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Dossier: A Corte Portuguesa no Brasil

A Corte no Brasil e a distribuição de mercês honoríficas

La cour au Brésil et la distribution des grâces honorifiques
The Court in Brazil and the Granting of Honors
Maria Beatriz Nizza da Silva
p. 51-73

Resumos

O aumento considerável na concessão de mercês honoríficas durante a permanência da Corte no Rio de Janeiro levou às críticas da imprensa liberal portuguesa em Londres, mas D. João precisou de recorrer a estas recompensas para satisfazer não só os que o tinham acompanhado à nova sede da monarquia, como também os vassalos do Brasil que o tinham ajudado nas dificuldades financeiras.

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A caminho do Rio de Janeiro

  • 1 Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 47, 1884, pp. 1-17.

1Já em 1803, Silvestre Pinheiro Ferreira, encarregado de negócios em Berlim, representou ao príncipe regente que «à lusitana monarquia nenhum outro recurso restava senão o de procurar quanto antes nas suas colónias um asilo contra a hidra então nascente que jurava a inteira destruição das antigas dinastias da Europa»1. Essa «hidra», Napoleão, levou efectivamente a família real portuguesa e sua Corte a dirigir-se para o Brasil, a mais importante de suas colónias, em finais de 1807, quando as tropas francesas comandadas por Junot se aproximavam de Lisboa.

  • 2 Santos (1943), vol.1, p. 197.

2Embarcar para o Brasil, deixando em Portugal parte dos familiares e a quase totalidade dos bens, significou para muitos titulares que acompanharam o príncipe regente D. João um autêntico desterro, sendo-lhes difícil imaginar o que iriam encontrar e como iriam sobreviver. Como escreveu o memorialista Luís Gonçalves dos Santos, a família real seguiu de Lisboa para o Rio de Janeiro «com grande número de pessoas de primeira grandeza da Corte, e de outras muitas de todas as ordens»2.

  • 3 Filho (1968), pp. 70-71.
  • 4 Correio Brasiliense, III, 1809, pp. 157-158. O opúsculo em questão intitulava-se «Desengano proveit (...)

3A 24 de Novembro de 1807 os seis conselheiros presentes na reunião do Conselho de Estado optaram por acelerar o embarque do príncipe regente e da família real visto se terem «esgotado todos os meios de negociação» e a monarquia se encontrar em perigo3. Defendendo os conselheiros dos ataques do autor de um opúsculo publicado no Porto em 1809, Hipólito da Costa escreveu em seu Correio Brasiliense: «tiveram a honra, a probidade e a coragem de perder tudo quanto tinham e seguir a sorte do monarca, a quem acompanharam, sujeitando-se a viver de uma pensão paga pelo Erário, que um desfavor da Corte lhes pode tirar de um dia para o outro, e reduzi-los à mendicidade»4.

  • 5 Diniz-Silva (2006), p. 578.

4Distribuídos os cortesãos pelas várias naus da frota, esperaram notícias concretas acerca da partida. A família Sousa Coutinho, por exemplo, composta por D. Rodrigo, sua mulher D. Gabriela, três filhos e o irmão, D. Francisco Maurício, encontravam-se já a 27 de Novembro a bordo da nau Príncipe do Brasil, mas a saída de Lisboa, a 29 pela manhã, foi meio confusa e a viagem difícil. Eram 1045 pessoas só nesta nau, com poucas provisões para se alimentarem durante os 77 dias no mar, sem tocar em qualquer porto, e algumas com a roupa do corpo apenas5.

5A esquadra, acompanhada por quatro navios de guerra ingleses, dividiu-se: uma parte aportou à Baía, outra seguiu directamente para o Rio de Janeiro, onde chegou no início do mês de Janeiro de 1808. A nau Príncipe Real, a bordo da qual viajaram D. João, D. Carlota Joaquina, seus filhos e a rainha D. Maria I, chegou a Salvador a 22 de Janeiro e neste porto os grandes da Corte sofreram a primeira baixa com a morte do duque de Cadaval.

  • 6 Santos (1943), vol.1, pp. 229-231.

6Mas afinal que titulares acompanharam o príncipe regente naquilo que para eles constituiu um verdadeiro exílio? Uns partiram sozinhos, deixando mulher e filhos em Portugal para defenderem seus interesses; outros levaram consigo pelo menos uma parte da família, permanecendo no Reino os primogénitos para cuidarem de sua Casa e património. A lista fornecida por Luís Gonçalves dos Santos é a seguinte6.

  1. Duque de Cadaval (falecido durante a passagem pela Baía).

  2. Marquês de Alegrete, Luís Teles da Silva e Meneses.

  3. Marquês de Angeja, D. José de Noronha Camões e Albuquerque.

  4. Marquês de Belas, D. José de Vasconcelos e Sousa, marquesa e filhos.

  5. Marquês do Lavradio, D. António de Almeida Soares e Portugal, marquesa e filhos.

  6. Marquês de Pombal, Henrique José de Carvalho e Melo, e marquesa.

  7. Marquês de Torres Novas, D. Álvaro António de Noronha Abranches Castelo Branco, e irmãos.

  8. Marquês de Vagos, Nuno Telo da Silva.

  9. Conde de Belmonte, D. Vasco Manuel da Câmara, condessa e filhos.

  10. Conde de Caparica, D. Francisco de Meneses da Silveira, condessa e filhos.

  11. Conde de Cavaleiros, D. Gregório Ferreira d’Eça e Meneses, e condessa.

  12. Conde de Pombeiro, D. António Maria de Castelo Branco Correia e Cunha Vasconcelos e Sousa.

  13. Conde de Redondo, Tomé José de Sousa Coutinho Castelo Branco e Meneses, e filhos.

  14. Visconde de Anadia, José Rodrigues de Sá e Meneses.

7Esta lista de titulares foi pouco tempo depois aumentada: D. João de Almeida de Melo e Castro adquiriu o título de conde das Galveias a 2 de Dezembro de 1808. Com os despachos de 17 do mesmo mês, destinados a comemorar o aniversário da rainha D. Maria I, D. Rodrigo de Sousa Coutinho recebeu o título de conde de Linhares, e D. Fernando José de Portugal foi feito conde de Aguiar, tendo sido ambos escolhidos para o primeiro ministério do Rio de Janeiro, o primeiro com a Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, e o segundo com a do Reino, sendo a de Negócios da Marinha e Ultramar ocupada pelo visconde de Anadia.

  • 7 Santos (1943), vol.1, p. 221.

8Durante os anos de permanência da Corte, a lista dos titulares foi-se alterando, com a chegada de uns, a partida de outros, e mesmo com a morte ocorrida em território brasileiro. Basta consultar os almanaques publicados nesse período (o de 1811, 1816 e 1817) para perceber as variações ocorridas no grupo dos «grandes». Mas o que é importante ressaltar é que o príncipe regente D. João, logo após a sua chegada ao Rio de Janeiro, passou a «prover à subsistência dos titulares e mais fidalgos, assinando-lhes pensões pagas da sua Real Fazenda», uma vez que, ao abandonar Portugal, esta nobreza tinha ali deixado seus bens e seus rendimentos. Fidalgos foram integrados ao serviço do Paço como camaristas ou viadores. Do mesmo modo procedeu em relação aos oficiais da Marinha e do Exército, aos eclesiásticos e aos civis, acomodando-os em «benefícios ou empregos da pública administração que, ou estavam vagos ou, pela maior parte, se criaram de novo». A liberalidade do príncipe estendeu-se ainda aos habitantes do Brasil, concedendo «a uns, hábitos e comendas, a outros, postos e ofícios; a estes dignidades e empregos, aqueles honras e mercês»7. Assim, aos reinóis, D. João procurava compensar o desterro forçado; aos coloniais agradecia a forma como haviam recebido a família real e colaborado com as despesas em auxílio de Portugal sob os ataques franceses.

O exílio nos trópicos

  • 8 Santos (1943), vol.1, p. 239.

9Uma cidade que não estava preparada para ser a sede da Corte teve dificuldade em acolher não só a família real, como todos os cortesãos e empregados públicos recém-chegados, além dos servidores do Paço nas várias repartições. Para a instalação destes últimos foram anexados ao palácio do vice-rei, que agora servia de Paço, o convento do Carmo e a Casa da Câmara e Cadeia, ligados por um passadiço ao corpo principal. No antigo convento instalaram-se a rainha D. Maria I e suas damas nos quartos virados para o Terreiro do Paço, enquanto no interior se distribuíram a ucharia, as cozinhas e outras oficinas. A Casa da Câmara e Cadeia foram destinadas às criadas, tendo sido realizada a necessária reforma para que se desvanecesse «o seu lúgubre aspecto», nas palavras de Luís Gonçalves dos Santos. As cavalariças reais ficaram no aquartelamento da cavalaria junto do Real Trem, e ao longo da praia de D. Manuel ergueram-se construções para a guarda dos coches e para habitação dos empregados que deles cuidavam. Todas estas acomodações foram providenciadas pelo tesoureiro da Casa Real, Joaquim José de Azevedo8.

10Um negociante inglês, John Luccock, calculou que os servidores do Paço fossem cerca de mil, mas este número, mesmo incluindo os de mais baixa condição social, é francamente exagerado pelo que conhecemos da documentação da Casa Real, completada pelas informações dos almanaques da época. De qualquer modo o serviço do Paço implicava funções variadas que eram desempenhadas por pessoas de diferente hierarquia, desde os titulares aos fidalgos e aqueles cuja nobreza provinha de graus académicos, postos militares ou cargos eclesiásticos, até aos serventes negros.

11D. Gabriela, mulher de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, escreveu numa carta que se tinham praticado muitas violências para alojar todos os recém-chegados, «assim grandes como pequenos». Para as pessoas de distinção procuravam-se casas nobres, que eram raras no Rio de Janeiro. «Para alojar uma família, era preciso desalojar 2 ou 3», e os oficiais de Marinha, graças aos privilégios de que usufruíam, ocupavam uma casa à força, para depois a cederem por alto preço. Esta atitude provocou o desagrado dos habitantes, como seria de esperar, chegando ao ponto de suspenderem qualquer tipo de construção por temerem as chamadas «aposentadorias».

  • 9 Diniz-Silva (2006), pp. 583-584.

12A família Sousa Coutinho ficou morando numa habitação que tinha sido alugada durante muito tempo por um chantre e seus irmãos, que a cederam completamente mobiliada, embora sem grande requinte. Esta casa, contudo, era muito incómoda, sobretudo porque ela tinha de abrigar também a Secretaria de Estado ocupada por D. Rodrigo, e foi preciso avançar sobre o alojamento de uma rica viúva, muito contra a vontade desta9.

  • 10 Pereira (1946), pp. 139-141.

13Um pouco mais tarde, em Fevereiro de 1809, o marquês de Borba, viador da Casa Real, que chegara acompanhado de um filho, viador de D. Carlota Joaquina, e de uma filha, camarista do infante D. Miguel, portanto todos servidores do Paço, queixava-se amargamente do custo da habitação no Rio de Janeiro: «as despesas aqui são imensas, as casas 400$000 réis por ano e é uma barraca, sem chácara; a carruagem importa em rios de dinheiro, tanto as seges como sustento das bestas, ordenado do boleeiro e moço de tábua, enfim preciso a maior economia». E exprimia veementemente os votos de regresso a Portugal: «peçam perdão a Deus por mim, e que nos levem deste inferno para esse paraíso da minha Casa»10.

  • 11 Diniz-Silva (2006), p.625.

14D. Gabriela, mulher do conde de Linhares, comentava que mesmo o ordenado de 12 mil cruzados não era suficiente para um secretário de Estado no Rio de Janeiro, até porque havia sempre despesas extraordinárias, como jantares, subscrições, fosse para ajudar Portugal arrasado pelas invasões francesas ou para libertar os prisioneiros dos piratas argelinos, além dos despachos de dois títulos de grão-cruzes, etc.11.

  • 12 Almanaque do Rio de Janeiro para o ano de 1816, separata da Revista do Instituto Histórico e Geográ (...)

15À medida que o tempo ia passando a cidade ia-se organizando para acomodar os reinóis: chácaras dos arredores, com melhores acomodações, inclusive cavalariças dificilmente encontráveis no centro urbano, passaram a ser ocupadas para moradia, fazendo de certo modo esquecer as quintas de Portugal; cocheiras prestavam serviços de aluguel de carruagens e cavalos; o número de chafarizes para atender a malha urbana aumentou. Morar no Catete, como os condes da Lousã e de Viana, revelava já uma expansão para sul da cidade, que só ocorreu devido à presença da Corte. O Campo de Santana, na chamada Cidade Nova, onde residiam o marquês de Angeja, e os condes de Belmonte e de Linhares, possibilitava igualmente acomodações mais dignas da nobreza do que as estreitas ruas Direita ou da Quitanda. A Glória, local de residência dos condes de Avintes e da Ponte e do marquês do Lavradio, era já um subúrbio desafogado12.

  • 13 Pereira (1946), p. 143 e 147.

16Apesar das melhorias urbanas, o marquês de Borba exprimia seu desconsolo por não ver próxima a data do regresso a Portugal. Numa carta de 10 de Maio de 1810 escrevia: «vejo que mandam vir muitas coisas de lá, pois mandam vir músicas e até o resto da livraria da Ajuda, tudo isto me dá a maior aflição, e oiço que vêm vindo muitas famílias com receio daquelas infernais criaturas tornarem, por estarem já na Espanha». Temendo o regresso dos franceses, recomendava ao filho em Portugal que pusesse a família a salvo «e o melhor que houver na Casa». Em Junho de 1812 as esperanças de partir eram poucas, «pois até a imensa gente que vem para morrerem à fome o confirma mais»13.

  • 14 Diniz-Silva (2206), p.599.

17A Corte do Rio de Janeiro passou a constituir um forte polo de atracção para todos aqueles que pleiteavam um emprego público ou entrar no serviço do Paço. Onde estivesse o príncipe regente seria mais fácil de haver distribuição de benesses do que num Portugal exaurido pelas invasões francesas, e assim iam chegando todos os anos novos pretendentes que encaminhavam seus pedidos de mercês. Como escrevia D. Gabriela em Outubro de 1808: «Creio que a facilidade que se tem aqui de ser despachado faz aumentar as pretensões de qualquer um, de maneira que a classe dos pretendentes é sem fim»14.

  • 15 Silva (1975), p. 32.

18Nem todos os que chegavam ao Rio de Janeiro conseguiam seus fins, pois os recursos da Coroa eram limitados e os cargos também. Silvestre Pinheiro Ferreira, por exemplo, tendo desembarcado na Corte em 1809, estava ainda desempregado dois anos depois, vivendo de uma escassa pensão de 53$000 réis. Várias vezes solicitou empregos (o de ministro junto do governo dos Estados Unidos ou o de conselheiro da Fazenda), mas só a 13 de Maio de 1811 foi nomeado deputado da Real Junta do Comércio15.

Novos titulares

19Durante sua permanência no Rio de Janeiro, D. João produziu uma boa safra de titulares, sobretudo no nível do baronato e do viscondado. Pela primeira vez predomina nos títulos a toponímia brasileira: barão de Vila Nova da Rainha (1809), de Magé (1810), baronesa de São Salvador de Campos (1812), conde de Parati (1813), barão de São José de Porto Alegre (1814), da Laguna (1818), de Santo Amaro (1818), de São Simão (1818), de São João Marcos (1818), visconde da Baía (1818), barão de Itanhaém (1819), viscondessa de Tajuaí (1819), barão de Goiana (1821) e de Bagé (1821).

  • 16 Arquivo Nacional do Rio de Janeiro (ANRJ), Co. 15, Graças honoríficas, vol. 2.

20A concentração da distribuição de títulos no ano de 1818 deve-se às comemorações da aclamação de D. João VI, do mesmo modo que sua ausência nos dois anos anteriores se justifica pelo luto pela morte de D. Maria I. Alguns titulares transitaram de um título para outro: o barão de Vila Nova da Rainha foi feito visconde em 1810; o barão de Magé alcançou o viscondado em 1811; o barão de Rio Seco tornou-se visconde em 181816.

Títulos concedidos por D. João no Rio de Janeiro

Data

Barão

Visconde

Marquês

1808

1

1809

1

1810

2

4

3

1811

1

6

3

1812

3

2

3

1813

1

5

1814

1

1815

2

6

1816

1817

1818

9

9

1

1819

1820

2

Totais

22

29

16

Fonte: ANRJ, Cod. 116, Registo Geral das Mercês, Ordens e Títulos, vol.1

21Os titulares desempenhavam funções honoríficas no Paço, conforme informação dos almanaques e da documentação da Casa Real. O estribeiro-mor era, em 1812, o marquês de Vagos, que administrava as cavalariças reais e prestava contas da despesa desta repartição do Paço. Os viadores da rainha eram, em 1816, o marquês de Valada, os condes de Cavaleiros e Lousã, e os viscondes de Asseca e Barbacena; e os gentis-homens da câmara o marquês de Torres Novas, os condes de Belmonte, Valadares, Viana e Parati, e os marqueses de Torres Novas, Angeja e Belas.

22Para outros contudo o serviço do Paço servia de trampolim para a ascensão social, através de sucessivas mercês. Francisco José Rufino de Sousa Lobato, que em 1808 era porteiro da real câmara e guarda-jóias, recebeu nesse mesmo ano o título de conselheiro do regente; em 1809 foi feito barão de Vila Nova da Rainha; e em 1810 visconde do mesmo nome. E com o passar dos anos foi acumulando cada vez mais funções dentro do Paço: guarda-roupa, manteeiro, tesoureiro do Real Bolsinho, guarda-tapeçarias. Por seu lado Joaquim José de Azevedo, que exerceu as funções de tesoureiro da Casa Real, almoxarife da Casa das Obras, comprador da Coroa e guarda-roupa, recebeu o alvará de fidalgo cavaleiro em 1808 devido aos serviços prestados na organização da partida da família real, chegando mesmo a «adiantar os seus cabedais para mantimentos da referida esquadra»; e ainda o título de conselheiro em 1810 e o baronato do Rio Seco «em sua vida» em 1812.

23É interessante notar que estes dois novos titulares foram alvo de poesias satíricas por ocasião do movimento constitucional em 1821, sendo este último levado a publicar nesse ano a Exposição analítica e justificativa da conduta e vida pública do visconde de Rio Seco, desde o dia 25 de Novembro de 1807, em que Sua Majestade Fidelíssima o incumbiu dos arranjamentos necessários da sua retirada para o Rio de Janeiro, até o dia 15 de Setembro de 1821, em cujo ano dimitira todos os lugares e empregos de responsabilidade de Fazenda....

Fidalgos da Casa Real

24Ao instalar-se no Rio de Janeiro, o príncipe regente D. João criou as repartições e os cargos equivalentes aos que existiam em Lisboa, e consequentemente o Registo Geral das Mercês e o ofício de escrivão da real câmara, «para constar a todo o tempo com a legalidade necessária as mercês que faço aos meus fiéis vassalos e evitar os inconvenientes que podem ocorrer por falta do competente registo». Este alvará tem a data de 9 de Maio de 1808.

25Graças ao Dicionário aristocrático publicado em 1867 por Sanches de Baena, tendo como base os Livros de Registo das Mercês, é possível saber as datas de todos os alvarás de foros de fidalgo da Casa Real desde 1808 até Setembro de 1822, ou seja, até à independência do Brasil. Trata-se de um trabalho paciente e minucioso que permite a elaboração do seguinte quadro.

Fidalgos da Casa Real, 1808-1822

Ano

Moço fidalgo

Fidalgo escudeiro

Cavaleiro fidalgo

Fidalgo cavaleiro

1808

6

4

32

1809

2

3

14

1810

1

1

3

19

1811

4

8

1812

1

4

4

25

1813

4

2

6

23

1814

2

1

4

12

1815

7

1

42

1816

7

11

33

1817

2

4

13

1818

5

3

32

1819

7

2

36

1820

4

7

35

1821

10

3

25

1822

2

Totais

62

8

55

351

26O foro mais elevado foi sem dúvida o que D. João mais distribuiu por reinóis e naturais do Brasil. Entre estes últimos deparamos com 60 agraciados: 20 do Rio de Janeiro; 14 de Minas Gerais; 9 de Pernambuco; 6 de São Paulo; 5 da Bahia; 4 do Maranhão; 1 do Espírito Santo; e 1 do Rio Grande de São Pedro.

27A estas categorias simples de fidalguia, hierarquicamente dispostas desde o moço fidalgo até o fidalgo cavaleiro, há que acrescentar ainda 31 foros compósitos: moço fidalgo com acrescentamento a fidalgo escudeiro, 17; moço fidalgo com acrescentamento a fidalgo cavaleiro, 1; fidalgo escudeiro com acrescentamento a cavaleiro fidalgo, 12; e cavaleiro fidalgo com acrescentamento a fidalgo cavaleiro, 1. Do total de foros de fidalgo concedidos neste período, 5 destinavam-se a donas sob a forma de dotes para aqueles com quem se casassem.

  • 17 ANRJ, Cod. 564, provisões de 10 de Janeiro de 1820.

28Os alvarás de concessão do foro de fidalgo tinham um prazo para serem registados pelos beneficiados e, quando este não era cumprido, os interessados pediam ao monarca uma dispensa por lapso de tempo. Foi o que fizeram, em Janeiro de 1820, António Rodrigues Veloso de Oliveira e seu irmão Henrique de Oliveira Veloso Pereira, filhos do desembargador do Paço António Rodrigues Veloso, que tinham recebido o foro de moços fidalgos em 181317.

Cavaleiros e comendadores

29A grande inovação do período joanino foi o renascimento da Ordem da Espada por decreto de 13 de Maio de 1808. Destinava-se esta a recompensar os relevantes serviços dos «ilustres estrangeiros» que, por professarem outro credo religioso, não podiam ser agraciados com nenhuma das outras três ordens militares existentes «por serem juntamente religiosas». Por este motivo o príncipe regente resolveu renovar e aumentar a única ordem de cavalaria «puramente civil». Ou seja, a Ordem da Espada, criada em séculos passados por D. Afonso V.

30Já por ocasião da sua passagem pela Baía D. João sentira a necessidade de recompensar dois vassalos do rei de Inglaterra e mandara por isso cunhar uma medalha com as palavras «Valor e lealdade» e com ela agraciara os ingleses. Ao renovar a Ordem da Espada, encarregou D. Fernando José de Portugal de elaborar os novos estatutos que foram depois aprovados por carta de lei de 29 de Novembro de 1808.

31Uma particularidade desta ordem militar é que tanto os grão-cruzes quanto os comendadores receberiam comendas criadas no solo brasileiro, e não mais em território português. As dos primeiros teriam «2 léguas de raiz, ou 4 quadradas de terra cada uma»; as dos segundos mediriam «légua e meia de raiz, ou 2 e um quarto quadradas». A inovação destas comendas residia no facto de serem terras incultas e quem as recebesse não teria sobre elas «domínio ou posse, ou qualquer outra pretensão». Assim, quando um comendador morresse, sua comenda passaria para o novo comendador de nomeação régia «com todos os aumentos». Era contudo permitido aos comendadores «aforarem parte do terreno das comendas a colonos brancos para aumento da agricultura e povoação, percebendo o foro e ficando com todos os direitos e faculdades que têm os senhores directos em qualquer aforamento». Dado o carácter diferente destas comendas, estas só poderiam ser criadas depois que os governadores das capitanias informassem sobre as terras incultas em seus territórios. Desse modo, as comendas brasileiras, ao contrário das localizadas no Reino, não seriam imediatamente rentáveis e suas rendas dependeriam em última análise do esforço despendido com a sua cultura e povoamento.

  • 18 Diniz-Silva (2006), p. 587.

32Ao comentar a criação desta ordem, a mulher de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, D. Gabriela, não só atribui a sua «invenção» ao marquês de Belas quando o príncipe regente se encontrava na Baía, como lhe chama a «ordem do descontentamento», pois não se dava nada a ninguém, era uma «ordem de petas». Dizia-se que tinha sido estabelecida como uma distinção para aqueles que tinham acompanhado o príncipe, mas aqueles que a receberam queixavam-se de serem uns menos do que outros, enquanto aqueles que tinham sido esquecidos se lamentavam por isso mesmo18.

  • 19 ANRJ, Cod. 15, Graças honoríficas, vol.2, fls. 3-3v, 16 e 18v.
  • 20 Ibid., fls. 15v-16.

33Não existindo ainda um estudo sobre a Ordem da Espada, limito-me a dar alguns exemplos. D. Rodrigo de Sousa Coutinho, enquanto secretário de Estado, foi feito grão-cruz efectivo. Foram com ela agraciados, em 1810, Bernardo José de Sousa Lobato, servidor do Paço (era guarda-roupa de D. João), que recebeu o título de comendador honorário, atendendo «ao bem que se houve» durante o tempo do «intruso governo francês no Reino de Portugal», e a mesma mercê foi concedida a Marco António de Azevedo Coutinho Montaury, também guarda-roupa, e a Frederico Caldwell, tenente-coronel dos Reais Exércitos19. No mesmo ano passaram de comendadores honorários a efectivos D. Manuel José de Sousa, viador de D. Carlota Joaquina, e o conde da Figueira, D. José Castelo Branco20.

34Em relação às outras ordens militares, sabemos que D. João, na sua breve passagem pela Baía a caminho do Rio de Janeiro, liberalmente distribuiu 102 hábitos de cavaleiros da Ordem de Cristo. De acordo com um códice em muito mau estado, conservado no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, o número de hábitos concedidos até à independência foi extremamente elevado, mas deve ter sido ainda maior. Os totais computados são certamente inferiores aos reais, pois em muitos casos a anotação menciona apenas o nome de um agraciado, aludindo a «outros», sem dizer quantos, que também tinham recebido aquela graça honorífica. Isto significa que as mercês de hábitos e comendas nas ordens militares se banalizaram no período joanino.

Ordens Militares, 1808-1822

Cristo

Santiago

Avis

Ano

Comenda

Hábito

Comenda

Hábito

Comenda

Hábito

1808

9

47

6

1

22

1809

7

143

10

3

46

1810

17

195

2

12

5

54

1811

28

65

3

6

4

35

1812

19

150

1

9

6

49

1813

18

139

3

2

3

55

1814

28

146

1

2

4

56

1815

38

156

6

15

98

1816

26

181

2

2

5

125

1817

20

227

7

99

1818

55

131

2

8

22

146

1819

39

97

2

5

14

126

1820

46

127

1

2

23

91

1821

32

91

2

5

18

35

1822

95

21

Totais

382

1.990

19

82

123

1.058

Fonte: ANRJ, Cod. 116, Registo Geral das Mercês.

35Como seria de esperar, durante a regência de D. Pedro em 1822 não houve distribuição de comendas e certamente só se deu despacho a petições de hábitos já anteriormente encaminhadas. Depois da independência, o imperador criou sua própria ordem militar. No período joanino a ordem mais desejada continuava a ser a de Cristo, e o elevado número de comendas e hábitos de Avis explica-se pelo facto de as altas patentes militares terem acesso automático a esta ordem desde o alvará de lei de 16 de Dezembro de 1790.

  • 21 Correio Brasiliense, IV, 1810, p.553.
  • 22 ANRJ, Cod. 15, Graças honoríficas, vol.2, fl. 1.

36As comendas destinavam-se sobretudo a servidores do Paço ou a empregados públicos de alto escalão, embora alguns grandes negociantes, que tinham feito elevados empréstimos à Coroa, também as tenham recebido neste período. No ano de 1810, quando as comendas da Ordem de Cristo começaram a ser distribuídas em maior quantidade, vejamos quem foi com elas agraciado. Para mostrar seu apreço a António de Araújo de Azevedo, membro do Conselho de Estado, pelos «distintos serviços» assim nos cargos ocupados como na «execução das muitas, laboriosas, arriscadas e críticas comissões da maior importância», D. João tornou-o grão-cruz da Ordem de Cristo na comenda de S. Pedro do Sul que já tinha21. Tomás António de Vila Nova Portugal, que ainda não tinha alcançado o prestígio político que adquiriu mais tarde junto de D. João VI, recebeu uma de lotação de 30$000 réis que estivesse vaga, ou que viesse a vagar, «podendo desde logo usar a insígnia de comendador», sendo assim recompensado seu «zelo, honra, verdade e inteligência» com que se empregava no Real Serviço22. O guarda-roupa José Estêvão de Seixas Gusmão e Vasconcelos foi agraciado com uma «das de África», sem que seja explicitado o que isto significava. Uma comenda de Avis, de lotação de 20$000 réis, foi concedida a Rodrigo Pinto Guedes, do Conselho de Guerra, vice-almirante da Armada Real, e a D. Miguel António de Noronha, gentil-homem da câmara, foi dada outra no valor de 25$000 réis. De valor inferior, 16$000 réis, eram as comendas de Cristo destinadas a um conselheiro do príncipe regente, um coronel de Milícias e um deputado da Junta de Comércio.

  • 23 Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BNRJ), Mss. Documentos biográficos, C 944, 33.

37Se D. João liberalizou as comendas foi sem dúvida à custa do valor das tenças. Apesar da baixa destas, havia quem solicitasse a continuação desta mercê num familiar. Manuel Jacinto Nogueira da Gama, bacharel em Matemática e Filosofia, já possuía uma comenda da Ordem de São Bento de Avis e gozava do foro de fidalgo, além do título do Conselho, quando pediu para o filho primogénito, Brás Carneiro Nogueira da Costa e Gama, a sobrevivência da comenda que recebera23.

  • 24 ANRJ, Cod. 15, Graças honoríficas, vol.2, fls. 3-3v.

38Os servidores do Paço e os altos funcionários e magistrados não precisavam de prestar serviços especiais à Coroa para receberem estas mercês. Comendas de Cristo, de 20$000 réis, foram distribuídas a José de Oliveira Pinto Botelho Mosquera, que acumulava as funções de conselheiro, desembargador do Paço e procurador da Coroa e Fazenda, e a Luís José de Carvalho e Melo, também conselheiro e desembargador do Paço24.

  • 25 BNRJ, Mss. Documentos biográficos, 1066, 11.
  • 26 Gazeta de Lisboa, n.º 48, 1811.

39Entre os que solicitaram em 1810 comendas de Cristo encontrava-se o intendente geral da Polícia, Paulo Fernandes Viana. Pretendia uma, qualquer que fosse, e com declaração de «mais uma vida» a favor do filho primogénito, Paulo Fernandes Carneiro Viana25. O despacho foi publicado a 12 de outubro de 1810 e divulgado até mesmo na metrópole pela Gazeta de Lisboa, que se referia também à concessão da «estância de São Simão, no Rio Grande de São Pedro, em propriedade e por princípio de remuneração de seus serviços»26.

  • 27 ANRJ, Cod. 15, Graças honoríficas, vol.2, fls. 2v-3.

40Os aniversários do príncipe regente (13 de Maio) ou do príncipe da Beira (12 de Outubro), bem como os eventos festivos como o casamento da infanta D. Maria Teresa com o infante D. Pedro Carlos, constituíam ocasiões propícias para os despachos de concessão de mercês. Com o pretexto deste casamento real, por exemplo, foram 19 os agraciados com o hábito de Cristo, na sua maioria servidores do Paço, empregados públicos e oficiais das Milícias, mas sendo também incluídos na lista o lente de Física da Academia Militar da Corte e o professor de Gramática Latina do Rio de Janeiro, além do vigário colado de Rio Grande, no sul27.

41Os hábitos eram distribuídos pela maior parte das capitanias, embora a Corte, com tantos servidores do Paço, empregados públicos e militares, fosse de longe a mais aquinhoada, como se pode ver pelas concessões de um único ano.

Distribuição dos hábitos das três ordens militares – 1810

Capitania

Cristo

Avis

Santiago

Pará

3

2

Maranhão

4

1

Pernambuco

5

2

Alagoas

1

Baía

3

Goiás

3

1

Minas Gerais

6

Rio de Janeiro

3

1

Corte

44

Rio Grande de São Pedro

1

Fonte: ANRJ, Cod. 15, Graças honoríficas, vol.2

  • 28 ANRJ, Ordem de Cristo, Caixa 787, pacote 3.

42Cabe notar que surgem no período joanino razões bem concretas para a distribuição de mercês, não se falando apenas vagamente no Real Serviço. Luís Moutinho Lima Alves e Silva fizera um «dom gratuito», em 1817, «a bem da conservação das águas do aqueduto da Carioca e em utilidade pública», de três braças da chácara que possuía no Cosme Velho, de um lado e outro do aqueduto, e também do terreno que lhe ficava acima. O hábito tinha de tença 12$000 réis28.

Conselheiros do monarca

43Uma das honras que o soberano concedia a um grupo seleccionado de indivíduos era a de pertencer ao seu Conselho. Tratava-se de uma graça honorífica que recaía sobre representantes da chamada «nobreza civil» nas mais variadas áreas geográficas do império. Estes conselheiros não precisavam de estar na Corte, junto do monarca, para receber um título honorífico que implicava apenas o aconselhamento em determinadas questões e tais pareceres tanto podiam ser dados oralmente como por escrito.

44Durante a permanência da Corte no Rio de Janeiro, D. João concedeu 144 títulos do seu Conselho, que honraram altas patentes militares, dignatários da Igreja, representantes diplomáticos, desembargadores do Paço, conselheiros da Fazenda e da Guerra, titulares e mesmo alguns negociantes. Alguns agraciados encontravam-se em território brasileiro, outros espalhavam-se pelas cortes europeias, pelo Reino de Portugal e por pontos distantes do império, como Macau ou o Estado da Índia. Entre os conselheiros incluíam-se vários governadores.

45Ao contrário das demais mercês (hábitos e comendas, foros de fidalgo, ofícios, etc.), o título do Conselho resultava de uma iniciativa do monarca e não de uma petição do vassalo. O que suscita a seguinte questão: a escolha de apenas alguns governadores para esse título decorria das qualidades individuais daqueles que ocupavam tais cargos no império ou, pelo contrário, da relevância estratégica das regiões que governavam? No caso dos governadores em território brasileiro, a escolha de Carlos Frederico Lecor, barão de Laguna, em 1819, parece óbvia devido à anexação recente de Montevidéu. Mas por quê os governadores do Maranhão, Mato Grosso e Goiás, e não os de Pernambuco ou São Paulo? Não há como responder a tais perguntas no estado actual da pesquisa sobre esta instituição do Antigo Regime.

46Do mesmo modo só alguns titulares foram escolhidos para o Conselho: os condes de Amarante, dos Arcos, de Barbacena, do Barreiro, de Cavaleiros, da Cunha, de Ficalho, da Figueira, de Parati, de Peniche, de Redondo, de Linhares (não D. Rodrigo mas D. Vitório de Sousa Coutinho), e o duque de Cadaval. Quanto aos altos dignatários da Igreja do Brasil deparamos com o bispo de Pernambuco, o célebre cónego da Sé de Olinda e comissário do Santo Ofício, Joaquim Marques de Araújo, e vários monsenhores da Real Capela, entre eles o bem conhecido José de Sousa de Azevedo Pizarro e Araújo, autor das Memórias históricas do Rio de Janeiro. Quando José Bonifácio de Andrada e Silva em 1820 se tornou conselheiro exercia dois cargos no Reino: desembargador da Relação do Porto com exercício na Cadeira de Metalurgia da Universidade de Coimbra, e intendente geral das Minas e Metais do Reino de Portugal.

47Dois grupos estão muito bem representados no Conselho do rei: os desembargadores do Paço e os conselheiros da Fazenda. Embora em número mais reduzido, os conselheiros da Guerra também era chamados para este Conselho, tendo em geral a patente de tenentes generais do Exército. Deputados da Real Junta do Comércio foram escolhidos: em 1812 Elias António Lopes (grande negociante que cedera a sua Quinta da Boavista para D. João), e João Rodrigues Pereira de Almeida em 1821. Dois negociantes «de grosso trato» tiveram a honra deste título: os irmãos Amaro e Manuel Velho da Silva.

Os homens de negócio e as mercês régias

48Em 1823, ao comentar a «revolução do Brasil», ou seja, o movimento constitucional primeiro e o movimento separatista depois, Francisco de Sierra e Mariscal condenava a «grande dissipação do Tesouro» durante a permanência da Corte no Brasil, causada pelo excesso de distinções concedidas por D. João «a homens que antes eram meros negociantes».

49Vejamos se esta «impressão» do estrangeiro é confirmada pelo exame das graças honoríficas concedidas no período joanino. Pelo menos num ponto este analista político estava equivocado: há muito tempo já que os negociantes recebiam a mercê dos hábitos das ordens militares em consequência das ajudas financeiras prestadas à Coroa, ou simplesmente por suas transacções comerciais que geravam rendas para o Erário Régio.

  • 29 BNRJ, Mss. Documentos biográficos, C 331, 10.

50Em suas petições os homens de negócio ressaltavam naturalmente suas contribuições financeiras. Joaquim José Pereira de Faro, matriculado com provimento da Real Junta do Comércio de Lisboa, já tinha enviado para Portugal a sua folha de serviços até 1804 a fim de obter um hábito de Cristo ou de Avis. Fizera grandes despesas com o 1.º Regimento de Infantaria de Milícias do Rio de Janeiro, fardando os soldados à sua custa e consertando o armamento. Fora inspector da Mesa de Inspecção do Rio de Janeiro e servira por alguns meses de tesoureiro do contrato do tabaco. Como entretanto a Corte deixara Lisboa, a remuneração destes serviços não fora feita e assim ele pedia agora na nova Corte a mercê do hábito de Cristo para seu filho, do mesmo nome, que também era negociante daquela praça e servia naquele regimento miliciano. Sua petição, contudo, só foi deferida a 3 de Maio de 181929.

  • 30 BNRJ, Mss. Documentos biográficos, C 76, 4.
  • 31 BNRJ, Mss. Documentos biográficos, C 496, 14.

51Quando a Corte chegou ao Rio de Janeiro em 1808, Custódio Moreira Lírio solicitou o hábito, alegando ter servido de juiz almotacel em 1800 e de vereador em 1806, além de ter feito vários empréstimos à Coroa. Anexou à sua petição uma atestação assinada por 63 homens de negócio da praça do Rio de Janeiro, onde se descobrem as assinaturas de alguns dos mais importantes, como Fernando Carneiro Leão, António Gomes Barroso, Joaquim José Pereira de Faro e Amaro Velho da Silva. A 31 de Maio de 1809 o príncipe regente D. João dispensou-o das habituais habilitações e certidões, sem embargo dos estatutos em contrário, devendo o negociante receber o hábito na catedral do Rio30. Outro que anexou uma longa lista de donativos à Coroa foi João Rodrigues Pereira de Almeida: na qualidade de capitão do Regimento da Candelária, vestira e armara a sua Companhia; adquirira 10 acções do Banco do Brasil; concedera um empréstimo para a Fábrica da Pólvora; oferecera apetrechos militares e peças de artilharia para a Armada Real; fizera despesas com os índios da serra da Mantiqueira31.

52Ao contrário do que escreveu Mariscal, não foram as mercês aos homens de negócio que levaram à «dissipação do Tesouro». Com um Erário bem desfalcado, D. João recompensou com mercês mais honoríficas do que financeiramente vantajosas aqueles negociantes que lhe tinham valido em seus apertos de dinheiro. Em 1810, tendo a casa de comércio Carneiro, Viúva e Filhos emprestado 100.000 cruzados para a instalação da fábrica de fundição de peças de artilharia e de canos de espingarda, foi concedida ao principal representante daquela casa uma comenda numa das ordens militares, e ao outro sócio, Geraldo Carneiro Beléns, «o foro de fidalgo na forma que seu avô e cunhado o têm».

  • 32 Santos (1943), vol. 2, p. 475.

53No período joanino os hábitos não constituíam mais recompensa suficiente para quem ajudava a Coroa a sair do sufoco financeiro e as comendas tornaram-se as mercês mais desejadas pelos principais homens de negócio. Quando assinaram uma subscrição por ocasião da elevação do Brasil a Reino em Dezembro de 1815, estes eram já comendadores: Fernando Carneiro Leão, João Rodrigues Pereira de Almeida, Amaro Velho da Silva, Luís de Sousa Dias, Joaquim José de Siqueira, José Luís da Mota32.

  • 33 Marrocos (1939), carta 38, de 7 de Janeiro de 1813, p. 122.

54A língua ferina de Luís dos Santos Marrocos, empregado da Biblioteca Real, trouxe à baila na sua correspondência com o pai em Lisboa o custo deste tipo de vaidade social: «Certo negociante da minha amizade, já cavaleiro, anda querendo ser grão-cruz da Ordem de Cristo e apronta 80:000$000 réis»33. Esta seria na verdade uma pretensão desmedida por parte de um homem de negócio, uma vez que as grã-cruzes eram mais difíceis de alcançar do que as comendas, mas por outro lado a quantia implicada era também altíssima.

55Na Corte do Rio de Janeiro, António Gomes Barroso foi um dos negociantes que mais se preocupou em alcançar mercês honoríficas. Já era coronel de Milícias e comendador da Ordem de Cristo quando pretendeu o foro de fidalgo cavaleiro, com a justificativa de ter adquirido 20 acções do Banco do Brasil, o que era uma forma indirecta de ajuda à Coroa, tendo esta já proporcionado a fidalguia a dois filhos da viúva Dias e a outros capitalistas. A petição de Barroso foi despachada favoravelmente a 6 de Fevereiro de 1818, elevando-se para 40 acções do Banco o preço para obtenção do foro de fidalgo.

56Isto não significa, contudo, que se tratasse de uma simples compra de fidalguia, uma vez que a petição original, datada de 1808, enumerava já os serviços do negociante à Coroa. Fora capitão do Regimento miliciano da freguesia de São José da cidade do Rio de Janeiro, servira os cargos da república várias vezes, fora deputado da Mesa de Inspecção. Com sua actividade mercantil pagara, desde 1802, elevados direitos à Alfândega: 227 contos de réis. Fizera um empréstimo à Coroa de 2:200$000 réis. Ao Real Erário pagara de direitos, desde o fim de Abril de 1802 até o fim de Março de 1808, 80:073$976 réis, e entrara gratuitamente com 400$000 réis. Aprontara dois navios para irem no comboio que se destinava aos portos de Inglaterra. Por tudo isto pedia a mercê de foro fidalgo com que o soberano costumava «enobrecer aos seus vassalos, quando os julga dignos dessas honras pelos seus serviços».

  • 34 BNRJ, Mss. Documentos biográficos, C 527, 19.

57Deste modo, entre o pedido original e a concessão da fidalguia, dez anos se tinham passado, e na verdade foi a compra de acções do Banco do Brasil que impulsionou a concessão da mercê. Depois negociou com a Coroa um novo título honorífico: a alcaidaria-mor da vila de Taguaí, «de jure e herdade»34. Para tal desenvolveu um longo arrazoado, como se pode ver a seguir.

58Ao arrematar na praça da Real Junta da Fazenda o engenho de Taguaí, situado na aldeia de São Francisco Xavier de Taguaí, impusera como condição a remoção da aldeia dos índios das terras do engenho, mas isto fora recusado e a aldeia fora transformada em vila pelo alvará com força de lei de 5 de julho de 1818. Tal recusa prejudicara muito o negociante e esse prejuízo foi usado como moeda de troca para a obtenção de uma nova mercê honorífica em 1819.

59Escrevia ele que o acesso à sua propriedade ficara dificultado pela diminuição de meia légua em quadra do local cedido à nova vila, a qual «sendo tirada da melhor parte do terreno», lhe ocupara os pastos sem os quais não podia ter os cavalos e os bois necessários ao engenho, «e por consequência se inabilita de promover maiores plantações de canas de que lhe resultaria considerável rendimento». A mercê da alcaidaria-mor daquela vila compensaria com o seu prestígio social as perdas financeiras de seu engenho.

  • 35 Decreto de 22 de Abril de 1816, in Colecção das leis do Brasil, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, (...)

60Aliás este tipo de mercê foi concedido a vários negociantes no período joanino. José Gonçalves da Silva, negociante do Maranhão, já era fidalgo da Casa Real quando, pelos donativos à Real Fazenda, recebeu a alcaidaria-mor de uma vila que seria obrigado a criar nas suas terras na Capitania do Maranhão, «aforando terrenos a habitantes brancos no número ao menos de 30 casas e fazendo à sua custa casas da Câmara, cadeia e mais despesas de erecção da mesma vila»35. Com esta concessão de uma honra muito apreciada, a Coroa poupava a despesa da criação de uma vila. O soante título de alcaide-mor constituía uma digna recompensa para vassalos desejosos de símbolos de prestígio social.

  • 36 Gazeta de Lisboa, n.º 53, 1811.

61Na Corte, o rico negociante Elias António Lopes foi recompensado por decreto de 29 de Agosto de 1810, certamente por ter cedido sua Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, para residência régia. Já comendador da Ordem de Cristo e deputado da Real Junta do Comércio, recebeu a mercê «em sua vida» da alcaidaria-mor e senhorio da vila de São José d’el-rei, na comarca do Rio de Janeiro, «com as mesmas honras que são devidas na forma da lei às pessoas que têm mercê de se chamarem senhores de algumas terras». E na mesma data Fernando Dias Pais Leme recebeu «o senhorio» da vila de Resende36.

62Dada a diversidade de seus investimentos (companhias de seguros, comércio de escravos, Banco do Brasil, contratos da Coroa, importação e exportação, investimentos imobiliários numa cidade em expansão) os negociantes da Corte joanina aspiravam também a certos cargos relacionados com sua actividade. Com a criação da Real Junta do Comércio no Rio de Janeiro, foram nomeados em 1809 para deputados desta instituição reguladora das relações mercantis alguns dos mais acreditados negociantes, como Elias António Lopes, João Rodrigues Pereira de Almeida, José Caetano Gomes e António da Silva Lisboa, ao lado de letrados como José da Silva Lisboa e Mariano José Pereira da Fonseca. Também estiveram ligados a esta instituição os irmãos Manuel e Amaro Velho da Silva.

  • 37 BNRJ, Mss. Documentos biográficos, C 233, 5.

63Os cargos de deputado da Real Junta do Comércio eram muito cobiçados e Agostinho da Silva Hofman pleiteou um desses lugares, alegando ter sempre exercido a carreira mercantil e possuir conhecimentos sobre o comércio nacional e estrangeiro. Para dar mais força à sua petição escreveu: «sofreu graves prejuízos na invasão dos franceses em Portugal», tendo a sua casa comercial perdido mais de 200.000 cruzados. Vira-se por isso obrigado a residir no Rio de Janeiro com uma numerosa família de mulher e 7 filhos. Como não conseguiu aquela vaga, mais tarde pretendeu o lugar de procurador-geral da Junta «com as honras e o ordenado de deputado», no que também não foi atendido37.

64Também o cargo de director do Banco do Brasil interessava à elite mercantil do Rio de Janeiro, tendo sido ocupado por João Rodrigues Pereira de Almeida, José Marcelino Gonçalves, Manuel Caetano Pinto e Amaro Velho da Silva. Alguns dos principais negociantes foram deputados no Banco, como António Gomes Barroso, Fernando Carneiro Leão, Luís de Sousa Dias, António da Silva Lisboa, e outros.

Os militares

65Enquanto durante o período colonial as tropas auxiliares, depois chamadas Milícias, desempenharam um papel fundamental na defesa do Brasil, com a presença da Corte no Rio de Janeiro a tropa paga, ou seja, a Tropa de Linha, adquiriu maior visibilidade na colónia e assumiu um papel político preponderante, primeiro na eclosão do movimento constitucional, e depois quando surgiram as primeiras formas de separatismo.

66A organização militar profissional, pelo menos a que estava sediada no Rio de Janeiro, foi criticada em pareceres de especialistas por manter uma excessiva oficialidade. Tal excesso foi apontado, em 1816, pelo tenente general Vicente António de Oliveira, autor de umas «Reflexões sobre a instituição da Força Armada da Capitania do Rio de Janeiro», manuscrito que se encontra na Biblioteca Nacional do Rio. Escrevia ele que os oficiais de todas as graduações eram em número suficiente para um exército de 100.000 homens, quando os soldados não passavam de 10.000.

67Tal desproporção resultava, por um lado, de uma carreira militar que servia também para remunerar serviços, e por outro do grande temor em relação à vida de soldado. Para aumentar o recrutamento, sempre feito à força na colónia por se tratar de uma vida dura, longa e mal paga, o tenente general propunha a criação de uma classe de «soldados distintos» que incluísse todos os que, não podendo aspirar à condição de cadetes, ou soldados nobres, pertenciam contudo a grupos sociais que não eram de modo algum plebeus.

  • 38 Carneiro (1826), Liv. I, tit. IV, # 52.

68Para essa categoria de soldados distintos entrariam os filhos de oficiais de patente até capitão inclusive; os filhos de cavaleiros de uma das três ordens militares e igualmente da mais recente Ordem da Torre e Espada; os filhos de negociantes matriculados; e também os filhos dos que, «vivendo de suas rendas», se tratavam à lei da nobreza. Esta nova categoria viria assim complementar a inovação do reinado de D. José, quando em 1757 se regulamentaram o estatuto e os privilégios dos cadetes. Os que aspiravam a esta categoria em qualquer uma das três armas do Exército tinham de primeiro fazer a justificação de nobreza por pais e pelos quatro avós. Sendo moços fidalgos, ou de foro maior, ou filhos de sargentos-mores ou mestres de campo (depois equivalentes a tenentes generais) não precisavam de realizar esta prova perante os auditores do Exército. Além da justificação de nobreza, o cadete, «para manter seu tratamento nobre», deveria possuir um rendimento anual de 144$000 réis, pois deste modo não ficaria dependente apenas de seu soldo38.

69A ideia proposta pelo tenente general Vicente António de Oliveira foi parcialmente seguida em 1820, quando D. João VI determinou que os filhos de oficiais de patente da Tropa de Linha do Exército do Brasil, ou de pessoas condecoradas com o hábito das ordens militares, fossem admitidos como segundos cadetes; e que os filhos de pessoas com «alguma consideração civil, ou pelos seus empregos, ou pelos seus cabedais», se alistassem na tropa paga como «soldados particulares». Esta última categoria estendia-se às Milícias para os descendentes de pessoas que, pelos seus bens, ou «por outros respeitos», merecessem tal consideração. Este decreto de 24 de Fevereiro de 1820, dada a sua relevância para a hierarquia social transposta para a hierarquia militar, foi transcrito pelo Correio Brasiliense, periódico publicado em Londres por Hipólito da Costa. Só respeitando a condição social de seus integrantes é que o exército deixaria de ser desproporcionado, «à imitação de um monstro que, tendo cabeça de gigante, o tronco e as pernas fossem de anão», como pitorescamente escrevia o tenente general Vicente António de Oliveira.

70Com o movimento constitucional passaram a ser malvistas estas diferenças sociais entre os soldados. Em Lisboa, na Impressão Liberal, foi publicada em 1822 uma significativa Memória sobre a utilidade da extinção dos cadetes, cuja existência parece repugnante ao sistema constitucional e nociva ao serviço da pátria, da autoria de João Pereira da Costa, que se apresentava como porta-voz dos oficiais inferiores do Exército. Fazia ali apelo a D. João VI para que suspendesse as «habilitações de cadete», ou seja, as provas de nobreza apresentadas para se poder auferir desse estatuto, pois tal fenómeno era intolerável numa época constitucional.

  • 39 Loureiro (1973), pp. 82-83.

71Em conclusão, já antes de instaurado o liberalismo político D. João aparecia como um mãos largas em relação à concessão de mercês. Em Agosto de 1816 João Bernardo da Rocha Loureiro, redactor de O Português ou Mercúrio político, comercial e literário, publicado em Londres, dirigia um memorial a D. João VI em que, antecipando-se a outros representantes do pensamento liberal, criticava o excesso de mercês concedidas sobretudo na Brasil, escrevendo: «Senhor, não é necessário que o príncipe entorne títulos, comendas, graças e mercês a esmo e às mãos cheias». Embora a concessão de mercês fosse prática habitual dos reis, o número excessivo delas desqualificava a honra recebida: «Dessa maneira faltam prémios para os beneméritos e cobrem-se de favores os indignos: um reposteiro, um guarda-roupa mui raramente pode merecer uma comenda e nunca um título». Loureiro assestava aqui suas baterias a Francisco José Rufino de Sousa Lobato, servidor do Paço, que como vimos recebeu em 1809 o título de barão de Vila Nova da Rainha. Mencionava ainda «a chusma de títulos», novos ou renovados, «os centos de comendas e de insígnias» conferidos, e lembrava que a prodigalidade de mercês destruía «o tesouro da honra»39.

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Bibliografia

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Carneiro, Manuel Borges (1826), Direito civil de Portugal, Lisboa, Impressão Régia.

Colecção das leis do Brasil, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1891.

Diniz-Silva, Andrée Mansuy (2006), Portrait d’un homme d’État. D. Rodrigo de Sousa Coutinho, comte de Linhares, 1755-1812, Paris, Centro Cultural/Fundação Calouste Gulbenkian.

Filho, Enéas Martins (1968), O Conselho de Estado português e a transmigração da família real em 1807, Rio de Janeiro, Arquivo Nacional.

Loureiro, João Bernardo da Rocha (1973), Loureiro, Memorais a D. João VI, Paris, Centro Cultural/

/Fundação Calouste Gulbenkian.

Marrocos, Luís dos Santos (1939), Cartas, Rio de Janeiro, Biblioteca Nacional.

Pereira, Ângelo (1946), Os filhos d’el-rei D. João VI, Lisboa, Empresa Nacional de Publicidade.

Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vol. 268, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1966.

Santos, Luís Gonçalves dos (1943), Memórias para servir à História do Reino do Brasil, 2 vols., Rio de Janeiro, Editora Zélio.

Silva, Maria Beatriz Nizza da (1975), Silvestre Pinheiro Ferreira: ideologia e teoria, Lisboa, Sá da Costa.

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Notas

1 Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 47, 1884, pp. 1-17.

2 Santos (1943), vol.1, p. 197.

3 Filho (1968), pp. 70-71.

4 Correio Brasiliense, III, 1809, pp. 157-158. O opúsculo em questão intitulava-se «Desengano proveitoso, que um amigo da pátria se propõe dar a seus concidadãos».

5 Diniz-Silva (2006), p. 578.

6 Santos (1943), vol.1, pp. 229-231.

7 Santos (1943), vol.1, p. 221.

8 Santos (1943), vol.1, p. 239.

9 Diniz-Silva (2006), pp. 583-584.

10 Pereira (1946), pp. 139-141.

11 Diniz-Silva (2006), p.625.

12 Almanaque do Rio de Janeiro para o ano de 1816, separata da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vol. 268, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1966.

13 Pereira (1946), p. 143 e 147.

14 Diniz-Silva (2206), p.599.

15 Silva (1975), p. 32.

16 Arquivo Nacional do Rio de Janeiro (ANRJ), Co. 15, Graças honoríficas, vol. 2.

17 ANRJ, Cod. 564, provisões de 10 de Janeiro de 1820.

18 Diniz-Silva (2006), p. 587.

19 ANRJ, Cod. 15, Graças honoríficas, vol.2, fls. 3-3v, 16 e 18v.

20 Ibid., fls. 15v-16.

21 Correio Brasiliense, IV, 1810, p.553.

22 ANRJ, Cod. 15, Graças honoríficas, vol.2, fl. 1.

23 Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BNRJ), Mss. Documentos biográficos, C 944, 33.

24 ANRJ, Cod. 15, Graças honoríficas, vol.2, fls. 3-3v.

25 BNRJ, Mss. Documentos biográficos, 1066, 11.

26 Gazeta de Lisboa, n.º 48, 1811.

27 ANRJ, Cod. 15, Graças honoríficas, vol.2, fls. 2v-3.

28 ANRJ, Ordem de Cristo, Caixa 787, pacote 3.

29 BNRJ, Mss. Documentos biográficos, C 331, 10.

30 BNRJ, Mss. Documentos biográficos, C 76, 4.

31 BNRJ, Mss. Documentos biográficos, C 496, 14.

32 Santos (1943), vol. 2, p. 475.

33 Marrocos (1939), carta 38, de 7 de Janeiro de 1813, p. 122.

34 BNRJ, Mss. Documentos biográficos, C 527, 19.

35 Decreto de 22 de Abril de 1816, in Colecção das leis do Brasil, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1891.

36 Gazeta de Lisboa, n.º 53, 1811.

37 BNRJ, Mss. Documentos biográficos, C 233, 5.

38 Carneiro (1826), Liv. I, tit. IV, # 52.

39 Loureiro (1973), pp. 82-83.

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Para citar este artigo

Referência do documento impresso

Maria Beatriz Nizza da Silva, «A Corte no Brasil e a distribuição de mercês honoríficas»Ler História, 54 | 2008, 51-73.

Referência eletrónica

Maria Beatriz Nizza da Silva, «A Corte no Brasil e a distribuição de mercês honoríficas»Ler História [Online], 54 | 2008, posto online no dia 03 fevereiro 2017, consultado no dia 12 janeiro 2025. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/lerhistoria/2368; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/lerhistoria.2368

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Autor

Maria Beatriz Nizza da Silva

Universidade de S. Paulo (Brasil)

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