Apresentação
Texto integral
1O presente dossier é composto por três textos elaborados no âmbito do projeto «O Corpo do Estado Maior do Exército Português: apogeu e queda», financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, com a referência PTDC/HIS-HIS/102382/2008. O projeto teve como instituição de acolhimento o Centro de Estudos de História Contemporânea (CEHC-IUL) e como instituições participantes o Instituto de Estudos Superiores Militares (IESM), o Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL) e o Instituto de Ciências Sociais (ICS-UL).
2O objetivo central da investigação foi estudar o Corpo de Estado-Maior (CEM) do Exército português no período compreendido entre 1937 e 1974. Apesar de existir em Portugal desde o início do século XIX um serviço de Estado-Maior na organização do Exército, a verdade é que foi a partir de 1937 que este corpo se institucionalizou de uma forma tal que rapidamente criou a reputação de uma elite intelectual e decisória no seio do Exército. O artigo da autoria de João Neves debruça-se precisamente sobre esta verdadeira refundação do CEM nos anos iniciais do Estado Novo, integrando-a no contexto político e militar da época, tanto a nível nacional, como a nível internacional.
3O artigo da autoria de Daniel Marcos é também revelador de outro dos eixos fundamentais deste projeto de investigação: as relações entre o CEM e as diversas conjunturas internacionais que atravessaram o período em causa. Neste caso concreto, procura-se avaliar o impacto da participação de Portugal na NATO e suas consequências na organização e no funcionamento do CEM. Conforme demonstra o autor, a participação portuguesa na NATO foi fundamental para alterar a forma como era efetuada a instrução do CEM, doravante menos centrada em questões teóricas e mais preocupada com a preparação do Exército português para os compromissos de defesa da Europa, aproximando a instrução do CEM aos padrões da NATO.
4Por fim, o terceiro artigo deste dossier, da autoria de Luís Nuno Rodrigues, debruça-se sobre o envolvimento político de um grupo de destacados oficiais do CEM na tentativa de golpe de Estado ocorrida em abril de 1961. A conspiração fracassada tinha por objetivo derrubar não apenas o Presidente do Conselho, Oliveira Salazar, como o próprio Presidente da República, Américo Tomás. Foi a chamada «Abrilada de 1961», a última tentativa significativa de intervenção militar na vida política portuguesa antes de 1974 e, na sua fase derradeira, uma tentativa de promover um golpe de Estado, com o afastamento dos dois principais responsáveis políticos do país.
5Em suma, os três artigos fornecem uma visão global daquele que foi o papel desempenhado pelo Corpo de Estado-Maior durante o Estado Novo, embora se centrem em três aspetos específicos dessa realidade: a reorganização do CEM nos anos iniciais do regime, a sua constante interação com o contexto internacional e o seu envolvimento nas questões políticas internas. Aspetos que constituem igualmente contributos para uma reavaliação da importância das relações entre os militares e o poder político durante o Estado Novo.
Para citar este artigo
Referência do documento impresso
Luís Nuno Rodrigues, «Apresentação», Ler História, 65 | 2013, 7-8.
Referência eletrónica
Luís Nuno Rodrigues, «Apresentação», Ler História [Online], 65 | 2013, posto online no dia 13 abril 2015, consultado no dia 19 janeiro 2025. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/lerhistoria/421; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/lerhistoria.421
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