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Dossier

De Vargas a Bolsonaro: o Brasil como “laboratório” ideológico-político para uma história global do populismo

De Vargas à Bolsonaro : le Brésil comme « laboratoire » idéologico-politique pour une histoire globale du populisme
From Vargas to Bolsonaro: Brazil as an ideological-political “laboratory” for a global history of populism
Fabio Gentile

Résumés

Il s’agit de montrer comment le Brésil a participé, entre la seconde moitié du xixe siècle et le début du xxe siècle, au vaste processus de transnationalité des idées en élaborant un ensemble de théories originales pour façonner « le peuple amorphe », et ce bien avant le fascisme et les premières formes du populisme contemporain. Cela permet de mieux comprendre le cycle national-développementaliste de l’« ère Vargas » (1930-1964), conçu comme un projet modernisateur d’industrialisation intégrale, moyen privilégié de surmonter le sous-développement, sous l’égide de l’État, ce qui, pour de nombreux chercheurs en sciences sociales, marque le point de départ du populisme brésilien, tandis que pour d’autres, cela marque l’époque du « travaillisme ». Le texte montre aussi la re-signification du concept de populisme au cours des dernières décennies, pour définir des phénomènes (néo)populistes sous Collor et, surtout, Bolsonaro, une forme particulière de populisme d’extrême droite qui incorpore certains éléments du fascisme.

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Texte intégral

1Como a maioria dos conceitos da teoria política contemporânea, a trajetória do populismo oscila continuamente entre os níveis não coincidentes do conceito, do fato, da teoria, e da semântica da comunicação (o populismo como estilo).

2Trata se então de um conceito marcado por uma versatilidade originaria, que por um lado nos ajuda a medir o seu valor epistemológico no campo das ciências sociais, porém sinaliza, por outro lado, ambiguidades ínsitas no conceito, que marcam até hoje seu caminho tortuoso e não consensual no campo da teoria política. Nesta perspectiva, sem considerar os movimentos populistas antimodernizadores na Rússia Czarista (Venturi 1972) e nos Estados Unidos na segunda metade do século XIX (Taggart 2002), basta apenas dizer que o populismo foi utilizado simultaneamente como kampfbegrief (um “conceito de combate”, Boisard 2020) na Europa, e como categoria cientifica no pensamento sociopolítico latino-americano, logo depois da Segunda Guerra Mundial, para voltar a ser uma arma ideológica dos adversários políticos do “Varguismo” no Brasil saindo do Estado Novo (1937-1945) para entrar na democracia na década de Cinquenta.

  • 1 Com a palavra “Qualunquismo” define-se o movimento populista de recusa da política tradicional lide (...)

3No caso da Europa, é emblemático o uso do populismo na Itália lidando com a difícil transição do fascismo para a democracia. Na disputa ideológico-política das décadas de Quarenta e Cinquenta, os grandes partidos de massa – a Democracia Cristã e o Partido Comunista Italiano – utilizaram o conceito para estigmatizar de “populistas” os movimentos e os partidos de contestação da democracia liberal representativa na Itália do Sul (“qualunquismo” e “laurismo”1). Enquanto na mesma conjuntura, na América Latina, sob o impulso da renovação teórica e metodológica trilhada pelo sociólogo ítalo-argentino Gino Germani, o populismo registrou grande sucesso como categoria cientifica par classificar todas as etapas cruciais da modernização latino-americana, de forma especifica o nacional desenvolvimentismo peronista na Argentina, o segundo governo Vargas no Brasil, e o governo de Lázaro Cárdenas no Mexico.

4É preciso aguardar a segunda metade da década de Sessenta para registrar um primeiro grande esforço de definir o que é populismo tentando de classificar alguns elementos comuns aos diferentes fenômenos que estavam-se encontrando no conceito.

5Por um lado, a abordagem funcionalista, justamente preocupada com a exigência de analisar movimentos de massa esvaziando a democracia por dentro após a Segunda Guerra Mundial e, portanto, não claramente classificáveis nas categorias fascismo, autoritarismo e totalitarismo – o populismo não “golpeia” a democracia por fora mas compete pela via eleitoral –, tem o mérito de destacar as homologias entre fenómenos diferentes (Gellner & Ionescu 1969), quais são o carater inter-transclassista dos movimentos populistas, que se reflete também no estilo discursivo “antipolítico”, sob signo da retorica do “Nos Cidadãos do bem” contra “Eles cidadãos do mal”, voltado para um “genérico” povo, ao qual pretende-se dar proteção em troca de consenso, uma vez que as mediações representativas político-partidárias, clássicas, da liberal democracia são apresentadas como ineficazes e “corruptas” na solução dos problemas quotidianos das massas.

6Por outro lado, porem, a abordagem funcionalista, embora descrevendo bem o estilo populista e também algumas analogias no funcionamento do sistema em casos diferentes, ignora porem natureza, conteúdo social, evolução e finalidades dos fenómenos populistas. E sobretudo não ajuda a compreender as mediações de interesses em uma sociedade complexa que os populistas, uma vez no poder, tem de fazer para governar e se manter no poder, como bem argumenta a ciência política de matriz weberiana e schumpeteriana (Tarrow 1979, Dutra Fonseca 2014).

7Nesta perspetiva, basta pensar que no caso italiano o “laurismo”, comprometido com o governo da cidade de Nápoles, neutralizou o conflito de classe produzido pela reconstrução do pós-guerra em um projeto populista, corporativo e clientelista. No plano político nacional, o armador Achille Lauro e seus colaboradores reforçaram o “centrismo” da Democracia Cristã, no quadro do anticomunismo e da “guerra fria”, em troca de dinheiro publico para apoiar no plano político local a especulação imobiliária, o setor central da economia napolitana. Assim, o populismo foi apenas um eficaz estilo comunicativo, enquanto Achille Lauro e seus mediadores negociavam políticas publicas de cunho económico-social com os governos nacionais da época.

8Também, se olhamos ao Sul América, a associação da política econômica e social do segundo governo Getúlio Vargas (1951-1954) e do governo João Goulart (1961-1964) ao conceito de populismo é bastante problemática. O maior desafio é de natureza metodológica, ou seja, trata-se de responder a pergunta central “como testar se um governo se afina ou não com o populismo econômico?” (Dutra Fonseca & Salomão 2020: 93). A análise exaustiva dos 2 governos leva os cientistas sociais Dutra Fonseca e Salomão a dizer que populismo econômico não é uma categoria adequada para o exame dos modelos econômicos implementados por Getúlio Vargas e João Goulart, dado que “a política econômica não se restringe às políticas-meio ou instrumentais” (Dutra Fonseca & Salomão 2020: 120), de cunho populista. As nacionalizações e a legislação trabalhista varguista, bem como as reformas de base de Goulart, são políticas estruturais e macroeconômicas que dizem respeito ao caráter nacional desenvolvimentista e trabalhista dos 2 governos (ibidem).

9Em suma, populismo é um conceito controverso, ambivalente, ilusório, marcado por profundas antinomias, oscilante entre a apropriação que se dá, em muitos casos, de modo ideológico na linguagem política cotidiana, e as necessidades científicas para as quais foi reformulado nas diferentes conjunturas. Porém, continua sendo um conceito útil para uma ciência política comprometida com a compreensão de fenômenos produzidos por tendências “patológicas” das democracias contemporâneas (Donzelli & Pozzi 2003), ainda mais quando focamos a “era do (neo)populismo”, que – de acordo com os populism studies – vai das décadas de 1980 e 1990 do século XX até hoje, abrangendo fenômenos político-sociais bem diferentes: Berlusconi e a Liga na Itália, Ross Perot e Trump nos Eua, Collor de Mello, Bolsonaro, Menem, Fujimori na América Latina, só pra citar alguns dos mais significativos.

10Nessa nova conjuntura, o espectro semântico-conceitual do populismo é ampliado, no contexto do “fim das ideologias”, aberto pelo colapso da União Soviética.

11Trata se do pano de fundo de uma nova geração de pesquisas e reflexões lidando com a exigência de definir rigorosamente o que é populismo (Mény & Surel 2001, Tarchi 2003, Mudde 2004, Laclau 2005, Moffitt 2016, Mounk 2018, Mény 2019, Urbinati 2020, Rosanvallon 2020, Corsini 2021, Bresciani & Schwarz 2021, Paschoeto 2021, Gomes 2022), para capturar a essência mais profunda dos fenômenos (especialmente na área da direita) provocados pelas crises das liberal democracias ocidentais, pensando o populismo também em uma perspectiva de continuidades e rupturas com o fascismo clássico (Finchelstein 2017, 2020), analisando a ascensão de neopulismos nacionalistas-identitários (Eatwell & Goodwin 2018, Zuquete 2020). E por fim o conceito é pensado como um recipiente multiforme e elástico incorporando também os populismos de “esquerda” de Chávez, Morales, Correa e Néstor e Cristina Kirchner (Mouffe 2018).

12Para que o conceito possa ser ulteriormente liberado das aporias ínsitas na sua origem, bem como das tendências descritivas da maioria dos estudos, ganhando ainda mais valor epistemológico na análise e na compreensão de fenômenos que não são propriamente “fascistas” nem são apenas “desvios” da liberal democracia em algumas circunstâncias de crise, é preciso pensar uma história global do populismo (Finchelstein 2020, Finchelstein & Urbinati 2021), dado que ao longo da sua trajetória o conceito cumulou “uma longa história global e interconectada, que precisa ser considerada para compreender as formas atuais em nível mundial” (Finchelstein & Urbinati 2021: 33).

13Nesse novo horizonte teórico-metodológico, pretende-se analisar o populismo brasileiro, dado que ele é um verdadeiro “laboratório” da “terceira via” latino-americana entre os fascismos e as liberais democracias. Foi na América Latina com o Peronismo argentino e logo em seguida com o Varguismo no Brasil que “o populismo contemporâneo se manifestou como movimento e sistema de poder” (Finchelstein & Urbinati 2021: 50).

14O mundo latino-americano com sua vasta produção de eventos socioculturais singulares, mas que frequentemente se encontram em consonância com os que emergem externamente ao seu contexto específico, representa um “laboratório” de experimentos, cujo teor ideológico-político pode muito bem explicitar uma determinada orientação, que pode ser perseguida por outras unidades sócio continentais. Ademais, a conceituação do Brasil como “laboratório ideológico-político” original do populismo desde a segunda metade do seculo XIX (Boito 2005: 37) pode ser também uma forma para evitar a reprodução, fechada aos novos horizontes de uma ciência social global, da velha tese da lógica dual que instaura a divisão centro-periferia. Mesmo porque um experimento em uma determinada área supostamente “periférica’ pode ser repetido em outra supostamente “central”, sem que seja respeitado o princípio do mais ou menos avançado.

15A nossa hipótese principal, corroborada também por uma nova geração de reflexões bastante inovadoras sobre a extrema direita brasileira pensada em perspectiva global e transnacional (Caldeira Neto 2023), é que o “laboratório” brasileiro apresenta uma riqueza de conteúdos e elementos tanto significativos quanto ainda pouco estudados no debate sobre o populismo contemporâneo. Analisando o caso brasileiro, um dos nossos objetivos é contribuir também para incentivar as ciências sociais europeia, norte-americana e latino-americana a colaborar no terreno comum de uma história global do populismo, pensada como diálogo interdisciplinar em torno de redes de interdependência, que precisam ser fortalecidas com base em uma ciência social comprometida com a “transnacionalização” da cultura (Costa Pinto e Finchelstein 2019).

16Dadas estas reflexões preliminares, e levando em consideração o caminho trilhado rumo aos resultados mais significativos do debate (Ianni 1968, Weffort 1978, Saes 1985, Gomes 1988, 2022, Ferreira 2001, Perlatto & Chaves 2016, Perlatto 2020, Avritzer 2020, Lynch & Paschoeto Cassimiro 2021, 2022, Barbosa Jr. & Casarões 2022), utilizaremos uma perspectiva teórico-metodológica sensível, por um lado, ao interligar os terrenos tradicionais da teoria política e da história das ideias com a história contemporânea, mas aberta, por outro lado, a dialogar com o pensamento político-social brasileiro (Brandão 2007), para compreender tanto os elementos a serem reconduzidos para uma teoria do populismo brasileiro como processo geral que marca todas as etapas cruciais da modernização do país, quanto os traços específicos, ideológicos, políticos, econômicos e sociais, das diferentes experiencias populistas.

17Portanto, o texto se articula em quatro partes. Na primeira, pretende-se mostrar que o Brasil participou do amplo processo de transnacionalidade das ideias entre a segunda metade do século XIX e o início do século XX elaborando um conjunto de teorias originais para dar forma ao “o povo amorfo” bem antes do fascismo (Lamounier 1977, Boito 2005: 26) e das primeiras formas de populismo contemporâneo. Trata-se de uma etapa fundamental para entender, na segunda e terceira parte, o ciclo do nacional-desenvolvimentista da “Era Vargas” (1930-1964), pensado como um projeto modernizador de industrialização integral, caminho privilegiado para superar o subdesenvolvimento, sob a égide do Estado (Bielschowsky 1988) – que para muitos cientistas sociais marca o ponto de partida do populismo brasileiro, enquanto para outros a época do “trabalhismo” (Gomes 1988).

18O foco da quarta parte é a ressignificação do conceito de populismo nas últimas décadas, para definir fenômenos (neo) populistas quais Collor e, sobretudo, Jair Bolsonaro e o chamado “bolsonarismo”, forma peculiar de populismo de extrema direita que incorpora alguns elementos do fascismo.

O povo “amorfo” no pensamento nacional-autoritário brasileiro da primeira metade do século XX

19O Brasil não foi atingido pelo trauma da Grande Guerra. Porém, o primeiro pós-guerra foi uma época crucial de transformações sociais, sob o impulso de um nacionalismo “político-militante”, capaz de aglutinar diferentes linhagens do panorama político e cultural brasileiro em torno a um projeto de “redescobrimento” dos marcos originários do povo brasileiro desde sua matriz colonial. Embora com perspectivas teóricas e metodológicas diferentes, o elemento comum destas variedades de famílias políticas e intelectuais, comprometidos com a análise do povo brasileiro, é um modelo de Estado-nação qualitativamente diferente daquele do nacionalismo liberal do século XIX (Lippi 1990).

20Existe, todavia, um vínculo de continuidade entre o nacionalismo brasileiro da segunda metade do século XIX e aquele das primeiras décadas do século XX. É o caso do político e intelectual liberal Alberto Torres (1865-1917).

21Torres já no início do século XX, influenciado pela ampla circulação das ideias de Comte e Durkheim no Brasil, havia antecipado um dos temas centrais da ideologia nacionalista brasileira entre as duas guerras mundiais: o hiato profundo entre o Brasil “legal” da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1891) – sofisticada obra jurídica baseada na montagem de modelos estrangeiros da tradição liberal europeia e norte-americana e, como tal, considerada inadequada ao caminho histórico nacional – e o Brasil “real”, lidando com profundos problemas sociais e econômicos e com um povo marcado pela “anomia”, pela ausência de laços de solidariedade, “amorfo” e totalmente desprovido dos requisitos mínimos para participação política.

22Sem renunciar aos princípios fundamentais do liberalismo, o remédio para os “males do Brasil” – na opinião de Torres – era a incorporação do povo à nação mediante um nacionalismo organicista, caracterizado pela ampliação dos poderes do Estado e pela organização de todas as forças econômicas e sociais do País (Torres 1914: XIII).

23É nesse contexto que surge uma direita nacionalista e autoritária, plasmada em torno da “criação” e da educação do povo pelo Estado-nação.

24A análise desse fenômeno sugere que o pensemos como um campo de relações intelectuais e políticas polarizadas em torno de um conjunto de problemas no qual temas tradicionais de longo prazo do pensamento político brasileiro (Beired 1999), como a “ausência de um povo” (entendida como falta de consciência nacional) e a necessidade de um Estado centralizado, entrelaçam-se com os desafios da modernização, vinculados à crise do modelo agroexportador brasileiro, no contexto mais amplo da crise mundial do capitalismo e do Estado liberal, percebido como inadequado para governar as grandes transformações em andamento.

25Essa galáxia de direita se apresenta com uma face tripla (Beired 1999): a) o nacionalismo autoritário, herdeiro da tradição positivista brasileira; b) a direita católica; e c) a direita integralista, que, de acordo com uma análise consolidada no debate histórico, seria o movimento ideológico e político mais próximo do fascismo europeu (Trindade 1974, Pereira & Caldeira Neto 2020).

26Na impossibilidade de examinar a trajetória das direitas brasileiras no século XX, nossa análise enfoca os traços essenciais do nacionalismo autoritário, já que esta linhagem – concentrada principalmente em torno de intelectuais como Francisco José de Oliveira Vianna, Azevedo Amaral e Francisco Campos – abre o caminho teórico à apropriação sucessiva das teorias populistas nas ciências sociais brasileiras.

27Como foi justamente observado, o diagnóstico da realidade brasileira e os remédios normativos propostos pelo nacional-autoritarismo constituíram o núcleo de uma nova “ideologia do Estado” (Lamounier 1977), marcada por traços protofascistas, como resposta necessária e específica ao problema da organização do poder e da criação de um povo, diante da crise do liberalismo, no contexto mais amplo da crise internacional do primeiro pós-guerra.

28Em busca de novas ferramentas teóricas e metodológicas para pensar a formação e a educação do povo brasileiro sob o controle do estado interventor, o nacional-autoritarismo brasileiro se alimentou pelo debate francês sobre o nacionalismo, desde a segunda metade do século XIX, bem como pelo sindicalismo nacionalista, confluído então no fascismo italiano.

29Trata-se de uma etapa fundamental para entender como os ideólogos do autoritarismo brasileiro se apropriaram das teorias europeias. Basta pensar ao clássico Populações Meridionais do Brasil de Oliveira Vianna (2005[1920]), no qual confluem todos os temas fundamentais do nacionalismo europeu, adaptando-os a realidade brasileira: a sociologia de Durkheim (Bresciani 2004), o positivismo comtiano reelaborado de forma “eclética” (Love 1975) no encontro com a teoria spenceriana, base do evolucionismo social darwiniano, a recusa do liberalismo e a preocupação com a solidariedade e o organicismo social (o familismo de Le Play misturado ao racismo biológico de Lapouge e a demografia racial de Gobineau), bem como o controle corporativo dos conflitos produzidos pela sociedade industrial (o nacionalismo protecionista de Maurice Barres, e l’Action française de Maurras), enfim a teoria das multidões de Le Bon e a teoria das elites de Mosca e Pareto, sendo complementadas com a psicologia e a psicanálise (Oliveira Vianna 2005).

30Servindo-se desta variegada literatura europeia, Oliveira Vianna e os principais teóricos do nacionalismo autoritário, no caminho aberto por A. Torres, adaptam os conceitos de “anomia” e “amorfia” à análise do povo brasileiro. De acordo com sua elaboração, a Constituição de 1891, até mais do passado colonial, vai ampliando o hiato entre o País “legal” dos “bacharéis” e o Brasil “real”, da pobreza e da miséria. O povo, desenraizado do latifúndio e dos seus laços clínico-parentais, é catapultado em uma época de profunda desorganização, que não pode ser mais pensada na perspectiva da representação liberal e individualista, mas precisa de uma nova representação moldada no “social”.

31Dado esse diagnóstico, os teóricos do nacional-autoritarismo se comprometem com a reflexão sobre os principais elementos da sociedade civil, visando plasmar a nação na forma de um Estado autoritário que transforme as massas brasileiras, “amorfas” e fragmentadas, em uma comunidade harmoniosa. A única solução racional e orgânica para a realidade econômica, política e social brasileira apontada por essa linhagem do pensamento político brasileiro é o Estado nacionalista autoritário em suas múltiplas funções de organização, incorporação, educação, controle e proteção da sociedade (Oliveira Vianna 2005: 275-276).

32O conceito de “povo amorfo” em busca de uma identidade nacional, elaborado pelos ideólogos do Estado Novo de G. Vargas, é apropriado também por outras linhagens. Basta pensar em Sérgio Buarque de Holanda, que, no clássico Raízes do Brasil (Buarque de Holanda 1936), animado por uma exigência de buscar novas categorias capazes de interpretar a entrada do País na modernidade, reformula a categoria de “homem cordial” brasileiro, dialogando também com as teorias psicossociologias do “povo amorfo”, constatada uma suposta incompatibilidade brasileira com o liberalismo das sociedades europeias modernas. Portanto, o homem brasileiro, nascido e criado na estrutura clã-parental do latifúndio, é pensado para Buarque de Holanda como uma coletividade-povo “emocional”, ainda marcada por seu passado escravocrata e rural, cuja cultura é caracterizada por um corpus de identidades simbólicas, mitológicas quais são a “espontaneidade” e a “cordialidade”.

33Se, em acordo com Torres e Oliveira Vianna, a democracia liberal seria “sem raízes profundas na realidade” brasileira (Buarque de Holanda 1936: 152), e os totalitarismos de raça ou de classe seriam um produto dela, o personalismo das elites ou de um líder carismático poderia ser uma solução mais adequada para a criação da nação brasileira, já que é comprovada pela história da América Latina a capacidade das elites de despertar os sentimentos mais profundos do povo-massa, visando ganhar um consenso de caráter fideísta em torno de um projeto de nação.

34Enfim, embora não seja possível falar de uma verdadeira teoria do populismo brasileiro na década de 1930, é oportuno reconhecer que os teóricos do Estado varguista abrem o caminho para o uso do conceito na análise dos processos de modernidade-modernização brasileira do século XX. Nesta perspectiva, a apropriação “eclética” da linhagem nacional-autoritária no progressismo teórico-político de Sergio Buarque de Holanda desenvolve um papel fundamental nas teorias do populismo elaboradas por uma nova geração de cientistas sociais, que mesmo sendo formados no marxismo, estarão disponíveis para dialogar com as leituras clássicas do povo brasileiro.

Da “ideologia do estado autoritário” ao nacional-populismo desenvolvimentista como categoria explicativa da modernização brasileira

35No imediato segundo pós-guerra, populismo é utilizado prevalentemente no discurso ideológico-político de setores do liberalismo reacionário, conservador e anticomunista, para desacreditar os “inimigos” políticos “varguistas” e “´populistas” (G. Vargas, J. Goulart, L. Brizola, J. Quadros e J. Kubitschek), acusados de ser perigosos demagogos, levando o Brasil a uma catástrofe com seus projetos de reforma social (Bielschowsky 1988).

  • 2 Ademar de Barros (1901-1969) foi um dos mais influentes políticos brasileiros entre as décadas de T (...)

36Isso não quer dizer que o conceito tenha desaparecido do debate das ciências sociais. Pelo contrario, desde a década de Cinquenta, houve um esforço de resgatar o populismo no âmbito da analise sócio-política sobre alguns fenômenos de massa liderados por personalidades carismáticas. É o caso do “ademarismo”. Palavra criada pelo cientista social H. Jaguaribe para dará conta da estrutura social do movimento transclassista, reacionário, de massa, aglutinado em torno do homem político Ademar de Barros2. Na leitura de Sodré, ele é enraizado na massa rural, cooptada por coronéis locais mediante práticas clientelísticas e sobretudo mediante uma propaganda pensada em torno da liderança carismática de Ademar de Barros, protetor do seu eleitorado rural. Nesta perspectiva, Jaguaribe argumenta que o “personalismo” de Barros é um traço marcante do PSD – como acontece também no Peronismo argentino ou no “laurismo” na Italia do Sul –, embora o partido tenha uma própria ideologia e um especifico eleitorado urbano de referência (parcelas da pequena burguesia e do proletariado).

37O “ademarismo” seria então “a expressão brasileira” do populismo da década de Cinquenta (Jaguaribe 1954: 293).

  • 3 O movimento ideológico-político inspirado no estatista Jânio Quadros, presidente do Brasil em 1961.

38Ele seria o equivalente brasileiro do movimento macarthista norte-americano, dado seu caráter reacionário no anticomunismo da Guerra Fria, conduzindo em marcha para o poder a burguesia brasileira, subordinada ao imperialismo norte americano, e setores da classe média, em busca de uma nova proteção do perigo de proletarização produzidos pela expansão do capitalismo brasileiro. O ademarismo se opõe ao “janismo”3, expressão dos setores operários e de segmentos da classe média, organizados em torno de um discurso contra o clientelismo nos setores públicos do Estado.

39A estrutura transclassista do ademarismo seria consequência do estado de compromisso entre a antiga classe dominante latifundiária e a nova burguesia industrial que foi se formando a partir da Revolução de Trinta.

40Interessante observar que Jaguaribe teoriza alguns dos elementos do populismo clássico (líder carismático, apelo ao povo, personalismo, transclassismo), sobre os quais vai se debruçando a obra de alguns dos grandes fundadores da sociologia acadêmica brasileira das décadas de 1960 e 1970, em plena ditadura militar.

41Trata-se de uma conjuntura importante na elaboração brasileira do conceito de populismo.

42Diante da necessidade científica e política de interpretar, no calor do momento, o nacional-desenvolvimentismo da “Era Vargas”, Octavio Ianni na obra O colapso do populismo no Brasil (1968) e Francisco Weffort na obra O populismo na política brasileira (1978), teoricamente insatisfeitos com as categorias fascismo, totalitarismo e autoritarismo, refletem sobre o conceito de populismo, liberado de seus usos ideológicos no conflito político da década de 1950, para ser aplicado como categoria científica na análise sócio-política do “ciclo desenvolvimentista” de 1930 a 1964.

43Se, por um lado, Ianni e Weffort estão dispostos a aceitar a teoria dos ideólogos do Estado Novo de que o Estado varguista havia criado a nação brasileira, por outro lado, retomam de Buarque de Holanda a “cordialidade”, para reafirmar a necessidade de elaborar leituras específicas da sociedade brasileira, incomparável com a europeia, marcada por regimes totalitários e autoritários.

44Apesar do esforço teórico de Ianni e Weffort, o populismo teria ficado à margem das ciências sociais brasileiras sem a contribuição de Gino Germani (1969, 1978). Os estudos do sociólogo ítalo-argentino proporcionam às ciências sociais brasileiras a oportunidade de legitimar a teoria do nacional-desenvolvimentismo varguista, populista, em bases científicas.

45A partir dos trabalhos da década de 1940 e ao longo da sua trajetória de sociólogo dos processos de modernização, analisados sob a perspectiva estrutural-funcionalista e parsoniana, Gino Germani é um observador atento da era do totalitarismo fascista e do peronismo argentino. Embora Germani reconheça que a Europa mediterrânea tem um vínculo evidente com os Países latino-americanos, uma das principais contribuições da sua teoria comparativa é a análise especifica das vias nacionais latino-americanas para o desarrollo ou o desenvolvimento.

46Porém, a sociologia científica de Gino Germani também envolve o estudo da participação das massas na vida nacional. O confronto entre fascismo e peronismo leva o autor a reconhecer, por um lado, a novidade da mobilização permanente totalitária das massas no nazifascismo, mas, por outro lado, a admitir a impossibilidade de reproduzir nas sociedades latino-americanas o Estado-partido totalitário, que absorve a esfera do privado no público, já que era do nacional-populismo inaugurada por Getúlio Vargas e Juan Domingo Perón se limitou a uma política populista de inclusão, embora passivamente, das massas na vida nacional, apesar de suas características autoritárias e corporativas (Germani 1978).

47Daí o interesse das ciências sociais brasileiras (Ianni, Weffort, Cardoso & Faletto) em analisar por que os países latino-americanos escolheram o populismo nacional-autoritário como modelo mais adequado para dirigir a inevitável e necessária entrada de suas sociedades na modernidade.

  • 4 Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Rio de Jan (...)

48No horizonte aberto por Gino Germani, Ianni apresenta a “Revolução” varguista de 1930 como o ponto de partida da democracia populista no Brasil. Em sua opinião, a “Era Vargas”, embora autoritária no período do Estado Novo, havia inaugurado a política das massas, enquadradas no modelo econômico-social, cujo ponto de chegada foi o Decreto-Lei n. 5.4524 – um código trabalhista muito amplo, incorporando toda a legislação social produzida durante a “Era Vargas” e ainda em vigor nos dias de hoje –, que criou as condições para a implantação da democracia popular no Brasil.

49Ianni argumenta que a década que vai do suicídio de Vargas ao golpe militar (1954-1964) é caracterizada por um ciclo econômico que rompe com o modelo agroexportador clássico, incentivando a importação de tecnologia e rompendo a dependência dos investimentos estrangeiros. A industrialização sustentada por um desenho político nacional-populista se torna o ponto crucial para o desenrolar da jovem e frágil democracia brasileira, no contexto da Guerra Fria e do imperialismo norte-americano na América Latina.

50Assim, não parece paradoxal para Ianni que as grandes mudanças introduzidas pela “Era Vargas” – mesmo na fase mais abertamente fascista do Estado Novo – favoreçam a criação de um modelo de Brasil mais democrático e, consequentemente, também se tornem objeto de conflito ideológico-político entre os setores populares apoiando os presidentes “varguistas” e “populistas” e as elites aliadas com a burguesia reacionária, que leva ao fim do ciclo virtuoso (1930-1964), interrompido pelo golpe militar.

51Na trilha de Ianni, Weffort elabora um dos modelos mais sofisticados de populismo. Para o cientista social, a era do nacional-populismo brasileiro é caracterizada pela participação das classes populares na vida nacional, no contexto das transformações econômicas, políticas e sociais provocadas pelos primeiros processos de modernização entre a segunda metade do século XIX e o início do século XX. A pressão das classes populares é exercida tanto em cima das estruturas estatais – ampliando a participação popular na política, especialmente no campo dos direitos sociais – quanto na economia, com o acesso de setores populares a profissões e bens de consumo dos quais eram tradicionalmente excluídos. O nacional-populismo seria, portanto, a política de inclusão das classes populares em um modelo de desenvolvimento inevitável e necessariamente industrial, dirigido pelo líder carismático e paternalista (Getúlio Vargas, “pai dos pobres e trabalhadores”), com o apoio de uma aliança política social nacionalista, antiliberal e antioligárquica.

52Enfim, a importância das teorias do populismo de Ianni e Weffort no campo das ciências sociais brasileiras e, de modo mais geral, nas latino-americanas, consiste em ter feito o primeiro grande esforço teórico e metodológico para interpretar o modelo específico de desenvolvimento nacional dos Países latino-americanos, comparando-o com o europeu.

53Neste horizonte de problemas se coloca a teoria de Armando Boito Jr. tentando uma soldagem entre a teoria do populismo de Weffort e o materialismo histórico (Boito Jr 2005).

54Insatisfeito com a teoria do populismo elaborada no âmbito das teorias funcionalista, o cientista social pretende “compreender o populismo como um fenômeno de classe e historicamente datado” (Boito Jr 2005: 22).

55Boito argumenta que a já no Brasil da “Velha República” é possível detectar as raízes do populismo brasileiro. A insatisfação das classes medias produzidas pela ampliação do estado administrativo, bem como da pequena burguesia urbanizada, desenvolveu um “culto do Estado protetor” (Boito Jr 2005: 28), que foi logo em seguida traduzido em projeto político pelo tenentismo. Os tenentes, retomando a teoria clássica do tenentismo publicada em 1933 por Virginio Santa Rosa (Santa Rosa 1976) se apoiaram no mal-estar das classes medias visando o “liberalismo oligárquico”. Boito reconhece que a as reivindicações tenentistas ficaram em nível pre-politico, em ausência de uma representação orgânica das chamadas medias e dos setores populares.

56Trata-se de um problema estrutural de todos os governos populistas, cujo ciclo é aberto pela Revolução de 1930 e vai até o golpe militar de 1964.

57Retomando o conceito de Estado protetor e criador de direitos, elaborado pelos teóricos da vertente sindicalista e trabalhista do Ministério do Trabalho durante o Estado Novo, e incorporado também nas teorias marxista (Saes 1985), Boito salienta que a ideologia populista se espalhou rapidamente nas classes populares, inclusive na classe trabalhadora, em busca de um criador dos direitos sociais, bem como na pequena e média burguesia em busca de um “protetor”. A composição do conflito de classe produzido pela industrialização encontrava, de acordo com Boito Jr, no “culto do Estado” o núcleo central do populismo entre 1930 e 1964.

58O problema fundamental das teorias marxistas do populismo é que tendem a assimilar em um único modelo de populismo as diferentes épocas da “Era Vargas”. Assim, fica marginalizada a aproximação de Vargas e dos seus principais colaboradores com o fascismo e corporativismo.

“A invenção do trabalhismo”

59As teorias clássicas do populismo exercem forte influência pelo menos até o final da década de 1970, quando se registra um novo esforço para sistematizar questões teóricas e metodológicas ainda pouco exploradas do populismo. Em um panorama marcado pela lenta e gradual transição da ditadura militar para a democracia, também sob o impulso do “novo sindicalismo” e a volta dos movimentos sociais, na segunda metade da década de 1970, uma nova geração de cientistas sociais brasileiros, incomodados com a estagnação teórica do populismo, se confronta com a crise dos paradigmas estruturalistas e funcionalistas da década de 1950 e com a renovação no próprio marxismo, dialogando, sobretudo, com os estudos de E. P. Thompson sobre a classe trabalhadora inglesa.

60A obra de referência dessa fase do debate sobre o populismo é, sem dúvida, A invenção do trabalhismo de Ângela de Castro Gomes (1988). O objetivo é abrir um diálogo interdisciplinar entre sociologia, ciência política e história, à luz das novas fontes documentais disponíveis, interpretadas sob a perspectiva das recentes teorias sobre o movimento sindical e trabalhista internacional (Gomes 2001, 2022, Perlatto 2020).

61Â. Gomes examina a “ruptura” provocada pela “Revolução” varguista de 1930 na história brasileira, repensando-a em função de um novo modelo interpretativo da história da classe trabalhadora brasileira. Se o marxismo brasileiro sempre apresentou as classes trabalhadoras como subordinadas e cooptadas em todas as conjunturas cruciais da história nacional – pelo menos desde a Independência, dada a ausência de uma revolução burguesa que deveria ter levado dialeticamente à revolução do proletariado –, Gomes, pelo contrário, recusa essa leitura consolidada, apresentando, com base em uma teoria multidisciplinar, a classe trabalhadora como sujeito ativo da história brasileira. O desafio é repensar o populismo sob uma nova perspectiva, desvinculada das teorias clássicas marcadas pela manipulação midiática das massas fascinadas pelas virtudes carismáticas do líder Getúlio Vargas, bem como pela incorporação autoritária da classe trabalhadora ao Estado.

62De acordo com Gomes, longe de constituírem um sujeito passivo da história brasileira, as classes trabalhadoras interagiram dialeticamente com o Estado varguista, até condicionando suas estratégias políticas (Gomes 2001). Enfim, o nacional-desenvolvimentismo é apresentado como um “campo de possibilidades” (Gomes 2001: 46), no qual o Estado, a elite política, a burguesia industrial e a classe trabalhadora negociam uma nova forma de representação menos conflituosa e mais conciliatória, tendo por objetivo comum a industrialização brasileira.

63A categoria elaborada pela cientista social é o “trabalhismo”. Trata-se de um novo pacto entre o Estado e as classes produtoras desde a criação do Estado Novo, em 1937. O sentido mais profundo do trabalhismo reside no vínculo entre o Estado e a classe trabalhadora em uma época que tem início bem antes da “Era Vargas” e termina bem depois. A cientista chega à conclusão de que a relação entre o Estado e o mundo do trabalho sempre foi marcada por conflitos, avanços e derrotas de ambos os lados e, por consequência, não poderia ser reduzida apenas à mobilização populista, passiva, das classes populares no Estado, de acordo com a teoria de Weffort.

64Pode-se concluir que, por um lado, a obra de Castro Gomes teve o mérito de orientar o debate rumo a uma nova reflexão sobre o populismo, a Era Vargas e, sobretudo, a entrada do Brasil na modernidade do século XX; por outro, ela apresenta dois problemas teóricos e metodológicos fundamentais, como nas teorias marxistas do populismo, embora com argumentos diferentes.

65O primeiro problema é que Castro Gomes pensa a história brasileira sob uma perspectiva exclusivamente nacional. Ela não leva em consideração, senão marginalmente, que o trabalhismo se caracteriza por uma forte influência do Stato Nazionale del Lavoro (Estado Nacional do Trabalho), elaborado pelo corporativismo fascista italiano.

66O segundo problema – em decorrência do primeiro – é que o regime autoritário do Estado Novo, purificado de suas características mais abertamente totalitárias, pode ser apresentado como o início de um pacto construído sob a égide do Vargas “pai do nacional-desenvolvimentismo”, abrindo caminho, então, para o revisionismo da “Era Vargas” dos últimos trinta anos.

O (Neo) Populismo de direita: de Collor ao “mito” Jair Bolsonaro

67Com a transição da ditadura para a democracia, a trajetória brasileira do populismo, entre usos científicos e usos ideológicos-políticos, enriqueceu-se com o debate sobre a nova onda dos líderes (neo) populistas na América Latina (Panizza 2000, Diehl 2014, Bethell 2018).

68Nas origens da reflexão sobre o populismo nas décadas de Oitenta e Noventa do século XX há alguns fatores que merecem ser mencionados, ainda que brevemente: o fim do mundo bipolar tem um reflexo fundamental no debate sociopolítico contemporâneo, uma vez que decreta o “fim” das ideologias do século XX e, consequentemente, convida-nos a repensar as categorias tradicionais de direita e esquerda à luz de novos fenômenos políticos aparentemente incompatíveis com elas (os populismos de direita e aquele de esquerda), a crise da representação democrática do século XX e as novas formas de personalização da política (Manin 1995), que, se encontra certa resistência nos atores sociais e nas políticos tradicionais nos países ocidentais, com instituições liberais e democráticas mais consolidadas, no caso brasileiro, pelo contrário, não enfrenta obstáculo algum, dada a fragilidade das instituições democráticas ainda muito jovens, também levando em conta a peculiar conformação do “presidencialismo de coalizão”, inaugurada em 1946 e restaurada pela Constituição da República Federativa do Brasil (Constituição Federal [CF] 1988) após a ditadura militar (Abranches 2018).

69É o caso do governo Fernando Collor de Mello, que durou apenas 3 anos – de 1990 a 1992 –, terminando com um processo de impeachment.

70A vitória do político “outsider” (Collor) nas eleições presidenciais seria o resultado de uma mudança de sistema – da ditadura para a democracia – que rompe com o equilíbrio social e político tradicional. A democracia é aceita por todas as forças em disputa, mas o modelo de desenvolvimento econômico vê, por um lado, Collor à frente de um movimento social transclassista, “não partidário”, propondo políticas reformistas e liberais e elaborando um discurso emocional (Sallum 2016), que inflama o povo em nome do “Nós, Cidadãos do Bem” contra “Eles, Cidadãos do Mal”, sendo este grupo representado, pelo lado oposto, por antigos e novos partidos, aliados na reformulação de um projeto nacional-desenvolvimentista mais distributivo.

71A campanha eleitoral brasileira de 1989 constitui um laboratório para analisar alguns dos temas centrais da crise da democracia representativa e do sucesso do populismo nos últimos anos.

72Naquela conjuntura, o populismo de Collor já vem se apresentando polarizado em torno da personalidade do líder que, em nome da antipolítica, cria uma relação fideísta com seus eleitores, consultados pelas pesquisas de opinião. O espaço político, tradicionalmente ocupado pelos partidos, responsável por liderar as massas brasileiras da ditadura militar à democracia, torna-se um cenário no qual assume destaque o líder populista Collor, apoiado pela configuração “não partidária” de um novo movimento político, por meio do Partido da Reconstrução Nacional (PRN).

73O impeachment de Collor, em 1992, é sustentado por uma ampla mobilização popular, dirigida pelos principais partidos da transição à democracia. O caso Collor mostra, mais uma vez, a natureza polimórfica, elástica e, em última análise, ambígua do conceito de populismo, uma vez que é usado como categoria científica para descrever as características do populismo de direita de Collor, porém, ao mesmo tempo, volta a ser, bem como no conflito ideológico-político da década de 1950, uma arma de luta dos partidos que se opõem a Collor, definido com desprezo como “populista”, perigoso demagogo, inimigo da democracia.

74Após uma época marcada pela confiança na estabilidade da democracia brasileira, com a alternância no poder do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) de F. H Cardoso e do Partido dos Trabalhadores de Lula, o populismo como categoria explicativa da política brasileira volta à tona no debate sobre a conjuntura de 2013 à 2022 – crise do governo Dilma, impeachment da Presidenta em 2016, ascensão das direitas, vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018, também se alimentado da vitória de Trump e do “trumpismo” nos EUA e de seu impacto na América Latina, e enfim o governo Bolsonaro (2019-2022).

75Um dos principais desafios do debate é discutir o suposto caráter populista ou fascista, ou a mistura de ambos, de Bolsonaro e do movimento “bolsonarista” (Finchelstein 2017).

76Para tentar de contribuir, precisamos fornecer uma análise dos tratos mais significativos da natureza ideológica e política de Bolsonaro e do “bolsonarismo”.

77Embora seja um político “velho”, o ex-militar Jair Bolsonaro se apresenta, entre o impeachment da Dilma e as eleições de 2018, como o alfeire da renovação, com um projeto “antipolítico” de combate a velha política “profissional”, apresentada como corrupta e ineficiente, na onda da “Operação Lava Jato”, do “antipetismo” e da persecução judiciaria, política e mediática do ex-presidente Lula. Portanto, se coloca no campo semântico-conceitual do populismo clássico (Mudde 2004, Parzianello 2020), uma vez que, na onda de um populista clássico como Vargas ou dos neopopulistas Berlusconi e Collor, o “mito” Bolsonaro e os “bolsonaristas” conseguem também ganhar um consenso de massa e uma devoção quase fideísta sob o signo da oposição “Nos, do Bem, Eles, do Mal, corruptos e opressores”, versão atualizada da logica “amigo-inimigo” de Carl Schmitt.

78Suportado pelo Partido Social Liberal (PSL) e sobretudo por um sistema de propaganda capilar nas redes sociais, capaz de envolver as massas brasileiras – não apenas as reacionárias e conservadoras, mas também as moderadas, em busca de uma nova representação na crise dos partidos tradicional – no “odeio” como política (Solano 2018), alimentado também pela disseminação ilimitada de fake news.

79Bolsonaro pretende criar um projeto transclassista de mobilização de um eleitorado interclassista (amplos setores da burguesia produtiva e empresarial, as elites financeiras internacionalizadas, vinculadas ao agronegócio, as igrejas evangélicas, à classe média, mas também setores do proletariado urbanizado), porque é a imagem de uma sociedade marcada por complexos processos de modernização desequilibrada, transformações capitalísticas de cunho neoliberal, pobreza, desigualdade social, violência, racismo, machismo e homofobia, e reação ultraconservadora – um “populismo reacionário” (Lynch & Paschoeto Cassimiro 2021, 2022) – a grandes mudanças de gênero e identidade marcando a sociedade brasileira (o que se resume no slogan “conservador nos costumes, liberal na economia”). São elementos que podem explicar também a escolha de Paulo Guedes como ministro da Economia do Governo Bolsonaro.

80Seria, todavia, redutivo interpretar o triunfo de Jair Bolsonaro apena na perspectiva da “antipolítica” ou de uma polarização simétrica ao Lula e ao PT (o antipetismo), dado que, além dos ingredientes usuais (indignação, antipolítica, rejeição dos canais representativos tradicionais, personalização de política, carisma etc.), adequadamente descritos pelo conceito de populismo, a raiz de Bolsonaro e do Bolsonarismo se encontra na longa duração do autoritarismo brasileiro, pensado como processo estrutural, abarcando a Primeira Republica, a “Era Vargas”, a ditadura militar e suas permanências na redemocratização da década de Oitenta (Arão Reis, 2021). Ele é o produto de uma característica específica da direita brasileira: a tensão entre liberalismo e autoritarismo, que marca toda a modernização brasileira ao longo do século XX.

81No médio-curto prazo, porém, o governo Bolsonaro, como foi observado recentemente, “se constrói no cruzamento de três referencias principais: o regime militar como modelo de bom governo, porque defende a democracia, os valores cristãos tradicionais da família brasileira e combate o comunismo; o lulismo às avessas, baseado na identificação direta com o povo bolsonarista, de todos os setores sociais defensores da opressão política, social e econômica; enfim, o trumpismo como modelo de cultura política autoritária” (Lynch & Paschoeto Cassimiro 2021: 227-232).

82Além disso, o populismo de extrema direita, liderado por Bolsonaro, se alimenta de forma original e inovadora pelo “nacionalismo religioso” (Juergensmeyer 1994), suportado pela adesão cristã (Barbosa Jr & Casarões 2022), que como explica o cientista político G. Casarões:

  • 5 Revista Piauí/Folha de São Paulo.

[...] remete a uma visão de sociedade que condiciona o pertencimento nacional não a critérios legais e laicos de cidadania, mas à filiação religiosa. Trata-se de um fenômeno global que ganhou força no pós-Guerra Fria, especialmente em regiões periféricas do mundo, do Irã ao Afeganistão, do Sri Lanka ao Myanmar. Nelas, a disputa entre capitalismo e comunismo foi suplantada por expressões religiosas de afirmação nacional, com enorme potencial de violência sectária. Nos últimos anos, a ideia de organização política em torno do eixo religioso-civilizacional expandiu-se para além dos grotões. A crise dos valores liberais do secularismo e do multiculturalismo criou condições para a ascensão de partidos e lideranças populistas de extrema-direita, que muitas vezes estão atreladas a uma cosmovisão fundamentalista religiosa. (Casarões 20215)

83Possuímos agora elementos suficientes para discutir o carater supostamente fascista e/ou populista de Bolsonaro. De acordo com o diagnostico apresentado, ele se apresenta como um populista próximo ao fascismo. Não há dúvida que o populismo, por estar em estrita contiguidade cronológica com o fascismo, recupera alguns traços específicos dele, uma vez que pretende sufocar o pluralismo político, se apresentando como o legitimo representante de um genérico “povo do bem” contra todos “eles do mal”.

84Na perspectiva de compreender os elementos fascistas ínsitos no bolsonarismo, é possível dizer que é um fenômeno de massa inter-transclassista que pretende remodelar a sociedade brasileira sob o signo do mito fascista do povo vinculado de forma simbiótica ao seu messias, no caso Jair Bolsonaro. E do fascismo retoma também uma especifica visão do mundo autoritária, conspiracionista, ressentida e negacionista, que vem espalhada mediante um “letramento fascista” capilar (Gherman 2022 ) de amplos setores da publica administração, das policias, do exército, e da sociedade civil brasileira servindo-se também da manipulação midiática, do “gabinete do odeio” sob o controle da família Bolsonaro em primeira linha na “guerra cultural” hibrida contra uma suposta hegemonia marxista nas universidades, além do uso da mentira ilimitada como fundamento do seu projeto ideológico-político.

85Por outro lado, porém, não golpeia a democracia de fora, como acontece no fascismo, mas pretende esvaziara-la pela via eleitoral, como no populismo clássico. Uma vez no poder erode quotidianamente os princípios constitucionais fundamentais, e se for derrotado nas eleições – como aconteceu com Trump nas eleições presidenciais de 2020, e com Bolsonaro naquelas de 2022 – volta a retomar todo seu discurso conspiracionista e vitimista, até o ponto de levar as massas dos seus seguidores para atos eversivos, golpistas e terroristas contra os centros do poder democrático. De acordo com alguns autores, trata-se de uma estratégia compatível com o conceito de “autoritarismo competitivo” (Levitsky & Ziblatt 2018).

86Mas o que, sem dúvida, é um dos tratos marcantes para afastar Bolsonaro e os “bolsonaristas” (bem como Trump e os “trumpistas”) do fascismo “clássico” é que a composição social de amplos setores do eleitorado deles é ultra individualista e antiestatista, enquanto o fascismo se articula em torno da centralidade de um solido projeto de estado social, totalitário e corporativo.

87Enfim, é possível dizer que o discurso populista e “bolsonarista” mistura autoritarismo e (neo)fascismo, militarismo, fundamentalismo, nacionalismo religioso, integralismo (basta pensar na importância do tripé “Deus, Pátria, Família”), e neoliberalismo globalizado, se destacando por ser um dos fenômenos mais expressivos da nova onda de direita em nível global (Gros 2004, Velasco e Cruz et al. 2015, Messemberg 2017, Fernandes & Messenberg 2018, Casimiro Calheiros 2018, Almeida & Toniol 2018, Godinho Faria & Barbosa Marques, 2020), dado que na direita populista “bolsonarista” confluem os institutos neoliberais ligados às redes internacionais, os pentecostais, atores tradicionais da política brasileira desde a década de 1970, os evangélicos reacionárias sensíveis ao tema da “crise moral” (Cowan 2014), e os novos movimentos ativos, sobretudo nas redes sociais – Revoltados Online, Nas Ruas, Vem Pra Rua, Movimento Brasil Livre (MBL) e alguns neofascistas e neointegralistas (Caldeira Neto 2016) –, abrindo caminho para a vitória de Bolsonaro, desde as manifestações de junho de 2013, passando pelo impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, até as eleições de 2018.

88Com o apoio de seu “guru”, Olavo de Carvalho, teórico da revolta contra a intelectualidade de esquerda, concentrada nas universidades brasileiras, a direita extrema de Bolsonaro se organiza em torno de uma plataforma político-ideológica cujas principais características são o antipetismo, o antibolivarismo – revisitações do anticomunismo da década de 1950 –, a exaltação da ditadura militar, até negando seu caráter autoritário, a antipolítica, expressa no discurso moral de indignação contra a corrupção sem limites, o conservadorismo (defesa da família tradicional e patriotismo), o negacionismo cientifico, a guerra contra o crime, a oposição à introdução de cotas raciais e de gênero nas universidades e, para completar, o Estado mínimo, a sociedade de mercado, a liberdade de empresa e o fim do Estado de bem-estar social – elementos centrais do pensamento neoliberal.

89Das primeiras teorizações da década de Trinta sobre o Vargas “pai do povo brasileiro” versus o Estado liberal incapaz de dar forma a uma massa desprovida de qualquer organização, passando para o pacto populista entre Vargas e a classe trabalhadora de Ianni e Weffort, o trabalhismo de Ângela de Castro Gomes, e chegando enfim no (neo) populismo de Collor e de Bolsonaro, pensados numa dialética de continuidade (o populismo como estilo) e sobretudo de ruptura com os populistas brasileiros “clássicos”, o estudo do “laboratório” ideológico-político brasileiro – como temos demonstrado – pode dar uma contribuição significativa para uma história global e transnacional do populismo, uma vez que ele apresenta uma riqueza de experienciais históricas fundamentais para entendermos formas clássicas e novas de sedução das massas no contexto da crise da democracia liberal representativa.

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Notes

1 Com a palavra “Qualunquismo” define-se o movimento populista de recusa da política tradicional liderado pelo comediógrafo e homem político Guglielmo Giannini, fundador do “Uomo Qualunque” – UQ (pode ser traduzido “Homem Qualquer”) na Itália entre o final da década de Quarenta e a década de Cinquenta. Com “Laurismo” entende-se o movimento liderado por Achille Lauro, empresário, armador e prefeito da cidade de Nápoles, na Itália da década de Cinquenta. Foi criador do Partido Monárquico Popular (PMP), dono do club de football da cidade de Nápoles, e do jornal quotidiano “Roma”.

2 Ademar de Barros (1901-1969) foi um dos mais influentes políticos brasileiros entre as décadas de Trinta e Sessenta. Foi governador do estado de São Paulo e candidato à Presidência da República.

3 O movimento ideológico-político inspirado no estatista Jânio Quadros, presidente do Brasil em 1961.

4 Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Rio de Janeiro, 1943.

5 Revista Piauí/Folha de São Paulo.

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Pour citer cet article

Référence électronique

Fabio Gentile, « De Vargas a Bolsonaro: o Brasil como “laboratório” ideológico-político para uma história global do populismo »Lusotopie [En ligne], XXI(2) | 2022, mis en ligne le 01 décembre 2022, consulté le 26 mars 2025. URL : http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/lusotopie/6054 ; DOI : https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/lusotopie.6054

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Auteur

Fabio Gentile

Universidade Federal do Ceará, Brasil
fabio.gentile[at]ufc.br

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