Navegação – Mapa do site

InícioNúmeros73Outros artigosAs finanças municipais em Portuga...

Outros artigos

As finanças municipais em Portugal no século XVIII: autonomia vs centralismo

Municipal Finances in Portugal in the Eighteenth Century: Autonomy vs Centralism
Les finances municipales au Portugal au XVIIIe siècle: autonomie vs centralisme  
Patrícia Costa
p. 123-144

Resumos

A natureza das relações entre o poder central e o poder local tem vindo a levantar vários tópicos de discussão historiográfica, nomeadamente o da coexistência entre um modelo imposto pela “administração oficial” e a “administração espontânea” dos municípios (Hespanha 1994). A manutenção desta dualidade desencadeia decisões e mecanismos de rutura e/ou compromisso por parte de diferentes níveis de poder. No âmbito deste enfoque teórico, este artigo pretende comparar e aferir a evolução da administração financeira de diferentes municípios portugueses, em termos da sua organização financeira e registo contabilístico, perante a ingerência da coroa numa conjuntura de reformas político-administrativas, entre os reinados de D. João V e de D. José. Verificam-se graus distintos de eficácia da interferência da coroa nos municípios. Esta interferência reforça-se no reinado de D. José, principalmente no município de Lisboa, ao contrário de outros municípios em que se revela menos eficaz.

Topo da página

Notas do autor

Este estudo faz parte do projeto de Pós-Doutoramento SFRH/BPD/116295/2016, financiado pela Fundação para Ciência e Tecnologia (FCT), comparticipado pelo Programa Operacional Capital Humano/Fundo Social Europeu (POCH/FSE) e por Fundos Nacionais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES). A autora agradece os comentários recebidos no âmbito de uma apresentação preliminar deste trabalho no XXXVII Encontro da Associação Portuguesa de História Económica e Social (Universidade da Madeira, Funchal, 17 de Novembro de 2017).

Texto integral

1De acordo com Hoffman e Norberg (1994, 305) todos os monarcas da Europa moderna tiveram que enfrentar poderosos obstáculos à sua vontade de modernização e concentração financeiras, sendo que nenhum conseguiu aumentar as suas receitas sem negociação, discussão e, por vezes, suborno. Em Portugal, a historiografia aponta para um reforço da ação da coroa na administração local no século XVIII (Neto 2000; Fonseca 2002). Esta tentativa de domínio do território interfere na autonomia administrativo-financeira municipal, designadamente através da aplicação de legislação central e da ação fiscalizadora dos oficiais da administração periférica (Costa 2014). Segundo a História Económica de Portugal, durante o consulado pombalino assinalam-se importantes reformas na administração financeira e no registo contabilístico dos dinheiros públicos, indicadores de modernização do estado, “não tanto ao nível da monopolização fiscal, que não ocorreu, mas ao nível da gestão de informação” (Costa, Lains e Miranda 2011, 275). Da mesma forma, assimila-se neste período o conceito de “governamentalidade”, o qual relaciona as práticas, as técnicas e os dispositivos de poder com as instituições de governo, manifestando-se em Portugal de forma mais clara, e possivelmente mais necessária, após o terramoto de 1755 (Subtil 2010; Gomes, Carnegie e Rodrigues 2014).

2As dinâmicas de poder surgem como essenciais nesta análise. Compreende-se que o direito da coroa (a lei) coexistia com o direito dos concelhos (usos e costumes locais), sendo ainda de considerar que a lei do rei não se cumpria, na prática, de modo inexorável e sistemático (Hespanha 1994 e 2001). Ou seja, o estado estrutura o funcionamento das instituições, nomeadamente através da publicação de leis, da mesma forma que as instituições “criam a sua própria legalidade, expressa nos seus assentos e estilos, bem como nos costumes e praxes que a doutrina vai aceitar como fonte de direito” (Homem 2006, 135). No mesmo sentido, Zippelius (1997, 11-12), na sua Teoria Geral do Estado, defende uma investigação que compreenda a articulação da norma e a sua aplicação. Estas premissas poderão transpor-se, de igual modo, ao nível local, em particular em espaços urbanos, tendo em consideração o conceito de cidade enquanto estrutura multissecular que faz parte da vida comum, e enquanto multiplicador capaz de, em simultâneo, adaptar-se à mudança e contribuir para ela (Braudel 1985, 22).

3A partir do quadro teórico enunciado, propõe-se aqui um estudo sobre a administração financeira dos municípios portugueses. Trata-se de uma análise ascendente e relacional (Foucault 1979, 179-193) de mecanismos de negociação, de confronto e compromisso, decorrentes das relações entre administração local e administração central, perante os interesses financeiros de ambas as partes. Por um lado, iremos observar a evolução da gestão financeira dos municípios, em termos da sua organização e registo contabilístico, perante a interferência da coroa numa conjuntura de reformas político-administrativas. A partir daqui, por outro lado, procura-se evidenciar os paralelismos e distinções dos comportamentos administrativo-financeiros de diferentes municípios e da ação central sobre os mesmos. Para tratar destas questões, na primeira secção do artigo, avalia-se a organização financeira municipal, enquanto estrutura reveladora e potencializadora (ou não) de autonomia local. Analisa-se a tipologia dos rendimentos municipais e das despesas a que estavam destinados, assim como a interferência da coroa e seus agentes na gestão dos mesmos, entre os reinados de D. João V e de D. José. Em diferentes trabalhos, Hespanha e Rodrigues afirmam que a autonomia financeira concelhia era uma realidade no Portugal do século XVII, e até do século XVIII. A autonomia financeira é apontada como o principal suporte do amplo poder concelhio (Rodrigues 1992, 49-50), definindo-se como a capacidade de um concelho para pagar as suas despesas, através das suas próprias receitas (Hespanha 1994, 378).

4Na segunda secção, a aferição da aplicação da legislação reformista pombalina nos municípios, em particular a alteração ao registo contabilístico ocorrida na década de 1760, servirá para testar a força da norma nos procedimentos da administração financeira local. Analisa-se esta reforma enquanto indicador da ação da coroa nos municípios, tendo-se em linha de conta que, mesmo na administração central, a execução da reforma que levou à criação do Erário Régio não seguiu inteiramente a teoria descrita na legislação (Tomaz 1988, 355). A avaliação do papel da contabilidade nas relações entre administrações centrais e locais noutros espaços europeus aponta-a como instrumento de controlo das contas públicas, sobretudo enquanto resultado de dificuldades financeiras. Paralelamente, é referida a existência de oposição àquela intervenção por parte dos corpos administrativos locais (Gomes 2007, 34-35). No mesmo sentido, Dubet e Legay (2011, 10) indicam o combate à fraude, a prevenção dos erros e a previsão orçamental como objetivos prioritários do registo contabilístico.

  • 1 Refiram-se quer os estudos dedicados especificamente a esta temática – v.g. Capela (1987), Rodrigue (...)
  • 2 Dos quais se destacam: Monteiro (1996), Fernandes (1999), Neto (2000), Fonseca (2002), e Costa (201 (...)

5Importa sublinhar que, na historiografia portuguesa, se têm produzido várias investigações na área da administração financeira municipal, as quais tratam maioritariamente do reinado de D. José e do liberalismo.1 Contudo, existem poucas investigações comparativas sistemáticas recentes que abranjam o reinado de D. João V, de forma a possibilitar uma verificação das efetivas alterações que as reformas do reinado de D. José trouxeram. Do mesmo modo, e sem que se possam ignorar alguns estudos anteriores que foram lançando linhas comparativas,2 faltam abordagens em torno das relações dos municípios com a administração central como aquela que agora se propõe. Para os efeitos pretendidos, este artigo concentra a análise numa seleção de municípios portugueses continentais, a saber, e de norte para sul: os municípios do Minho (destacando-se Viana do Castelo, Barcelos e Braga), Porto, Coimbra, Lisboa e Évora. De entre estes, será dado maior destaque à comparação dos dois municípios portugueses de maior relevo, Lisboa e Porto. Como se verá, as principais dificuldades neste estudo residem nas características administrativas, económicas e financeiras específicas de cada município, nas metodologias e cronologias adotadas nos trabalhos publicados e na própria organização arquivística da documentação de cada espaço. A análise basear-se-á em bibliografia e em fontes documentais impressas e manuscritas relativas aos municípios, destacando-se, neste âmbito, a legislação, os livros de receita e despesa e outros documentos municipais produzidos em articulação com estes.

1. Organização financeira municipal

6A análise tradicional (e a mais veiculada) das finanças municipais, seguida, por exemplo, por José Viriato Capela nos seus estudos, parte de uma metodologia que separa as componentes de receita das da despesa, e estabelece a organização financeira municipal do Antigo Regime a partir da receita/rendimentos. Dentro desta análise deve-se considerar a questão da variação de fontes documentais disponíveis nos municípios de acordo com a sua dimensão económica, variedade de receitas e necessidades financeiras. Por conseguinte, a extensão do arquivo da contabilidade e registo camarário (ao nível do número e da variedade do corpo documental) é o reflexo da hierarquia e complexidade da gestão de cada município (Capela 1995b, 24).

7Dentro da mesma abordagem metodológica distingue-se, na receita municipal, três tipos de rendimentos: rendas próprias; rendas consignadas a fins específicos (correspondentes a concessões temporárias, variando consoante os municípios); sobejos das sisas (nos municípios em que estes existem). Só a soma destas componentes da receita constitui a totalidade dos ingressos camarários (Capela 2001, 19-20). As rendas próprias ou bens do concelho aplicam-se em variados gastos da administração municipal e estão sujeitas ao pagamento de terça régia. As rendas consignadas, de autorização régia, são isentas do pagamento da terça régia, aplicam-se a fins previamente definidos, não podendo os seus rendimentos ser utilizados para outro fim, e levam à criação de registos contabilísticos autónomos (Capela 1987, I, 19). As sisas, imposto indireto que recaía sobre transações de bens móveis, imóveis e semoventes, passaram a renda fixa da coroa no século XVI, por contrato de “encabeçamento”, estabelecendo-se um valor certo (cabeção) a pagar por cada município a troco da cobrança direta do imposto. A repartição do “cabeção” estava a cargo dos órgãos concelhios e, depois de pago o encabeçamento à coroa, as sobras ou sobejos, se existissem, ficavam para aplicação nos municípios. Caso o município não tivesse verbas suficientes para pagar o valor fixo estipulado à coroa deveria fintar a população até completar o cabeção das sisas (Gonçalves 1971, 1-2; Silva 2004, 241-243; Hespanha 2013, 21-22).

  • 3 Da mesma forma, Vitorino Magalhães Godinho (1965, 253-255) defende que o imposto das sisas se encon (...)

8As rendas consignadas, apoiadas em impostos indiretos sobre o comércio e o consumo, assim como os sobejos das sisas, também eles resultantes do mesmo tipo de imposto, são identificadas como um exclusivo, e, por vezes, mesmo um privilégio dos municípios urbanos3 ou das terras com feiras e mercados na região do Minho. Estas rendas destinam-se principalmente a obras públicas, criação de expostos, apoio a instituições relevantes e até ao desempenho da renda camarária, como sucede, por exemplo, no município de Braga no período moderno (Capela 1995b, 33-34). Tomando outro exemplo da mesma região, em Viana do Castelo, município marítimo e comercial, entre 1740 e 1770 apuram-se poucos saldos negativos. Esta situação atribui-se ao facto de parte das suas despesas, que em outros concelhos são pagas pela renda própria municipal, se repartirem por impostos indiretos, mais especificamente as sisas (Capela 1995a, 84-85). Barcelos, município urbano, revela-se uma exceção no Minho, uma vez que tem nas receitas provenientes das coimas (ou condenações) o seu principal ingresso, característica que geralmente se verifica em municípios de interior, de caráter mais rural (Capela 1995b, 29-30).

9Tal como sucede em Barcelos, em Évora os rendimentos das condenações são a principal fonte de receita (Fonseca 2002, 359). É igualmente referido neste município o recurso a receitas paralelas, de origem agrária, para suprir a falta de verbas da renda própria municipal. No estudo da administração municipal de Évora, Teresa Fonseca (2002, 399) reforça a premissa de que uma análise restrita aos livros de receita e despesa inspecionados pelo provedor (bens do concelho) transmite uma visão parcial da efetiva realidade das contas, constituída por receitas paralelas. Segundo a autora, as receitas paralelas permitem uma autonomia financeira ao município superior à realidade transmitida pela leitura daqueles livros.

10No caso do município de Coimbra, ao conjunto das receitas próprias municipais juntam-se os juros do donativo de D. Afonso Castelo Branco e parte do rendimento do cofre do real de água (imposto sobre o vinho). Estes dois rendimentos são aplicados a obras públicas da cidade. No entanto, a receita do real de água, consignada a consertos da cidade e termo, não esteve sempre disponível para o município. A administração camarária de Coimbra pede dinheiro ao rei para as obras das calçadas da cidade em 1755 mas apenas em 1774 consegue uma verba do real de água para esse efeito (Soares 2004, I, 239-240). No que respeita às sisas, em 1764 a vereação de Coimbra assinalava que o produto da sisa dos couros entrara diretamente nos cofres da coroa, sem mediação municipal, não existindo “liberdade” para a administração de eventuais sobejos (Soares 2004, III, 33). Esta parece ser uma clara retirada de poder à administração local, ao contrário do que sucedia noutros municípios como o de Viana, suprarreferido, ou o do Porto, que se examinará a seguir.

  • 4 Por exemplo o registo de contas do cofre dos sobejos das sisas surge dividido por quartéis, de acor (...)

11Na comparação com os municípios supracitados atesta-se uma maior complexidade da estrutura financeira do Porto, segunda cidade do reino e importante centro económico, com um grande número de “cofres”, terminologia utilizada nas fontes documentais. Os cofres surgem, frequentemente, como diferentes estruturas físicas de depósito de dinheiro, mas também como o conjunto dos documentos da sua gestão contabilística. As contas destes cofres apresentam uma gestão, fiscalização e procedimentos autónomos e, por vezes, diferenciados.4 Verifica-se que no Porto sobreviveram à passagem do tempo diversas séries de registo contabilístico. Também pela referida complexidade da organização financeira do Porto, o seu estudo segue uma abordagem metodológica diferenciada da dos restantes municípios (Costa 2014). Esta abordagem assenta na análise de uma estrutura orgânica e funcional das finanças municipais estabelecida através da gestão dos seus vários cofres, numa aproximação a modelos utilizados em estudos de cidades do norte da Europa, como Antuérpia, Lubeque e Hamburgo (Limberger 2012; Pelus 1988).

12A câmara municipal do Porto administra, no decorrer do século XVIII, cinco cofres principais paralelos ao dos bens do concelho, cujas receitas se apoiam em impostos sobre consumo e transações: cofre do sobejo das sisas, cofre das alças, cofre do subsídio militar, cofre da imposição do vinho, cofre das obras públicas. Parte dos cofres principais supracitados contribui com verbas para financiar dois outros cofres, considerados secundários: despesa com festejos (com receita proveniente dos bens do concelho e dos sobejos das sisas) e cativos (financiados por receitas das alças). Dentro dos principais, os cofres das obras públicas e da imposição do vinho são, conjuntamente, responsáveis por 71% das despesas municipais no sector das obras públicas. Do cofre do sobejo das sisas, que apresenta as maiores receitas, pagando metade do total da despesa municipal, saem principalmente verbas para o regimento militar (em suplemento às verbas do cofre do subsídio militar) e para os enjeitados. Mas dos sobejos das sisas são também pagas ao longo do período moderno, por exemplo, propinas dos oficiais camarários e dos oficiais da administração periférica. Este cofre despende ainda, ocasionalmente, quantias (algumas bastante elevadas) pedidas por empréstimo pela coroa, assim como verbas para suprir dívidas dos bens do concelho, evitando ou atenuando o défice da renda própria municipal, à semelhança do que se indicou acima para Braga (Costa 2014, 53-69, 265-266, 272).

13Apesar de todos os cofres do Porto estarem sob administração camarária, a fiscalização das suas contas nem sempre se encontrava a cargo do provedor da comarca do Porto, que acumulava o cargo de corregedor da mesma comarca. Assim, por exemplo, o cofre do sobejo das sisas estava sob controlo do juiz do cofre, um desembargador que representava os interesses régios, embora por vezes, perante os seus interesses privados, como o recebimento de propinas, ‘ficasse do lado’ da administração camarária. Esta última, por seu turno, em mais do que uma ocasião durante o período moderno tenta negociar com a coroa a utilização dos recursos dos sobejos (Valente 2008, 170-180; Costa 2008; Costa 2014, 338-341). Durante o século XVIII constata-se um aumento do número de cofres no Porto, com o surgimento do cofre do subsídio militar (desde 1710, com um carácter descontínuo no decorrer do tempo) e do cofre das obras públicas (1763), em resposta a necessidades financeiras municipais e centrais (Costa 2014, 58-60, 333, 373-374). Deste modo, lançam-se novos impostos, com autorização régia, que geram novas receitas proporcionando equilíbrio financeiro ao município, no sentido de uma autossuficiência/autonomia, até pela transferência de verbas entre cofres. Este tipo de transferência ocorre principalmente entre os sobejos das sisas e os bens do concelho ou o subsídio militar e os sobejos das sisas, conforme passamos a exemplificar.

14Uma provisão régia de 23 de outubro de 1723, dirigida ao desembargador Domingos Marques Cardoso, corregedor do cível da Relação do Porto, estipula o “desempenhamento” dos bens do concelho através de dois pagamentos do cofre do sobejo das sisas: um a António Fernandes Lima, antigo tesoureiro da câmara, “da qual quantia lhe era devedora e por ela executava os bens do concelho”; e outro, pelo mesmo motivo, ao também antigo tesoureiro da câmara Manuel de Ferraz Ferreira. Segundo aquela provisão, a câmara do Porto alegara, em representação ao rei, uma “grande vexação” pelos seus empenhos. Estas dívidas haviam sido contraídas em gastos ordinários e extraordinários com funções públicas e “entre o cuidado de cumprirem a obrigação de governo político experimentavam a opressão de serem executadas em todo as limitadas rendas do concelho por uma sentença do provedor dessa comarca” a favor dos tesoureiros.

  • 5 Arquivo Histórico Municipal do Porto (AHMP), Sobejo das Sisas, A-PUB/3481, f. 35v; AHMP, Próprias d (...)
  • 6 AHMP, Cofre da Cidade. Despesa, A-PUB/3492, f. 41v.
  • 7 AHMP, Cofre da Cidade. Receita e Despesa, A-PUB/3510, f. 327v.

15De acordo com aquela representação camarária, o limitado rendimento dos bens do concelho e a decisão do provedor de executar as dívidas teriam consequências na renda própria municipal: uma grande “perturbação”, durante muitos anos, pela falta de pagamento do “expediente costumado, provisões e funções públicas que os vereadores não podiam, nem deviam, satisfazer com os bens próprios as obrigações comuns, nem as pessoas assalariadas servir sem os seus estipêndios”. Por conseguinte, a câmara requeria o pagamento da dívida dos bens do concelho pelo cofre do sobejo das sisas “em que não apresentava prejuízo a paga do regimento dessa guarnição”. Depois de averiguar a situação, o rei autoriza o pagamento pelos sobejos das sisas sob condição de não se deixar de pagar ao regimento militar, o qual constituía uma prioridade para a coroa. O monarca ordena ainda que os oficiais da câmara sejam advertidos para que daí em diante não possam “fazer mais despesas que aquelas a que abranger o rendimento do concelho sob pena de as pagarem os vereadores das suas fazendas”.5 Alguns anos depois, em março de 1727, o cofre do sobejo das sisas faz um empréstimo ao cofre do subsídio militar. Uma quantia é entregue ao assentista António Moreira, por não haver dinheiro suficiente no cofre do subsídio, de acordo com uma provisão da Junta dos Três Estados.6 Mas a situação inversa também ocorre: a última parcela de pagamento aos enjeitados pelo ano de 1776 é executada por um empréstimo do cofre do subsídio militar aos sobejos das sisas. Junto ao registo contabilístico desta despesa, quer no cofre do sobejo, quer no cofre do subsídio, é indicada a posterior reposição da verba, com remissão para os respetivos fólios dos livros de contas dos dois cofres.7

  • 8 Arquivo Histórico Municipal de Coimbra (AHMC), Receita e Despesa, 1748-1780, ff. 126-128.

16Ainda no município do Porto afere-se, no decorrer do século XVIII, a manutenção da multiplicidade de sistemas de livros de registo de contas, independentes entre si, mesmo no período da reforma da fazenda, do Erário Régio, em que se procede à centralização financeira, sem haver qualquer questionamento a esse respeito pelos oficiais da administração periférica da coroa no município. Contrariamente, no município de Coimbra existem diligências por parte do provedor da comarca para que se centralize o registo de contas com o objetivo de melhorar a apreensão e controlo da renda municipal. Por um provimento de 30 de novembro de 1776, a que voltaremos adiante, a separação do registo dos diferentes rendimentos municipais é vista pelo provedor de Coimbra como sinónimo de desorganização. Neste sentido, é estipulado que o escrivão da câmara elabore um “mapa” em que constem as várias receitas da câmara, para que se executem as contas com “clareza e sem confusão”.8 Note-se que, como se indicou atrás, nem todos os cofres do município do Porto eram fiscalizados pelo provedor, o que seria, por si só, um impeditivo de uma aglomeração do registo contabilístico como a pretendida pelo provedor de Coimbra. Também em Évora seria muito difícil uma centralização do registo. Isto porque a supervisão das contas da renda de Montemuro, destinada a obras públicas, estava a cargo do corregedor, agente condescendente com a administração municipal eborense que entrava em conflito com o provedor, responsável pela fiscalização das rendas próprias camarárias (Fonseca 2002, 353-399).

17O município de Lisboa apresenta, à semelhança do que se indicou para o Porto, uma grande variedade de fontes de receita, principalmente apoiadas nas rendas de bens próprios municipais e em impostos indiretos sobre o comércio e consumo. Estes últimos apresentavam um peso “decisivo na estrutura das rendas municipais”, pelo menos desde a década de 1760, embora a câmara não tivesse acesso a um dos principais recursos financeiros de outros municípios, os sobejos das sisas, porque as sisas não se encontravam encabeçadas na capital (Fernandes 1999, 70). No âmbito dos impostos indiretos, destacam-se, a título de exemplo, os reais de água (sobre a carne e o vinho). Este imposto passa a rendimento próprio do concelho consignado ao pagamento de juros no reinado de D. Pedro II, a 19 de novembro de 1686, sendo posteriormente confirmado por D. João V por resolução de 28 de maio de 1735. Ainda no reinado de D. Pedro II é adicionado mais um real de imposto no vinho e outro na carne, tendo-se dado a este adicional o nome de realete da limpeza ou realete aplicado à limpeza da cidade e reparos dos caminhos públicos e calçadas extramuros. Em 1765 estes impostos estendem-se à aguardente (Oliveira 1882, I, 186-187).

  • 9 Deve-se ainda sublinhar que há outras variáveis a considerar numa comparação de valores das rendas (...)
  • 10 De que é prova, por exemplo, a série documental: Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), Ministé (...)
  • 11 Os impactos históricos do terramoto de 1755 em Lisboa, nas suas várias dimensões, são objeto de vár (...)

18A grande projeção financeira da câmara de Lisboa, com recursos muito superiores aos restantes municípios, segundo Fernandes (1999, 71),9 não parece, no entanto, proporcionar-lhe autonomia administrativo-financeira, até pelos “avultados empréstimos que a câmara em diferentes épocas tinha feito à coroa” (Oliveira 1882, I, 33). Constata-se uma interferência direta da administração central na administração das finanças do município de Lisboa, uma certa porosidade entre os dois poderes, comprovada pelas constantes consultas do senado da câmara ao rei, potencializada pela proximidade física entre a câmara e as instituições centrais da coroa.10 Esta interferência reforça-se pela necessidade de reconstrução após o terramoto de 1755 que deitou por terra, literalmente, as estruturas existentes, com grande impacto no município de Lisboa.11

19A catástrofe viria agravar uma situação de endividamento municipal procedente de períodos anteriores. Assim, por exemplo, em 29 de julho de 1717 uma consulta da câmara ao rei remete para uma outra, anterior, de 15 de julho de 1716, sobre as dívidas a que a fazenda da cidade estava obrigada, já nessa época:

procedidas de muitas obras precisas e necessárias, todas em utilidade do bem público desta cidade e seu termo, desde o ano de 1709 até 1714, […] fazendo para isso apreensão nas propriedades da câmara, de que se seguiu não só o prejuízo das execuções, mas o de se impedirem as rendas para as mais obras que de novo se faziam, especialmente a da estrada de Loures para Varatojo e a do cais de Belém, que eram de importantíssima despesa […]. (Oliveira 1882, XI, 203)

  • 12 Arquivo Municipal de Lisboa-Arquivo Histórico (AML-AH), Livro do regimento dos vereadores e oficiai (...)

20De qualquer forma, no século XVIII a ingerência da coroa na administração municipal de Lisboa torna-se mais evidente no contexto da nova estruturação administrativa implementada no reinado de D. José, que vai muito além da reconstrução física da cidade pela sua destruição. Deste modo, por alvará régio de 2 de janeiro de 1765 é revogado o carácter vitalício do cargo de vereador (Oliveira 1882, XVII, 10-12). No contexto do processo de reorganização da administração camarária é sintomática, neste período, a nomeação de familiares do ministro Sebastião José de Carvalho e Melo para presidir ao senado: primeiro do seu irmão, Paulo de Carvalho e Mendonça, a 18 de setembro de 1764 (Oliveira 1882, XVII, 2-3) e, posteriormente, do seu filho, Henrique José de Carvalho e Melo, a 30 de janeiro de 1770.12

21No contexto daquela reforma administrativa, as finanças municipais de Lisboa passam a estar sob uma fiscalização mais rigorosa e com maior submissão à coroa na década de 1760. Por decreto régio de 17 de maio de 1763 são nomeados dois funcionários da administração central para fiscalizar as contas municipais. Num primeiro momento, é ordenado que se proceda ao levantamento exaustivo de todas as receitas e despesas da câmara de forma a ser apreendida a realidade financeira do município (Oliveira 1882, XVI, 547-548). Daqui em diante agrava-se a subordinação da administração camarária à administração central. A administração municipal passa a necessitar da autorização da respetiva secretaria de estado para os principais assuntos de gestão da sua fazenda, tendo de informar com regularidade e com pormenor o estado das suas contas (Fernandes 1999, 74). Neste âmbito acrescente-se ainda a constituição da Junta da Fazenda do Senado de Lisboa, a 23 de dezembro de 1773 (Oliveira 1882, I, 33), e o endividamento do município acima referido. Este endividamento é originado, em grande parte, pelo pagamento de juros resultantes da contração de dívidas junto de instituições e particulares para arrecadação de verbas exigidas pela coroa (Fernandes 1999, 73-76), mecanismo recorrente noutros espaços urbanos europeus de grande projeção económica, como Madrid e Antuérpia (Hoz García 2007, 29-32; Limberger 2012, 132-136, 146).

  • 13 AML-AH, Administração, Livro de receita e despesa (1766-1767), fl. 1-156.

22Ao contrário de Lisboa, no município do Porto as despesas com juros têm pouca expressividade. Existe a referência a um empréstimo contraído junto a particulares no século XVII para uma despesa solicitada pela coroa, cujos juros no século XVIII estão ainda a ser pagos pelo cofre da imposição do vinho. Na década de 1750, o rei autoriza que a Câmara do Porto possa distratar a obrigação deste juro passando-a para a Misericórdia do Porto, descendo o valor do juro dos 5% para os 3%, reduzindo-se o encargo. Entre 1707 e 1777, o valor deste pagamento de juros tem uma representatividade muito baixa na despesa, uns reduzidos 2%, não pondo em causa a situação financeira municipal (Costa 2014, 252, 276). Utilizando as despesas do ano de 1766 como referência, no Porto os juros representam apenas 1% da despesa municipal (Costa 2014, 398-399), já em Lisboa tomam conta de cerca de um quarto da despesa.13

2. A aplicação de um novo modelo de registo contabilístico: entre a lei e a prática

23No período das reformas do reinado de D. José utilizam-se mecanismos de controlo por parte da coroa sobre o território de forma a regular condutas. A instrução técnica de quadros administrativos e a introdução de novos modelos contabilísticos, enquadrados num sistema de padrões de normalização, surgem entre aqueles mecanismos no âmbito de um reforço burocrático da administração central (Subtil 2006, 36-69). A organização e normalização dos registos contabilísticos definem-se, deste modo, como instrumentos de domínio e apreensão das finanças locais por parte da coroa. Logo, e de acordo com o apresentado na introdução, o empenho do estado na instrução e adoção de práticas contabilísticas surge como uma forma de intervenção política centralizadora (Gomes 2007, vii).

24A boa arrecadação das receitas é uma preocupação da coroa que vem de períodos anteriores ao reinado de D. José. No reinado de D. João V, o alvará de 15 de julho de 1744 apresenta determinações relativas ao controlo das finanças municipais, acusando o poder local de se aproveitar do distanciamento face à administração central. Por este alvará, o rei pretende acabar com a diminuição do rendimento das terças pagas pelos concelhos. Os oficiais camarários são apontados como responsáveis pela má administração dos bens e rendas dos concelhos sonegando-as no registo a ser fiscalizado pelo provedor e distribuindo-as entre si. Os provedores são acusados de não cumprirem com a sua função fiscalizadora, determinando-se que o seu trabalho não lhes fosse pago sem comprovarem o envio do rendimento das terças ao tesoureiro geral das mesmas (Silva 1830-1849, 110-111). As críticas e determinações do alvará de 1744 revelam um incumprimento do estipulado nas anteriores Ordenações Filipinas (1985, Lv. I, 66, § 2), ainda em vigência, pelas quais competia aos vereadores arrecadar o máximo de receitas para o concelho.

25Durante o reinado de D. José, no contexto da chamada reforma pombalina, são novamente apresentadas advertências semelhantes às da lei de 1744, provando-se a sua ineficácia. No seguimento das duas leis de 22 de dezembro de 1761, visando a reforma da administração financeira central (instituição do Erário Régio e reorganização do Conselho da Fazenda), surgem dois alvarás destinados à administração municipal: o de 23 de julho de 1766, sobre os aforamentos dos baldios e bens dos concelhos, com novas regras para organização do registo de contas; e o alvará de 11 de outubro de 1766, que estipula o prazo de envio das terças dos concelhos para o Erário. Destacando-se o alvará de 23 de julho de 1766, mais uma vez com o objetivo de melhorar a arrecadação da receita municipal sujeita a terça régia, este implementa também um novo modelo de registo contabilístico, de forma a uniformizar e beneficiar a leitura e fiscalização das contas. O alvará proíbe os aforamentos dos bens do concelho a membros da vereação ou a seus familiares de forma a evitar os baixos valores dos foros e pensões. É ainda proposta uma atualização/revisão dos valores dos foros e determina-se a anulação dos aforamentos sem provisão do Desembargo do Paço, situação a ser verificada pelos provedores (Silva 1829, 265-269).

26Há uma clara intenção da coroa em controlar o aproveitamento que as elites da administração local faziam dos bens dos concelhos, retirando-lhes poder dentro dos municípios. Ao mesmo tempo, num contexto de necessidades financeiras (Macedo 1989), esta legislação tem por objetivo o aumento das receitas concelhias e, consequentemente, dos rendimentos da coroa através das terças régias. Segundo Capela (2001) o nível dos rendimentos próprios dos municípios não melhorou ao longo da época moderna a não ser no século XVIII, embora apenas em alguns municípios, com a entrega dos foros dos baldios. O autor conclui que a coroa aumenta a fiscalização sobre a conta municipal para melhorar a cobrança de receitas camarárias das quais beneficia através do crescimento da terça. Acrescentando que o poder central “precisa de concelhos com algumas posses e rendimentos para estruturar a sua administração local e por ela a sua capacidade de intervenção e afirmação territorial” (Capela 2001, 22-24). De acordo com Monteiro (1993, 322) embora as terças sejam “invocadas para justificar a tutela das instituições centrais sobre as finanças municipais (alvará de 1766), forneciam, afinal, uma parcela muito reduzida dos rendimentos da administração central (0,7% no princípio do século XIX)”. Por conseguinte, os valores das receitas municipais de onde eram retiradas as terças eram, de uma forma geral, diminutos. Há ainda que considerar que alguns municípios não pagariam a terça à coroa, como parece ser o caso do Porto nos anos aqui em análise (Costa 2014, 63-65).

27Retomando o alvará de 23 de julho de 1766, a sua alínea 4 ordena que existam em cada câmara livros rubricados pelos provedores, nos quais se lancem as receitas e despesas dos rendimentos do concelho e da câmara. Desta forma saber-se-ia mais “prontamente” os valores das rendas e a parte pertencente à terça. Pela alínea seguinte compete aos provedores tomar as contas daqueles livros observando a aplicação do método imposto pelo alvará, recusando qualquer despesa das câmaras que não fosse autorizada por provisão ou resolução régia. Em anexo ao alvará consta um modelo exemplificativo do novo método de registo contabilístico de modo a facilitar a sua aplicação. Por este modelo, as receitas e despesas municipais anuais são registadas em conjunto, num só livro, lado a lado, ao contrário do registo de contas praticado anteriormente, em que receitas e despesas eram registadas separadamente, muitas vezes em cadernos ou livros distintos. Assim, as entradas/receitas registam-se no verso do fólio e as saídas/despesas na frente do fólio seguinte. É também determinado que todos os registos de despesa remetam para os respetivos documentos normativos que os originam. As contas são encerradas com a soma total das parcelas. Na conta do ano seguinte regista-se a adição da receita relativa à quantia remanescente no cofre (saldo anual), partindo-se do princípio de que o saldo final será positivo (Silva 1829, 268-269).

28No que respeita à prática do novo método, as câmaras do Minho, de um modo geral, seguiram o modelo do alvará de 1766, embora fosse preciso insistir constantemente na sua contínua e integral aplicação, prova de dificuldades, por vezes técnicas, na sua execução. Paralelamente, o maior rigor na utilização dos recursos financeiros municipais imposto pelo alvará, através, por exemplo, de uma discriminação mais cuidada da receita e despesa e com remissões para a sua documentação normativa, não terá sido bem recebido pelas administrações locais levando a um certo incumprimento da lei. Especificamente em Braga, logo a 28 de dezembro de 1766, um provimento chama a atenção para que as contas sejam registadas de acordo com o alvará de 23 de julho, referindo a “confusão” com que a elas se procedia e o “empenhamento” financeiro da câmara (Capela 1987, I, 526-527). O alvará de 1766 só se aplica em Braga na sequência do decreto arcebispal de 26 de março de 1768 e da pressão exercida por um novo ouvidor-provedor (Capela 1999, 106-107). Porém, logo na década de 1770 retoma-se a estrutura dos livros anteriores a 1768 (Gomes 2000, 223-226).

29No município do Porto, apenas no registo de contas dos bens do concelho se pratica o modelo do alvará de 1766, e só a partir de finais da década de 1760. Em termos objetivos, o novo modelo de registo é seguido rigorosamente nos primeiros anos, havendo um certo relaxamento na sua aplicação à medida que o tempo avança, mas não se voltando, pelo menos até ao final do reinado de D. José, ao registo anterior. O corpo administrativo do município não aparenta ter tido dificuldades ou demonstrar resistência em adotar o novo método de registo sob o ponto de vista formal. Por outro lado, com esta nova prática deixam igualmente de constar registos pormenorizados de fiscalização e despesas recusadas, presentes em períodos anteriores. Parece haver uma atuação menos rigorosa do provedor do Porto, verificando-se um comportamento semelhante do provedor no município de Viana do Castelo depois da reforma de 1766 (Capela 1995a, 80-81; Costa 2014, 359, 375; Costa 2018). A aplicação do novo modelo de registo somente às contas dos bens do concelho demonstra que a centralização do registo de contas do município do Porto não ocorre no período em análise, conforme já se havia referido atrás. Acrescente-se, no entanto, que o alvará não refere aquela centralização, logo este não seria um incumprimento da lei. No decorrer do anterior reinado de D. João V existem provimentos aos bens do concelho do Porto em que o provedor exige uma melhor organização do registo contabilístico da renda própria municipal, mostrando-se bastante ativo nas suas funções. Contudo nunca é sugerido um registo conjunto das contas dos cofres camarários (Costa 2014, 110-112), provavelmente pelos motivos expostos na primeira parte a este respeito.

  • 14 AHMC, Receita e Despesa, 1748-1780, ff. 126-128.

30Ao contrário dos restantes municípios, em Coimbra pratica-se um método de registo de receita e despesa lado a lado, similar ao do alvará de 1766, pelo menos desde 1748. Contudo, a partir de 1755 o registo volta ao antigo método de separação da receita e despesa. O novo modelo é novamente aplicado em 1766 porém, logo em 1767, há um retrocesso para o anterior, só se retomando o método do alvará de 1766 dez anos depois, pela ação do provedor de 1776 (Costa 2014, 135-136 e 169-170). Assim, como se referiu na primeira parte, a 30 de novembro de 1776 o provedor de Coimbra ordena ao escrivão da câmara a execução de um “mapa” com todas as receitas municipais de modo a facilitar a fiscalização das contas. Este mapa devia ser apresentado em todos os atos de contas para se apurar quer o valor total da receita municipal, quer o valor da receita cobrada anualmente, e assim verificar-se se houve ou não “omissão” na sua cobrança. O objetivo desta decisão é conhecer a “inteireza” da contabilidade municipal porque, segundo o provedor, sem este método seriam inúteis todas as diligências de se “aclararem” as contas, ficando ao arbítrio de cada um registar “em receita o que lhe parecer”. O provimento termina com um ultimato: a câmara tinha quinze dias para regularizar as contas de acordo com as suas ordens, ao fim dos quais o livro tornaria ao provedor para verificação. A seguir ao provimento a câmara afirma a execução da ordem.14

  • 15 AHMC, Receita e Despesa, 1748-1780, f. 141.

31Por conseguinte, para Coimbra observa-se um caminho quase inverso ao de outros municípios, em que a execução de um novo registo se observa anos antes da reforma, chegando, após o alvará, a deixar de ser aplicado. Prova disto mesmo é um texto posterior do provedor de Coimbra de 15 de outubro de 1779, em que afirma que a lei de 23 de julho de 1766 se acha “preterida” e que o provimento de 30 de novembro de 1776 se cumpriu apenas parcialmente. Este provedor determina ainda que daí em diante se observem aqueles dois documentos normativos no lançamento das contas, especialmente a lei de 1766: “dando o tesoureiro as suas contas na forma que a mesma determina, sendo depois assinadas pelos oficiais da câmara, a qual já vejo praticada neste livro antes da sua promulgação”.15 O próprio provedor reconhece a aplicação precoce em Coimbra do método contabilístico do alvará de 1766, embora não revele ter conhecimento do motivo dessa precocidade, exigindo que o método se mantenha depois de ser legislado.

32Na organização dos livros de contas da câmara de Évora, o novo modelo de registo contabilístico revela-se insuficiente. Após a implementação do método estabelecido pelo alvará de 23 de julho de 1766, continua-se a verificar a omissão de saldos negativos de determinados anos no registo da despesa dos anos seguintes, sem justificação expressa. Ao mesmo tempo, não ocorre, de forma sistemática, uma discriminação das despesas. Constatam-se resistências da administração municipal, de forma a defender os seus privilégios, às tentativas do provedor da comarca de implementação das diretrizes centrais nas finanças do município (Fonseca 2002, 353-356, 395).

  • 16 AML-AH, Livro de Receita e Despesa, 1765-1766.

33No município de Lisboa, mais uma vez se comprova uma posição diferenciada, de proximidade à administração central, por ser a capital do reino, sendo-lhe atribuída legislação própria ao invés do alvará de 23 de julho de 1766 destinado aos restantes municípios. O alvará de 11 de julho de 1765 ordena que as leis do Erário Régio (de 22 de dezembro de 1761) “fossem exatamente observadas na administração municipal [de Lisboa], pelos abusos e desordem que nela tinham sido introduzidos, e para que a cidade de Lisboa, representada pelo senado da câmara, gozasse, como a coroa, dos benefícios daquelas leis” (Oliveira 1882, I, 127). O registo de receita e despesa de Lisboa em 1765 segue já o método do “deve” e “há de haver”, ou “entradas” e “saídas”, e agrega o conjunto da receita e despesa municipal remetendo para os respetivos registos auxiliares, como, por exemplo, a folha de pagamento de juros, a folha de ordenados ou as folhas das diversas obras públicas que vão sendo executadas.16

  • 17 ANTT, Ministério do Reino. Negócios Diversos da Junta Da Fazenda do Senado da Câmara, Maço 491, Cai (...)
  • 18 AML-AH, Livro da Receita e Despesa, 1774-1775, fl. 48.

34Mais tarde, um decreto de 17 de fevereiro de 1770 estabelece que a arrecadação e distribuição das rendas municipais de Lisboa sigam o método de escrituração praticado no Real Erário, na Casa e Estado de Bragança, na Misericórdia e no Hospital Real de Todos os Santos. Ainda em 1770, um alvará de 20 de março aprova “dois métodos, um para a formalidade e arrecadação do cofre da tesouraria geral da cidade, e outro para a escrituração do respetivo livro de receita e despesa” (Oliveira 1882, I, 127). Neste sentido, em 1770 apresentam-se as instruções sobre o “método para a formalidade e arrecadação do cofre da tesouraria geral da fazenda do senado [de Lisboa] que se deve observar” em execução do alvará de 11 de julho de 1765, dos decretos de 17 de fevereiro e do alvará de 20 de março de 1770.17 No final das contas dos livros de receita e despesa da tesouraria geral da cidade de Lisboa da década de 1770, tomando-se o exemplo do livro do ano de 1774, regista-se que o tesoureiro-geral e o escrivão da fazenda da cidade vão à Casa do Despacho da Junta da Fazenda do Senado no início do ano seguinte para dar “balanço da conta geral das entradas e saídas dos ditos cofres [da cidade]” na presença do contador-geral do senado com o “livro mestre da contadoria” para se conferirem as somas das contas, demonstrando-se a aplicação do novo método.18

3. Conclusão

35Tanto no reinado de D. João V como no reinado de D. José, frequentemente e com mais incidência nos municípios de maiores dimensões, constata-se a existência de rendas paralelas à renda própria municipal. A existência destas rendas é um mecanismo que permite às câmaras, por vezes, “fugir” ou resistir a um controlo central das suas finanças, passando ao poder central uma imagem “fictícia”, ou melhor, parcial, da sua realidade financeira. Até porque nem sempre há uma fiscalização destas rendas pelo mesmo oficial da administração periférica da coroa. Afere-se, desta forma, que uma análise conjunta de todas as fontes de rendimento municipal, correlacionando-as com as suas aplicações, transmite de forma mais exata e completa a realidade da organização financeira municipal portuguesa à época.

36Principalmente em municípios urbanos, apura-se uma estrutura financeira apoiada em impostos indiretos, com grande parte das suas rendas previamente consignadas a despesas específicas que têm a capacidade não só de complementar a renda própria municipal no pagamento de infraestruturas e obras assistenciais, como também de suprir o défice da mesma. Ao longo do século XVIII, inclusive durante reinado de D. José, verificam-se novas concessões pela coroa daquele tipo de rendas municipais, nomeadamente no município do Porto. Neste caso, são precisamente as transferências de verbas entre cofres, com grande apoio nos sobejos das sisas, que conferem autonomia financeira ao município, tanto no sentido de as suas receitas serem suficientes para pagar as suas despesas, como proporcionando uma capacidade de rápida recuperação financeira. A autonomia financeira concelhia apontada pelos estudos de Hespanha (1994) e Rodrigues (1992), referidos na introdução, parece provar-se nos concelhos de maior dimensão, com rendas paralelas, com a exceção de Lisboa. Acrescente-se ainda que, no século XVIII, naqueles municípios as receitas dos sobejos das sisas estariam em franco crescimento, pela manutenção do valor do seu encabeçamento, contribuindo para a autonomia financeira municipal. Em contrapartida, as receitas da coroa resultantes desse encabeçamento no reino encontravam-se estagnadas, apesar de algumas atualizações, perdendo preponderância no orçamento central (Hespanha 1994, 116-120; Silva 2004, 242-243; Costa 2014, 36).

37A câmara do Porto demonstra um maior poder de reação perante as interferências centrais na gestão das suas finanças. Aliás, um estudo recente dos discursos de poder em torno da fiscalização e execução das despesas municipais do Porto, para a mesma cronologia deste artigo, demonstra e reforça a imagem de uma administração financeira camarária em permanente negociação com os oficiais da administração periférica da coroa e com o próprio rei (Costa 2018). Por seu lado, o município de Lisboa sofre uma forte ingerência na sua administração financeira por parte da coroa, a qual se torna ainda mais evidente no reinado de D. José. Tal como demonstra Teresa Fonseca (2014, 181), o próprio senado da câmara de Lisboa contribuiu para a implementação das medidas de reforço do poder central no município.

38O reinado de D. José e as reformas administrativo-financeiras implementadas a nível municipal revelam-se um referencial para o estudo das relações entre os poderes locais e o poder central. Estas reformas apresentam um claro objetivo de melhorar a arrecadação de receitas, limitando-se a utilização das rendas municipais pelas elites concelhias e normalizando-se o registo contabilístico, aspeto em destaque nesta análise. As diretrizes destas reformas interpretam-se como dispositivos de poder utilizados no reforço da ação da coroa no sentido de uma maior integração e domínio administrativo do território continental. Os propósitos de normalização e organização do registo de contas revelam-se um importante instrumento de fiscalização, estando patentes tanto na legislação da coroa portuguesa como noutros espaços europeus (Costa 2014, 140-154). No que respeita à reforma portuguesa do registo contabilístico de 1766, o modelo simplificado imposto à generalidade dos municípios vai ao encontro do que é indicado em análises de outros espaços europeus no período moderno, para os quais se indica que o sistema de receita, despesa e saldo seria suficiente para responder às necessidades de controlo contabilístico local. Ou seja, a contabilidade pública local, ao ocupar-se sobretudo de fluxos de receitas e despesas, não teria necessidade de um sistema contabilístico mais complexo (Ostoni 2011, 227-228). Segundo Delfina Gomes (2007, 233), o facto de o método das partidas dobradas ter sido adotado apenas nas quatro Contadorias do Erário Régio é ainda uma forma de a coroa portuguesa evitar as dificuldades práticas iniciais de implementar o novo método numa base generalizada. As duas perspetivas parecem-nos válidas e complementares.

39Conforme foi demonstrado ao longo deste artigo, a aplicação de um novo método de registo às contas dos bens dos concelhos, embora não trouxesse consigo a complexidade das partidas dobradas praticadas no Erário Régio, revelou-se por vezes ineficaz ou incompleta/parcial. Isto porque, mesmo em casos em que se observa uma aplicação formal do novo modelo, há frequentemente indicação de lacunas ao nível da discriminação das contas e de remissões para documentos normativos, tornando o registo menos claro. Para que a lei se cumpra de forma contínua ao longo do tempo, verifica-se ainda uma necessidade constante, em mais do que um município, de intervenção por parte dos oficiais da administração periférica da coroa. Deve-se igualmente considerar uma certa passividade na ação fiscalizadora dos provedores em determinados municípios após a implementação do alvará, ao contrário do que sucedia em anos anteriores, nomeadamente durante o reinado de D. João V. Ao mesmo tempo, acrescente-se que o novo modelo só se aplica ao nível do sistema de registo de contas dos bens do concelho, pelos quais era paga a terça real, o que demonstra uma limitação da ação régia nos municípios com rendas paralelas que apresentavam registos contabilísticos autónomos.

40Na capital do reino observa-se uma efetiva centralização das contas no período pombalino. O modelo aplicado por determinação régia é distinto do modelo simplificado de registo de receita e despesa imposto ao restante território, sendo mais próximo do método adotado para o Erário Régio. O impacto da reforma pombalina constata-se ser superior no município de Lisboa, reorganizando a sua estrutura administrativa. A norma, diferenciada face às restantes câmaras, surge aqui como uma efetiva necessidade (ou mesmo uma urgência) de regulação das contas de um município endividado, a pagar elevados juros, numa conjuntura de reconstrução, ao qual a coroa recorre financeiramente, desde períodos anteriores, ações certamente facilitadas pela proximidade entre o senado da câmara e as instituições da administração central.

41Para concluir, pode dizer-se que o impacto das reformas administrativas do reinado de D. José se verifica em todos os municípios, constatando-se em alguns deles, no entanto, a manutenção de práticas e autonomias locais de resistência à lei. A presente análise corrobora, portanto, que a intervenção régia no território nacional assumiu diversos graus de eficácia, a qual dependia da ação dos oficiais periféricos da coroa e também da atitude das oligarquias locais (Neto 2000, 178-181). Conclui-se que a atuação da coroa é distinta no que diz respeito ao município de Lisboa e aos restantes municípios, tal como são díspares as práticas locais de reação àquela atuação.

Topo da página

Bibliografia

Araújo, Ana Cristina; Cardoso, José Luís; Monteiro, Nuno Gonçalo; Rossa, Walter; Serrão, José Vicente (org) (2007). O Terramoto de 1755: Impactos Históricos. Lisboa: Livros Horizonte.

Braudel, Fernand (1985). A dinâmica do capitalismo. Lisboa: Teorema.

Capela, José Viriato (1987). Entre-Douro e Minho 1750-1830. Finanças, administração e bloqueamentos estruturais no Portugal Moderno, 3 vols. Braga: Universidade do Minho (Tese de Doutoramento).

Capela, José Viriato (1995a). “As Contas da Câmara de Viana (1740-1770). Limites da sua autonomia financeira”. Estudos Regionais, 15, pp. 69-96.

Capela, José Viriato (1995b). O Minho e os seus municípios: estudos económicos-administrativos sobre o município português nos horizontes da Reforma Liberal. Braga: Universidade do Minho.

Capela, José Viriato (1999). Fidalgos, Nobres e Letrados no governo do Município Bracarense: a administração económica e financeira da Câmara no apogeu e crise do “Antigo Regime”. Braga: Universidade do Minho.

Capela, José Viriato (2001). “As finanças municipais nos tempos modernos (século XV a XVIII). Breve história e perspectivas mais recentes”, in II seminário Internacional – História do Município no Mundo Português. Funchal: CEHA – SRTC, pp. 15-26.

Costa, Leonor Freire; Lains, Pedro; Miranda, Susana Münch (2011). História Económica de Portugal. 1143-2010. Lisboa: Esfera dos Livros.

Costa, Patrícia (2008). “Para o ‘socorro da Índia’: o Município do Porto e a fiscalidade régia depois da Guerra da Restauração”. Revista da Faculdade de Letras. História, 9, pp. 271-279.

Costa, Patrícia (2014). Finanças e Poder na Cidade do Porto (1706-1777). Do registo à fiscalização, estabilidades e ruturas. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Tese de Doutoramento).

Costa, Patrícia (2018). “(Des)obedecer e mandar: dinâmicas de poder na administração financeira municipal do Porto (século XVIII)”, in B. Lopes, R. L. de Jesus (coord), Finanças, Instituições, Crédito e Moeda em Portugal e no Império (séculos XVI-XVIII). Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra [no prelo].

Dubet, Anne; Legay, Marie-Laure (2011). “Avant-propos”, in A. Dubet, M.-L. Legay (dir), La comptabilité publique en Europe. 1500-1850. Rennes: Presses Universitaires de Rennes, pp. 9-16.

Fernandes, Paulo Jorge (1999). As faces de Proteu. Elites Urbanas e o Poder Municipal em Lisboa de Finais do Século XVIII a 1851. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa.

Fonseca, Teresa (2002). Absolutismo e Municipalismo. Évora 1750-1820. Lisboa: Edições Colibri.

Fonseca, Teresa (2014). “O município de Lisboa na política pombalina de absolutismo esclarecido”. Cadernos do Arquivo Municipal, 2ª Série, 2, pp. 167-182.

Foucault, Michel (1979). Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Edições Graal.

Godinho, Vitorino Magalhães (1965). “Finanças públicas e estrutura do Estado”, in J. Serrão (dir), Dicionário de História de Portugal, vol. 2. Lisboa: Iniciativas Editoriais, pp. 244-264.

Gomes, Delfina (2000). Contribuição para a História da Contabilidade. A evolução dos registos contabilísticos e a aplicação da partida-dobrada em Portugal. Braga: Escola de Economia e Gestão – Universidade do Minho (Dissertação de Mestrado).

Gomes, Delfina (2007). Accounting change in central government. The institutionalization of double entry bookkeeping at the Portuguese Royal Treasury (1761-1777). Braga: Escola de Economia e Gestão – Universidade do Minho (Tese de Doutoramento).

Gomes, Delfina; Carnegie, Gary D.; Rodrigues, Lúcia Lima (2014). “Accounting as a Technology of Government in the Portuguese Empire: The Development, Application and Enforcement of Accounting Rules During the Pombaline Era (1761-1777)”. European Accounting Review, 23 (1), pp. 87-115.

Gonçalves, Iria (1971). “Sisas”, in J. Serrão (dir), Dicionário de História de Portugal, vol. 4. Lisboa: Iniciativas Editoriais, pp. 1-2.

Hespanha, António Manuel (1994). As vésperas do Leviathan. Instituições e Poder político. Portugal – séc. XVII. Coimbra: Livraria Almedina.

Hespanha, António Manuel (2001). “As estruturas políticas em Portugal na época moderna”, in J. Tengarrinha (org), História de Portugal. Bauru; São Paulo; Lisboa: EDUSC; Editora UNESP; Instituto Camões, pp. 117-182.

Hespanha, António Manuel (2013). “As Finanças Portuguesas nos sécs. XVII e XVIII”. Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Direito/UFRGS, VIII (2), pp. 1-41.

Hoffman, Philip T.; Norberg, Kathryn (1994). Fiscal crises, liberty, and representative government, 1450-1789. Stanford, California: Stanford University Press.

Homem, António Pedro Barbas (2006). O Espírito das Instituições. Um estudo de História do Estado. Coimbra: Almedina.

Hoz García, Carlos de la (2007). Hacienda y fiscalidad en Madrid durante el Antiguo Régimen (1561-1833). Madrid: Instituto de Estudios Fiscales.

Limberger, Michael (2012). “The making of the Urban Fiscal System of Antwerp until 1800”, in J. I. Andrés Ucendo, M. Limberger (eds), Taxation and Debt in the Early Modern City. London: Pickering & Chatto, pp. 131-147.

Macedo, Jorge Borges de (1989). A Situação Económica no Tempo de Pombal. Lisboa: Gradiva [1ª ed. 1951].

Monteiro, Nuno Gonçalo (1993). “Os Concelhos e as Comunidades”, in J. Mattoso (dir), História de Portugal, vol. 4. Lisboa: Círculo de Leitores, pp. 303-331.

Monteiro, Nuno Gonçalo (1996). “Os Poderes Locais no Antigo Regime”, in C. Oliveira (dir), História dos Municípios e do Poder Local [Dos Finais da Idade Média à União Europeia], Lisboa: Círculo de Leitores, pp. 16-175.

Neto, Margarida Sobral (2000). “Poder central e poderes locais na época pombalina”. Revista Século XVIII: as origens do estado moderno, I (tomo I), pp. 177-182.

Oliveira, Eduardo Freire de (1882). Elementos para a História do Município de Lisboa. 17 vols. Lisboa: Thypographia Universal.

Ostoni, Marco (2011). “La comptabilité publique entre théorie et pratique. Le cas de Milan au milieu du XVIIe siècle”, in A. Dubet, M.-L. Legay (dir), La comptabilité publique en Europe. 1500-1850. Rennes: Presses Universitaires de Rennes, pp. 219-229.

Ordenações Filipinas (1985). 3 vols. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Pelus, Marie-Louise (1988). “A Lübeck et Hambourg au XVII siècle: crise financière, conjoncture économique, potentiel économique, progrès économique. Une série de questions”, in La ville, la bourgeoisie et la genèse de l’Etat moderne: XIIe-XVIIIe siècles: actes du Colloque de Bielefeld. Paris: Éditions du Centre National de la Recherche Scientifique, pp. 243-262.

Rodrigues, Luís Nuno (1992). “Um século de finanças municipais: Caldas da Rainha (1720-1820)”. Penélope: Fazer e Desfazer a História, 7, pp. 49-69.

Silva, Álvaro Ferreira da (2004). “Finanças Públicas”, in P. Lains, A. F. da Silva (org), História Económica de Portugal 1700-2000, vol. 1. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, pp. 237-261.

Silva, António Delgado da (1829). Collecção da Legislação Portugueza desde a última Compilação das Ordenações. Vol. 1763-1774. Lisboa: Typografia Maigrense.

Silva, António Delgado da (1830-1849). Legislação Portuguesa desde a última compilação das Ordenações redigida por António Delgado da Silva: 1750 a 1820 e 1833 a 1849 e respectivos suplementos. Vol. 1740-1749. Lisboa: Typografia Maigrense.

Soares, Sérgio Cunha (2004). O município de Coimbra: da Restauração ao Pombalismo. 3 vols. Coimbra: Centro de História da Sociedade e da Cultura.

Subtil, José (2006). “O Governo da Fazenda e das Finanças (1750-1974)”, in M. P. Cruz (ed), Dos Secretários de Estado dos Negócios da Fazenda aos Ministros das Finanças (1788-2006). Lisboa: Secretaria-Geral do Ministério das Finanças e da Administração Pública, pp. 36-69.

Subtil, José (2010). Paradoxos e Contradições da Governamentalidade e da Administração da Justiça (1807-1834). Estudo apresentado no Colóquio internacional Administração e Justiças na Res Publica, Braga, 15-16 de março de 2010 (texto cedido pelo autor).

Tomaz, Fernando (1988). “As finanças do Estado Pombalino 1762-1776”, in Estudos e Ensaios em homenagem a Vitorino Magalhães Godinho. Lisboa: Livraria Sá da Costa.

Valente, Patrícia Costa (2008). Administrar, Registar, Fiscalizar, Gastar. As despesas municipais do Porto após a Guerra da Restauração (1668-1696). Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Dissertação de Mestrado).

Zippelius, Reinhold (1997). Teoria Geral do Estado, 3ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Topo da página

Notas

1 Refiram-se quer os estudos dedicados especificamente a esta temática – v.g. Capela (1987), Rodrigues (1992), e Costa (2014) –, quer outros trabalhos mais abrangentes de história da administração municipal que integram capítulos sobre finanças municipais – v.g. Fernandes (1999), Fonseca (2002), e Soares (2004).

2 Dos quais se destacam: Monteiro (1996), Fernandes (1999), Neto (2000), Fonseca (2002), e Costa (2014).

3 Da mesma forma, Vitorino Magalhães Godinho (1965, 253-255) defende que o imposto das sisas se encontra diretamente relacionado com a economia urbana.

4 Por exemplo o registo de contas do cofre dos sobejos das sisas surge dividido por quartéis, de acordo com o processo de lançamento e arrendamento das sisas, entre outras características analisadas por Costa (2014, 172-187).

5 Arquivo Histórico Municipal do Porto (AHMP), Sobejo das Sisas, A-PUB/3481, f. 35v; AHMP, Próprias do Cofre, A-PUB/3476, ff. 417-417v; AHMP, Registo Geral, A-PUB/2237, ff. 55v-56v. As despesas encontram-se registadas a 18 de janeiro de 1724 no livro da despesa do cofre do sobejo das sisas (AHMP, Cofre da Cidade. Despesa, A-PUB/3492, ff. 3v-4v).

6 AHMP, Cofre da Cidade. Despesa, A-PUB/3492, f. 41v.

7 AHMP, Cofre da Cidade. Receita e Despesa, A-PUB/3510, f. 327v.

8 Arquivo Histórico Municipal de Coimbra (AHMC), Receita e Despesa, 1748-1780, ff. 126-128.

9 Deve-se ainda sublinhar que há outras variáveis a considerar numa comparação de valores das rendas arrecadadas nos municípios, como, por exemplo, a dimensão demográfica de cada um, vertente de análise que não é objeto do presente artigo.

10 De que é prova, por exemplo, a série documental: Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), Ministério do Reino. Expediente Geral. Consultas do Senado da Câmara de Lisboa, 1734-1833.

11 Os impactos históricos do terramoto de 1755 em Lisboa, nas suas várias dimensões, são objeto de vários estudos, de que se destaca a obra coletiva organizada por Araújo et al (2007).

12 Arquivo Municipal de Lisboa-Arquivo Histórico (AML-AH), Livro do regimento dos vereadores e oficiais da Câmara [Livro Carmesim], f. 226.

13 AML-AH, Administração, Livro de receita e despesa (1766-1767), fl. 1-156.

14 AHMC, Receita e Despesa, 1748-1780, ff. 126-128.

15 AHMC, Receita e Despesa, 1748-1780, f. 141.

16 AML-AH, Livro de Receita e Despesa, 1765-1766.

17 ANTT, Ministério do Reino. Negócios Diversos da Junta Da Fazenda do Senado da Câmara, Maço 491, Caixa 611.

18 AML-AH, Livro da Receita e Despesa, 1774-1775, fl. 48.

Topo da página

Para citar este artigo

Referência do documento impresso

Patrícia Costa, «As finanças municipais em Portugal no século XVIII: autonomia vs centralismo»Ler História, 73 | 2018, 123-144.

Referência eletrónica

Patrícia Costa, «As finanças municipais em Portugal no século XVIII: autonomia vs centralismo»Ler História [Online], 73 | 2018, posto online no dia 28 dezembro 2018, consultado no dia 16 janeiro 2025. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/lerhistoria/4153; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/lerhistoria.4153

Topo da página

Autor

Patrícia Costa

CSG/GHES – Universidade de Lisboa, Portugal

patriciacostavalente@gmail.com

Topo da página

Direitos de autor

CC-BY-NC-4.0

Apenas o texto pode ser utilizado sob licença CC BY-NC 4.0. Outros elementos (ilustrações, anexos importados) são "Todos os direitos reservados", à exceção de indicação em contrário.

Topo da página
Pesquisar OpenEdition Search

Você sera redirecionado para OpenEdition Search