Ponto Urbe, no portal de revistas da USP e agora disponível também no Open Journal System
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1Era uma vez dois mil e vinte e três, ano de muitas expectativas de mudança para o Brasil, algumas realizações, algumas decepções. Entre as questões mais cruciais, a votação pela inconstitucionalidade do Marco Temporal pelo Supremo Tribunal Federal, longe do ideal em sua formulação final, e que ensejou novas iniciativas do Legislativo em atacar os direitos indígenas às suas terras tradicionalmente ocupadas, como a derrubada dos vetos do presidente Lula ao PL 2903, que se tornou a lei 14.701/2023. Mais recentemente, o lançamento de um plano nacional para a população em situação de rua e a regulamentação de uma lei proibindo a arquitetura hostil trouxeram para as manchetes a questão do “direito à cidade”, cara às reflexões da Antropologia Urbana.
22023 é também o ano em que a Revista Ponto Urbe se replica, como os andróides de Blade Runner ou os dopplegänger da mitologia anglosaxônica, e passa a ser publicada não apenas na plataforma OpenEdition, mas também na plataforma Open Journal System (OJS). O OJS é um software que auxilia na construção e gestão de publicações periódicas eletrônicas e a Universidade de São Paulo (USP) utiliza a OJS para apoiar a publicação de periódicos acadêmicos e científicos de acesso aberto. Atualmente, o Portal de Revista da USP hospeda mais de 195 títulos. A transição e ampliação da Ponto Urbe é muito importante, pois agora a revista passa a integrar o Portal de Revistas USP, podendo ser lida em ambos os portais.
3O processo de transição e ampliação da Ponto Urbe, para o sistema Open Journal Systems (OJS), envolveu algumas etapas cruciais que dizem respeito à formação da equipe editorial e migração dos conteúdos de um sistema para o outro. Foi nossa editora responsável pela seção de Ensaios Fotográficos, Mariane da Silva Pisani, que organizou duas oficinas para treinamento de toda equipe. A familiaridade dela com o sistema OJS vem da sua atuação como integrante e coordenadora da Comissão Editorial de Periódicos Científicos da Associação Brasileira de Antropologia (ABA).
4A primeira oficina organizada por Pisani foi realizada no dia 29 de setembro de 2023 de maneira on-line, e foi especialmente direcionada aos Editores-Executivos da revista. O objetivo nesse momento era mostrar, de maneira mais ampla e geral, como o sistema OJS funciona. Neste dia foram realizados alguns exercícios práticos para sanar dúvidas mais pontuais. Para o bom funcionamento da Revista Ponto Urbe é crucial que os(as/es) Editores-Executivos conheçam e dominem todas as etapas da avaliação por pares e funcionalidades oferecidas do sistema OJS. Nessa reunião também discutimos políticas editoriais, organização dos fluxos de trabalho e possíveis alterações no design da revista.
5Já a segunda oficina foi realizada de maneira on-line no dia 06 de Outubro de 2023, e contou com a participação ampliada dos Editores de Seção e Editores Assistentes. Assim como na primeira oficina, foram realizados alguns exercícios práticos para sanar dúvidas dos(as/es) participantes. O objetivo foi apresentar, de maneira mais específica, quais são e como funcionam as etapas de avaliação por pares que o sistema OJS oferece. A saber: submissão do material pelos(as) autores(as); designação de tutor-editor para acompanhamento do material submetido; designação dos(as) pareceristas para avaliação cega do material; feedback dos pareceres aos autores(as); publicação do material avaliado e corrigido. É importante que os(as/es) editores(as) dominem e conheçam bem essas etapas, e como elas acontecem no sistema OJS, para o bom desenvolvimento do fluxo editorial da revista. Na segunda oficina também conversamos sobre como fazer o processo de migração e ampliação da Ponto Urbe do sistema OpenEdition para o sistema Open Journal System (OJS).
6Assim, estipulamos um prazo para migração e ampliação total de um sistema para o outro: início do mês de dezembro de 2023. E assim foi feito. O que nós da Revista Ponto Urbe apresentamos agora para a comunidade acadêmica científica certamente é fruto do esforço coletivo de toda a equipe editorial que este ano também recebeu novos, novas e noves integrantes, que permitiram que essa ampliação acontecesse.
7Em virtude do trabalho de replicação das edições anteriores da revista para o sistema OJS e Portal de Revistas USP, a Comissão Editorial tomou a decisão de interromper temporariamente o recebimento de novas submissões em agosto de 2023. Comunicamos essa pausa para a comunidade acadêmica em nossas redes sociais em setembro deste ano. Agradecemos a compreensão de todes e reforçamos que novas submissões serão recebidas já pela plataforma OJS assim que as últimas configurações na plataforma estiverem prontas, no início de 2024, já com especificações de diagramação, acessibilidade e sugestões de linguagem neutra de gênero. Nesse ínterim, continuamos o processo editorial das contribuições que já haviam sido recebidas pelo e-mail da revista, submetendo-as à avaliação duplo cega por pareceristas ad hoc a quem agradecemos a presteza e os comentários sempre valiosos.
8Com estas avaliações, e as revisões precisas de nosso revisor Ivo Magnani (português) e Diana Mateus Goméz (espanhol), apresentamos cinco Artigos. Em “Más que cuatro paredes. Lucha histórica del pueblo de Chile por el derecho a la vivienda”, Francisco Pérez Hernandez apresenta uma concisa revisão bibliográfica para a reconstituição da luta histórica por moradia no Chile ao longo do século XX até este primeiro quartel do século XXI, passando pelos períodos de ditadura, de transição e pelos cenários de neoliberalismo acentuado. Hernandez descreve o conceito-ação de “toma de terrenos” como forma de organização dos movimentos sociais de moradia e traz números atuais, acentuados, dos assentamentos informais da população urbana chilena. Do direito à moradia no Chile à Antropologia do Direito na Bahia, Andressa Lídicy Morais Lima traz aspectos de sua tese de doutorado defendida na Universidade de Brasília (UnB) sobre advogadas negras do TamoJuntas, em “Entre desrespeito e reconhecimento: Racismo e sexismo no cotidiano de advogadas negras brasileiras”. Andressa Morais nos traz, a partir dos relatos de duas advogadas (uma acusação de roubo em um shopping e a própria experiência de autoconstrução estética) uma descrição dos sentidos de justiça, cidadania e boa vida acionados por suas interlocutoras em suas práticas de construção e reconstrução de realidades jurídicas, ao mesmo tempo delineando as tensões e conflitos que emergiam, entre situações de desrespeito e demandas de reconhecimento. Seguindo discussões conceituais e políticas sobre reconhecimento, Ceres Karam Brum nos apresenta em “‘Em terra de cego quem tem um olho é rei’: reflexões sobre capacitismo, deficiência e reconhecimento” uma autoetnografia em três cenas, um debate no interior da própria Comissão de Acessibilidade da Associação Brasileira de Antropologia, a aprovação de um projeto de lei que classifica a visão monocular como deficiência sensorial e o reconhecimento da deficiência pela IES na qual a antropóloga é professora titular. Em uma etnografia também próxima e pessoal, “emocionalmente engajada” nas palavras do autor, “‘Lelé da cuca, mas ela continua’: pessoa, identidade pessoal e interioridade frente à doença de Alzheimer” de João Balieiro Bardy parte da discussão da noção de pessoa e de trabalhos antropológicos sobre processos demenciais para descrever o processo de sua avó, Dona Cida, bem como suas implicações metodológicas, éticas e afetivo-políticas. Finalizando a seção Artigos em festa, temos a contribuição de Morgan Caetano, “Corpos que contaminam as festas: performers clubbers na cidade de São Paulo”, atualizando as discussões sobre a cena clubber em São Paulo, pensando corpo, cidade e performance com o coletivo Metanóia e suas expressões para além da cisheteronormatividade.
9A seção Cir-kula, com publicações de outras áreas dedicadas ao diálogo com a Antropologia Urbana, traz neste volume três importantes contribuições. A primeira dela, “A memória política de Ermelino Matarazzo: lutas populares e ação coletiva em um bairro da Zona Leste de São Paulo” de Victoria Lustosa Braga e Martin Jayo, apresenta uma mirada da Ciência Política e Administração para discutir diferentes facetas da memória política do bairro paulistano. Os autores recapitulam a história do bairro, pontuando fases de urbanização e aquisição de infraestrutura e equipamentos públicos, as organizações populares, para então analisar entrevistas realizadas entre 2018 e 2019 com moradores de diferentes clivagens sociais, de gênero, ocupação, entre outros, a partir do modelo de Salvador Sandoval. O segundo texto, de Gleyber Eustáquio Calaça Silva e Glaycon de Souza Andrade e Silva, intitulado “Interseções antropológicas: Possibilidade de confluência da Antropologia Urbana com a Geografia Cultural no estudo de culturas Undergrounds em Belo Horizonte, Minas Gerais”, experimenta a família de categorias desenvolvida por Magnani desde Festa no Pedaço aplicando-as a modos de implantação cartográfica, a partir das cenas do metal e do rap em Belo Horizonte, apresentando uma síntese metodológica. E finalmente, “A pesquisa-ação no planejamento urbano e territorial: o que é, como fazer e uma reflexão sobre a utilização do método” de Eduardo Abramowicz e Vanessa Oliveira, apresentam uma discussão metodológica extensiva sobre pesquisa-ação, exemplificando sua aplicação em contextos de ocupações realizadas por migrantes e suas remoções, bem como as resistências desenvolvidas.
10Três Ensaios Fotográficos compõem este volume problematizando diferentes contextos: em “Tesourinha de ouro” de Cristiano Monteiro, mais que o espaço de sociabilidade masculina descrito por Goffman, a barbearia e seu proprietário são guardiões de memória, dotados de identidade imiscuída. Já o ensaio de Luciana Cristina de Oliveira Azulai, intitulado “Os Palacetes e a cidade: quando o passado encontra o presente” percorre uma avenida de Belém do Pará produzindo miradas de palacetes construídos na belle époque amazônica e que hoje são lugares de memória tanto na paisagem urbana quanto ao abrigarem museus. O terceiro ensaio, “De jornais e de outras coisas: percursos urbanos entre bancas em São Paulo” produzido por Daniel Macedo explora as possibilidades de caminhar e fotografar, voltando-se às bancas de jornal e às dinâmicas sociais que ancoram.
11Nossa última seção, Etnográficas, dois textos versam sobre a temática família. Em “Arquivos de família: fazendo campo de um sofá” o objeto “sofá” é tomado como ponto de partida para pensar afeto, memória e narrativa de imagens de família, por Milena de Oliveira Silva. E, em “Ausência em amarelo: um relato de encontro entre morte e fotografia em álbuns de família”, de Beatriz de Arruda Campos Barcellos, vemos, por meio da temática familiar, uma reflexão sobre morte e registro.
12Finalizamos este ano dando boas-vindas às bolsistas Larissa Cruz da Silva e Julia Costa dos Reis que ingressaram na equipe editorial da Ponto Urbe e seguirão conosco em 2024. Nossos agradecimentos às duas graduandas do curso de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo que atuaram conosco no apoio técnico deste volume e também no atual processo de transição da revista.
13Boa leitura e ótimas festas!
Para citar este artigo
Referência eletrónica
Ana Letícia de Fiori, Arthur Fontgaland, Juliana Caruso, Mariane da Silva Pisani e Silvana de Souza Nascimento, «Ponto Urbe, no portal de revistas da USP e agora disponível também no Open Journal System», Ponto Urbe [Online], 31 | 2023, posto online no dia 10 dezembro 2023, consultado o 10 dezembro 2024. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/pontourbe/16049; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/pontourbe.16049
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