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Correndo atrás de doce: socialidades na festa de Cosme e Damião no Rio de Janeiro

Running after treats: socialities at Comas and Damian festival in Rio de Janeiro
Morena Freitas

Resumos

Neste artigo, apresento os santos Cosme e Damião e as festas que lhes prestam homenagem. No Brasil, os santos mártires que se transformaram em crianças ganharam um terceiro irmão, Doum, e são celebrados pelas casas, ruas, praças, centros e igrejas com doces – muitos doces. As noções de 'circuito', 'manchas', 'trajetos' e 'pedaços'1 (Magnani, 1996;2002) mostram-se rentáveis para pensar na dinâmica da festa pela cidade do Rio de Janeiro. Acompanhando um grupo de crianças que corria atrás de doces pelas ruas de uma vila no subúrbio carioca, pude apreender as sociabilidades e classificações que fazem e são feitas na festa do dia 27 de setembro.

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Notas da redacção

Versão original recebida em / Original Version 31/01/2019

Aceitação / Accepted 02/05/2019

Texto integral

Os santos e suas festas

  • 2 Desde 1969, quando foram feitas as reformas do Concílio do Vaticano II, o calendário litúrgico cató (...)

1Entre a última semana de setembro e os últimos dias de outubro2, Cosme e Damião são festejados por crianças e adultos, com doces e brinquedos, nas casas, ruas e nas praças; em centros, terreiros e igrejas. As festas dos santos acontecem em lojas de doces, missas, giras, no dar e receber doces, na espera das filas em frente aos portões, no correr pelas ruas atrás de saquinhos.

  • 3 Palavra derivada do grego, em que “a(n), privativo, e árguros, dinheiro” (AUGRAS,2005, p.94)

2Cosme e Damião não costumam ocupar muito espaço nos dicionários de santos e geralmente suas vidas e milagres são apresentados em uma ou duas páginas, que se estendem apenas para trazer ilustrações (Génoli, 2011; Giorgi, 2003; Varazze, 2003). Os irmãos nasceram na Síria, onde cresceram e desenvolveram suas habilidades médicas, cuidando dos doentes da aldeia, curando homens, mulheres, crianças e animais. Cosme e Damião não cobravam pelos cuidados que dispensavam aos doentes e por isso ficaram conhecidos como os anárgiros3. Pelas milagrosas curas e por se confessarem cristãos, os irmãos foram condenados a apedrejamentos e afogamentos, dos quais foram salvos por anjos. Acabaram morrendo decapitados, por volta dos anos 300, sob o império de Diocleciano, período marcado pela perseguição aos cristãos.

  • 4 Veremos que aqui no Brasil eles assumiram outros patronatos, como nos mostra Figueiredo (1953: 27): (...)

3A medicina que marcou a vida e os milagres de Cosme e Damião caracteriza também o culto aos santos. Considerados patronos dos médicos na Europa4, o culto a Cosme e Damião dava-se, sobretudo, nas associações médicas (Nicaise,1893). Em Portugal, há registros que o culto se dava de duas formas: em Coimbra, cidade universitária, os santos eram reconhecidos pelo ofício que tiveram em vida e, para obter o título de doutor, era preciso pagar uma taxa à Irmandade de São Cosme e São Damião (Falci, 2002, p. 138); já em pequenas aldeias, onde o culto era mais forte, os santos estavam menos associados aos suntuosos prédios das confrarias e academias do que a toscas capelas. Os nomes de Cosme e Damião estavam naquelas aldeias mais ligados aos nascimentos de gêmeos do que aos grandes e renomados cirurgiões (Carvalho,1928).

4Registros indicam que São Cosme e São Damião chegaram no Brasil em 1535, quando, por ordem do capitão Afonso Gonçalves, foi erguida nas terras da capitania de Duarte Coelho uma igreja em homenagem aos santos. A igreja, a mais antiga em funcionamento no país, é, desde 1951, Patrimônio Histórico Artístico Nacional e matriz da cidade de Igarassu (PE), que festeja todos os anos os santos gêmeos.

  • 5 Uma espécie de manto que usam os peregrinos, que cobre a região da cabeça e do colo com um capuz.
  • 6 O mais recorrente é o urinol, mas também aparecem instrumentos cirúrgicos.

5Aqui no Brasil, os irmãos começam a ganhar novos traços. Voltando aos dicionários dos santos, quando estes nos falam acerca da representação iconográfica clássica, tradicional e mais recorrente, Cosme e Damião aparecem com “objetos relacionados à profissão, como frascos de medicamentos e instrumentos cirúrgicos” (Giorgi,2003: 99) e “com a palma do martírio e instrumentos médicos” (Genoli,2011: 50). Nessas representações iconográficas, os irmãos portam trajes romanos, vestindo sandálias, túnicas, um longo manto e uma capa. Portam ainda uma esclavina5, um cajado ou um barrete. Além disso, têm como atributos a palma do martírio, os livros, alguns instrumentos da profissão6, que geralmente aparecem nas mãos dos santos ou numa mesa – que costuma ficar entre eles. As cores predominantes são o vermelho e o verde, aparecendo o dourado em detalhes.

6Estes seriam o Cosme e Damião da imaginária católica erudita; no imaginário popular brasileiro eles aparecem um pouco diferentes. Como nos explica Maria Lúcia Montes (2011: 23),

É aos poucos que tons suaves de rosa e verde começam a dominar os trajes dos santos, em lugar do vermelho vivo do sangue dos mártires e do verde simbólico da esperança de sua ressurreição no Cristo, mesmo quando túnicas e esclavinas buscam reiterar o esplendor dourado da imaginária católica barroca. Rosas e azuis se insinuam no avesso de um manto e o planejamento movimentado da vestimenta ou a postura dançarina das imagens setecentistas [...] desaparecem, ocupando então o seu lugar figuras rígidas com braços estendidos para frente e mãos sem proporção para o encaixe da palma e do cajado. O entalhe tosco típico de um ex-voto se completa numa pintura que reforça as características estéticas de cunho popular das pequenas esculturas. [...] A túnica e a casaca com botões, herdadas de imagens setecentistas, são substituídas por uma veste que se encurta, subindo quase até a altura da esclavina e deixando à mostra o culote amarrado à altura do joelho, que acentua o aspecto infantil da figura.

  • 7 Para alguns, como Montes (2011) e Lopes (2011), Doum seria Idowu, nome dado pelos ioruba ao filho q (...)

7Além do rosa e do azul, vemos que a representação popular trouxe ainda um novo elemento às imagens dos santos. No lugar central, entre os irmãos, onde antes havia uma mesinha com livros e instrumentos médicos, surge uma nova figura. Um terceiro, que é na verdade uma miniatura dos outros dois, é posto entre Cosme e Damião. Estes ganham um novo irmão, Doum7.

8A introdução de Doum na representação de Cosme e Damião seria a prova da reestruturação dos santos católicos – em sua função e em suas imagens – resultante do contato com as religiões afro-brasileiras e suas divindades (Lopes, 2011: 90). A presença desse terceiro elemento, que ligaria os santos gêmeos católicos ao orixá criança dos ioruba, seria a chave para compreender como, no Brasil, os santos mártires passaram a ser representados por duas crianças gêmeas (Montes, 2011). Cosme e Damião passam de santos médicos adultos a santos crianças - ganham uma aparência mais jovem, que pede tons mais suaves; perdem o ofício, com a saída da mesinha com os livros e com os instrumentos médicos, para tornarem-se irmãos mais velhos de Doum.

9A infantilização dos santos não estaria somente na iconografia e é na festa que podemos ver que a relação de Cosme, Damião (e Doum) com as crianças sai dos altares e chega às ruas, onde, como registra a literatura, os santos são festejados com doces, brinquedos e caruru.

  • 8 Sobre as festas de terreiro na Bahia em homenagem aos santos que Ribeiro menciona, mas não descreve (...)

10Ribeiro (1958) nos fala sobre o culto a esses santos em três cidades: Salvador, Recife e Rio de Janeiro. Na Bahia, a forte presença do culto aos gêmeos se dá por dois motivos: pelas irmandades e pelos terreiros de candomblé. Carlos Torres, em seu roteiro turístico da Bahia (1973), não deixa de citar as celebrações do dia 27 de setembro, quando os santos católicos são festejados com os usos e costumes do “feiticismo africano” (p. 178). Na festa baiana em homenagem aos santos se reza e se come. Além da missa, faz-se também um verdadeiro banquete, ofertado em grandes mesas nas salas de jantar. Sobre a toalha bordada eram servidos caruru, vatapá, xinxim de galinha, banana frita, pipoca; e sobre outros móveis da sala eram servidos os doces e frutas. Se a missa seguia os preceitos católicos, a comida era feita e servida seguindo o ritual africano.8

11Em Recife seriam os grupos de culto afro-brasileiro os responsáveis pelo culto, quase que exclusivo, aos santos. Ribeiro (1958) não conseguiu muitos dados acerca do culto doméstico em Recife, sendo o caruru ofertado nos terreiros a maior expressão da homenagem a Cosme e Damião. A festa do dia 27 de setembro se distinguiria das demais pelo protagonismo das crianças, para quem eram ofertadas as comidas – caruru, frutas, bombons e demais doces – e a quem era permitida uma liberdade não desfrutada em outras datas do calendário festivo.

12Em termos de contraponto, sobre as festas em Salvador e Recife não posso falar muito, mas, em sua descrição da festa no Rio de Janeiro, Ribeiro (1958) deixou a desejar. Para o autor a festa dos cariocas acontece, quase que exclusivamente, nos centros de umbanda. Lopes (2012), Frade (1970) e Poel (2013) já nos trazem festas que se espalham pela cidade;

Os festejos se traduzem principalmente em oferenda de comidas e bebidas, notadamente doces, distribuídos às crianças em pagamento de promessa ou por habitual devoção. Os doces são acondicionados em saquinhos, hoje industrializados, em que se vê impressa a efígie dos santos (...). Os ofertantes chamam as crianças da vizinhança e as organizam em fila para receber cada uma o seu saquinho. Por haver sempre várias casas em que essa distribuição é feita, as crianças costumam, no dia 27 de setembro, passar o dia inteiro indo de casa em casa (...). No Irajá, até a década de 1960, uma das festas mais bonitas era realizada na rua Honório de Almeida, pela senhora Maria Maia de Mendonça, a “Dona Maricota”, tia e madrinha de batismo do autor dessas linhas. Em vez de distribuir os doces no portão em saquinhos, ela os servia, em pratinhos, numa mesa comprida no quintal, toda enfeitada em azul e branco, cores de Iemanjá, sendo as crenças servidas por grupos, de acordo com a capacidade da mesa. (Lopes, 2012: 110-111)

A minha festa de Cosme e Damião eu comecei a fazer por promessa [...]. Quando posso dou mais, quando não posso dou menos um pouquinho. Eu primeiro dou o cartãozinho que aí fica mais organizado,né?! O menos que eu dou é 300 cartões, nunca dou menos [...].Eu dou sempre os 300 cartões e faço sempre cem pacotinhos a mais porque sempre aparece aquelas criancinhas que não ganharam o cartão e ficam querendo doce [...]. Eu faço assim, eu compro uma lata de tinta e boto do meu lado, aqueles que vai apanhando o saquinho eu faço uma cruzinha de tinta vermelha na testa [...] Eu faço cocada, bala, doce, tudo em casa [ ...] Eu faço a minha festinha aqui e no centro (espírita) nós damos festa também. Inclusive lá no centro nós damos doces para as crianças e para os adultos também [...]. Então eu faço assim, de dia eu dou os saquinhos das crianças e de noite, na hora da festa, aí a gente dá os pratinhos [...]. [grifos meus] (Frade,1978:15)

No Rio de Janeiro, há para eles muita festa, e muitos cartuchos com balas são distribuídos para as crianças, especialmente nos bairros de periferia onde, às vezes, dada a grande afluência, a distribuição é feita mediante cartões entregues previamente (Poel, 2013:977)

13Somente no depoimento trazido por Frade, podemos ver que a festa é de Cosme e Damião, mas também de quem a faz – a “minha festinha” de Cosme e Damião; ou seja, cada um tem a sua maneira de festejar os santos. No caso da senhora acima, a festa dela homenageia os santos com saquinhos, dentro dos quais são postos os doces que ela mesmo faz e que são ofertados a, mais ou menos, 300 crianças. Também podemos ver as diferenças entre a festa na casa dela e a festa do centro, onde os adultos também comem doces e estes são ofertados em pratinhos e não em saquinhos. Além disso, temos aí um dia todo de festa: a manhã marcada pelos saquinhos – e pela cruz vermelha na testa das crianças – e a noite pelos pratos de doces.

14A festa pode variar, então, de acordo com quem a faz. Pode se dar os doces nos saquinhos, numa mesa ou em pratinhos; os doces podem ser comprados ou feitos em casa; dados somente às crianças ou também aos adultos; na rua ou em casa; de manhã ou à noite; com ou sem cartão.

  • 9 O cartão costuma ser entregue antes do dia da festa, tendo nele indicada a hora e o local da distri (...)

15Quando os doces são dados em saquinhos eles podem ser distribuídos do portão de casa ou na rua, onde podem, ainda, ser dados a pé ou de carro. Para quem gosta da bagunça da festa a melhor opção pode ser a menos planejada – é só gritar “olha o doce!” e esperar pela criançada. Há quem opte por um pouco mais de ordem e, nesses casos, o uso do cartão é o mais indicado9.

16Além das ruas e dos portões, há um outro local que não pode deixar de ser mencionado. Nas praças vemos a festa acontecer de várias formas. Quando não se quer distribuir os doces no portão de casa, ir até a praça – a pé ou de carro - é uma boa opção, pois por lá sempre se encontram crianças. Estas também costumam ir para as praças quando o movimento de distribuição pelas ruas diminui – ou seja, quando cansam de perambular por ruas sem doces, as crianças acabam dirigindo-se para as praças. Dessa forma, nas praças podemos ver crianças que buscam doces e doadores que buscam crianças.

17Nos centros e terreiros de umbanda e candomblé costumam ser feitas as mesas de doces, e os santos são homenageados numa celebração que toma contornos de festa de aniversário infantil, com bolas coloridas enfeitando o espaço e mesa e bolo decorados com personagens de animações infantis.

  • 10 Na igreja do Andaraí, a distribuição de doces é feita por fiéis que escolhem a igreja como local pa (...)

18Cosme e Damião são festejados em casas, ruas, praças, centros, terreiros e também em igrejas. Na cidade do Rio de Janeiro existem duas igrejas dedicadas aos santos: a paróquia de São Cosme e São Damião, localizada no bairro do Andaraí, e a Igreja ortodoxa de São Cosme, São Damião e São Jorge, em Olaria. Nas igrejas os santos são festejados em missas, carreatas e, como não poderia deixar de ser, com doces10.

O circuito dos doces

19Uma festa não se esgota em si mesma, mas envolve também seus preparativos e suas repercussões (Menezes, 1996; Pereira, 2014), situações que se mostram bastante rentáveis para aqueles que se interessam pelas formas de sociabilidade e materialidades que fazem e são feitas na festa. No caso do 27 de setembro, observar os preparativos da festa é acompanhar a compra de doces e montagem de saquinhos, atividades que não costumam ser realizadas com muita antecedência – afinal, não se pode correr o risco de, sob um calor de uma primavera tropical, os doces amoleçam e acabem por melar os saquinhos.

20Em seus preparativos, a festa espalha-se pelas lojas de atacado alimentício, onde caixas de suspiros e maria-moles começam a encher prateleiras, vitrines e carrinhos de compras. Para aqueles que querem festejar os santos e as crianças mas sem gastar muito, há uma espécie de ‘circuito dos doces’. Recorro à noção de Magnani (1996, p. 23), onde circuito “une estabelecimentos, espaços e equipamentos caracterizados pelo exercício de determinada prática ou oferta de determinado serviço, porém não contíguos na paisagem urbana, sendo reconhecidos em sua totalidade apenas pelos usuários”. Bonsucesso, Madureira, Quintino, Penha e Centro seriam pontos que conformam este circuito de doces por possuírem estabelecimentos onde é possível encontrar doces em grandes quantidades a um menor custo – em comparação às lojas onde a maior parte dos doces é vendida por unidade. Este, portanto, é um circuito daqueles que desejam montar um bom saquinho a um bom preço.

21Frade (1978, p. 15) chamara atenção para o aspecto comercial dos festejos de Cosme e Damião e é na semana dos preparativos que podemos explorar melhor esse viés da festa. Nas lojas é sensível o aumento do movimento de clientes na semana que antecede o 27 de setembro. O impacto da data no setor de venda de doces – sobretudo em atacado – é noticiado em jornais. Numa matéria intitulada “Dia de São Cosme e Damião anima comerciantes”11 vemos que “as lojas especializadas abasteceram o estoque com 40% a mais de doces como balas, pirulitos, maria-mole, cocada, mariola, suspiro e outras variedades que mais estão presentes nos saquinhos”. Segundo a mesma matéria, os comerciantes esperam um aumento de quase 50% nas vendas durante o período da festa, onde os preços desses produtos mais procurados também acabam aumentando.

22Nessas lojas, é impossível ficar alheio à festa e aos doces que lhe são típicos. Caixas e mais caixas de suspiros ficam empilhadas nas portas, onde também vemos expositores com paçocas, suspiros, maria-moles, doces de abóbora; enfim, todos esses doces que costumam vir em caixas e potes e que caracterizam a festa. Além disso há um outro item que não deixa dúvidas: os saquinhos que armazenam todos esses doces. De papel ou de plástico, em formato de saquinho (como os de pipoca) ou de sacolinha, com a imagem dos santos ou de palhacinhos, com as frases “Salve São Cosme e São Damião” ou “Salve o Dia das Crianças”; eles estão espalhados por toda loja.

  • 12 Os doces aqui citados foram os mencionados por 161 entrevistados em setembro de 2013, em diversas l (...)

23Balas, pipoca, cocada, suspiro, paçoca, pé de moleque, pirulito, maria-mole, doce de abóbora, amendoim, bananada, bombom, jujuba, chiclete, doce de leite, cocô de rato, doce de batata doce, pé de moça, torrone; estes são os doces que costumam preencher os saquinhos12 e algumas classificações parecem operar nas escolhas de quais doces serão comprados. Havia quem dissesse que ia dar os doces tradicionais – e sob esta rubrica são mencionados suspiro, doce de leite, pipoca, cocada, pé de moleque, maria-mole, paçoca, bananada, jujuba. Tem quem leve em conta em quem vai consumir os doces; que pensa em comprar doces mais sofisticados – como o chocolate ou marshmallow – para aqueles que não têm oportunidade de comê-los normalmente; ou doces que não sejam duros, para as crianças pequenas poderem consumi-los sem problemas; quem deixa de comprar doce de abóbora, porque acredita que as crianças não gostem.

24As memórias de infância também podem influenciar na escolha dos doces. Maria-mole, cocô de rato, suspiro, doce de abóbora e cocada foram citados como doces que traziam à tona memórias da infância dos próprios compradores e por isso eram comprados. Além de pensar no gosto das crianças que irão receber os saquinhos, há quem leve em conta a memória do paladar infantil agradado pelos saquinhos pegos outrora.

  • 13 A variedade de doces segue o que muitos entrevistados já me contaram: é preciso ter sete tipos de d (...)

25De maneira mais objetiva, o preço do doce também é algo que influencia na escolha do que vai ser posto nos saquinhos. Há quem compre os mais baratos, o mais em conta, o que o dinheiro dá; podendo ser o preço a variável mais importante para decidir o que será comprado. Sendo o preço uma importante variável, faço aqui um exercício de montar cem hipotéticos saquinhos para termos uma noção do custo. Meus cem hipotéticos saquinhos (de papel, com a imagem dos santos e a frase “Salve São Cosme e São Damião”) seriam preenchidos com sete doces: bala, pipoca, cocada, suspiro, paçoca, pé de moleque e pirulito. Para fazer essa festa, o custo seria de R$125,16. 13

26Para alguns, no entanto, há outras questões muito além dos custos que devem ser levadas em conta na hora das compras. A cocada, por exemplo, é recorrentemente citada quando perguntamos o que não pode faltar no saquinho. Há quem não deixe de comprá-la por gostar do doce - e ainda tem quem aproveita para comer algumas enquanto monta os saquinhos – ao considerar que as crianças gostam ou por achar que é um doce tradicional da festa. Alguns afirmam que em saquinho de Cosme e Damião tem que ter doce branco e, por isso, não pode faltar cocada ou suspiro.

27Preço, gosto - das crianças, dos santos - , preceito, tradição, memórias de infância; tudo isso é levado em conta nos cálculos afetivos e financeiros daqueles que, na semana que antecede o dia 27 de setembro, percorrem as lojas de doces para preparar suas festas em homenagem aos santos gêmeos.

Entre doces e crianças: um 27 de setembro pelas ruas no subúrbio carioca

28Veremos aqui algumas crianças: as crianças festejadas pelos doces, as crianças nas quais se pensam quando se compram os doces e as crianças que, de fato, pegam os doces. Para falar das primeiras, tomo como base as entrevistas feitas com os compradores de doces e para falar das crianças que pegam doces, trago minha experiência com um grupo que acompanhei em 2014, quando corri atrás de doce pelas ruas do Bairrinho, em Vista Alegre.

29Cosme e Damião são frequentemente associados às crianças e há quem diga que os próprios santos são crianças. Essa relação, apesar de recorrente, é um tanto obscura se olharmos para a hagiografia dos irmãos, pois nelas não existem muitos fatores que expliquem tal associação. Dentre as curas atribuídas aos irmãos, não há nenhum milagre envolvendo crianças. O estreitamento da relação entre os santos católicos o os gêmeos iorubá, como já vimos, pode ser um caminho para compreender essa identificação. Mais do que tentar descobrir as razões lógicas e históricas ou buscar um ponto de origem, importa-me mostrar como essa relação se manifesta, e mais, se reforça, durante a festa.

30Quando eu perguntava para quem seriam dados os doces que estavam sendo comprados, quase sempre ouvia um sonoro “para as crianças, ué?!”, como se eu estivesse fazendo uma pergunta um tanto descabida por já ser óbvia a resposta. Mas quando era possível insistir na pergunta, ia ouvindo um pouco mais sobre essas crianças que receberiam os saquinhos; elas tinham idade, uma relação específica com o doador, pertenciam a determinados espaços.

31Muitos me diziam que iam dar para as crianças da rua, resposta que acabava falando mais sobre como seria feita a distribuição do que para quem seriam dados os doces. Ao contrário do que poderia parecer, as crianças da rua não seriam aquelas que moram na rua, mas as que circulam pelas ruas no dia 27; e, para alguns, dar os saquinhos na rua é a forma mais tradicional de se fazer a festa. Mas não são necessariamente todas as crianças que estão pelas ruas que ganham doces, pois há quem defina uma idade ou tamanho limite – seis, oito, doze, treze, quatorze e quinze foram idades mencionadas como idades máximas e teve quem se deixasse guiar somente pelo tamanho pequeno.

32Antes dos saquinhos serem levados para rua, é comum que alguns sejam separados ainda em casa, para aqueles que são da família ou conhecidos. Os saquinhos de sobrinhos, netos, filhos de amigos e vizinhos já ficam reservados; e eles não costumam ser discriminados por tamanho ou idade.

  • 14 Sobre uma discussão acerca das diferenças e de uma moral estabelecidas pela caridade, ver CAVALCANT (...)

33Para alguns, mais importante que o tamanho, idade ou parentesco é a necessidade de quem ganha o saquinho. O dar doce pode, portanto, transformar-se em ato de caridade e a necessidade é mais um fator que por alargar a categoria criança – que geralmente é utilizada para definir quem ganha doce. Nesse caso, a relação entre quem dá e quem recebe é atravessada por uma assimetria, que demarca quem dá de quem recebe – e, ainda, quem pode dar e a quem só cabe receber14. Outro movimento interessante é a transformação do doce em necessidade. O que é tido comumente como supérfluo – doce não alimenta -, na festa passa a ser considerado necessidade. O saquinho de doce não supre somente a necessidade alimentar, mas também a carência da diversão, já que correr atrás de doce é divertido. Dar doces no dia 27 pode, portanto, ser um ato de caridade, que alimenta e alegra; não à toa muitos doadores mencionam o sorriso da criança como motivação para fazer a festa.

  • 15 Recorri a dados disponíveis no Armazém de Dados da Prefeitura, uma página do Instituto Pereira Pass (...)

34Depois de muito ouvir sobre essas crianças para as quais seriam dados os saquinhos, eu decidi que seria importante conhecer essas crianças. Em setembro de 2014, eu passei todo o dia 27 correndo atrás de doce com um grupo de crianças pelas ruas do Bairrinho. Com onze ruas, 400 casas, cinco praças e uma quadra; o Bairrinho, que oficialmente é uma vila, é considerado um condomínio fechado e possui três entradas com cancelas onde os seguranças controlam a entrada e saída de veículos e ficam a par da movimentação dos pedestres. Os moradores do Bairrinho se diferenciam dos demais moradores de Vista Alegre, que se distinguem dos moradores dos bairros. Em termos econômicos, a maior parte dos moradores de Vista Alegre pertence às classes C e D , enquanto nos bairros vizinhos a população flutua, majoritariamente, entre as classes D e E15 .

Fonte: Google Mapps.

  • 16 As manchas são “áreas contíguas do espaço urbano dotadas de equipamentos que marcam seus limites e (...)

35O Bairrinho, Vista Alegre e seu entorno se mostraram, ao longo da pesquisa, uma espécie de ‘mancha’ (Magnani, 1996)16, nesse caso, de saquinhos. Fomos percebendo como no dia 27 de setembro há um intenso movimento de crianças e doces pelas casas, ruas e praças desses bairros. Se em algumas partes da cidade a festa dos santos gêmeos nem é percebida – como é o caso de muitos bairros pela zona sul –, é quase impossível caminhar pelas ruas desses bairros sem encontrar um saquinho, ou um grupo de crianças com suas mochilas em sua busca por doces.

36Cada grupo define seu trajeto e são várias as referências possíveis. Pode-se delimitar os caminhos a serem percorridos tendo a residência como referência e a possibilidade de dela afastar-se ou não. O trajeto escolhido pode se basear em relações pessoais, indo-se a casas de conhecidos onde já se sabe que vai ter doce. Há também quem não defina um trajeto ao sair de casa e se guie pelos gritos “aqui tem doce!”. Dentre as possibilidades, o Bairrinho ser um ponto atrativo, pois por lá circulam bons saquinhos.

37A dinâmica do Bairrinho é um tanto singular e no dia da festa alguns traços dessa particularidade são mais evidentes. Como disse anteriormente, o Bairrinho possui cancelas e seguranças que instauram algum nível de controle sobre a entrada e saída de pessoas e veículos; isso se deve, sobretudo, a uma preocupação dos moradores com a violência, sendo esse controle uma forma de garantir a segurança de quem ali habita. Os moradores transitam entre as cancelas livremente, enquanto os não moradores precisam se identificar. Entre esses dois pólos, estão aqueles que são quase moradores; frequentadores habituais que já são reconhecidos pelos seguranças e moradores. No dia da festa, a maior distinção é entre quem dá e quem corre atrás de doce, mas as outras distinções, já cotidianas, seguem operando. Utilizando a categoria de Magnani (2002:21), poderíamos tratar o Bairrinho não enquanto um sub-bairro ou vila, mas enquanto um pedaço.

[...] essa noção era formada por dois elementos básicos: um de ordem espacial, física – configurando um território claramente demarcado ou constituído por certos equipamentos – e outro social, na forma de uma rede de relações que se estendia sobre esse território.(...) Entretanto, não bastava passar por esse lugar ou mesmo frequentá-lo com alguma regularidade para ser do pedaço; era preciso estar situado (e ser reconhecido como tal) numa peculiar rede de relações que combina laços de parentesco, vizinhança, procedência, vínculos definidos por participação em atividades comunitárias e desportivas etc. Assim, era o segundo elemento – a rede de relações – que instaurava um código capaz de separar, ordenar e classificar: era, em última análise, por referência a esse código que se podia dizer quem era e quem não era “do pedaço”.

  • 17 Além de passar o dia 27 no Bairrinho, alarguei meu campo para as semanas antes e depois da festa, a (...)

38Nas vozes das mães com quem tinha entrado em contato durante a semana17, já havia percebido o receio delas pela entrada de pessoas estranhas, de fora; como essa entrada de desconhecidos abala a segurança do local e preocupa as mães que deixam seus filhos brincarem sozinhos pelas pracinhas e na quadra do Bairrinho. De certa forma, as crianças nunca estão sozinhas, pois são sempre supervisionadas pelos olhos sempre atentos de seus pais, de vizinhos e dos seguranças que ficam nas guaritas. No sábado de Cosme e Damião pude perceber como a presença de estranhos também amedronta as crianças.

  • 18 Os nomes aqui utilizados são fictícios, criados por mim para proteger a identidade das crianças.
  • 19 Coloco “perdeu” entre aspas porque depois o Pedro foi explicando que tiraram o boné da cabeça do me (...)

39Em algum momento, enquanto conversava com alguma senhora que estava distribuindo saquinhos, um grupo grande de meninos de fora entrou no Bairrinho. Percebi que os meninos que eu acompanhava saíram correndo, achei que estavam indo em busca de algum saquinho anunciado. Pouco tempo depois os reencontrei. Eles estavam preocupados com o grupo que há pouco atravessou a guarita. Não queriam encontrar com eles pelas ruas, queriam seguir “contra o fluxo do bonde”, como colocou Guilherme18. Luís falou que depois que eles entraram, um menino “perdeu” o boné 19. Eles resolveram que era hora de botar a mochila pra frente, para evitar que alguém abrisse e roubasse um saquinho. À tarde, Gabriel, morador do Bairrinho, foi atropelado por um rapaz de bicicleta. Eu não vi essa cena, cheguei quando todos estavam em volta do Gabriel, perguntando se ele estava bem, enquanto seu irmão mais velho falava “só podia ser gente de fora. Entra aqui pra fazer merda”.

40A distinção entre os de dentro e os de fora tinha, inegavelmente, um marcador racial. Entre os moradores, poucos eram negros, como já fui percebendo durante a semana em que fiquei lá; enquanto quase todos os que as crianças me apontaram como de fora eram negros. Além disso as cores das mochilas também me diziam alguma coisa. As mochilas das crianças do Bairrinho eram coloridas e variadas, ninguém tinha a mesma mochila num grupo. Os meninos de fora costumavam ter mochilas azuis com o símbolo da Prefeitura do Rio; eram mochilas de estudantes da rede pública municipal.

41Entre os meninos do grupo que acompanhei não havia conflito, mas era perceptível o clima de competição que a festa pode assumir. Quando o movimento pelas ruas estava fraco, eles se dirigiam às pracinhas, onde descansavam sentados nos bancos, tomavam água e organizavam as mochilas. Cada parada na praça era uma oportunidade de contar os saquinhos e ver quem tinha mais. Como os doces são, geralmente, pegos em grupos, não raro todos têm, mais ou menos, o mesmo número de saquinhos. Mas como esses grupos costumam sofrer várias reconfigurações durante o dia – se separam e se reencontram, ganham e perdem membros –, sempre há um ou outro que acaba se destacando dos demais, por ter menos ou mais saquinhos.

42Uma forma de se destacar na competição era pegar, numa mesma casa, mais de um saquinho. Receber da mesma pessoa um segundo saquinho era uma conquista muito comemorada e quando um conseguia, acabava desafiando os demais a tentarem o mesmo feito. E, para para obter sucesso, eles tinham suas estratégias.

43Para evitar ser pego em flagrante e ter de abrir mão dos doces, era preciso dar um tempo entre o primeiro e o segundo saquinho, dar uma volta e depois retornar à casa. Era preciso, segundo eles, ter cara de pau para pegar doce na mesma casa, fingir que ainda não tinha pego. Na maior parte das vezes era só chegar e pegar; outros casos, quando eram reconhecidos, requeriam um certo esforço para convencer o doador de que ele estava errado ao achar que já tinha lhe dado o saquinho. Como já conheciam os doadores, estabeleciam quais seriam os mais fáceis de enganar, onde era possível pegar mais de um saquinho e também sabiam algumas casas que sempre davam doces. Muitos daqueles que eles achavam estar enganando, na verdade, não se importavam em dar mais de um saquinho para a mesma criança. Como todos ali se conheciam, dificilmente eles, de fato, passavam uma segunda vez sem serem reconhecidos. Dessa forma, os adultos também entravam no jogo e na brincadeira das crianças. Até o fim do dia, o recorde dos meninos tinha sido três saquinhos numa mesma casa; e mesmo Jorge, que sentia vergonha em fazer isso, alcançou os amigos.

44Quando descobriam uma casa onde estavam dando doce, não deviam fazer muito alarde, para não atrair mais gente. Era melhor só avisarem do ponto de distribuição uma vez que já tivessem garantido seus saquinhos. Em nenhum momento os vi enganando outro grupo, anunciando doce onde não tinha; mas também não costumavam entregar as fontes.

45Essas eram práticas que eles aprendiam entre si; em nenhum momento ouvi alguém dizer “aprendi com meu pai” – assim como não vi nenhum adulto ensinando tais truques às crianças. Com os pais eles aprendem a agradecer pelos saquinhos ganhos, mas é na companhia dos pares que vai se aprendendo as artimanhas do jogo. Além disso, a desenvoltura de cada um na realização dessas manhas era utilizada como referência para que eles se qualificassem entre si – quem é bom em pegar mais de um saquinho, quem era bom para convencer alguém a dar doce, quem era rápido em descobrir onde estava tendo distribuição etc. Um era o mais atento, sempre sabia onde tinha doce sendo ofertado; outro tinha as manhas e ainda tinham aqueles que se aproveitavam de sua pequena estatura, para disfarçar a idade e conseguir doces de quem dizia só dar para as crianças menores.

46A questão do tamanho e da idade ressurgia a cada pedido de doce negado. Eles nunca recebiam um “não” sem tentar fazer com que o doador mudasse de ideia. Para eles o critério do tamanho não faz muito sentido e ainda era um tanto injusto; ou se define uma idade ou dá doce para todo mundo, afinal ninguém tinha culpa por ter crescido demais. As crianças de colo nem mereciam ganhar muito doce, afinal elas nem se esforçavam para isso, deixando todo o trabalho para mãe. Para Guilherme, ter uma mochila cheia de doces pegos pela mãe não podia ser considerado uma conquista. As crianças pareciam concordar com Jenks (2002:191), quando este diz que

  • 20 Vale ressaltar que Van Gennep (1969:103) já atentava para essa questão, quando chamara atenção daqu (...)

Muito embora a morfologia física possa, em certas circunstâncias, constituir uma forma de diferenciação entre as pessoas, não constitui uma base adequada e inteligível para pensar o relacionamento entre criança e adultos. [...] Nenhuma passagem de um estatuto a outro é simplesmente uma questão de crescimento ou mudança física.20

47Apesar de em alguns momentos também utilizarem o critério do tamanho – em certo momento eles disseram que um menino, de 14 anos e uns tantos centímetros a mais que eles, já tinha cara de pai de família e não devia ir para a rua pedir doce –, outro critério definia melhor o momento de parar de receber doces. Quem tinha namorado já não devia encher a mochila de saquinhos; as meninas que estavam no grupo, as três com 13 anos, ao cruzarem com uma amiga acompanhada do namorado falaram: “ tem vergonha, não? Já tá aí com namorado e ainda tá pegando doce. Vai pra casa!”.

  • 21 Isto é bastante relativo já que, não raro, encontramos vários adultos pedindo doces no dia da festa (...)

48Em alguns casos, é a própria criança que estabelece quando deve parar de pegar doce. Uma menina com quem conversei, de 13 anos, achava que não devia mais participar da festa e quase saiu de casa sem a mochila; foi sua amiga quem acabou de convencê-la, mas ela só concordou em pegar os doces; pedir já era demais. Ela já não fazia tanta questão do doce e tinha vergonha de pedir, tinha saído esse ano mais para acompanhar os amigos que eram menores; e no ano seguinte era bem provável que nem como acompanhante ela aceitasse ir para a rua no dia 27. Para ela ainda era possível ganhar, mas já não lhe cabia mais pedir ou correr por doces. Ao que parece, pedir doces é uma atividade exclusiva das crianças21.

49Além de classificarem uns aos outros e quem pode ou não correr atrás de doce, as crianças também classificam os saquinhos. Para ser considerado bom, um saquinho deve ser cheio e é ainda melhor se tiver chocolate ou marshmallow, considerados doces caros. Se o saquinho ainda vem com um brinde – alguns dão junto com os doces uma garrafinha de refrigerante, copo de refresco de guaraná, salgadinho ou algum brinquedo –, os doces já nem importam tanto. Quando sentam nas praças, além de contar quantos saquinhos já conquistaram, as crianças também vão realizando uma espécie de triagem dos doces. Abrem os saquinhos, decidem o que vão comer na hora – balas, pirulitos, chicletes -, o que deixam para depois – chocolates – e o que já vai ficando pelo banco da praça mesmo; a maria-mole e o doce de abóbora costumam ser os descartados. Mas é em casa, ao fim do dia, que os doces são separados e guardados, tarefa muitas vezes desempenhada pelas mães, que organizam a conquista dos filhos que passaram o dia correndo atrás de saquinhos – e que garantiram doce para o ano inteiro.

Considerações Finais

50Procurei aqui mostrar como as noções de 'circuito', 'manchas', 'trajetos' e 'pedaços' (Magnani, 1996; 2002; 2014) são rentáveis para pensar em como santos e crianças são celebrados pelas ruas do Rio de Janeiro e quais as práticas, lugares e classificações que fazem e são feitos nas festas em homenagem a São Cosme e Damião. A partir desses conceitos, podemos pensar nas socialidades dessa festa, onde as relações se estabelecem por determinadas práticas e regras que dão novos sentidos a espaços da cidade, que durante a festa se enchem de doces, crianças e alegria.

51A relação entre os santos gêmeos e as crianças parece óbvia para quem vê e faz a festa, mas vimos que a hagiografia de Cosme e Damião pouco nos diz sobre essa associação e que as mudanças na iconografia dos santos podem ser reveladoras do encontro em terras brasileiras dos irmãos médicos com os gêmeos ioruba, que teria transformado os santos mártires em crianças, que ainda ganharam um terceiro irmão, Doum (Montes, 2011; Lopes,2011).

52Santos e crianças são festejados em casas, ruas, praças, centros, terreiros e igrejas com doces – muitos doces. Nos preparativos da festa podemos perceber um circuito de doces que compreende diversos bairros da cidade, onde se encontram estabelecimentos de venda de doces em atacado, onde é possível montar um bom saquinho a um bom preço. Nessas lojas, compradores encontram os doces tradicionais, que não podem faltar no saquinho, e têm um reencontro com os doces que marcaram as memórias de infância. Ao acompanhar a compra de doces e montagem de saquinhos vamos apreendendo os cálculos, financeiros e afetivos, que compreendem o preparar de uma festa.

53É também na conversa com os compradores que vamos conhecendo aqueles que ganharão os doces: crianças, familiares, amigos e necessitados. A festa em homenagem aos santos pode assumir contornos caritativos e o doce tranformar-se em necessidade e um saquinho pode suprir a carência por alimento e por alegria.

54Se o preparo da festa foi acompanhado em lojas de doces e em conversas com adultos, o dia 27 de setembro foi passado entre um grupo de crianças, correndo atrás de doce pelas ruas do Bairrinho. A partir desta experiência, procurei refletir sobre a socialidade (Magnani, 2014) da festa vivida pelas crianças, marcada por conflitos, competição, 'manhas' e classificações – quem é de dentro ou de fora, quem ainda pode correr atrás de doce, o que é um bom saquinho, quais doces devem ser consumidos e quais são descartados – que conferem uma outra dinâmica às ruas e praças de uma vila no subúrbio carioca.

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Notas

1 Ao longo do texto, a grafia em itálico visa ressaltar categorias próprias do universo pesquisado. O uso de aspas simples demarcará categorias analíticas, propostas por mim ou outros autores; enquanto as aspas duplas demarcarão falas de interlocutores ou citações no corpo do texto.

2 Desde 1969, quando foram feitas as reformas do Concílio do Vaticano II, o calendário litúrgico católico dedica o 26 de setembro a São Cosme e São Damião, sendo São Vicente de Paulo o homenageado do dia 27. Se nas igrejas as missas em celebração aos santos gêmeos seguem o calendário católico, os festejos pelas ruas da cidade seguem acontecendo no dia 27. Quando a data cai num dia de semana, é comum que o sábado subsequente também seja dia de distribuir e pegar saquinhos de doces. Muitos também celebram o Dia das Crianças distribuindo doces no 12 de outubro. Nos centros e terreiros ainda há outra data como referência, o 25 de outubro, dia que celebra os irmãos Crispim e Crispiniano, também gêmeos. Temos, portanto, um período, de quase um mês, de doces celebrações aos santos e às crianças.

3 Palavra derivada do grego, em que “a(n), privativo, e árguros, dinheiro” (AUGRAS,2005, p.94)

4 Veremos que aqui no Brasil eles assumiram outros patronatos, como nos mostra Figueiredo (1953: 27): “cirurgiões, dos físicos, dentistas, farmacêuticos, boticários, barbeiros, bufarinheiros, confeiteiros e amas de leite”. Apenas esse autor atribui aos santos tantos patronatos; geralmente são citados apenas como patronos dos médicos, cirurgiões e farmacêuticos. No Rio de Janeiro, Cosme e Damião são também patronos da Polícia Militar. Por volta da década de 1950, o comando da PM passou a ser feita em duplas, numa tentativa de diminuir o número de policiais que eram feridos e mortos em serviço. As duplas passaram, então, a ser apelidadas com os nomes dos santos.

5 Uma espécie de manto que usam os peregrinos, que cobre a região da cabeça e do colo com um capuz.

6 O mais recorrente é o urinol, mas também aparecem instrumentos cirúrgicos.

7 Para alguns, como Montes (2011) e Lopes (2011), Doum seria Idowu, nome dado pelos ioruba ao filho que nasce depois dos gêmeos. Por muito tempo o nascimento de gêmeos entre os ioruba fora considerado um mau presságio, por ser anômalo – somente animais teriam dois filhos numa única gestação. Ressignificado, o que antes era considerado uma monstruosidade, passou a ser visto como uma dádiva e passou a ser sagrado: os gêmeos tomam a forma de orixá, os Ìbéjì . Prandi (2001, p. 374), nos mitos sobre esse orixá, conta que a mãe que teve gêmeos deve ter outro filho, para não enlouquecer; afirmação também trazida por Augras (1994). Ainda que deixasse de ser considerado um infortúnio, o nascimento de duas crianças no mesmo parto ainda requisitava atenção, pois a chegada dos gêmeos abalava a ordem da família, que só se restabeleceria com o nascimento de um terceiro, Idowu.

8 Sobre as festas de terreiro na Bahia em homenagem aos santos que Ribeiro menciona, mas não descreve, ver Ruth Landes (2002[1947]).

9 O cartão costuma ser entregue antes do dia da festa, tendo nele indicada a hora e o local da distribuição. Utilizando esse recurso, o doador controla melhor sua distribuição e evita possíveis tumultos em frente ao seu portão – ainda que o uso do cartão torne a distribuição mais organizada, ele não impede que algum nível de confusão possa se estabelecer.

10 Na igreja do Andaraí, a distribuição de doces é feita por fiéis que escolhem a igreja como local para doar seus saquinhos. Em Olaria, até 2017, os funcionários da igreja organizavam a distribuição de doces e brinquedos no dia 27, quando se formava uma enorme fila de crianças e adultos. Os doces e brinquedos eram doados e tudo era organizado por duas funcionárias, que montavam os saquinhos e a estrutura para a distribuição, realizada num corredor lateral à pequena igreja, no intervalo entre as missas de 14h e 18h. Em 2015 pude acompanhar os preparativos e a distribuição, que foi interrompida em 2017, por ordens superiores da hierarquia da igreja ortodoxa, já que a distribuição de doces e brinquedos não condiz com os ritos da igreja. As missas, no entanto, seguem sendo celebradas no dia 27, ainda que no calendário da igreja ortodoxa o dia dedicado aos santos seja o primeiro de novembro.

11 Disponível em: http://www.fmanha.com.br/economia/dia-de-sao-cosme-e-damiao-anima-comerciantes, acesso em 30/09/2014.

12 Os doces aqui citados foram os mencionados por 161 entrevistados em setembro de 2013, em diversas lojas do já mencionado circuito de doces. No questionário aplicado aos compradores havia a pergunta “quais doces vai comprar?” e aqui ordenei os doces pela quantidade de vezes que foram mencionados, sendo a bala a mais presente nas respostas e o torrone o menos citado. Os questionários foram aplicados por mim e por outros membros da pesquisa coletiva sobre os festejos de Cosme e Damião no Rio de Janeiro. O projeto, coordenado por Renata Menezes (PPGAS/MN/UFRJ) e financiado pela FAPERJ (2013-2016), foi um empreendimento coletivo sobre a devoção em torno dos santos Cosme e Damião no Rio de Janeiro com foco nas dimensões da reciprocidade, das relações interreligiosas e dos fluxos urbanos articulados pela celebração dos santos gêmeos (Menezes, 2013). Dentre os resultados dessa pesquisa, está minha dissertação (Freitas, 2015). Trago aqui dados coletados durante meu campo de mestrado, aprofundando algumas reflexões e desdobrando questões.

13 A variedade de doces segue o que muitos entrevistados já me contaram: é preciso ter sete tipos de doces num saquinho. A partir dos preços levantados nas lojas em setembro de 2016, teríamos: balas Juquinha (700g por R$4,98 – compraria 2 pacotes), dois sacos de pipocas Lua de Mel (cada um custando R$4,98), duas caixas de cocadas por R$30,00, suspiros Kaxuxa (duas caixas, cada uma por R$8,98), Paçoquita (compraria duas caixas, e não o pote, por R$ 11,40 cada uma), pé de moleque (os 100 ficariam por R$19,56), os pirulitos custariam R$ 9,96 (pelos dois pacotes). Os 100 saquinhos de papel custariam R$4,96. Para uma discussão mais detalhada dos cálculos, não só financeiros, envolvidos na compra e montagem de doces e saquinhos, ver AUTORA,2015.

14 Sobre uma discussão acerca das diferenças e de uma moral estabelecidas pela caridade, ver CAVALCANTI, 1983.

15 Recorri a dados disponíveis no Armazém de Dados da Prefeitura, uma página do Instituto Pereira Passos (disponível em: http://www.armazemdedados.rio.rj.gov.br/), do levantamento “Moradores em domicílios particulares permanentes, por classes de rendimento nominal mensal da pessoa responsável pelo domicílio, segundo as Áreas de Planejamento, Regiões Administrativas e Bairros – 2010”.

16 As manchas são “áreas contíguas do espaço urbano dotadas de equipamentos que marcam seus limites e viabilizam - cada qual com sua especificidade, competindo ou complementando - uma atividade ou prática predominante. [...] constituem pontos de referência para a prática de determinadas atividades” (Magnani, 1996: 19). Parece-me útil acionar esse conceito para pensar em determinadas partes da cidade em que a festa é bastante visibilizada em contraste com regiões onde a data não é marcadamente festiva. Essa ‘mancha de saquinhos’ mostrou-se bastante relevante para a pesquisa e nela acessamos casas, centros de umbanda, a igreja ortodoxa, lojas, clubes e praças onde podíamos observar a festa e conversar com quem fazia e vivia a festa.

17 Além de passar o dia 27 no Bairrinho, alarguei meu campo para as semanas antes e depois da festa, a fim de perceber as distinções entre o movimento cotidiano e no dia festa.

18 Os nomes aqui utilizados são fictícios, criados por mim para proteger a identidade das crianças.

19 Coloco “perdeu” entre aspas porque depois o Pedro foi explicando que tiraram o boné da cabeça do menino, ou seja, o boato era que um boné tinha sido roubado

20 Vale ressaltar que Van Gennep (1969:103) já atentava para essa questão, quando chamara atenção daqueles que confundiam a puberdade fisológica com a puberdade social e chamavam de ritos de iniciação os ritos ligados a mudanças físicas.; “Así pues, tanto para uno como para otro sexo la pubertad física es un momento muy difícil de fechar, yesta dificultad explica que sean pocos los etnógrafos y exploradores que han hecho investigaciones sobre ella. Lo cual hace aún más imperdonable el haber aceptado la expresión «ritos de pubertad» para designar al conjunto de ritos, ceremonias y prácticas de todo tipo que marcan en los diversos pueblos el paso de la infancia a la adolescencia. Conviene, por consiguiente, distinguir la pubertad social de la pubertad física, del mismo modo que se distingue entre un parentesco físico (consanguinidad) y un parentesco social, entre una madurezfísica y una madurezsocial (mayoría de edad), etc”.

21 Isto é bastante relativo já que, não raro, encontramos vários adultos pedindo doces no dia da festa. Ressalto, no entanto, que quando o fazem, os adultos costumam pedir os doces em nome de uma criança ausente – um sobrinho que ficou em casa ou um filho que está na escola.

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Para citar este artigo

Referência eletrónica

Morena Freitas, «Correndo atrás de doce: socialidades na festa de Cosme e Damião no Rio de Janeiro»Ponto Urbe [Online], 24 | 2019, posto online no dia 26 junho 2019, consultado o 08 fevereiro 2025. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/pontourbe/6201; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/pontourbe.6201

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Autor

Morena Freitas

Mestre (2015) pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS/MN/UFRJ), onde atualmente cursa o doutorado. Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Sergipe (2012). É membro do GPAD - Grupo de Pesquisa em Antropologia da Devoção e do Ludens - Laboratório de Antropologia do Lúdico e do Sagrado, ambos do PPGAS/MN/UFRJ. E-mail: morebmfreitas@gmail.com

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