado sob uma perspectiva histórica e visto a partir da distância de quase meio século, o texto de Henrich sobre Fichte compartilha de dois desenvolvimentos filosóficos contemporâneos - a emergência do que ficou conhecido como “filosofia da mente”, em particular a avaliação analítica da consciência e da autoconsciência, e o interesse renovado pelo Idealismo Alemão, incluindo a filosofia de Fichte. Na Alemanha o primeiro movimento foi iniciado por Ernst Tugendhat,12 ao passo que o último desenvolvimento teve como expoente principal Dieter Henrich, cujo foco em seguida mudou de Fichte para Hegel, e quem eventualmente voltou-se para figuras filosóficas menos conhecidas ou até desconhecidas que precedem ou circundam o surgimento de Fichte no cenário filosófico.13

  • 14 Cf. Dieter Henrich, “Selbstbewußtsein. Kritische Einleitung in eine Theorie.” In: Hermeneutik und D (...)
  • 15 Dieter Henrich, Der Grund im Bewußtsein. Untersuchungen zu Hölderlins Denken (1794– 1795) (Stuttga (...)

24O principal desdobramento do texto de Henrich sobre Fichte, encontrado tanto nos trabalhos posteriores do próprio Henrich quanto nos de seus estudantes e associados, foi o foco na certeza não-conceitual, pré-discursiva ou existencial da autoconsciência, evocada por noções como “evento” (Ereignis), “vivência” (Erlebnis), “sentimento” (Gefühl), e “familiaridade imediata” (Vertrautheit).14 Além disso, Henrich e outros expandiram o insight originário de Fichte, tal como retomada e reconstruída por Henrich, de que o eu deve seu ser a um “fundamento obscuro” eludindo a captação conceitual e a descrição discursiva, favorecendo e destacando Hölderlin, Hardenberg-Novalis e Schelling, ao invés de Kant e Fichte, por seus avanços na filosofia pós-kantiana em geral e na teoria da autoconsciência em particular.15

  • 16 Manfred Frank, Die Unhintergehbarkeit von Individualität. Reflexionen über Subjekt, Person und In (...)
  • 17 A descoberta de Fichte (em francês no original). (N.T.)
  • 18 Dieter Henrich, “La découverte de Fichte.” Revue de métaphysique et de morale, 1976, vol. 72, 154 (...)

25 A reavaliação da autoconsciência e, de modo mais geral, do sujeito (“subjetividade”) que encontramos como consequência do trabalho de Henrich sobre Fichte serviu inclusive para combater a declaração pós-moderna de morte do sujeito, que surgiu exatamente no mesmo período da publicação do texto de Henrich.16 Ironicamente, uma primeira versão reduzida do texto de Henrich sobre Fichte foi apresentada em francês sob o título “La découverte de Fichte17 em Paris em 1966. Henrich posteriormente reconstruiu a versão alemã perdida a partir da tradução francesa e publicou o texto sob o título “O eu de Fichte”.18

  • 19 Cf. Frederick Neuhouser, Fichte’s Theory of Subjectivity (Cambridge: Cambridge University Press, 19 (...)
  • 20 Daniel Breazeale, Thinking Through the Wissenschaftslehre: Themes from Fichte’s Early Philosophy (O (...)

26Curiosamente, o trabalho de Henrich sobre Fichte parece não ter surtido efeito similar, tão amplo e duradouro, em sua própria área específica, a saber, na pesquisa e estudos sobre Fichte. Sem dúvida, os trabalhos subsequentes sobre Fichte permaneceram atentos ao papel central da autoconsciência na invenção e elaboração da filosofia fichtiana sob a denominação de Doutrina da Ciência. Na maior parte dos trabalhos recentes sobre Fichte, especialmente sobre o primeiro Fichte do período de Jena (1794-1799), o eu é reconhecido justamente como princípio de sua filosofia. Mas a pesquisa sobre Fichte elaborada a partir de 1970 tipicamente integrou a consideração da consciência e o interesse no eu a uma perspectiva mais ampla sobre a função que o eu qua princípio exerce na constituição geral do sujeito e seu mundo.19 Em particular, nas décadas recentes Fichte foi estudado por suas contribuições ao eu corpóreo, concreto, individual e ao eu socialmente inserido e interindividual. Além disso, a pesquisa recente sobre Fichte tendeu a focar na filosofia prática de Fichte e nas especificidades doutrinais e metodológicas das distintas apresentações da Doutrina da Ciência.20

  • 21 Obra póstuma ou espólio (em alemão no original). (N.T.)

27 Um motivo central por trás da rejeição da abordagem específica da autoconsciência em Fichte oferecida por Henrich pode ter sido a base textual problemática das afirmações de Henrich sobre a teoria fichtiana do eu, de modo geral, e mais particularmente sobre sua trajetória em desenvolvimento. Curiosamente, os defeitos detectados na leitura de Henrich sobre a autoconsciência em Fichte não se devem a escassez de material do Nachlaß21 fichtiano disponível para o autor na época. Ao invés disso, é o domínio incompleto que Henrich tem dos textos já editados e publicados consultados por ele que prejudica sua leitura de Fichte e limita sua utilidade para pesquisas e estudos posteriores. Em particular, as três fórmulas do eu oferecidas por Henrich, como marcos do evolutivo pensamento fichtiano sobre o eu, ou não são concordantes com as bases textuais em Fichte empregadas por Henrich, ou não captam adequadamente a concepção de Fichte no texto em questão.

  • 22 Cf. Fichte, Gesamtausgabe, I/2, p. 409.
  • 23 Ambos os termos estão separados por hífens no original (counter-positing e com-positing), provavelm (...)

28 Em primeiro lugar, a segunda fórmula, de acordo com a qual o eu põe a si mesmo enquanto pondo a si, não ocorre na apresentação revisada ou “nova” da Doutrina da Ciência de 1798/99, como afirma Henrich, mas figura já de modo proeminente na própria obra da qual Henrich extrai sua primeira fórmula, a apresentação original da Doutrina da Ciência de 1794/95.22 Além disso, a primeira fórmula, longe de captar o estágio inicial da teoria fichtiana sobre o eu tal como contida na obra de 1794/95, representa apenas um aspecto ou momento do eu, mais precisamente o estatuto absoluto dele como “puro eu”, que é imediatamente suplementado pela introdução do “não-eu”, o eu finito ou “eu divisível”, o eu cognitivo ou “eu teórico” e o eu que realiza um esforço ou “eu prático”, como propriedades subsequentes da atividade do eu em pôr sob os limites do contra-pôr e do com-pôr23. O eu de Fichte é portanto desde o início uma entidade, ou melhor, uma atividade complexamente estruturada, tão autopossibilitadora quanto autolimitadora, em relação à qual o “eu absoluto” não é senão uma condição incondicionada desprovida de qualquer consciência ou autoconsciência.

  • 24 Cf. Fichte, Gesamtausgabe, I/6, p. 254.
  • 25 Cf. Fichte, Nachgelassene Schriften, vol. 2. Schriften aus den Jahren 1790–1800, ed. Hans Jacob (Be (...)
  • 26 Cf. Fichte, Gesamtausgabe, II/13, p. 317.
  • 27 Cf. Fichte Gesamtausgabe, II/11, pp. 181–229, aqui na p. 185; sobre esse texto, intitulado “Seit d. (...)
  • 28 Cf. Fichte, Gesamtausgabe, II/6, p. 167.

29 Mas a leitura de Henrich não apenas interpreta mal a relação entre a primeira e a segunda fórmula, também a suposta correlação da terceira fórmula, de acordo com a qual o eu é uma atividade na qual um olho é inserido, é factualmente falsa. A fórmula não pode ser encontrada em nenhuma passagem do texto indicado por Henrich, a apresentação da Doutrina da Ciência de 1801/02. Ao invés disso, uma versão da fórmula aparece já em uma obra de 1800, Destinação do Homem24, enquanto que a comparação do eu com o olho pode ser encontrada já na Doutrina da Ciência Nova Methodo de 1798/99,25 incidentalmente um texto citado muitas vezes pelo próprio Henrich [196, 199, 204, 211, 222, 226 e 229]. Além do mais, a Terceira formula, atribuída de forma imprecisa por Henrich à obra de 1801/02, ocorre, com pequenas variações, em várias obras bastante posteriores, dentre elas uma citada pelo próprio Henrich [208, nota 19], o Sistema da Ética de 181226, e um texto póstumo de 1808 publicado pela primeira vez apenas em 199727. Por fim, a obra de 1801/02 associada por Henrich à terceira formula limita o vínculo metafórico do eu com o olho à visão autocontida e auto-absorta desse último, excluindo o vínculo com a atividade28, um fato que Henrich inclusive concede em certo ponto [208, nota 19].

  • 29 Sobre a vinculação originária dos aspectos cognitivo e conativo no eu de Fichte, cf. Günter Zölle (...)
  • 30 Sobre a presença sistemática do eu ao longo da obra de Fichte, cf. Günter Zöller, Fichte lesen (S (...)

30 Consideradas em sua totalidade, as imprecisões do mapeamento que Henrich faz das três fórmulas da progressiva teoria fichtiana do eu em sucessivos textos particulares põe em dúvida a própria trajetória delineada por Henrich para a articulação em três estágios do insight originário de Fichte. Se a segunda fórmula já está presente na obra da qual a primeira é extraída e se a terceira fórmula antecede e sucede a data da obra na qual ela supostamente ocorre primeiro, então o desenvolvimento da teoria de Fichte sobre o eu é tanto mais rápido quanto mais abrangente do que retrata Henrich: mais rápido na medida em que a junção de saber e fazer, de atividade ideal e real está presente na Doutrina da Ciência de Fichte desde o início;29 mais abrangente na medida em que as articulações sucessivas e alternativas do “insight originário” de Fichte compreende a carreira completa e a extensão inteira de seu trabalho filosófico - dos anos inicias em Jena até os anos tardios em Berlim, da Doutrina da Ciência propriamente até suas aplicações ao direito e à ética, e de sua teoria transcendental da subjetividade à sua filosofia popular da história, da religião e da política.30

Referências bibliográficas

Fichtes ursprüngliches System. Sein Standpunkt zwischen Kant und Hegel. Thinking Through the Wissenschaftslehre: Themes from Fichte’s Early Philosophy. Stuttgarter Hegel-Tage 1970

31FICHTE, J. G. (1937) Nachgelassene Schriften, vol. 2. Schriften aus den Jahren 1790–1800, ed. Hans Jacob. Berlin: Junker & Dünnhaupt.

Gesamtausgabe der Bayerischen Akademie der Wissenschaften

32FICHTE, J. G. (1971) Werke. Ed. Immanuel Hermann Fichte, 11 vols. Berlin: de Gruyter.

Fichte und seine Vorgänger. Eine Einführung in Schellings Philosophie. Die Unhintergehbarkeit von Individualität. Reflexionen über Subjekt, Person und Individuum aus Anlaß ihrer ‘postmodernen’ Toterklärung. Selbstbewußtsein und Selbsterkenntnis. Essays zur analytischen Philosophie der Subjektivität. Selbstbewußtseinstheorien von Fichte bis Sartre. Fichte.

33HENRICH, D. (1966) “Fichtes ursprüngliche Einsicht.” In: Henrich, D., Wagner, H. (eds) Subjektivität und Metaphysik. Festschrift für Wolfgang Cramer. Frankfurt am Main: Klostermann

Fichtes ursprüngliche Einsicht. Hermeneutik und DialektikTübingen: Siebeck Mohr, pp. 257–284;HENRICH, D. (1976) “La découverte de Fichte.” In: Revue de métaphysique et de morale, v. 72, 154–169 Selbstverhältnisse. Gedanken und Auslegungen zu den Grundlagen der klassischen deutschen Philosophie. Konstellationen. Probleme und Debatten am Ursprung der idealistischen Philosophie (1789–1795). Der Grund im Bewußtsein. Untersuchungen zu Hölderlins Denken (1794– 1795). Grundlegung aus dem Ich. Untersuchungen zur Vorgeschichte des Idealismus. Tübingen – Jena (1790–1794)Fichte. Sein und Reflexion—Grundlagen der kritischen Vernunft

34KANT, I. (2018) Crítica da Razão Pura, Lisboa: Calouste Gulbenkian.

Philosophisches JahrbuchArchives de philosophiePhilosophisches JahrbuchIdealism and Objectivity: Understanding Fichte’s Jena Project. Fichte’s Theory of Subjectivity. Über einige Fragen der Selbstbeziehung. Vorlesungen zur Einführung in die sprachanalytische Philosophie. Selbstbewußtsein und Selbstbestimmung. Sprachanalytische Interpretationen. Recht und Sittlichkeit in J. G. Fichtes Gesellschaftslehre. Der frühe Fichte. Aufbruch der Freiheit zur Gemeinschaft. Der Zwiespalt im Denken Fichtes. J. G. Fichte. Fichte-Forschungen. Rivista di Storia della Filosofia.Fichte’s Transcendental Philosophy: The Original Duplicity of Intelligence and Will. Fichte lesen. The Oxford Handbook of German Philosophy in the Nineteenth Century
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Notas

1 Immanuel Kant, Crítica da Razão Pura, Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2018: A 346/B 404.

2 Dieter Henrich, “Fichtes ursprüngliche Einsicht.” In: Subjektivität und Metaphysik. Festschrift für Wolfgang Cramer, eds. Dieter Henrich and Hans Wagner (Frankfurt am Main: Klostermann, 1966).

3 Dieter Henrich, Fichtes ursprüngliche Einsicht (Frankfurt am Main: Klostermann, 1967)

4 Aqui há uma menção à tradução parcial (Introdução e Seções I e VII) em inglês do texto de Henrich que precede o artigo do autor na publicação original. (N.T.)

5 Kuno Fischer, Fichte und seine Vorgänger (Heidelberg: Bassermann, 1869).

6 Heinz Heimsoeth, Fichte (Munich: Reinhardt, 1923); Max Wundt, J. G. Fichte (Stuttgart: Frommann-Kurtz, 1927) and Max Wundt, Fichte-Forschungen (Stuttgart: Frommann-Kurtz, 1929; second edition Stuttgart-Bad Cannstatt: Frommann Holzboog, 1976).

7 Johann Gottlieb Fichte, Gesamtausgabe der Bayerischen Akademie der Wissenschaften, ed. Reinhard Lauth et al. (Stuttgart-Bad Cannstatt: Frommann-Holzboog, 1962–2012).

8 Dieter Henrich, O insight originário de Fichte, p. 209, nota 26. Todas as citações de Fichtes ursprüngliche Einsicht seguem a tradução publicada no presente volume, e indicam a paginação do texto original de 1966, também indicada entre colchetes na tradução. (N. T.)

9 Johann Gottlieb Fichte, Werke, ed. Immanuel Hermann Fichte, 11 vols. (Berlin: de Gruyter, 1971; primeiramente publicado em 1834/35 e 1845/46).

10 Reinhard Lauth, “Le problème de l’interpersonnalité chez J. G. Fichte.” Archives de philosophie, vol. 35 (1962), 325–344; “Die Bedeutung der Fichteschen Philosophie für die Gegenwart.” Philosophisches Jahrbuch, vol. 70 (1963), 252–270. Reinhard Lauth, “Fichtes Gesamtidee der Philosophie,” Philosophisches Jahrbuch, vol. 71 (1964), 253–285. Cf. também Wilhelm Weischedel, Der frühe Fichte. Aufbruch der Freiheit zur Gemeinschaft (Leipzig: Meiner, 1939; 2ª edição, Stuttgart-Bad Cannstatt: Frommann-Holzboog, 1973) e Wilhelm Weischedel, Der Zwiespalt im Denken Fichtes (Berlin: de Gruyter, 1962).

11 Wolfgang Janke, Fichte. Sein und Reflexion—Grundlagen der kritischen Vernunft (Berlin: de Gruyter, 1970); Peter Baumanns, Fichtes ursprüngliches System. Sein Standpunkt zwischen Kant und Hegel (Stuttgart-Bad Cannstatt: Frommann-Holzboog, 1972); e Hansjürgen Verweyen, Recht und Sittlichkeit in J. G. Fichtes Gesellschaftslehre (Freiburg and Munich: Alber, 1975).

12 Ernst Tugendhat, Vorlesungen zur Einführung in die sprachanalytische Philosophie (Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1976) e Selbstbewußtsein und Selbstbestimmung. Sprachanalytische Interpretationen (Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1979).

13 Dieter Henrich, Konstellationen. Probleme und Debatten am Ursprung der idealistischen Philosophie (1789–1795) (Stuttgart: Klett-Cotta, 1991) e Grundlegung aus dem Ich. Untersuchungen zur Vorgeschichte des Idealismus. Tübingen – Jena (1790–1794), 2 vols. (Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2004).

14 Cf. Dieter Henrich, “Selbstbewußtsein. Kritische Einleitung in eine Theorie.” In: Hermeneutik und Dialektik, eds. Rüdiger Bubner, Konrad Cramer, and Reiner Wiehl, vol. 1 (Tübingen: Siebeck Mohr, 1970), pp. 257–284; Ulrich Pothast, Über einige Fragen der Selbstbeziehung (Frankfurt am Main: Klostermann, 1971); Konrad Cramer, “Erlebnis.” In: Stuttgarter Hegel- Tage 1970, ed. Hans-Georg Gadamer (Bonn: Bouvier, 1974). Cf. também Manfred Frank, Selbstbewußtsein und Selbsterkenntnis. Essays zur analytischen Philosophie der Subjektivität (Stuttgart: Reclam, 1991); and Frank (ed.), Selbstbewußtseinstheorien von Fichte bis Sartre (Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1991).

15 Dieter Henrich, Der Grund im Bewußtsein. Untersuchungen zu Hölderlins Denken (1794– 1795) (Stuttgart: Klett-Cotta, 1992); Manfred Frank, Eine Einführung in Schellings Philosophie (Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1985).

16 Manfred Frank, Die Unhintergehbarkeit von Individualität. Reflexionen über Subjekt, Person und Individuum aus Anlaß ihrer ‘postmodernen’ Toterklärung (Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1986).

17 A descoberta de Fichte (em francês no original). (N.T.)

18 Dieter Henrich, “La découverte de Fichte.” Revue de métaphysique et de morale, 1976, vol. 72, 154–169 and “Fichtes Ich.” In Henrich, Selbstverhältnisse. Gedanken und Auslegungen zu den Grundlagen der klassischen deutschen Philosophie (Stuttgart: Reclam, 1982), pp. 57–82.

19 Cf. Frederick Neuhouser, Fichte’s Theory of Subjectivity (Cambridge: Cambridge University Press, 1990) e Wayne M. Martin, Idealism and Objectivity: Understanding Fichte’s Jena Project (Stanford, CA: Stanford University Press, 1997).

20 Daniel Breazeale, Thinking Through the Wissenschaftslehre: Themes from Fichte’s Early Philosophy (Oxford: Oxford University Press, 2013).

21 Obra póstuma ou espólio (em alemão no original). (N.T.)

22 Cf. Fichte, Gesamtausgabe, I/2, p. 409.

23 Ambos os termos estão separados por hífens no original (counter-positing e com-positing), provavelmente para destacar a unidade da atividade de pôr também nesses casos.

24 Cf. Fichte, Gesamtausgabe, I/6, p. 254.

25 Cf. Fichte, Nachgelassene Schriften, vol. 2. Schriften aus den Jahren 1790–1800, ed. Hans Jacob (Berlin: Junker & Dünnhaupt, 1937), p. 377 e Fichte, Gesamtausgabe, IV/2, p. 49.

26 Cf. Fichte, Gesamtausgabe, II/13, p. 317.

27 Cf. Fichte Gesamtausgabe, II/11, pp. 181–229, aqui na p. 185; sobre esse texto, intitulado “Seit d. 1. April 1808,” e seu significado especial na obra de Fichte, cf. Günter Zöller, “‘Life Into Which An Eye Has Been Inserted.’ Fichte on the Fusion of Vitality and Vision.” In Rivista di Storia della Filosofia.

28 Cf. Fichte, Gesamtausgabe, II/6, p. 167.

29 Sobre a vinculação originária dos aspectos cognitivo e conativo no eu de Fichte, cf. Günter Zöller, Fichte’s Transcendental Philosophy: The Original Duplicity of Intelligence and Will (Cambridge: Cambridge University Press, 1998).

30 Sobre a presença sistemática do eu ao longo da obra de Fichte, cf. Günter Zöller, Fichte lesen (Stuttgart-Bad Cannstatt: Frommann-Holzboog, 2013). Sobre a unidade geral da filosofia multifacetada de Fichte, cf. Günter Zöller, “Johann Gottlieb Fichte,” in The Oxford Handbook of German Philosophy in the Nineteenth Century, eds. Michael N. Forster and Kristin Gjesdal (Oxford: Oxford University Press, 2015), pp. 11–25.

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Para citar este artículo

Referencia electrónica

Günter Zöller, «O Insight Originário de Fichte. O ensaio pioneiro de Dieter Henrich meio século depois»Revista de Estud(i)os sobre Fichte [En línea], 23 | 2021, Publicado el 01 diciembre 2021, consultado el 08 diciembre 2024. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/ref/1845; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/ref.1845

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Autor

Günter Zöller

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