1Por toda a cidade de Belém, capital do Estado do Pará, há a presença dos chamados Palacetes, construções particulares de senhores ricos (políticos, comerciantes etc.), construídos com materiais trazidos da Europa, numa época em que a cidade se expandia devido a economia da borracha – o período áureo da “Belle époque” na Amazônia (1870-1912). Citando alguns Palacetes, temos nomes conhecidos como: Pinho, Faciola, Bolonha, Montenegro, Carlos Brício da Costa, Vitor Maria da Silva, dentre outros – alguns infelizmente já sofreram perdas, outros demolidos por especulação imobiliária e degradados por abandono (Derenji, 2009).
2Hoje, estes palacetes estão presentes na paisagem cotidiana de Belém, são testemunhos da memória da cidade, embora já não tenham mais os mesmos propósitos que tiveram no passado, possuem outros significados – alguns se transformaram em museus, outros estão de portas fechadas, sem utilização e cuidados necessários. A seguir apresentarei a experiência fotográfica realizada com a observação de três palacetes, objetos de pesquisa da autora deste ensaio. São eles: Palacete Augusto Montenegro, Palacete Francisco Bolonha e Palacete Bibi Costa. Os três palacetes foram projetados no início do século XX e estão situados numa mesma avenida, a Governador José Malcher, antiga estrada São Jerônimo, sendo importante via de acesso no bairro de Nazaré – o terceiro mais antigo de Belém.
3O Palacete Augusto Montenegro ou Palacete Montenegro (figuras 1 e 2) foi construído em 1904 para servir como casa e gabinete político para o então governador do Estado do Pará nessa época, o senhor Augusto Montenegro e sua família. O prédio já foi residência de outras famílias depois do ex-governador e também serviu como Reitoria da Universidade Federal do Pará. O Palacete hoje abriga o Museu da Universidade Federal do Pará- MUFPA, no qual ocorrem diversas atividades, inclusive no jardim institucional.
Figura 1: Fachada da entrada principal do Palacete Montenegro pela av. Governador José Malcher. Fotos da autora, 2022.
Figura 2: Palacete Montenegro/Museu da UFPA, vista da entrada lateral pelo jardim. Foto da autora, 2022.
4O Palacete Bolonha (figuras 3 e 4) foi construído no período de 1905 a 1908, sendo uma das construções mais ricas em detalhes já vistas na cidade. O seu dono e projetista foi o engenheiro Francisco Bolonha, natural do estado do Pará, tendo formação no Rio de Janeiro e também inspirado pelas técnicas e estilos europeus. A construção do Palacete Bolonha foi uma promessa feita à pianista Alice Tem-Brink, esposa de Bolonha. Atualmente o prédio funciona como um Museu-casa, assim intitulado institucionalmente.
Figura 3: Palacete Bolonha, vista da av. Governador José Malcher. Foto da autora, 2022.
Figura 4: Palacete Bolonha, detalhe da vista lateral. Foto da autora, 2022.
5Por fim, o Palacete Bibi Costa encomendado pelo Major Carlos Brício da Costa (figuras 5 e 6) foi construído entre 1904-1906, também foi projetado pelo engenheiro Francisco Bolonha. A edificação encontra-se situada na esquina da Rua Joaquim Nabuco com a “José Malcher”. Este Palacete é chamado popularmente de “Castelinho”, justamente por sua composição arquitetônica lembrar um castelo. O mesmo já serviu a órgãos do Estado, mas no contexto atual se encontra fechado à visitação e teve várias perdas de suas características originais.
Figura 5: Palacete Bibi Costa, “O castelinho”. Foto da autora, 2022.
Figura 6: Detalhes da entrada principal do Palacete pela “José Malcher”. Fotos da autora, 2022.
6Diante do exposto, destaca-se que a Antropologia Urbana traz significativas reflexões sobre o meio urbano, as cidades, e aqueles que fazem parte desse cenário. José G. C. Magnani (2003, p.83) propõe “a hipótese de que a antropologia tem uma contribuição específica para a compreensão do fenômeno urbano, mas especificamente para a pesquisa da dinâmica cultural e das formas de sociabilidade nas grandes cidades contemporâneas (...)”. Neste sentido, os Palacetes apresentados têm um grande significado para a memória urbana da cidade de Belém, ou seja, são registros de um período da história da cidade marcado por muitas transformações (urbanização, arquitetura, higienização, entre outros fatores). Pode-se compreender estes Palacetes como “lugares de memória” (Nora, 1993), sendo objetos materiais de sociabilidade até hoje lembrados nos roteiros patrimoniais que ocorrem pela cidade.
7Outro ponto a se destacar é sobre a importância da Antropologia Visual na abordagem de pesquisas que utilizam a produção de imagens como recursos fundamentais. Conforme Sylvia Caiuby Novaes (2020), as imagens nos acompanham desde pelo menos o período Paleolítico (a exemplo das pinturas rupestres), isto é, a presença das imagens é de fato tão antiga quanto a própria humanidade. Dessa forma, Novaes (2020) aponta que a relevância das imagens como dados importantes para a análise social vem sendo enfatizada do mesmo modo por especialistas na área de estudo do cinema e historiadores, bem como por antropólogos que têm feito esse uso de imagens associando em diálogos com a arte e a filosofia. Isso tem ganhado grandes dinâmicas nos estudos de diversos temas acerca da diversidade cultural das cidades brasileiras, considerando a percepção e interpretação das imagens produzidas pelas pesquisas.
8Assim, podemos dizer que o olhar da Antropologia, na ou da cidade, contribui ao pensar nas imagens fotográficas dos três Palacetes, pois nos remete à percepção de que estas construções históricas são representações materiais e simbólicas, retratos de um tempo passado e que, no presente, se configuram como elementos de parte da paisagem urbana (não estática, mas em movimento). Logo, as imagens destes Palacetes também são significativos marcadores destes monumentos que compõem o Patrimônio Cultural da cidade de Belém.