Navegação – Mapa do site

InícioNúmeros17RecensõesStéphane Boisselier, Bernard Darb...

Recensões

Stéphane Boisselier, Bernard Darbord, Denis Menjot, avec la collaboration de George Martin, Jean-Pierre Molenat et Paul Teyssier – Langues Médiévales Ibériques. Domaines espagnol et portugais

Maria Francisca Xavier
Referência(s):

BOISSELIER, Stéphane; DARBORD, Bernard; MENJOT, Denis; avec la collaboration de George Martin, Jean-Pierre Molénat et Paul Teyssier ()Langues Médiévales Ibériques. Domaines espagnol et portugais. Turnhout: Brepols Publishers, 2012. (Collection L’Atelier du Médiéviste 12).

Notas da redacção

Data do texto: 15 de Setembro de 2014

Texto integral

1O livro em epígrafe resulta de extenso trabalho de uma equipa de especialistas conhecedores de ampla, linguística, cultural e tipologicamente diversificada documentação medieval ibérica. Nesta obra, contudo, as fontes textuais apresentadas e objeto de tratamento são quase exclusivamente escritas em castelhano e em português antigos, as duas línguas românicas que assumem estatuto de línguas oficiais nacionais de Espanha e de Portugal respetivamente. Obviamente, por razões de ordem política e administrativa, estas são as línguas medievais ibéricas em que foi escrita a maioria da documentação da época com relevância para o estudo dos aspetos linguísticos e socio-culturais caracterizadores de cada um daqueles dois países. No entanto, os autores salientam que muitos textos em castelhano incluem especificidades de outras variedades românicas ibéricas, nomeadamente do leonês, aragonês, navarro e galego. E esta última, embora pertencendo ao domínio político espanhol, está naturalmente associada ao português, visto poder ser considerada a mesma realidade linguística no período medieval, a qual se encontra bem ilustrada nos textos antigos galaico-portugeses.

2A diversidade linguística e socio-cultural da Península Ibérica medieval, bem como a abundância ou falta de fontes históricas, foram aspetos ponderados pelos autores que fundamentam as suas decisões sobre quais as línguas a integrar neste livro, que tipos de textos e quais os aspetos a abordar tendo por base documentação fiável e relevante para facultar e ilustrar as suas escolhas.

3No livro foram também incluídos e estudados textos escritos em moçárabe, língua românica que coexistia com o árabe no sul da Península Ibérica e que foi sendo substituída pelo castelhano ou pelo português após a Reconquista. O interesse dos aspetos revelados pelo estudo de um conjunto significativo de “jarchas”, textos líricos populares desta língua desaparecida, justifica a inserção do moçárabe na obra.

4No entanto, o basco, a língua mais antiga da Península Ibérica, ainda hoje de origem desconhecida, está ausente tanto desta publicação como de outro projeto futuro, por serem quase inexistentes textos escritos nesta língua no período medieval.

5Também a exclusão deste livro de documentação e estudo do catalão medieval é justificada pelos autores não por razões políticas, mas pela grande dimensão e importância das fontes escritas naquela língua antiga, que, a ser incluída, iria desequilibrar o livro. Assim, anuncia-se desde logo outra publicação que conterá textos e respetivos estudos tanto da documentação em catalão antigo como da documentação escrita em línguas de oc do sul da França, as quais são todas elas línguas românicas geográfica e linguisticamente muito próximas.

  • 1 Esta citação e os títulos em português, entre aspas, foram traduzidos por mim.

6Os autores pretendem que o livro constitua “um instrumento de trabalho que se destina a todos que se interessam e querem trabalhar sobre a civilização medieval da Península Ibérica”1, pretensão plenamente justificada tanto pela excelente seleção de textos nas línguas medievais selecionadas para a referida obra, como pela correspondente bibliografia criteriosamente escolhida. Também de grande utilidade para iniciantes na leitura e estudo das fontes textuais medievais das mesmas línguas, todas acompanhadas de traduções em francês contemporâneo, deverão ser as informações históricas e socio-culturais, e os comentários filológicos e linguísticos, em particular relativos a aspetos fonológicos, à correspondência entre fonética e grafia, ao léxico e a algumas propriedades da sintaxe que caracterizam as línguas e as distinguem umas das outras.

7Dois capítulos introduzem as línguas principais e uma importante seleção bibliográfica dos dois domínios medievais ibéricos – o espanhol e o português. O primeiro capítulo, intitulado «Les langues vulgaires, les pratiques d’écriture et leur cadre historique dans la Péninsule ibérique au Moyen Âge», inclui duas secções, correspondendo a primeira ao domínio castelhano e a segunda ao domínio português. O segundo capítulo apresenta, de forma organizada e com curtas notas, «Bibliographie générale et instruments de recherche» relativos a cada domínio.

8No primeiro capítulo, o texto selecionado, o estudo linguístico e os tópicos abordados em cada secção são muito diferentes. Na primeira é apresentada “Uma lição de castelhano medieval” para a qual foi escolhida a parte narrativa da fábula do lobo e da cegonha do “Libro de los gatos”, uma tradução espanhola anónima do século XIV. No seu comentário linguístico, Bernard Darbord extrai deste pequeno texto, seguido de tradução francesa, atestações das características mais salientes do castelhano medieval. Em seguida, o autor descreve sinteticamente a mudança do latim para o espanhol medieval relativa ao sistema fonológico e a algumas características gerais da morfologia e da sintaxe, aspetos que irão ser realçados nos comentários linguísticos que acompanham os textos tratados nas duas partes em que está dividido o grosso do património textual publicado neste livro. Na segunda secção sobre o domínio português, destinada a ilustrar o uso das línguas e as fontes escritas no Portugal medieval, parte-se de “Uma lição de galego-português” de Paul Teyssier sobre o documento datado mais antigo escrito em português, que se conhece, o Testamento de Afonso II de 1214. Nesta secção estão transcritas em linhas paralelas as duas das treze cópias do Testamento de Afonso II, que chegaram até nós, a de Lisboa e a de Toledo, editadas por Avelino Jesus da Costa. A estas segue-se uma tradução francesa da versão de Lisboa.

9A dimensão histórica e física do Testamento de Afonso II não se pode comparar com a do excerto da fábula do lobo e da cegonha da secção anterior, utilizado para ilustrar o castelhano medieval, nem os autores manifestaram tal intenção. Stéphane Boissellier, em colaboração com Bernard Darbord, responsáveis pela segunda secção, apresentam nesta uma estrutura muito mais desenvolvida do que se encontra na primeira secção do primeiro capítulo. Começam por fazer um comentário geral sobre a inadequação dos grafemas latinos a alguns sons do galego-português medieval, exemplificando com dados do Testamento e realçando as principais oscilações nas grafias atestadas nas duas cópias do Testamento; apresentam 117 comentários linguísticos sobre formas e expressões extraídas de ambas as cópias do Testamento que ilustram particularidades da língua vulgar; e desenvolvem em seis subsecções informações relevantes sobre: 2.1.“O quadro histórico geral da formação da língua portuguesa”; 2.2.“O galego-português na Romania ibérica”; 2.3.“Os textos em galego-português (de 1200 a 1350). Os usos escritos do vernáculo”; 2.4.“Os textos literários portugueses entre 1350 (fim da poesia lírica) e 1572 (publicação em Lisboa de Os Lusíadas)”; 2.5.“O universo dos escritos pragmáticos em português (1214-ca 1500): usos sociais da escrita e tipologia)”; 2.6.“A língua portuguesa do século XIV ao século XVI”.

10A seguir aos dois primeiros capítulos, o livro inclui duas partes com três capítulos cada, onde se encontra uma importante seleção de documentação relativa aos dois domínios ibéricos. Todos os textos são acompanhados de uma tradução em francês, de informações de âmbito geral e específico, de comentários de natureza histórica, filológica e linguística, e de bibliografia. A primeira parte inclui um conjunto de “Textos pragmáticos: escritos para regular, governar e viver em sociedade”, a segunda parte contem “Textos literários: escritos para instruir, convencer, distrair e testemunhar”.

11Concordando com os autores considero que a obra constitui, efetivamente, um instrumento de trabalho valioso para iniciantes ou especialistas da Idade Média ibérica, facultando a leitura de uma grande quantidade de textos escritos nas referidas línguas antigas, assim como informações e comentários relevantes, adequadamente sustentados em bibliografia especializada.

Topo da página

Notas

1 Esta citação e os títulos em português, entre aspas, foram traduzidos por mim.

Topo da página

Para citar este artigo

Referência eletrónica

Maria Francisca Xavier, «Stéphane Boisselier, Bernard Darbord, Denis Menjot, avec la collaboration de George Martin, Jean-Pierre Molenat et Paul Teyssier – Langues Médiévales Ibériques. Domaines espagnol et portugais»Medievalista [Online], 17 | 2015, posto online no dia 01 junho 2015, consultado o 18 janeiro 2025. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/medievalista/1526; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/medievalista.1526

Topo da página

Autor

Maria Francisca Xavier

Universidade Nova de Lisboa, FCSH – Departamento de Linguística / Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa, 1060-061, Lisboa, Portugal

mf.xavier@fcsh.unl.pt

Topo da página

Direitos de autor

CC-BY-NC-4.0

Apenas o texto pode ser utilizado sob licença CC BY-NC 4.0. Outros elementos (ilustrações, anexos importados) são "Todos os direitos reservados", à exceção de indicação em contrário.

Topo da página
Pesquisar OpenEdition Search

Você sera redirecionado para OpenEdition Search