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Reseñas/Recensões

Francisco Prata Gaspar, A distância do olhar: Síntese e liberdade na Doutrina da Ciência de Fichte

Giorgia Cecchinato
Referencia(s):

Gaspar, F. P., A distância do olhar: Síntese e liberdade na Doutrina da Ciência de Fichte, São Paulo, Edições Loyola, 2019, 462 pp., ISBN 9788515045693

Texto completo

1O título do livro de Francisco Prata Gaspar é inspirado por uma metáfora que Kant usa na Crítica da razão pura para indicar a necessidade de distanciamento do plano da experiência para empreender uma pesquisa verdadeiramente científica e superar o ponto de vista cético. Para medir a superfície da terra, como Kant explica, não é suficiente querer caminhar até onde ela se estende, pois, nesse caso, sempre haverá para onde ir. Na medida em que é tomada uma distância do plano empírico, nesse caso da superfície terrestre, é possível enxergar, não apenas que a Terra é esférica, mas também, é possível medir com certeza a sua superfície.

2 Além das evidentes sugestões para uma discussão contra a praga contemporânea do terraplanismo, o que deve ser aqui entendido é que o ponto de partida para o empreendimento de Fichte, que “com Kant, além de Kant” quer levar às últimas consequências a filosofia transcendental, precisa se distanciar de toda imersão no objeto do saber. Toda a Filosofia que queira ser chamada de Ciência deve ter a capacidade de se distanciar e olhar na direção certa. A metáfora do olho e do olhar são também muito comuns em Fichte para indicar justamente a atividade filosófica que dirige o próprio olhar, não para os objetos, mas para nós mesmos.

3 A síntese originária entre ser e pensamento é a síntese que produz todas as outras. Esta é identificada como o problema fundamental de uma filosofia que olhe para direção certa, para o agir da razão e da liberdade. Analisada na multiplicidade e plenitude dos seus sentidos teóricos, ainda não no sentido moral ou político, é o caminho para solucionar a questão fundamental da filosofia.

4 O primeiro capítulo empenha–se na demonstração do problema da síntese como problema fundamental da filosofia e se articula em cinco parágrafos, os primeiros quatro dedicados repetitivamente a Kant, Reinhold, Enesidemo, Maimon. O último parágrafo mostra como a partir dos problemas da filosofia de Kant, passando para as formulações de Reinhold e para as objeções céticas à filosofia crítica de Kant delineia-se o projeto filosófico de uma doutrina da ciência enquanto saber de todo saber a partir do aprofundamento do conceito de liberdade como atividade e espontaneidade.

5 O segundo capítulo vê a imaginação como protagonista, como atividade “visada” na parte teórica da Doutrina da Ciência de 1794. Ela é ao mesmo tempo intuitiva e categorial e com a sua oscilação ela produz tanto o universal quanto o particular de um só golpe, de maneira originariamente sintética. Apenas a reflexão do filósofo pode enxergar os elementos como separados.

6 Porém pelo fato a mediação só se dá nesse momento circunscrito ao teórico, a imaginação se mostrará limitada para fundar a filosofia e responder de maneira definitiva ao problema da síntese. Portanto os capítulos terceiro e quarto são dedicados à explicação do momento prático da Doutrina da Ciência de 1794 e ao fundamento de toda atividade livre, a Tathandlung.

7 Particularmente interessantes e esclarecedoras são as discussões que Gaspar, ao lado de Fichte conduz contra todas as interpretações dogmáticas do absoluto e defendendo a Doutrina da Ciência de acusações de subjetivismo.

8 Assim como é original e muito bem colocada a ligação que ele institui entre o juízo reflexionante kantiano e a espontaneidade originária no segundo parágrafo do terceiro capítulo.

9 Os méritos desse livro vão bem além do que esse esquema sintético pode resumir: o apontamento para contribuição fundamental da filosofia de Maimon para o desenvolvimento da Doutrina da Ciência; a capacidade de ligar a Doutrina da ciência de 1794 com outras apresentações da Doutrina da Ciência posteriores, sem achatar a evolução do pensamento de Fichte, mas apontando para uma substancial continuidade. Não podemos esquecer a capacidade de dialogar com uma ampla e atualizada literatura secundária internacional e ao mesmo tempo dar centralidade e discutir os resultados mais interessantes da pesquisa brasileira sobre Fichte expostos por R.R. Torres Filhos no seu livro O espirito e a letra de 1975.

10 Por isso, o trabalho aqui exposto representa um instrumento de trabalho importante para pesquisadores experientes que querem aprofundar questões importantes relativas à gênese e aos conceitos fundamentais da Doutrina da Ciência mas, devido à sua linguagem clara e à transparências das passagens conceptuais, pode ser muito útil para utilizar na sala de aula e para quem se aproxima pela primeira vez às questões do idealismo transcendental.

11 Lamentamos apenas a timidez ou modéstia do autor por não ter tentado uma tradução para o português de alguns termos chave da filosofia de Fichte, o mais importante é o de Tathandlung. Essa falta sem dúvida resguarda a interpretação de umas unilateralidades devidas à intraduzibilidade de termos “inventados” por Fichte, por outro lado subtrai-se a um produtivo debate acerca da tradução para o português de termos técnicos específicos.

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Para citar este artículo

Referencia electrónica

Giorgia Cecchinato, «Francisco Prata Gaspar, A distância do olhar: Síntese e liberdade na Doutrina da Ciência de Fichte»Revista de Estud(i)os sobre Fichte [En línea], 20 | 2020, Publicado el 01 junio 2020, consultado el 14 enero 2025. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/ref/1516; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/ref.1516

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Autor

Giorgia Cecchinato

Universidade Federal de Minas Gerais

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