Rosanna Barros (2012), Subsídios breves para o debate de princípios e valores na formação política do(a) educador(a) social
Rosanna Barros (2012), Subsídios breves para o debate de princípios e valores na formação política do(a) educador(a) social. Lisboa: Chiado Editora. 245 pp.
Texto integral
1O livro Subsídios breves para o debate de princípios e valores na formação política do(a) educador(a) social, da autoria de Rosanna Barros, prefaciado pelo Prof. Doutor Almeirindo Afonso, encerra uma trilogia cujos dois primeiros livros foram publicados em 2011: A criação do reconhecimento de adquiridos experienciais (RVCC) em Portugal: uma etnografia crítica em educação de adultos e Genealogia dos conceitos em educação de adultos: da educação permanente à aprendizagem ao longo da vida. Trata‑se de obras que, embora autónomas, se complementam e se enriquecem mutuamente, provocando e ampliando a reflexão crítica e o debate sobre questões fundamentais no campo da educação, da formação, da participação e do exercício de uma cidadania ativa, interventiva, emancipadora, transformadora.
2Ao longo da obra, a autora procura “clarificar conceitos e tecer aproximações teóricas a certos aspetos que estão inscritos na base da ciência política” (p.19) que considera fundamentais na formação crítica e problematizadora dos/as estudantes e profissionais de educação social.
3O objetivo deste livro é, conforme expresso na sua introdução, o de contribuir para atenuar algumas dificuldades que a autora tem testemunhado “existirem no quotidiano dos(as) jovens estudantes para encontrarem, na literatura de língua portuguesa, [...] balizas de trabalho e mapas de referência [...] que enformem uma orientação material para o estudo, que sirva, assim, para o(a) estudante desta área de banda larga, a partir daqui, escolher obras seminais claramente identificadas nas temáticas especializadas e nas problemáticas de fundo associadas quer a uma introdução à ciência política por parte de um educador, quer a uma educação engajada que ambicione contribuir para desencadear, em contexto, a transformação social” (p. 20‑21).
4A obra está estruturada em duas partes que, embora distintas, se complementam. Considerando a autora que “é partindo da consciência crítica sobre a complexidade ideológica de base claramente patente na história do pensamento político ocidental moderno, que se poderá extrair, reconstruir e propor modelos interpretativos da realidade sócio‑política que contribuam de maneira original para aumentar o engajamento do(a) educador(a) social na prossecução de projectos que contribuam para a transformação social desde o seu campo de actuação” (p. 213), percebe‑se a opção de a primeira parte do livro ser dedicada a uma abordagem sobre as ideologias políticas modernas e sobre teorias do Estado, na qual são organizados conceitos e teorias. Após circunscrita conceptualmente a evolução moderna do sentido atribuído à noção de ideologia, são apresentadas as diversas ideologias políticas quanto ao entendimento público conferido ao vasto tema do poder político.
5Centrando‑se em três eixos gerais – nas origens determinantes, nas características fundamentais em termos de pensamento político e social e nas escolas e correntes de pensamento principais que estabelecem entre si um diálogo interno, pela sua pertinência –, são detalhadamente analisadas as ideologias políticas modernas: o liberalismo, o conservadorismo, o socialismo, o anarquismo, o fascismo, o feminismo e o ecologismo e as vinte e seis escolas de pensamento que as mesmas propõem, e assim esplanadas as diversas conceções do mundo e da organização da vida em sociedade por si propostas.
6Ainda na primeira parte são apresentadas as principais linhas de controvérsia existentes quanto à organização, ao papel e sentido a atribuir ao poder público formalmente entendido como Estado, sendo abordadas as cinco principais teorias: a teoria absolutista, a teoria constitucional, a teoria ética, a teoria clássica e a teoria pluralista.
7Ao longo da segunda parte do livro, intitulada “Estado e sociedade na modernidade ocidental: um debate ideológico e de princípios incontornável para uma educação transformadora”, a autora apresenta questionamentos essenciais que, face ao panorama da relação moderna entre o Estado e a sociedade, induzem à reflexão sobre a postura crítica que o/a educador/a social deve assumir, na conjuntura hegemónica e claramente tecnicista vivenciada neste início de século.
8São sistematizados alguns dos fundamentos do pensamento desenvolvido em torno dos fenómenos políticos e da questão do governo, deixando a autora, de forma expressa, a intenção de enquadrar o “contexto de emergência dos Estados modernos e das problemáticas de fundo inerentes à crise estrutural dos Estados Capitalistas democráticos” (p. 22). Apresentando os conceitos de Estado, de crise, de capitalismo, de democracia, deixa contributos para uma mais informada compreensão crítica sobre o processo de construção e desconstrução do Estado‑Providência e o emergir do Estado Neoliberal, afirmando a imprescindibilidade de reclamar para os nossos dias a necessidade de construir uma economia à medida da humanidade, o que pressupõe a rutura com o disseminado discurso que apela à competitividade e o assumir de um discurso e uma prática de cooperação que viabilize a reconstrução de um mundo mais humano e mais solidário.
9Ao longo das 245 páginas a autora apresenta a contribuição de importantes teóricos e simultaneamente expõe o seu pensamento, partilhando o seu modo de encarar a problemática que discute, apresentando de forma muito consistente os fundamentos para que na formação de quem trabalha ou trabalhará na área da educação social sejam assegurados os conhecimentos sobre a dimensão política de tal prática, para que a sua atuação não se resuma a mero assistencialismo social, sem a perspetiva da transformação do contexto e das realidades humanas.
10Esta obra é, sem dúvida, uma excelente mais valia nas bibliotecas de investigadores/as, educadores/as, formadores/as e outros/as profissionais da área das ciências sociais, mas também nas de quem queira desenvolver o seu conhecimento sobre os diferentes aspetos deste vasto, complexo e multifacetado que é o mundo da educação social.
11São 245 páginas de texto denso mas de progressiva e cativante leitura, ao longo das quais o/a leitor/a é desafiado/a a aprofundar o exposto em cada capítulo, em cada texto, através de outras leituras e pesquisas sugeridas pelos 275 títulos que regista na bibliografia referenciada e recomendada.
- 1 Freire, Paulo (1996), Pedagogia da autonomia – Saberes necessários à prática educativa. Editora Paz (...)
12Nas palavras da autora, trata‑se de uma obra que procura constituir‑se “num ponto de partida, de índole pedagógica, para uma busca, inevitavelmente mais pessoal e autónoma, [...] visando a co‑construção de saberes basilares para uma conscientização, uma auto‑reflexividade crítica e uma formação política, necessária ao próprio desempenho prático profissional e de cidadania, inseparavelmente afectos aos actores locais deste campo amplo da acção social” (p. 20), na convicção de que “os obstáculos não se eternizam” (Freire, 1996: 36)1 e de que a mudança é possível.
Notas
1 Freire, Paulo (1996), Pedagogia da autonomia – Saberes necessários à prática educativa. Editora Paz e Terra. Coleção Saberes.
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Referência do documento impresso
Maria Teresa Laranjo, «Rosanna Barros (2012), Subsídios breves para o debate de princípios e valores na formação política do(a) educador(a) social », Revista Crítica de Ciências Sociais, 97 | 2012, 157-160.
Referência eletrónica
Maria Teresa Laranjo, «Rosanna Barros (2012), Subsídios breves para o debate de princípios e valores na formação política do(a) educador(a) social », Revista Crítica de Ciências Sociais [Online], 97 | 2012, publicado a 19 abril 2013, consultado a 04 fevereiro 2025. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/rccs/4980; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/rccs.4980
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