Colecção «Reis de Portugal» em Debate
Texto integral
1A biografia tem sido um dos ramos com maior sucesso na historiografia europeia continental e de matriz anglo-saxónica, mas, curiosamente, não granjeou muitos adeptos em Portugal. Até recentemente. Hoje em dia, é impossível entrar numa livraria sem se ser solicitado por inúmeras biografias, escritas ou não por historiadores.
2A colecção «Reis de Portugal», editada pelo Círculo de Leitores em colaboração com o Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa (e agora reeditada pela Temas & Debates), participa deste interesse renascido pela biografia histórica. Ela surge, aliás, no mesmo período em que diversas colecções de biografias e fotobiografias acompanharam os diários de maior tiragem no país. Ou seja, de forma quase abrupta preencheu-se a ausência de oferta que existia no mercado editorial português no que respeita a biografias de reis e de outros protagonistas da história de Portugal, podendo o leitor contar, doravante, com mais do que uma versão biográfica sobre muitas destas figuras.
3Na secção «Críticas e Debates» deste volume da Ler História privilegia-se, de entre as várias propostas biográficas que o mercado disponibilizou nos últimos anos, a referida colecção «Reis de Portugal», na sua edição pelo Círculo de Leitores. Tendo passado já algum tempo sobre a publicação dos 34 volumes que a constituem, importa agora ter uma visão mais compreensiva sobre a mesma.
4Será que dela decorre uma história narrativa do reino de Portugal até à implantação da República? E em que medida é que a percepção dessa paisagem histórica se alterou após a leitura destas biografias? Qual o seu impacto ao nível da memória colectiva, mas também (e sobretudo?) da historiografia?
5Dada a dificuldade em escrever um só ensaio sobre toda a colecção, optou a Ler História por desafiar historiadores especialistas em determinados períodos históricos para trabalhar livremente – ou seja, colocando-lhes as suas próprias questões - conjuntos de biografias, pedindo simultaneamente a António Manuel Hespanha e a Magda Pinheiro dois comentários reflexivos sobre o género biográfico. Para além destes, as páginas que se seguem contam com um texto de Rosário Morujão sobre as biografias dos reis da dinastia de Borgonha, um de António Camões Gouveia sobre a dinastia de Avis, ficando o ensaio sobre os Áustrias a cargo de Federico Palomo. Já a dinastia dos Bragança foi dividida em dois grupos e entregue a José Pedro Paiva e a José Miguel Sardica. Cabe à organizadora a inteira responsabilidade por este dossier não contar com uma recensão à biografia de D. Maria I.
6A diversidade de ensaios que resultaram destes convites, quer em termos formais, quer do ponto de vista dos conteúdos e da abordagem interpretativa dos livros recenseados, não só permite ao leitor apreender o conjunto de livros recenseado – por aquilo que dele declina –, como aceder à paleta das diferentes culturas históricas e modos de fazer a história na academia portuguesa.
7Agradecemos aos historiadores envolvidos o terem aceite o presente desafio, e esperamos que ao leitor sejam úteis as reflexões e os itinerários de leitura aqui propostos.
Para citar este artigo
Referência do documento impresso
Ângela Barreto Xavier, «Colecção «Reis de Portugal» em Debate», Ler História, 56 | 2009, 217.
Referência eletrónica
Ângela Barreto Xavier, «Colecção «Reis de Portugal» em Debate», Ler História [Online], 56 | 2009, posto online no dia 15 outubro 2016, consultado no dia 22 janeiro 2025. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/lerhistoria/2037; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/lerhistoria.2037
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