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Espelho de Clio

Convicção, Acção e História

Armando Trigo de Abreu
p. 208-209

Texte intégral

1Reconstituir a história através de carimbos – verdadeiros – um dia impressos em passaportes – verdadeiros – pode dizer demasiado pouco sobre o objecto das viagens e os seus encontros e desencontros.

2Mas, se os carimbos não mentem – e a memória me não atraiçoa – devo ter encontrado Sacuntala de Miranda, pela primeira vez, num dia de Dezembro de 1964, um dia de nevoeiro, do então terrível smog londrino, que poderia ter constituído a melhor protecção contra as perguntas indiscretas da época, dado que seria incapaz de reencontrar e reconhecer a pequena casa dos Miranda, perdida na espessa neblina dos arredores de Londres. Também, nesses dias, em que a luz do dia era breve, nunca cheguei a saber onde os meus guias – o Álvaro e o João – me transportavam, na semi-obscuridade da caixa fechada de uma Minivan.

3Mas as circunstâncias dessa breve viagem a Londres, não apagaram nunca a forte impressão de coragem e decisão que senti quando conheci Sacuntala. E esta impressão reforçou-se ao longo dos tempos, durante os breves anos em que partilhámos a militância no MAR, com as notícias que iam chegando de Londres ou de Argel, dos encontros em Londres, nas actividades promovidas pela Liga, no início dos anos 70, antes da Revolução de Abril e, mais tarde, na breve passagem de Sacuntala pelo Instituto Gulbenkian de Ciência, antes de iniciar a sua carreira académica na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL.

4Duas características eram, a meus olhos, enormes qualidades de Sacuntala de Miranda: por um lado, a capacidade de viver a sua vida, vencendo os obstáculos e assumindo tanto as convergências como as rupturas por vezes indispensáveis e, por outro lado, para além da discussão ideológica e da militância política, a capacidade e a vontade da acção cívica, que não esperava pela Revolução para construir um Mundo mais justo. Sobretudo, esta capacidade de aliar convicção, acção e história, seja nas contribuições para as discussões políticas das comunidades portuguesas exiladas – vide a sua colaboração nos Cadernos Socialistas de 1967 – até à acção directa a favor da organização sindical dos trabalhadores portugueses em Inglaterra e ainda – mais tarde – na redescoberta e na investigação e ensino da História Contemporânea fizeram de Sacuntala muito mais do que «o peão nos combates pela Liberdade» cujo lugar, modestamente, ela reclamava.

5Tive a oportunidade e o privilégio de poder acompanhar uma parte deste trajecto.

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Pour citer cet article

Référence papier

Armando Trigo de Abreu, « Convicção, Acção e História »Ler História, 54 | 2008, 208-209.

Référence électronique

Armando Trigo de Abreu, « Convicção, Acção e História »Ler História [En ligne], 54 | 2008, mis en ligne le 03 février 2017, consulté le 18 février 2025. URL : http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/lerhistoria/2427 ; DOI : https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/lerhistoria.2427

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