Projecto português do gabinete de história oral regional (Biblioteca de Bancroft, Universidade de Berkeley – Califórnia)
Texto integral
1O Gabinete de História Oral Regional (ROHO – Regional Oral History Office) é um programa de investigação da Universidade de Berkeley (Califórnia) que funciona na Biblioteca de Bancroft. O ROHO produz, analisa e arquiva documentos de história oral e vídeos numa extensa variedade de áreas temáticas. O ROHO preserva a história da área da Baía de São Francisco (Califórnia) e Ocidente dos Estados Unidos. Através de entrevistas cuidadosamente preparadas, gravadas e transcritas, o ROHO produz um arquivo de história oral com vista a uma utilização o mais abrangente possível.
História Oral e o Projecto Português: a minha experiência
2Durante muitos anos, quando pesquisava sobre a história e os documentos escritos das comunidades portuguesas do Ocidente dos EUA, contactei membros destas comunidades e gravei diversas conversas tidas com eles. Começaram por ser conversas informais que me ajudaram a orientar a minha pesquisa. Por diversas vezes, nas minhas viagens, senti necessidade de chegar a estas entrevistas com algum conhecimento prévio sobre o indivíduo e mesmo da comunidade na qual ele se inseria. Na realidade, estas conversas foram o ponto de partida para a minha investigação e para os textos.
3Há cerca de oito anos o ROHO manifestou interesse em realizar entrevistas com membros da comunidade portuguesa da área da Baía de São Francisco. Convidaram-me para consultor do projecto e mais tarde, em 2002, para conduzir um conjunto de histórias orais. Foi nesta altura que aprendi a diferença que existe entre uma entrevista e uma história oral. No início, vinha para a sessão munido com o meu conhecimento prévio do indivíduo e, por vezes, uma investigação prévia sobre alguns aspectos do seu passado. Trabalhava a partir de um perfil que preparava para cada uma das entrevistas, mas rapidamente percebi a importância de um estudo mais completo do passado dos meus narradores, a partir de informações fornecidas tanto por eles, como obtidas através de outras fontes.
4No ano seguinte, fui convidado para dar um curso sobre a história da imigração portuguesa na Universidade de Massachusetts-Dartmouth. Quando regressei à Califórnia ofereceram-me o recém-criado cargo de director associado do ROHO, função que ocupei durante dois anos.
5Durante esse tempo, conduzi algumas interessantes histórias orais e tive ainda a oportunidade de ensinar as técnicas da história oral aos alunos interessados. Em 2004, o Coronel Vítor Alves visitou o nosso campus, no âmbito da celebração do trigésimo aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974. Perguntámos-lhe se nos daria uma entrevista antes da sua partida no dia seguinte. Nessa noite fiquei acordado durante muitas horas a actualizar os meus conhecimentos sobre a história desse acontecimento, mas achei mais produtivo procurar na internet informação sobre o Coronel Vítor Alves. Na manhã seguinte estava preparado para fazer algumas perguntas específicas sobre o seu papel no 25 de Abril. Mais tarde, expliquei aos meus estudantes que existem vários modos de nos prepararmos para uma entrevista de história oral: o importante é, em qualquer caso, estar bem preparado.
6A maioria dos indivíduos que entrevistei eram líderes importantes da comunidade, mas outros, como Stella Adoa Baptista, uma ex-operária de uma fábrica de conservas, são representativos de uma parte da comunidade trabalhadora. Devido a uma relativa falta de fundos, além de ter de repartir o tempo com o desenvolvimento de outras actividades de pesquisa, o projecto tem prosseguido com firmeza, mas de forma lenta. Em muitas entrevistas tenho sido assistido pela Drª Deolinda Adão, coordenadora do Programa Universitário de Estudos Portugueses. No futuro esperamos poder contar com alguns entrevistadores voluntários no âmbito deste projecto.
7Como muitos outros programas de investigação sedeados na Universidade de Berkeley (Califórnia), o ROHO auto-financia-se, ou seja, não recebe dinheiro do Estado. Em vez disso, conta com patrocínios e donativos para custear as suas actividades. Inicialmente os fundos para o Projecto Português vieram do Programa de Estudos Portugueses da U.C. Berkeley, bem como de um generoso donativo das publicações portuguesas Heritage da Califórnia. No futuro esperamos expandir o Programa e as contribuições para ajudar o projecto continuarão a ser sempre bem-vindas.
8As transcrições de grande parte das entrevistas do Projecto Português, assim como mais informação sobre o programa, estão disponíveis online no website do ROHO: http://bancroft.berkeley.edu/ROHO/.
Passado do ROHO
9Desde o seu início, em 1954, o ROHO realizou entrevistas no âmbito das principais áreas temáticas, incluindo políticas e governo, lei e jurisprudência, artes e letras, negócios e trabalho, história social e comunitária, história da Universidade da Califórnia, recursos naturais e ambiente, e ciência e tecnologia. Foram usadas entrevistas individuais como fontes em monografias, livros, artigos, documentários e dissertações.
10As entrevistas foram conduzidas com o objectivo de registar de cada participante um relato completo e exacto dos acontecimentos. As entrevistas são transcritas, ligeiramente editadas, procurando dar-lhes mais exactidão e clareza, e revistas pelos entrevistados, que são encorajados a aumentar ou corrigir os seus depoimentos. As transcrições revistas e corrigidas são indexadas, impressas e ilustradas com fotografias e outros materiais. As cópias para arquivo são colocadas na Biblioteca de Bancroft, com a referência à entidade patrocinadora, caso exista, e na Universidade da Califórnia, Los Angeles. São disponibilizadas cópias, pagas a custo de produção, a outras bibliotecas com área de manuscritos. A Biblioteca de Bancroft também aloja as cassetes originais para que os investigadores possam ter uma noção das vozes e entoações dos entrevistados.
11Os volumes do ROHO são depositados em mais de 700 bibliotecas com área de manuscritos e catalogados em duas bases de dados de bibliotecas Nacionais, KLIN (Research Libraries Information Network) e OCLC, bem como nos catálogos online da Universidade de Melvyl (Califórnia) e Gladis/Pathfinder.
12Na Biblioteca de Bancroft, a história oral começou com o trabalho do historiador do Oeste que deu nome à Biblioteca, Hubert Howe Bancroft. Este percebeu que o que faltava à sua vasta colecção de livros, jornais, mapas e manuscritos do Ocidente da América do Norte eram as memórias vivas de muitos dos participantes no desenvolvimento da Califórnia e do Oeste. Nos anos de 1860, lança um projecto ambicioso para entrevistar e criar autobiografias de um grupo diversificado de ocidentais pioneiros e os volumes «Dictations» daí resultantes continuam a fornecer fontes da maior importância para os historiadores.
Para citar este artigo
Referência do documento impresso
Donald Warrin, «Projecto português do gabinete de história oral regional (Biblioteca de Bancroft, Universidade de Berkeley – Califórnia)», Ler História, 56 | 2009, 211-213.
Referência eletrónica
Donald Warrin, «Projecto português do gabinete de história oral regional (Biblioteca de Bancroft, Universidade de Berkeley – Califórnia)», Ler História [Online], 56 | 2009, posto online no dia 15 outubro 2016, consultado no dia 22 janeiro 2025. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/lerhistoria/2027; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/lerhistoria.2027
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