Livros de Horas. O imaginário da devoção privada
Notas da redacção
Data do texto: 31 de Março de 2014
Texto integral
1Livros de Horas. O imaginário da devoção privada é um projecto conjunto do Instituto de Estudos Medievais (IEM) e da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), com a colaboração do Centro de Estudos Históricos (CEH) e do Departamento de Conservação e Restauro da Universidade Nova de Lisboa. A iniciativa, coordenada por Maria Adelaide Mirada e Delmira Espada Custódio, levou à realização de vários eventos: uma exposição (de 14 de Novembro de 2013 a 16 de Fevereiro de 2014) com visitas guiadas temáticas, um colóquio internacional (13 e 14 de Fevereiro de 2014) e a edição de um catálogo (prevista para Novembro de 2014) onde será apresentado o ponto de situação das investigações que suportaram esta iniciativa.
2A exposição compreendia dois núcleos, Livros de Horas manuscritos e impressos e uma mostra de arte contemporânea. No hall, o visitante era acolhido pela mostra Ana Luísa Ribeiro, Adenda-Pinturas da série Books of ours, onde a artista, revisitando a produção artística do século XV, propunha, através das suas obras, um olhar contemporâneo sobre o imaginário da devoção privada. Da apropriação que fez dos Livros de Horas medievais, destaca-se um conjunto de 12 telas, “Calendário”, em que a pintora propõe novas formas de celebrar o tempo.
3No Museu do Livro, estiveram expostos 24 Livros de Horas iluminados, pertencentes aos acervos da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) e da Biblioteca Pública de Évora (BPE) e um número significativo de livros de horas impressos (pertencentes à colecção da BNP), cuja importância justificava, há muito, o seu estudo e respectiva divulgação.
4A exposição dos Livros de Horas foi estruturada de acordo com as suas principais secções e respectivos programas iconográficos: Calendário, Perícopes evangélicas, Horas da Cruz, Horas do Espírito Santo, Horas da Piedade e do Sacramento, Horas da Virgem, Orações várias, Salmos Penitenciais e Ofício dos Defuntos. Incluía também três núcleos temáticos: o primeiro - Oras de Nossa senhora santa maria per lymgoagem -, dando início à mostra, apresentava dois códices manuscritos produzidos em Portugal, de que destacamos o iluminado 4, de elevado valor documental, por ser o único exemplar conhecido totalmente escrito em português; o segundo núcleo, composto pelas duas últimas vitrinas, foi dedicado ao estudo da cor, principais fenómenos de degradação, técnicas e materiais assim como processos de conservação; o terceiro, localizado na zona central, reuniu os principais instrumentos de descrição e documentação de arquivo, dando conta do percurso e história dos códices em contexto institucional.
5Da exposição salientamos ainda a presença de uma reprodução, à escala, da Virgem do Leite, pintada por Frei Carlos nas primeiras décadas do século XVI, que colocou em evidência a transversalidade das diferentes formas de expressão artística e a repercussão que estes pequenos códices tiveram nos artistas coevos.
6O Colóquio Internacional, que encerrou a exposição, contou com um elevado número de contribuições nacionais e estrangeiras. Logo a abrir o primeiro dia, Roger Wieck, curador da colecção de manuscritos medievais e renascentistas da Pierpont Morgan Library de Nova Iorque, fez uma introdução aos manuscritos da exposição com o sugestivo título "Whispers from the Vault: A Portuguese Collectio of Books of Hours Reveals Its Secrets". Os contributos de Dominique Vanwijnsberghe (Royal Institute for Cultural Heritage - Brussels) - numa abordagem geral - e Delmira Espada Custódio (FCSH-UNL/IEM) - centrada nos casos concretos das colecções -, apresentaram um quadro de estudo já bastante desenvolvido em torno dos Livros de Horas flamengos e Maria Adelaide Miranda (FCSH-UNL/IEM) abriu a discussão em torno dos dois exemplares manuscritos produzidos em Portugal. A equipa dos Reservados da BNP fez um balanço da investigação, ainda em curso, que permitirá delinear o percurso destes códices dentro das instituições detentoras da sua tutela, com base na identificação e tratamento de fontes documentais.
7O contexto histórico e artístico do Portugal do século XV ficou a cargo, respectivamente, de Bernardo Vasconcelos e Sousa (FCSH-UNL/IEM) e Luís Afonso (FL-UL/IHA). Os aspectos devocionais e a importância do livro na cultura desta centúria foram abordados nas comunicações de Aires Augusto Nascimento (FL-UL/CEC), Maria de Lurdes Rosa (FCSH-UNL/IEM) e Joana Ramôa Melo (FCSH-UNL/IHA). A materialidade dos Livros de Horas manuscritos foi debatida numa mesa redonda constituída por uma equipa interdisciplinar integrada por Maria João Melo (FCT-UNL), Ana Lemos (FCSH-UNL/IEM), Conceição Casanova (FCT-UNL) e Rita Araújo (FCT-UNL).
8Os contributos internacionais de Brenda Dunn-Lardeau (Université du Québec à Montréal), Ragnhild Boe (University of Oslo) e Fernando Villaseñor Sebastián (Universidad de Cantabria) versaram essencialmente sobre projectos específicos relacionados com esta tipologia de Livro e por último os contributos de Sylvie Deswarte-Rosa (Centre National de la Recherche Scientifique) e João Alves Dias (FCSH-UNL/CEH) incidiram sobre os exemplares impressos.
Índice das ilustrações
URL | http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/medievalista/docannexe/image/1453/img-1.png |
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Ficheiro | image/png, 1023k |
Para citar este artigo
Referência eletrónica
Delmira Espada Custódio e Maria Adelaide Miranda, «Livros de Horas. O imaginário da devoção privada», Medievalista [Online], 16 | 2014, posto online no dia 01 dezembro 2014, consultado o 16 janeiro 2025. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/medievalista/1453; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/medievalista.1453
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