Rosemarie Tong, Feminist Thought: A More Comprehensive Introduction
Rosemarie Tong (2009), Feminist Thought: A More Comprehensive Introduction, 3a ed. Boulder, Colorado: Westview Press, 417 pp.
Texto integral
1Como o seu subtítulo indica, a nova edição desta obra já clássica de Rosemarie Tong oferece uma introdução mais alargada do que as anteriores à diversidade da produção teórica feminista. Para além de a autora ter revisto, nalguns casos substancialmente, os capítulos dedicados aos feminismos liberal, radical, socialista e marxista, psicanalítico, pós‑moderno e ecológico (ou ecofeminismo), acrescenta dois novos capítulos sobre “care‑focused feminism” e “feminismo multicultural, global e pós‑colonial”. Cada um dos capítulos apresenta resumidamente as origens, o desenvolvimento e as principais teses de cada uma destas variedades de feminismo, incluindo no final uma síntese dos problemas que colocam e das críticas de que têm sido alvo. Tong sintetiza também as obras mais relevantes das autoras que mais contribuíram para o desenvolvimento de cada uma das correntes feministas em apreço, desde Mary Wollstonecraft (liberalismo) a Karen Warren (ecofeminismo), passando por Simone de Beauvoir, Kate Millett, Shulamith Firestone, Mary Daly, Juliet Mitchell, Alison Jaggar, Iris Young, Heidi Hartmann, Dorothy Dinnerstein, Nancy Chodorow, Julia Kristeva, Judith Butler e Hélène Cixous, entre outras. Para além disto, são ainda incluídas sínteses das teses e ideias das figuras que influenciaram determinadas correntes, como é o caso de Marx e Engels para o feminismo marxista e socialista, de Freud para o feminismo psicanalítico e de Jacques Derrida e Michel Foucault para os feminismos pós‑modernos. Também muito útil é a extensa bibliografia final, apresentada por secções correspondentes às subdivisões de cada capítulo.
2Como qualquer sistematização, a que nos é oferecida em Feminist Theory levanta questões que começam logo pela categorização algo inconsistente que Tong estabelece. Se, por um lado, alguns feminismos são classificados e nomeados de acordo com ideologias políticas (liberalismo, radicalismo, marxismo, socialismo), por outro temos classificações periodológicas (nomeadamente no último capítulo, intitulado “Postmodern and Third‑Wave Feminism”) e disciplinares (psicanálise). A autora está consciente, para além disto, do facto de os “rótulos” serem contestáveis, dada a “interdisciplinaridade” e “interseccionalidade” do trabalho desenvolvido no contexto dos feminismos contemporâneos, que “resistem” a categorizações fáceis. No entanto, para Tong estes rótulos preenchem uma função importante, ao indicarem claramente que o feminismo não é “uma ideologia monolítica”, oferecendo, pelo contrário, uma pluralidade de abordagens e quadros teóricos sobre a questão fundamental do que pode continuar a chamar‑se a “opressão” das mulheres (1).
3A síntese de Tong, que incide quase exclusivamente sobre autoras de língua inglesa, segue sensivelmente uma orientação histórica, começando com as raízes do pensamento feminista moderno no século xviii, dedicando algumas páginas ao texto clássico de Mary Wollstonecraft, A Vindication of the Rights of Woman (1792), e a vários ensaios de John Stuart Mill e Harriet Taylor (escritos entre 1832 e 1869). Aqui surgem alguns dos problemas “menores” deste livro: dados os seus objectivos propedêuticos, deveria no mínimo ser rigoroso quanto a coisas tão simples como títulos e datas de obras, o que nem sempre acontece. A obra clássica de Wollstonecraft aparece frequentemente citada como A Vindication of the Rights of Women (o que denota a interferência das perspectivas feministas contemporâneas sobre a fragmentação da categoria “mulher”), não sendo indicada a data da sua publicação. Uma vez que esta obra procura construir uma narrativa tão abrangente e coerente quanto possível do desenvolvimento das ideias feministas até ao presente, ganharia muito se indicasse sistematicamente as datas das obras que cita e se fosse mais rigorosa relativamente à distância temporal que separa certas figuras (por exemplo, entre Wollstonecraft e Mill e Taylor existem apenas cerca de 40 anos de diferença e não “aproximadamente cem”, como é afirmado na página 16).
4Sendo Tong professora de Ética dos Cuidados de Saúde na Universidade da Carolina do Norte e tendo publicado extensa obra nesta área, não é de estranhar que o novo capítulo sobre “care‑focused feminism” esteja particularmente bem conseguido na forma como expõe com clareza e faz dialogar as ideias de Carol Gilligan, Nell Noddings, Sara Ruddick, Virgina Held e Eva Feder Kittay. Já o mesmo não se pode dizer do capítulo sobre o “feminismo multicultural, global e pós‑colonial”, em que há ausências gritantes, nomeadamente no que se refere a Gayatri Spivack e Chandra Mohanty (que aparecem apenas na bibliografia deste capítulo com uma entrada cada), ou mesmo ao “feminismo transnacional”, que se tem concentrado na intersecção entre nação, raça, sexo, sexualidade e exploração económica a nível mundial no contexto do actual desenvolvimento do capitalismo global. Embora Tong preste atenção a estas questões, referindo, entre outras teóricas, Ella Shohat, não indica as obras mais relevantes desta autora neste contexto, designadamente Unthinking Eurocentrism: Multiculturalism and the Media (Routledge, 1994) e Multiculturalism, Postcoloniality, and Transnational Media (Rutgers UP, 2003). Aliás, apesar da revisão extensa da maioria dos capítulos, muitas das referências são datadas, pouco aparecendo de textos mais recentes, à excepção dos novos capítulos sobre “care‑focused feminism” e feminismo multicultural, global e pós‑colonial.
5As ausências para que chamei a atenção são sintomáticas de um facto incontestável: a dificuldade, ou mesmo a impossibilidade, de abarcar numa obra deste tipo toda a riqueza e diversidade da produção feminista recente. Não pretendendo ser enciclopédico, o livro de Rosemarie Tong funciona bem como uma porta de entrada no mundo plural do feminismo moderno, particularmente para quem pouco ou nada sabe sobre o assunto.
Para citar este artigo
Referência do documento impresso
Teresa Tavares, «Rosemarie Tong, Feminist Thought: A More Comprehensive Introduction», Revista Crítica de Ciências Sociais, 89 | 2010, 221-222.
Referência eletrónica
Teresa Tavares, «Rosemarie Tong, Feminist Thought: A More Comprehensive Introduction», Revista Crítica de Ciências Sociais [Online], 89 | 2010, publicado a 01 outubro 2012, consultado a 15 fevereiro 2025. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/rccs/3715; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/rccs.3715
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