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1A grande maioria das revistas de ciências sociais e humanas portuguesas tem privilegiado uma difusão eletrónica em regime de acesso aberto para alcançar uma maior audiência internacional, essencialmente constituída por um público especializado. Em muitos casos, esta mudança radical nos modos de difusão das publicações científicas engendrou uma melhoria significativa da qualidade e impacto da investigação publicada em revistas nacionais. O acesso aberto e a edição eletrónica têm sido também um fator de revitalização e redinamização de projetos editoriais que se esforçam por manter uma diversidade linguística no panorama científico internacional. Esta evolução não tem suscitado grande debate ou reservas na comunidade científica nacional, apesar de constituir uma transformação profunda na organização do trabalho editorial e dos encargos inerentes para as redações. Todavia, o esforço contínuo e necessário de internacionalização não deve fazer esquecer a relevância social – também percetível à escala nacional ou local – do conhecimento produzido nas universidades e centros de investigação.

2Este comentário vem a propósito do dossier publicado neste novo número da Ler História que se propõe revisitar a Pneumónica de 1918-1919, num momento em que se assinala o seu centenário. O dossier, organizado por Laurinda Abreu e José Vicente Serrão, traz dados novos e diversificados sobre uma epidemia que foi uma das mais mortíferas de todos os tempos, afetando entre um quinto e um terço da população mundial. No primeiro artigo deste dossier, Frédéric Vagneron propõe uma ampla discussão sobre a historiografia da “gripe espanhola”, reconstruindo as diferentes “camadas” ou “discursos” historiográficos em torno de um evento que constitui uma marca na relação das sociedades com as ameaças infeciosas. O artigo de José Manuel Sobral e Maria Luísa Lima (já coorganizadores em 2009 da primeira grande obra de síntese publicada em Portugal sobre esta “pandemia esquecida”) apresenta um quadro geral dos contextos político, cultural e sanitário de Portugal à saída da Grande Guerra, que em parte explicam a atitude das autoridades (nomeadamente em termos de comunicação) face à epidemia. A partir da análise da literatura científica coeva, Helena Rebelo-de-Andrade e David Felismino, investigadores do Museu da Saúde e do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, reconstituem o conhecimento sobre as caraterísticas biológicas do agente patológico, assim como a intensa discussão médica e científica desencadeada pela epidemia a nível nacional. Para fechar o dossier, Laurinda Abreu propõe um estudo mais amplo do ponto de vista temático e cronológico, analisando principalmente as políticas sanitárias implementadas em Portugal no século XIX. A noção de “cordão sanitário” surge aqui como um novo objeto da história das governações políticas oitocentistas.

3Na segunda parte deste número são reunidos cinco artigos que se debruçam sobre contextos históricos, problemáticas e objetos bastante variados. A questão da autonomia das finanças municipais em Portugal no século XVIII é discutida por Patrícia Costa. Miguel Dantas da Cruz volta ao problema da regulamentação do comércio itinerante em Portugal na conjuntura vintista. Ana Paula Pires aprofunda o seu trabalho sobre a questão das subsistências e da ação do poder municipal lisboeta no final da Grande Guerra. José Nuno Matos analisa em pormenor o desenrolar e os impactos da greve de jornalistas, tipógrafos e distribuidores em Lisboa em 1921, contribuindo para o nosso conhecimento sobre a distinção entre jornalismo informativo e político no final da Primeira República. Esta secção acaba com um artigo do historiador galego Ramón Villares, no qual descreve o aparecimento, a partir de 1916, das Irmandades da Fala, ponto de partida do “moderno nacionalismo político da Galiza contemporânea”. Em articulação com este tema, publicamos na secção Em Debate uma revisão bibliográfica assinada por um jovem historiador, João Branco, que se debruça sobre o processo de construção do estado-nação em Portugal e Espanha no século XIX e inícios do século XX. Este número fecha com um conjunto de recensões assinadas por Augusto Nascimento, Bruno Cardoso Reis, Sofia Sampaio e Ofelia Rey Castelao, que dão conta das suas leituras de obras recentemente publicadas em Portugal e em Espanha. A Ler História tem-se esforçado por manter viva esta prática de publicação de recensões críticas, essencial para a continuidade e o aprofundamento da discussão científica.

4A diversidade das origens nacionais, institucionais e geracionais dos colaboradores deste número mostra, mais uma vez, a vitalidade dos debates histográficos em Portugal, debates para os quais a revista Ler História pretende continuar a contribuir.

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Para citar este artigo

Referência do documento impresso

Frédéric Vidal, «Editorial»Ler História, 73 | 2018, 5-6.

Referência eletrónica

Frédéric Vidal, «Editorial»Ler História [Online], 73 | 2018, posto online no dia 27 dezembro 2018, consultado no dia 14 janeiro 2025. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/lerhistoria/3934; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/lerhistoria.3934

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Frédéric Vidal

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