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Críticas e debates

Comentário à recensão a: Nuno Gonçalo Monteiro, D. José, Lisboa, Círculo de Leitores, 2006

Nuno Gonçalo Monteiro
p. 284-285

Texto integral

1Gostaria, em primeiro lugar de destacar que considero a recessão de José Pedro Paiva um óptimo contributo crítico. Em primeiro lugar, pela frontalidade intelectual e pelo laborioso empenho que revelou, mostrando ter lido os livros recenseados com toda a atenção, o que nem sempre acontece. Depois, porque sabe distinguir entre divergências de interpretação e lacunas parcelares, por um lado, e a falta de qualidade académica, por outro.

2Dito isto, gostaria de rebater as duas principais críticas. A primeira é a de que o rei está quase ausente do livro. Não creio que seja assim. Se é certo que estas biografias de reis deviam, de acordo com o que nos foi solicitado, incluir a história dos reinados, não é menos verdade que me esforcei por avaliar a parte do rei em tudo aquilo que se passou. O próprio crítico acaba por reconhecer que forneço muitos elementos para esse fim. Por exemplo, reúno suficientes indicações sobre D. José e Teresa de Távora para que não fiquem dúvidas ao leitor de que houve um relacionamento entre os dois. Em relação à segunda crítica, penso que a opção de dividir o livro em duas partes, terminando a primeira com a guerra de 1762-63, embora discutível, se justifica, pois o ritmo alucinante dos acontecimen- tos políticos iniciado com o Terramoto parece atenuar-se depois daquela data.

3O espaço não chega para responder a todos os reparos. Mas não posso deixar escapar alguns. Não só sei bem que não fui o primeiro a apontar a im- portância do Brasil na génese do anti-jesuitismo pombalino, como indico muita gente que o referiu antes de mim. Tal como, embora não o explicite nessa página, são muitos os autores, incluindo Borges de Macedo ou Romero Magalhães, que reconhecem algum protagonismo a D. José. A simpatia inicial afirmada em muitas fontes dos jesuítas por Pombal, opositor de Gusmão, é um dado relevante, não só porque mesmo depois de ser nomeado secretário de Estado estava longe de ter o poder que veio a adquiri depois, como pelo facto de reforçar a ideia de que o anti-jesuitismo não era parte essencial das ideias de Carvalho antes dos acon- tecimentos no Brasil.

4E, com isto, vamos a um ponto essencial. Sugiro de forma clara, ao contrário do que o recenseador sugere, que Pombal tinha algumas ideias políticas, só que penso que se resumiam a fortes convicções mercantilistas (bem expressas nos seus escritos de Londres) e a concepções sobre o reforço do poder real bebidas em autores seiscentistas. Por isso, aquilo que acabou por fazer resultou em larga medida das circunstâncias e dos contextos (incluindo a forma concreta como geriu a Igreja ou fez a reforma da Universidade), não de um «projecto» acabado. Em parte, foi o facto de ser prisioneiro de modelos do passado o que explica os limites das mudanças que protagonizou. E, de entre estas, a emergência do «governo» parece-me ter sido, de facto, a mais decisiva. Não porque antes não existissem pontualmente «politicas», mas porque depois de Pombal passaram a ser as Secretarias de Estado e não já os conselhos, os lugares institucionais fundamentais da decisão política. Nesse ponto, poderei coincidir certamente com António Hespanha, que, no entanto, se identifica com Paiva na atribuição a Pom- bal de um «programa» sistemático, pré-definido e eivado de modernidade (cf. e-JPH, 5, 2, 2007).

5Por fim, reconheço que existem vários lapsos como justamente me aponta. Dito tudo isto, fico satisfeito pelo facto de o autor me reconhecer ideias centrais que estruturam o livro, embora delas divirja em boa medida.

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Para citar este artigo

Referência do documento impresso

Nuno Gonçalo Monteiro, «Comentário à recensão a: Nuno Gonçalo Monteiro, D. José, Lisboa, Círculo de Leitores, 2006»Ler História, 56 | 2009, 284-285.

Referência eletrónica

Nuno Gonçalo Monteiro, «Comentário à recensão a: Nuno Gonçalo Monteiro, D. José, Lisboa, Círculo de Leitores, 2006»Ler História [Online], 56 | 2009, posto online no dia 15 outubro 2016, consultado no dia 17 janeiro 2025. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/lerhistoria/2164; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/lerhistoria.2164

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Autor

Nuno Gonçalo Monteiro

ICS-UL

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CC-BY-NC-4.0

Apenas o texto pode ser utilizado sob licença CC BY-NC 4.0. Outros elementos (ilustrações, anexos importados) são "Todos os direitos reservados", à exceção de indicação em contrário.

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