Navegação – Mapa do site

InícioNúmeros18Editorial

Editorial

Ana Carvalho, Alexandra Curvelo, Elisa Noronha, Paulo Simões Rodrigues e Pedro Casaleiro

Texto integral

1A MIDAS inicia em 2024 a publicação contínua, ou seja, os artigos passam a ser publicados em fluxo contínuo logo que sejam aprovados, deixando de esperar pela edição de um número completo. Isso permitirá maior rapidez na disponibilização de cada artigo e maior flexibilidade na gestão editorial. O 18.º número da MIDAS, que foi aberto para publicação logo no início do ano é, desta forma, um número aberto, que agora se conclui. É também um número não-temático (“Varia”), refletindo a diversidade de propostas aprovadas após a revisão por pares e a revisão editorial. O desenvolvimento da museologia como área de estudo e de prática, o desenvolvimento profissional e a atualização de competências, a representação de género e as políticas de memória, a história do colecionismo, a descolonização, a arquitetura de museus, a restituição do património cultural e a pesquisa de procedência de objetos, estão entre os variados temas abordados.

2Com o primeiro artigo, de Fabien Van Geert (Université Sorbonne Nouvelle), o tema de reflexão é a museologia (ou museologias) e o seu desenvolvimento. O autor tem como referência para a sua análise o caso da museologia espanhola, defendendo a existência de várias museologias no país e no mundo, e a importância de as colocar em diálogo através de um olhar comparativo e geopolítico.

3O segundo artigo, de Viviana Gobbato (Centre de la Recherche sur les Liens Sociaux CERLIS) reflecte sobre o desenvolvimento da museologia na perspetiva das profissões museais e da atualização de competências face a tendências e transformações emergentes, como é o caso do papel crescente da sustentabilidade nas práticas museológicas. Trata-se de um estudo preliminar junto de profissionais de museus, em que se destacou, por exemplo, a necessidade de atualização das competências de forma mais adaptativa, a importância de práticas mais sustentáveis e éticas, assim como o envolvimento das comunidades.

4O terceiro artigo, de Gemma Domènech i Casadevallm (Instituto Catalán de Investigación en Patrimonio Cultural) e Josep Font Sentias (Red de Espacios de Memoria Democrática), aborda a representação de género na Rede de Espaços de Memória da Catalunha. Esta Rede, composta por 185 lugares de memória sobre democracia, é analisada do ponto de vista da representação das mulheres, interrogando sobre o papel que lhes é atribuído nas narrativas apresentadas.

5O quarto artigo, e a fechar a secção, é da autoria de António Cota Fevereiro (ARTIS, Universidade de Lisboa) e insere-se no âmbito da história do colecionismo português. O estudo centra-se em particular na figura do Rei D. Carlos I (1863-1908) como colecionador, analisando os espaços privados que o monarca ocupou no Palácio das Necessidades (Lisboa) a partir de 1885: o atelier de pintura e o Museu Oceanográfico, que serão mantidos (aproximadamente) até à sua morte, em 1908.

6Na secção de “Ensaio” publicamos um texto de Helena Barranha (IHA, Universidade Nova de Lisboa) que reflete sobre os espaços de transição na arquitetura de museus, debruçando-se sobre o Museu Louisiana de Arte Moderna, em Humlebæk, na Dinamarca. A partir de um breve texto e de uma sequência de dez imagens, Barranha propõe um olhar sobre este museu, em particular para a maneira como se estabelece a relação entre arquitetura, arte e paisagem.

7Este número conta ainda com a secção de “Entrevista”, espaço que aprofunda a discussão de conceitos e práticas que estimulam o pensamento sobre museus e museologia. Neste contexto publica-se a entrevista com a museóloga brasileira Marília Xavier Cury (Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo). A partir de uma conversa conduzida por Elisa Noronha (CITCEM, Universidade do Porto) e Patrícia Roque Martins (IHA, Universidade Nova de Lisboa), Cury fez um balanço da sua experiência de colaboração com os povos indígenas no Brasil. Abordou, nomeadamente, o lugar dos povos indígenas nos discursos e nas práticas museológicas, apontando encontros e tensões que caraterizam o panorama museológico da atualidade. Fez ainda uma leitura sobre o processo de descolonização dos museus e da museologia, referindo-se à necessidade de ampliar as possibilidades de diálogo e de trabalho, para além dos modelos mais tradicionais. Além disso, Cury falou de experiências colaborativas e narrativas expositivas que relatam algumas das relações que tem estabelecido entre Portugal e Brasil no domínio das coleções arqueológicas e etnográficas. Na última parte da entrevista, Cury propõe uma museologia mais aberta ao “outro”, uma museologia necessariamente mais colaborativa e mais experimental, ancorada em abordagens mais analíticas e críticas.

8A última secção deste número reúne cinco recensões críticas, entre exposições e livros, sob a responsabilidade editorial de Joana Baião e Leonor Oliveira. No âmbito das exposições, a primeira é um comentário crítico da autoria de Eduard Caballé i Colom (Institut Català de Recerca en Patrimoni Cultural – ICRPC-CERCA) à exposição temporária Expedient 2619. Art en Dipòsit (Mataró 1936-2023), organizada pelo Museu de Mataró na Catalunha. O tema da exposição centra-se na restituição do património cultural e na importância da pesquisa de procedência de objetos. Este caso em particular tem como referência a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e a forma como os objetos enquadrados neste contexto político e social acabaram por chegar ao museu. Esta exposição é emblemática da necessidade de reflexão e revisão dos museus quanto às narrativas sobre as práticas de incorporação de objetos no passado. Como destaca Eduard Caballé i Colom, a exposição do Museu de Mataró é uma das primeiras em Espanha a aprofundar a proveniência das coleções no seguimento de uma rigorosa investigação com esse propósito.

9A segunda exposição em análise é da autoria de Raquel Henriques da Silva (IHA, Universidade Nova de Lisboa) e refere-se à exposição temporária Entangled Pasts 1768-now. Art, Colonialism and Change, que se realizou este ano na Academia Real das Artes, em Londres. A exposição relaciona-se com o tema da descolonização, propondo uma abordagem crítica através da arte contemporânea, que colocou em diálogo passado e presente. A terceira exposição analisada refere-se à obra de Gaëlle Rouard, reputada autora do cinema experimental europeu. Intitulada, Gaëlle Rouard: Escuridão Flamejante, a exposição realizou-se em 2023 no Centro Oliva, em S. João da Madeira (Portugal), sendo o comentário assinado por Ana I. Moreira Martins (Universidade do Porto).

10No campo das publicações, é de destacar a recensão crítica à obra Art Markets, Agents and Collectors: Collecting Strategies in Europe and the United States, 1550-1950, com edição de Adriana Turpin e de Susan Bracken, e chancela da editora Bloomsbury (2021). Recenseada por Francisco J. M. Cambim (IHA, Universidade Nova de Lisboa), esta obra demonstra «como os agentes de mercado (negociantes), e as suas redes de contactos e influências, muitas vezes contribuíram para desenvolver o gosto e o conhecimento dos colecionadores […]». A última recensão publicada refere-se ao livro Museus de Arte e a Deficiência Visual – Um Encontro Possível Através da Tecnologia (2022), de edição brasileira. A recensão crítica, da autoria de Ingrid Souza de Freitas (Laboratório de Artes na Montanha – Graça Morais, Instituto Politécnico de Bragança) reconhece a importância de se continuar a aprofundar o tema da acessibilidade nos museus.

11A capa do 18.º número tem por base uma fotografia da autoria do artista brasileiro, Everton Leite. A fotografia em questão faz parte do livro de artista “Coleção à Brasileira: Uma Visita à Coleção da Colecionadora Diarista”, publicado em 2021. Os objetos apresentados no livro fizeram igualmente parte de uma instalação que ocupou o Espaço Vitrine, do Museu Paranense (Curitiba – PR) no ano de 2022 e 2023. Podemos associar esta fotografia também à ideia de musealização do quotidiano, questão com a qual vários museus se têm debatido na contemporaneidade: como colecionar, documentar e estudar o presente de forma sistemática e metodológica? E para além disso, que novas relações se podem estabelecer com os objetos de museus, porventura mais simbólicas, identitárias e pessoais, por sua vez mais intangíveis ou imateriais. Mais uma vez, a escolha desta fotografia para capa da MIDAS corresponde à nossa intenção de destacar obras que contribuam para expandir a discussão sobre os museus, sobre os seus modos de existência e sobre como são entendidos ou vividos na contemporaneidade. Os nossos agradecimentos ao Everton Leite pela cedência da fotografia e à Elisa Noronha, pela curadoria e arranjo gráfico final.

12Uma nota de agradecimento também é devida aos autores e às autoras que nos enviaram as suas propostas, aos revisores que garantiram a arbitragem científica e à equipa técnica da MIDAS pelo apoio constante na gestão editorial.

13À Raquel Henriques da Silva, a nossa profunda gratidão pela generosidade e colaboração ao longo destes 12 anos. Cofundadora da MIDAS em 2011, Raquel H. S. apoiou este projeto editorial desde a primeira hora, ajudando a que a revista se expandisse e consolidasse no contexto nacional e internacional.

14Concretizamos neste número a renovação do corpo editorial da MIDAS, com a entrada de Alexandra Curvelo (IHA, Universidade Nova de Lisboa), na qualidade de coeditora, e de Elisa Noronha, que neste caso amplia as suas responsabilidades na revista, agora também na capacidade de coeditora.

15Por último, queremos destacar os passos dados pela MIDAS no que concerne à indexação em contexto nacional, incrementando o potencial impacto dos resultados de investigação dos artigos publicados. Nesse âmbito, é de referir a integração bem-sucedida da revista no RCAAP (Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal) e no INDEXAR, um Diretório de Repositórios e Revistas Científicas Digitais, de âmbito nacional, na área da ciência e da cultura.

Topo da página

Para citar este artigo

Referência eletrónica

Ana Carvalho, Alexandra Curvelo, Elisa Noronha, Paulo Simões Rodrigues e Pedro Casaleiro, «Editorial»MIDAS [Online], 18 | 2024, posto online no dia 12 outubro 2024, consultado o 14 dezembro 2024. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/midas/5947; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/12gij

Topo da página

Autores

Ana Carvalho

Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades (CIDEHUS), Universidade de Évora, Portugal, arcarvalho[at]uevora.pt, https://orcid.org/0000-0003-1452-7711

Artigos do mesmo autor

Alexandra Curvelo

Instituto de História da Arte (IHA), Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, Portugal, alexandra.curvelo[at]fcsh.unl.pt, https://orcid.org/0000-0002-2064-9021

Elisa Noronha

Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória» – CITCEM, Universidade do Porto, Portugal, enascimento[at]letras.up.pt, https://orcid.org/0000-0002-3594-6774

Artigos do mesmo autor

Paulo Simões Rodrigues

Centro de História da Arte e Investigação Artística (CHAIA), Universidade de Évora, Portugal, psr[at]uevora.pt, https://orcid.org/0000-0002-9258-2989

Artigos do mesmo autor

Pedro Casaleiro

Universidade de Coimbra, Portugal, pcasaleiro[at]ci.uc.pt, https://orcid.org/0000-0001-9783-9379

Artigos do mesmo autor

Topo da página

Direitos de autor

CC-BY-NC-SA-4.0

Apenas o texto pode ser utilizado sob licença CC BY-NC-SA 4.0. Outros elementos (ilustrações, anexos importados) são "Todos os direitos reservados", à exceção de indicação em contrário.

Topo da página
Pesquisar OpenEdition Search

Você sera redirecionado para OpenEdition Search