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Organizações Internacionais na Era da Descolonização

A ‘Grande Causa’: missionárias do planeamento familiar no mundo em descolonização

The ‘Great Cause’: Family Planning Missionaries in the Decolonizing World
Nicole C. Bourbonnais
p. 43-64

Resumos

Este artigo rastreia as atividades de três trabalhadoras de campo internacionais que viajaram pelo mundo ao serviço do Fundo Pathfinder, com base nos EUA, nas décadas de 1950 e 1960, para distribuir contracetivos, promover a criação de clínicas de planeamento familiar e apoiar ativistas locais. Estas mulheres situavam o seu trabalho dentro de tradições mais longas de humanitarismo maternalista e do internacionalismo missionário cristão, enquanto se definiam como hábeis interlocutoras interculturais, cientes dos ventos de mudança instigados pelos movimentos de descolonização. Contudo, a sua insistência em métodos particulares, o recurso a estereótipos de forma relapsa e, por vezes, as suas abordagens agressivas, alimentaram tensões e sabotaram os seus intentos solidários. Desta forma, o artigo revela algumas das contradições centrais do humanitarismo do pós-guerra e os cruzamentos mais amplos entre os projetos missionários, maternalistas e de planeamento familiar. Este artigo faz parte do dossier temático sobre Organizações Internacionais na Era da Descolonização, organizado por José Pedro Monteiro.

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Texto integral

  • 1 Sobre estes tópicos, ver Gordon (2007), Soloway (1982), Grossman (1995), McLaren e McLaren (1997), (...)

1A dimensão das famílias – e da população como um todo – é há muito objeto de preocupação política e social, de investigação e de intervenção. Durante grande parte do século XIX e até ao início do século XX, os estados procuraram, sobretudo, aumentar a sua população, de forma a fazer frente às elevadas taxas de mortalidade neonatal e infantil e assegurar os corpos necessários à expansão económica, política e imperial (Ittman 2013; Barros 2014; Campbell 2007). An Essay on the Principle of Population, da autoria do reverendo inglês Thomas Malthus, publicado em 1798, questionou esta lógica, argumentando que o crescimento populacional irrestrito esgotaria os recursos disponíveis e alimentaria a pobreza, a fome e o conflito. Ainda que as ideias de Malthus não se tenham tornado imediatamente populares, seriam recuperadas com renovado vigor por um movimento transnacional de neomalthusianos nos finais de Oitocentos, com a criação de associações e pequenas clínicas que promoviam o uso de métodos contracetivos explicitamente artificiais. A este movimento juntou-se um grupo eclético de feministas, reformadores morais e promotores de saúde maternal que compreendiam o modo como as práticas de controlo da natalidade poderiam alargar os direitos das mulheres e fomentar o seu bem-estar. As taxas de fertilidade eram também motivo de preocupação para os eugenistas de finais de Oitocentos e inícios de Novecentos. Inspirados pela teoria da evolução de Darwin, estes defendiam intervenções para aumentar a fertilidade dos que tinham por “aptos” e diminuir a daqueles que catalogavam como “inaptos”. Estas ideias estiveram na base do aumento do recurso a programas de esterilização compulsória em mais de uma dezena de países do mundo na década de 1930, com o foco dirigido para os pobres, as pessoas racializadas e portadoras de deficiência e outras minorias.1

  • 2 Ver também Sharpless (1997), Parry (2013) e Merchant (2021).

2Os meios extremos mobilizados pelo regime nazi (incluindo as práticas de esterilização e eutanásia em massa no sistema de campos) levaram a um afastamento da eugenia – e do movimento mais amplo de controlo da natalidade – nos anos imediatamente posteriores à Segunda Guerra Mundial. Mas o rápido aumento das taxas de crescimento populacional no Sul Global nas décadas de 1950 e 60, principalmente em resultado da redução da mortalidade, juntamente com uma preocupação mais geral sobre a mudança geopolítica provocada pela descolonização, deram um novo impulso à causa, agora rebatizada como “planeamento familiar” ou movimento “populacional”. Publicações como The Population Bomb, de Paul Erlich, advertiam que o crescimento irrestrito da população iria destabilizar países vulneráveis em processo de descolonização, sabotar os esforços de promoção do desenvolvimento, empurrando-os assim para os braços do comunismo. As Nações Unidas, grandes organizações filantrópicas como as Fundações Rockefeller e Ford, e agências de ajuda externa começaram a canalizar dinheiro para estudos de investigação demográfica e programas estatais de planeamento familiar. Em 1962, foram alocados 4,2 milhões de dólares de apoio internacional para políticas demográficas no Sul Global. Em 1968, este valor tinha subido para 77,6 milhões de dólares (Connelly 2008, 233).2

3Como vários académicos demonstraram, o “establishment da população” internacional que emergiu para orientar estes esforços nas décadas de 1950 e 1960 era um espaço profundamente elitista e masculino. As principais fundações e agências de ajuda externa eram dominadas ao mais alto nível por demógrafos e decisores políticos norte-americanos e europeus, quase exclusivamente homens, que olhavam para as suas “populações-alvo” no Sul Global “não como indivíduos, mas como uma população que podia ser moldada através da força combinada da fé e da ciência” (Connelly 2008, xii). Contudo, o movimento internacional que se organizou em torno da questão da população atraiu um leque mais vasto de atores, que não se cingiu apenas àqueles. A Federação Internacional de Planeamento Familiar (IPPF, na sigla inglesa), por exemplo, dependia em grande medida de líderes femininas, de trabalhadoras no terreno e de pessoal administrativo para estabelecer ligações entre associações de planeamento familiar em todo o mundo e dinamizar a causa. Estas mulheres trouxeram as suas próprias perspetivas ao movimento, misturando discursos neomalthusianos com uma tradição mais longa de ativismo humanitário maternalista, infundida com narrativas emotivas sobre o sofrimento, os cuidados e a fé na humanidade global (Bourbonnais 2022; Rusterholz 2020).

4O Fundo Pathfinder, criado pelo médico americano Clarence J. Gamble (herdeiro da fortuna da empresa de sabonetes Proctor & Gamble), também recrutou principalmente trabalhadoras no terreno para fomentar o ativismo em torno do planeamento familiar a nível internacional. Como Raul Necochea López (2014b) observa no seu estudo sobre as atividades do Pathfinder no Peru, estas mulheres estabeleciam redes com organizações protestantes para desenvolver trabalho de campo em formato de “intervenção rápida”, fazendo visitas curtas a um país destinadas a despertar o interesse pelo planeamento familiar, organizando os seus apoiantes em associações de planeamento familiar e incentivando a criação de clínicas piloto. O presente artigo centra-se em três dessas trabalhadoras no terreno – Edith Gates, Margaret Roots e Edna Rankin McKinnon – que desenvolveram grande parte do trabalho do Fundo Pathfinder nas décadas de 1950 e 1960.

  • 3 Estas fontes encontram-se sobretudo nos seguintes arquivos: Clarence Gamble Papers, MSC23, Francis (...)

5Neste artigo, utiliza-se a correspondência, relatórios e memórias destas mulheres para tentar seguir o seu trajeto além de um contexto particular e específico, da Ásia à África e à América Latina.3 Na primeira secção, procura-se demonstrar como as suas trajetórias pessoais, com um foco principal na família e marcadas pelo fervor religioso, as diferenciaram de ativistas mais proeminentes nos escalões superiores do movimento em torno da questão populacional. Estas encaixam-se mais claramente nas tradições do humanitarismo maternalista e missionário cristão, entendendo os seus esforços menos como uma aplicação de conhecimento científico para fins geopolíticos e mais como uma vocação espiritual interdenominacional. Estas mulheres também foram mediadoras interculturais especializadas, cientes das mudanças desencadeadas pelos movimentos de descolonização e capazes de trabalhar em conjunto com ativistas locais. Todavia, como se demonstra na segunda secção, a sua insistência em métodos específicos e o recurso a estereótipos em momentos de ansiedade de forma relapsa, tal como a sua abordagem por vezes agressiva, acabaram por alimentar tensões e minar os seus esforços para estabelecer uma sólida fundação para o movimento de planeamento familiar, tanto local como global. Como se sustenta na conclusão, o seu trabalho ilustra, assim, algumas das contradições do humanitarismo característico do pós-Segunda Guerra Mundial, carregado como era pelo legado das ideologias coloniais e pela mentalidade missionária, bem como pela persistente desigualdade nacional, racial, de classe e de género que condicionou os esforços para formar e manter laços internacionais.

1. A “Grande Causa”: busca de caminhos para o Fundo Pathfinder

6Em meados da década de 1950, o Fundo Pathfinder era uma organização muito pequena, criada por Clarence J. Gamble como uma extensão da sua filosofia e abordagem pessoal ao ativismo em torno do planeamento familiar. Gamble tinha-se interessado pela primeira vez pelo controlo da natalidade na década de 1920, enquanto médico nos Estados Unidos, e começou a promover ativamente o aconselhamento contracetivo dentro de uma rede de clínicas de saúde materna. O seu trabalho foi profundamente influenciado por teorias eugénicas. Para este fim, ajudou a estabelecer, em 1947, a Liga de Aperfeiçoamento Humano da Carolina do Norte, que tinha por objetivo promover a esterilização eugénica dos chamados “inaptos”, ao mesmo tempo que incentivava a reprodução entre os americanos que considerava de elite (ele próprio e a sua mulher Sarah tiveram 5 filhos) (Connelly 2008, 179).

7Além disso, colaborou com a IPPF, criada em 1952 para reunir ativistas de planeamento familiar e apoiar o trabalho das associações locais em todo o mundo. No entanto, Gamble envolveu-se numa série de conflitos com os líderes da IPPF, que via como demasiado cautelosos na sua insistência em esperar por convites locais antes de intervir no terreno. Gamble pensava que era necessária uma abordagem mais agressiva para estimular ativamente o interesse e o ativismo internacional. Criticou ainda a IPPF pela sua ênfase no diafragma como o método de eleição para as novas clínicas. Embora o diafragma fosse o método mais eficaz na década de 1950, precisava de ser ajustado por um médico e colocado com precisão no colo do útero para funcionar. Gamble preferia métodos menos eficazes, mas mais baratos — como a utilização de uma esponja embebida em água salgada ou de comprimidos de dissolução/espuma espermicida —, que eram mais fáceis de utilizar e podiam ser distribuídos mais rapidamente a uma população muito mais vasta. Também investiu em ensaios iniciais da pílula anticoncecional em meados da década de 1950; e, na década de 1960, viria a promover uma nova modalidade de dispositivos intrauterinos (DIU) de plástico que prometiam o controlo reprodutivo da população a uma escala sem precedentes (Connelly 2008, 179).

  • 4 “Professional Experience” (F2892, B184, MSC23, CG papers, FAC).

8Clarence J. Gamble encarnava, assim, claramente a combinação de preocupações eugénicas, neomalthusianas e elitistas que dominaram os escalões superiores do movimento em torno das questões da população durante estes anos. As trabalhadoras no terreno que ele contratou, contudo, tinham trajetórias algo diferentes. Edith Gates, por exemplo, não tinha qualquer experiência anterior em controlo de natalidade quando Gamble a recrutou para o Fundo em 1954. Contudo, tinha uma longa história como organizadora da Associação Cristã de Jovens Mulheres (YWCA, na sigla inglesa) e noutros programas de voluntariado, serviço social e educação sanitária nos Estados Unidos. Viveu também no estrangeiro durante mais de oito anos, numa série de países europeus e do Médio Oriente, trabalhando com a YWCA e o Comité Cristão Americano para os Refugiados. No seu currículo descreveu o seu trabalho como resultando da articulação de interesses na educação de adultos, organização comunitária, assuntos internacionais e, acima de tudo, uma preocupação “pelas pessoas, seja em áreas devastadas pela guerra ou por pessoas deslocadas ou em condições mais normais na frente doméstica, ao nível local e nacional”.4

  • 5 Margaret Roots, “Pathfinding in Family Planning for Pathfinder Fund”, pp. 1-4 (F559, MC368, SMBG Pa (...)

9Margaret Roots não tinha qualquer formação em trabalho organizacional, mas nutria um interesse geral no bem-estar de mulheres e crianças. Nascida no Canadá em 1895, casou aos 24 anos, mas ficou viúva dez anos mais tarde e passou dificuldades para cuidar dos seus três filhos sozinha. Em 1952, aos 57 anos, vendeu os seus bens e partiu numa viagem de carro pela Ásia com duas outras mulheres, tendo visitado vários grupos de assistência social infantil e impressionando-se “com os corações dos jovens que rodeavam o nosso carro em cada paragem, e eram vistos em cada porta de casa ou de trabalho, a maioria deles sempre com fome”. Conheceu a família Gamble casualmente, numa expedição de caça ao tigre que durou duas semanas, no norte da Índia, e dois anos mais tarde chegaram a acordo para que servisse como representante do Pathfinder. Embora Roots tenha reconhecido a sua falta de preparação para a função, viu-se a si própria como possuindo “os dois atributos mais necessários dados por Deus. Gostava de pessoas e era sincera”.5

  • 6 Edna McKinnon, “Pathfinding for the Pathfinder Fund in the Field of Family Planning from the Year 1 (...)

10Edna Rankin McKinnon era, de facto, a única trabalhadora de campo neste grupo original com experiência anterior em organização de práticas de controlo de natalidade. Nascida em Montana em 1893, obteve a licenciatura em Direito em 1918, mas não exerceu a profissão devido ao seu casamento no ano seguinte. Após se separar do marido, trabalhou primeiro numa loja de roupa em Nova Iorque e depois arranjou emprego na Resettlement Administration através da sua irmã Jeanette Rankin (a primeira mulher a ocupar um cargo federal nos Estados Unidos). Em 1930, Edna participou num almoço sobre controlo de natalidade que despertou o seu interesse. Participou em missões com diversas organizações de controlo de natalidade, inclusive como trabalhadora no terreno na Região Centro-Oeste dos Estados Unidos, sob a direção de Gamble, no final das décadas de 1930 e 1940. Embora achasse o trabalho revigorante, não deixou de ficar frustrada com o baixo salário e a sensação de ser uma “mera trabalhadora” com pouco controlo sobre o seu trabalho, acabando por sair em 1946 para dirigir a secção de Chicago da Federação de Planeamento Familiar da América (PPFA, na sigla inglesa). Em 1958, aos 65 anos de idade, McKinnon estava reformada e preparava-se para uma viagem de lazer pelo mundo quando Gamble a conseguiu convencer a aceitar uma bolsa de viagem do Fundo Pathfinder para desenvolver trabalho de campo de planeamento familiar de natureza informal durante o périplo. Apesar da sua hesitação em voltar a trabalhar com Clarence J. Gamble, acabaria por se manter ligada à organização até ao final da década de 1960, realizando viagens pela Ásia, África e Médio Oriente.6

11A principal tarefa das representantes do Fundo Pathfinder era contactar médicos, enfermeiros, organizações de trabalho social, grupos de mulheres, funcionários governamentais e quaisquer personalidades proeminentes num determinado país e tentar persuadi-los da importância do planeamento familiar e/ou apoiá-los se já estivessem convencidos. As trabalhadoras no terreno ajudariam estes líderes locais a formar uma comissão ou associação que pudesse abrir uma clínica-piloto ou um programa de visitas domiciliárias para demonstrar a potencial viabilidade destas atividades. O Fundo Pathfinder disponibilizava subsídios de curto prazo (1-2 anos) renováveis para apoiar estes esforços, que poderiam incluir salários para enfermeiros ou organizadores, equipamento para clínicas, material de propaganda ou um Landrover ou um Jeep para facilitar o transporte. O Fundo também ajudava a organizar o fornecimento de contracetivos ou distribuía-os diretamente de forma gratuita. Nos primeiros anos, isto consistiu principalmente em materiais usados no método de esponja com sal e pastilhas espermicidas de espuma, começando os DIU a ser também disponibilizados no início da década de 1960. Em países onde a publicidade sobre planeamento familiar era ilegal, enviavam fornecimentos sem rótulo diretamente a um médico local, para que não fossem intercetados pela alfândega. Por vezes, as próprias trabalhadoras transportavam os materiais. Edna McKinnon, por exemplo, descreveu um encontro com um funcionário da alfândega em que afirmou que duas enormes embalagens contendo três mil preservativos eram para uso pessoal (Dykeman 1974, 159-160).

  • 7 Carta de Margaret Roots aos pais, “Folks”, 1956/11, p. 1 (F2862, B182, MSC23, CG papers, FAC).

12As trabalhadoras no terreno também prestavam apoio técnico, aconselhando associações sobre o modo como organizar cartões de cliente das clínicas, divulgar o trabalho da associação, produzir relatórios mensais e anuais e candidatar-se à adesão à IPPF. Observavam as práticas das clínicas e informavam Gamble sobre como as coisas estavam a correr e se mereciam apoio adicional do Fundo. As mulheres também se dedicavam, de forma mais genérica, à educação pública e a atividades de campanha enquanto estavam num determinado país, dando palestras sobre planeamento familiar a enfermeiros, médicos, assistentes sociais e ao público em geral um pouco por todo o lado, de salas de conferências a praças nas aldeias. Como Margaret Roots descreveu numa carta a amigos e familiares, o seu trabalho era essencialmente “a organização de entrevistas e conversas com os VIP para agendar encontros e contactar funcionários dos escalões mais baixos, que por sua vez arranjam entrevistas e conversas com o cidadão e cidadã comum que depois agendam uma visita e conversa com os aldeões nas suas casas”.7

13Nas suas viagens, as três mulheres sublinharam repetidamente que o seu trabalho era principalmente dedicado às necessidades da família individual, sendo as questões mais globais da população um fator secundário. Como McKinnon explicou a uma multidão na Indonésia que se tinha reunido para a ouvir falar:

  • 8 Edna R. McKinnon, “Talk on Family Planning in Indonesia”, 07/1962, p. 1 (F97, MC325, SMBG Papers, S (...)

Planeamento familiar significa casais individuais planearem em benefício das crianças; planear ter todos os filhos que desejam, tendo em consideração a saúde da mãe – certificando-se de que ela está bem e forte após cada nascimento, para que a próxima gravidez não comece antes de o seu corpo voltar à sua condição natural –, garantindo que ela está bem nutrida e pronta para dar ao próximo bebé um início adequado. Significa espaçar o nascimento das crianças para que cada bebé receba muito amor e atenção da mãe e do pai antes do nascimento do bebé seguinte. Significa espaçar as crianças para que o pai possa sustentar a sua família em crescimento – e que possa alimentar e vestir e cuidar da casa – e mais tarde educar os seus filhos sem um fardo tão grande que o deixe preocupado e nervoso e desencorajado. Ou seja, planeamento familiar significa parentalidade responsável – cada casal dotado dos conhecimentos e meios para espaçar o nascimento dos seus filhos de modo a que cada mãe mantenha a sua saúde –, que cada criança é uma criança desejada, acolhida e amada pelos seus pais e cada pai um pai feliz, orgulhoso da sua ninhada bem alimentada, bem cuidada, bem educada. Portanto, como veem, é essencialmente uma medida de saúde!8

14As três mulheres também sublinharam que o planeamento familiar não se limitava à contraceção, mas incluía igualmente uma educação matrimonial mais ampla e ajuda aos casais sem filhos que queriam ter filhos, incentivando as associações de planeamento familiar a incluírem estes serviços na sua missão. Esta abordagem era, sem dúvida, parcialmente estratégica. De facto, a própria expressão “planeamento familiar” tinha sido ativamente promovida a partir da década de 1940 como um meio estratégico para desvalorizar tanto as raízes feministas radicais como eugénicas do conceito de “controlo da natalidade” do início do século XX. Para alguns, o planeamento familiar era simplesmente um eufemismo, uma forma de promover a causa da eugenia sem utilizar a palavra (Connelly 2008, 105-107; Merchant 2021, 60). As trabalhadoras do Pathfinder também perceberam rapidamente que a narrativa do “excesso de população” não era apelativa a uma escala universal. Como McKinnon explicou mais tarde numa entrevista, refletindo sobre o trabalho da sua vida:

  • 9Edna McKinnon, “Pathfinding for the Pathfinder Fund in the Field of Family Planning from the Year (...)

Havia, evidentemente, uma grande preocupação com o excesso de população em alguns países. Depois, noutros países, o sentimento era de que não tinham gente suficiente e que precisavam de mais gente para trabalhar. Em cada país, tivemos de adaptar a nossa “conversa de vendas” à situação em causa. Mas em todos os casos podíamos enfatizar o facto de que estávamos a tentar ajudar famílias individuais com os seus próprios problemas individuais, que, se pudessem ter o conhecimento e compreender como e quando deveriam ter os seus filhos, poderiam trazer maior felicidade às suas próprias vidas e maior saúde e educação aos seus filhos. Como consequência, descobrimos que os homens se interessavam pelo programa quando realmente compreendiam a finalidade e os objetivos do movimento de planeamento familiar.9

  • 10 Excerto de relatório, “Written 1961 for YWCA Magazine – Not Published” (F2907, B184, MSC23, CG pape (...)
  • 11 “Pathfinding in Family Planning for Pathfinder Fund”, p. 3 (F559, MC368, SMBG Papers, SL).
  • 12 Sobre maternalismo, ver Klein et al. (2012), Ladd-Taylor (1993), Allman (1994), Davin (1998), Birn (...)

15Edith Gates observou igualmente que, embora os países tivessem opiniões diferentes sobre “o problema da população” – ou se sequer haveria um problema –, todos podiam concordar que as elevadas taxas de mortalidade materna e infantil, de abortos e de esterilidade eram problemas que exigiam atenção.10 A própria Margaret Roots questionou se o planeamento familiar poderia realmente resolver os problemas económicos e sociais nacionais, olhando antes para o seu o trabalho como uma medida “prática e imediata” que poderia ser tomada para ajudar as famílias.11 De facto, e ainda que pudesse haver uma razão parcialmente estratégica, a compreensão do planeamento familiar como uma questão de saúde e bem-estar materno-infantil e familiar estava em clara sintonia com os antecedentes destas mulheres enquanto trabalhadoras de serviço social e do bem-estar familiar, e a sua identificação mais genérica com movimentos maternalistas e humanitários bem estabelecidos tanto dentro como fora da América do Norte.12

  • 13 Edna McKinnon, “Pathfinding for the Pathfinder Fund in the Field of Family Planning from the Year 1 (...)
  • 14 Excerto de relatório, “Written 1961 for YWCA Magazine – Not Published”, p. 4 (F2907, B184, MSC23, C (...)
  • 15 Mrs. Margaret F. Roots to The National Committee on Maternal Health, “Report from March-April, 1955 (...)
  • 16 Carta de Margaret a Sarah, 1965/11/22, p. 1 (F559, MC368, SMBG Papers, SL).

16As três mulheres viam igualmente o seu trabalho como fazendo parte de uma ética maior de serviço social cristão, que orientava decisivamente as suas vidas. Edna McKinnon, uma cientista cristã, descreveu o planeamento familiar como tendo um “significado espiritual”. Ela via os Gambles como o expoente máximo do “altruísmo cristão”, tendo usado a sua herança para promover o bem-estar e a saúde em todo o mundo em vez de comprarem “iates e castelos em Espanha”.13 Edith Gates baseava a defesa do planeamento familiar na sua longa história de defesa das organizações cristãs, acreditando que tanto melhoraria o estatuto das mulheres e a situação das crianças como levaria a uma “vida familiar cristã mais rica”.14 Margaret Roots descrevia o planeamento familiar como “a obra que o Senhor queria para mim e é maravilhoso que Ele tenha escolhido os Gambles como seus agentes terrenos”; via-se numa missão de divulgar “o evangelho do planeamento familiar” em todas as oportunidades que surgiam. Recordava, por exemplo, uma ocasião em que tinha ouvido indevidamente uma conversa numa loja de conveniência no Havai, levando-a a lançar-se imediatamente no seu sermão.15 Roots estava tão convencida da natureza espiritual da causa que ficou realmente surpreendida por as suas viagens ao estrangeiro não se qualificarem como “trabalho missionário” aos olhos do governo canadiano, limitando assim o seu acesso ao plano público de reforma por velhice após o seu regresso.16

  • 17 Carta de Margaret a Sarah, 1965/04/13 (F559, MC368, SMBG Papers, SL).
  • 18 Margaret F. Roots, “Report to Pathfinder Fund”, 1959/08 (F20, B7, DHB Papers, SSC), p. 2.
  • 19 Edna R. McKinnon, “Report of First Trip to Freetown, Sierra Leone”, 1965/05/04, p. 2 (F102, MC325, (...)

17Os Gambles também viam o planeamento familiar como uma missão espiritual, referindo-se a ele na sua correspondência interna como a “Grande Causa”17 e utilizando ligações com organizações cristãs no estrangeiro para promover as suas atividades. Como salienta Raul Necochea López (2014b), na América Latina, as trabalhadoras no terreno, amiúde, contactavam primeiro os ramos locais de grupos protestantes americanos como o Conselho Nacional de Igrejas ou o Conselho Metodista de Missões, que frequentemente se mostravam bastante dispostos a organizar palestras ou a referenciá-las aos médicos locais. Também na Ásia e em África, as trabalhadoras do Fundo Pathfinder viam o seu trabalho como estando alinhado com o das clínicas e hospitais missionários. Escrevendo do Nepal, por exemplo, Margaret Roots descreveu o trabalho dedicado de oito mulheres solteiras e de duas famílias que “em 1952 caminharam durante cinco dias por montes e vales desde a Índia” para prestar cuidados médicos num hospital local remoto, “disseminando o verdadeiro significado do cristianismo através do amor”. Margaret deixou-os com trinta tubos de comprimidos de espuma, instruções sobre o método do sal e uma promessa de enviar folhetos em nepalês sobre outros métodos contracetivos.18 As trabalhadoras do Pathfinder também contactaram delegações locais da YWCA e grupos de mulheres e mães dentro das igrejas, além de ginecologistas, médicas, clínicas de saúde materna e infantil e departamentos de saúde pública.19

  • 20 Edith M. Gates, “An Exploratory Tour into South America” (1959 [c.]), p. 3.
  • 21 McKinnon a “Pathfinding for the Pathfinder Fund in the Field of Family Planning from the Year 1960- (...)

18Como salienta Necochea López, embora a aliança do Pathfinder em particular com os líderes protestantes locais pudesse proporcionar incursões na região, é possível que tenha também limitado o impacto do Fundo em locais predominantemente católicos como o Peru, uma vez que os protestantes eram uma população minoritária e não tão bem relacionada com as autoridades médicas ou os governos (Necochea López 2014b, 348). No entanto, as minhas fontes sugerem que as representantes do Pathfinder também fizeram progressos nos contactos com médicos católicos em vários países. Depois de visitar a América do Sul em 1959, por exemplo, Edith Gates alegou que muitos médicos – católicos ou não – não se preocupavam demasiado com as leis contra a importação ou o fabrico de contracetivos. A médica mais entusiasta que conheceu no Brasil foi uma jovem católica que já tinha começado a dar conselhos aos casais que se estavam a casar.20 Um médico católico nas Filipinas ter-se-á rido quando Edna McKinnon o interrogou sobre a sua fé católica, respondendo: “Bem, sabe que somos um povo muito prático”.21

  • 22 Edna R. McKinnon, “Report for Manila, The Philippines”, 30/09-09/10, 1960, p. 1 (F96, ERM Papers, S (...)
  • 23 Edna R. McKinnon, “Report of a Third Trip to Indonesia”, 27/02-27/08/1963, p. 2 (F97, MC325, SMBG P (...)

19Em Manila, Edna observou que muitos católicos começavam por dizer “Sou católico, mas” – e prosseguiam, explicando por que não seguiam todos os ensinamentos, ou que praticavam “o seu catolicismo de ânimo leve”. Manifestou confiança em que a comunidade leiga católica seria muito mais aberta do que os escalões superiores da hierarquia, embora tivessem de proceder “discreta e lentamente” nos países católicos.22 As trabalhadoras do Pathfinder expressaram uma confiança semelhante na sua capacidade de trabalhar com médicos e líderes muçulmanos. Ao viajarem para países predominantemente muçulmanos, iam munidas de um folheto com excertos do livro do Dr. A. Ramali, Regulations on Health according to Islamic Law, que esclarecia que o planeamento familiar não era proibido se acordado por ambos, marido e mulher, por razões higiénicas ou socioeconómicas.23 Imprimiam cópias deste folheto para apoiantes locais do planeamento familiar, para que distribuíssem às suas comunidades ou em hospitais e clínicas.

  • 24 Margaret Roots, “Pathfinding in Family Planning for Pathfinder Fund”, p. 6 (F559, MC368, SMBG Paper (...)

20Em geral, as trabalhadoras do Pathfinder retratavam o movimento de planeamento familiar como uma causa transdenominacional que poderia fazer a ponte entre comunidades e diferenças religiosas. Descrevendo o seu trabalho de campo no Ceilão, Margaret Roots observou que: “Com o meu colega de trabalho, um hindu tâmil, o nosso motorista budista cingalês, e eu, cristã ocidental, representamos todas as minorias religiosas no Ceilão”.24 Este entusiasmo era partilhado pelos Gambles e fazia parte da sua filosofia organizacional. No seu diário, por exemplo, a mulher de Clarence, Sarah Gamble, descreveu assim a dedicação que encontrou na primeira clínica de Atividade de Planeamento Familiar criada na Tailândia:

  • 25 “Thailand”, Around the World: News of Population and Birth Control, vol. 41, 1956/01, p. 2 (F12, B6 (...)

Nove sacerdotes em túnicas açafrão sentaram-se à volta da sala a cantar até vibrar e a estranha harmonia parecia vir de todo o lado e de lado nenhum. Um cordel foi enrolado à volta da figura de Buda no pequeno altar escarlate e dourado, depois à volta da taça de água sagrada e depois passou pelas mãos orantes de todos os sacerdotes. Após um banquete, cantaram a segunda parte da cerimónia que conduziu a uma procissão por todas as salas. O comité pediu então a Clarence como “pai da clínica” (uma criança planeada, posso acrescentar) para oferecer toalhas de banho laranja brilhante a cada padre. Foi um exercício bastante bom, pois ajoelhou-se e fez uma vénia a cada um. Mas para nós a coroa de glória foi que alguém, por deferência atenciosa para connosco, cristãos, tinha colocado uma estatueta da Virgem Maria, com terço incluído, ao lado de Buda no altar. Por isso, agora esta figura também preside à clínica de controlo de natalidade.25

21A contraceção podia ser, pois, muito mais do que um instrumento para ter sexo sem se reproduzir: podia ser uma performance unificadora e ecuménica. É claro que as crenças e instituições religiosas continuaram a ser um obstáculo considerável à adoção do planeamento familiar em muitos países. O entusiasmo das trabalhadoras do Pathfinder no terreno era em parte um reflexo das possibilidades reais de ligação entre comunidades e em parte aspiracional, enraizado na fé profunda destas mulheres de que o seu trabalho era ordenado a partir do alto. Os diários destas trabalhadoras também repetem muitos tropos de escrita missionária colonial, na medida em que as mulheres se retratavam como empenhadas na conquista desafiante e aventureira de territórios desconhecidos. Margaret Roots, por exemplo, escreveu sobre uma viagem ao Nepal:

  • 26 Around the World: News of Population and Birth Control, vol. 48, 1956/10, p. 1 (F12, B6, DHB Papers (...)

Ao longo de um percurso único na selva, seguimos a nossa perehera (procissão) – nós os quatro e o nosso motorista assistente com o saco de produtos. Atravessámos campos de arroz, através de bosques de cocos dourados como bolas de futebol (não, nenhum caiu sobre nós), entre seringueiras e frangipanis perfumados e encantadores. Marcado por muitos pés descalços, o caminho compactado era traiçoeiramente escorregadio. Depois, um rio! Foi preciso tirar sandálias ou sapatos, saris, saias ou calças, e percorrer o rio com água até aos joelhos. “O quê? Não fim para este ‘caminho’?” ... “Até mesmo a subida ao Monte Evereste TERMINA nalgum momento”. E assim terminou também o nosso trilho de planeamento familiar…26

22Edna McKinnon descreveu igualmente cenas de estradas enlameadas, alojamento “primitivo”, mosquitos, comida exótica e dançarinos a rodopiar, salientando a dificuldade de manter um comportamento de “senhora” em climas tropicais e entre culturas estrangeiras (Dykeman 1974). Se estas viagens tinham muito em comum com as narrativas missionárias coloniais, contudo, ocorreram num contexto marcado por movimentos de descolonização vários e de desafios abertos às narrativas europeias e americanas de superioridade. Na maioria dos países para onde viajaram, as trabalhadoras do Fundo Pathfinder reconheceram a poderosa atração do sentimento nacionalista e a crescente desconfiança em relação aos estrangeiros, particularmente aos estrangeiros brancos que afirmavam saber o que era melhor para aqueles países, suas economias e famílias. Assim, as trabalhadoras no terreno atuaram um pouco mais cuidadosamente do que as suas antecessoras, reconhecendo as suas posições e fazendo esforços para salientar que toda a atividade de planeamento familiar devia ser liderada por atores locais. Ainda assim, conforme será detalhado na secção seguinte, a linha entre apoio e pressão permaneceu ténue, e o recuo ou hesitação local poderia rapidamente levar a um endurecimento das linhas raciais e nacionais, em detrimento dos esforços das trabalhadoras no terreno para promover a unidade.

2. A descoberta de caminhos no mundo a descolonizar: tensões profundas

  • 27 Carta de Edith Gates a Edna McKinnon, 1964/05/11, p. 1 (F105, MC325, ERM Papers, SL). Sobre a polít (...)
  • 28 Carta de Edith a Clarence, 1957/10/14, p. 1 (F2902, B184, MSC23, CG papers, FAC).

23Tal como foi referido na introdução, o movimento mais alargado dedicado às questões populacionais foi profundamente moldado por desigualdades globais e preocupações geopolíticas que determinaram quem era considerado uma ameaça, um alvo, e quem necessitava de intervenção. Estas dinâmicas não passaram despercebidas aos líderes nacionalistas e aos cidadãos dos países em processo de descolonização, ou mesmo já independentes, que se mostraram cautelosos desde o início com as ofertas de ajuda ao “desenvolvimento” por parte de doadores europeus e norte-americanos. As trabalhadoras do Pathfinder que operavam em países ainda sob domínio colonial rapidamente ficaram cientes destas dinâmicas políticas, através dos seus contactos locais. Escrevendo a Edna McKinnon após uma digressão pelas colónias inglesas em África em 1964, por exemplo, Edith Gates referiu que “o governo colonial inglês era muito favorável, embora na maioria dos casos não o pudesse dizer publicamente por medo de que um governo branco fosse acusado de tentar limitar a população negra”. O melhor a que elas podiam aspirar, observou Gates, era o apoio de bastidores.27 A origem norte-americana das trabalhadoras do Pathfinder poderia por vezes ser uma vantagem nestes cenários. Gates afirmou, por exemplo, que era tratada com menos suspeição do que os europeus nestas antigas colónias.28

  • 29 E.R. McKinnon, “Jordan Report No I”, 1966/01/02-14 (F101, MC325, ERM Papers, SL.)
  • 30 Margaret Roots, “Pathfinding in Family Planning for Pathfinder Fund”, p. 5 (F559, MC368, SMBG Paper (...)

24Na Jordânia, por outro lado, Edna McKinnon observou que os atores locais “deixaram muito claro que não queriam lá estrangeiros presencialmente a tentar trabalhar com eles no planeamento familiar”; em particular, ressentiram-se das intervenções do Reino Unido e dos Estados Unidos da América em resultado do conflito sobre a Palestina. McKinnon aparentemente sentiu-se solidária com estes sentimentos, observando num relatório que: “É como se lhes batêssemos deliberadamente e depois tentássemos compensar o nosso mau comportamento disponibilizando-nos para pôr ligaduras nas feridas que causámos”.29 A sua biógrafa sublinha a consciência de McKinnon em tentar ser “uma amiga informada e inabalável”, em vez de “uma americana boa samaritana, sabichona e cheia de pressa” (Dykeman 1974, 256). Margaret Roots também sublinhou a importância da sensibilidade cultural, observando que “muito mais mal do que bem ocorreria se os hábitos religiosos ou locais fossem pisados ou ignorados, mesmo com as melhores intenções ocidentais”.30

  • 31 McKinnon, “Pathfinding for the Pathfinder Fund in the Field of Family Planning from the Year 1960-1 (...)
  • 32 “Highlights of the Middle East Tour”, 1956/05/11 (F2894, B184, MSC23, CG Papers, FAC).
  • 33 McKinnon, “Pathfinding for the Pathfinder Fund in the Field of Family Planning from the Year 1960-1 (...)
  • 34 Carta de Margaret a Sarah, 1965/11/22, p. 2 (F559, MC368, SMBG Papers, SL).

25As trabalhadoras do Fundo Pathfinder abordaram estas preocupações, em grande medida, insistindo que estavam lá para encorajar e apoiar o trabalho dos ativistas locais do planeamento familiar, em vez de liderar ou controlar o movimento. De facto, os seus registos são testemunho de um leque diversificado de esforços de base destinados a promover o planeamento familiar, que já existia em quase todos os países muito antes da chegada destas mulheres ocidentais. As representantes do Pathfinder observaram repetidas vezes que, para onde quer que fossem, já existiam vários médicos, enfermeiros e assistentes sociais locais que promoviam a contraceção, quer explicitamente através de uma associação de planeamento familiar organizada, quer de uma forma mais discreta e ad hoc, integrando-a na sua prática clínica ou no trabalho educativo de saúde. As trabalhadoras no terreno descreveram muitas destas iniciativas locais como sendo extremamente animadoras e bem geridas, lideradas por atores inspiradores com “um verdadeiro zelo em ajudar os seus irmãos” ou “um bom coração”.31 Referiram repetidamente a “liderança notável, leiga e profissional”32 que encontraram em todo o mundo. Também dependeram frequentemente da orientação de líderes regionais experientes como Constance Goh Kok Kee, a diretora da associação de planeamento familiar de Singapura, que forneceu a McKinnon uma lista de contactos e um conjunto de tarefas a realizar nos diferentes países que ela visitaria durante a sua viagem à Ásia.33 Algumas trabalhadoras no terreno estabeleceram laços estreitos com estes ativistas locais através de visitas repetidas e de correspondência ativa. Roots, por exemplo, escreveu pessoalmente 180 postais a contactos do movimento de planeamento familiar em 1966, expressando o seu entusiasmo pelo seu trabalho e incentivando-os a prosseguir.34

  • 35 Ibid., tape 3, pp. 8-9.
  • 36 McKinnon, “Pathfinding for the Pathfinder Fund in the Field of Family Planning from the Year 1960-1 (...)
  • 37 Carta de Margaret a Clarence, 1957/03/01 (F2863, B182, MSC23, CG papers, FAC).

26Estas relações foram, contudo, inevitavelmente moldadas por estruturas de poder subjacentes. Como a própria Edna McKinnon observou, em geral era-lhe concedida uma “posição privilegiada” nos países para onde viajava e, logo após a sua chegada, era “posta em contacto com os líderes de cada comunidade”.35 Por vezes havia ligações com embaixadas ou diplomatas locais dos EUA no país que a ajudavam a organizar a sua estada e a convidavam para jantares e outros eventos onde pudesse conviver com interlocutores-chave. O capital social dos defensores do planeamento familiar local, que eram frequentemente membros da classe alta ou mesmo das famílias reais, também ajudava. Na Malásia, por exemplo, McKinnon ligou-se à sultana de Johore por causa do seu interesse comum no planeamento familiar, tornando-se convidada de destaque em muitas funções elaboradas na residência oficial. Na Arábia Saudita, obteve um encontro exclusivo com a rainha Ifaat.36 Alguns ativistas locais reconheceram, alegadamente, o valor estratégico destas mulheres estrangeiras, cuja novidade e ousadia (livres, como eram, de enfrentar consequências a longo prazo na comunidade) poderiam proporcionar incursões nos círculos oficiais de que os ativistas locais estavam, de outro modo, excluídos.37

  • 38 Carta de C.P. Blacker a Dr. Clarence J. Gamble, 1958/05/14 (F23, B1, MS 23, DHB Papers, SSC), p. 3; (...)
  • 39 Carta de Edna a Bernadine e Charles, 1965/12/29 (F104, MC325, ERM Papers, SL.).

27No entanto, os registos das trabalhadoras do Pathfinder também referem situações de desentendimento e conflito, muitas vezes referidas de forma evasiva como “fricção” ou “dificuldade”.38 As trabalhadoras no terreno observavam que os médicos e enfermeiros locais estavam frequentemente irritados com a insistência de Gamble nos métodos contracetivos menos eficazes, a sua extensa correspondência, as suas exigências de relatórios longos que eram difíceis de compilar sem ajuda de secretariado e a sua recusa em financiar qualquer projeto por mais de um ano de cada vez (Dykeman 1974, 101, 117). Edna McKinnon descreveu vários casos em que a falta de sensibilidade sobre o contexto local ou o facto de exceder as suas funções geraram conflitos com os ativistas locais (ver, por exemplo, Dykeman 1974, 122, 123, 150, 217-218). Por exemplo, descreveu a sua frustração por ter sido repetidamente afastada por uma médica com quem tinha estado a trabalhar no Irão, confidenciando que era “uma situação parva... Sinceramente, não acho que a mulher não goste de mim. Ela apenas me considera uma chata ligeiramente irritante”.39

  • 40 Carta de Hanna Rizk a Mrs. Dorothy Brush, 1955/011/10 (F19, B2, MS 23, DHB Papers, SSC), Carta a Ed (...)
  • 41 Carta a Edith, 1955/12/02 (F2895, B184, MSC23. CG papers, FAC).
  • 42 Edna R. McKinnon, “The Inter Report no. II of Second Trip to Indonesia”, 01-17/06/1962, p. 4 (F97, (...)

28Edith Gates teve um conflito prolongado com a ativista egípcia Hanna Rizk, que se queixou à IPPF da sua agressividade ao fazer pressão para que uma pessoa da sua preferência fosse escolhida para representar o Egito na conferência seguinte da IPPF em vez da candidata preferida pela comunidade local. Também houve, alegadamente, algum ressentimento porque ela tinha “repreendido” o secretário por um atraso na abertura de clínicas.40 Tal como Gamble escreveu a Gates: “Ele diz que o Egipto não quer mais trabalhadoras no terreno até que eles as solicitem. Portanto, talvez seja um erro a equipa lançar a bola com demasiada força, mas estas coisas são difíceis de calcular – mesmo com a irritação que possa ter exacerbado”.41 As trabalhadoras do Pathfinder também enfrentaram por vezes críticas explícitas à sua posição dentro do movimento. McKinnon recordou uma médica na Indonésia, por exemplo, que a acusou de promover uma causa “para controlar as raças de pele escura”. Como ela recordou: “Rejeitei-o o mais gentilmente que pude e expliquei que tinha trabalhado durante 25 anos entre os brancos na América. Separámo-nos amigavelmente, sem nenhuma de nós convencer a outra”.42

  • 43 Carta de Margaret a Helen, 1956/02/27, p. 1 (F2862, B182, MSC23, CG papers, FAC).
  • 44 Carta de Margaret aos pais, “Folks”, 1956/11, (F2862, B182, MSC23, CG papers, FAC), pp. 1-2; “Summa (...)
  • 45 “Margaret Roots”, biografia, n.d., pp, 2-3 (F559, MC368, SMBG Papers, SL).
  • 46 Excerto de relatório, “Written 1961 for YWCA Magazine – Not Published”, p. 3 (F2907, B184, MSC23, C (...)

29As representantes do Pathfinder pregavam geralmente uma visão não racial e de humanidade partilhada quando confrontadas com estes momentos de conflito. Margaret Roots, por exemplo, expressou a sua surpresa perante as atitudes racistas de algumas das mulheres brancas que conheceu em clubes e embaixadas de todo o mundo (que ainda mantinham “a velha ideia colonial de que os ‘negros’ são inferiores!”43) e escreveu em cartas a amigos e família que “somos todas irmãs – ou irmãos – debaixo da pele”. Ao mesmo tempo, falava dos aldeões de forma exótica, descrevendo grupos de “corpos castanhos compactos vestidos de branco” ouvindo arrebatadamente o seu discurso na cabana de uma aldeia. Também se queixava com frequência da “exasperante inércia asiática” de uma forma que ressoava claramente a estereótipos raciais, produzindo, inclusive, um relatório com um título sarcástico: “Resumo do que é preciso para desalfandegar 3 bobinas de filme na alfândega de Daca”.44 Argumentou igualmente que a principal diferença entre o Oriente e o Ocidente era a de que apenas os ocidentais perguntavam “Porquê?”.45 Edith Gates adotou uma narrativa modernizante claramente hierárquica ao descrever as desigualdades globais, observando que os países começaram em diferentes “pontos de desenvolvimento”, estando os que tinham mais contacto com as sociedades ocidentais, em geral, mais avançados nesta escala.46

  • 47 McKinnon, “Pathfinding for the Pathfinder Fund in the Field of Family Planning from the Year 1960-1 (...)
  • 48 Margaret F. Roots, “Report to Pathfinder Fund: Burma”, 1959/11 (F20, B7, DHB Papers, SSC), p. 2.

30Para além destes momentos explícitos de paternalismo ou de utilização de estereótipos racistas, as trabalhadoras do Pathfinder também manifestavam um sentido de confiança exagerado na sua capacidade de avaliar a situação num país e fazer recomendações para o futuro, por vezes depois de terem passado apenas um período mínimo no terreno. Edith Gates, em particular, tinha o mau hábito de chegar a um país mesmo antes de um feriado – como o Carnaval no Rio de Janeiro ou durante as celebrações da peregrinação muçulmana na Arábia Saudita –, de tal forma que acabava por ter apenas um ou dois dias para se encontrar com as pessoas e conhecer de facto o local. Utilizavam também meios algo espúrios para avaliar a paisagem local. Por exemplo, Edna McKinnon registou numa reunião no Vietname que podia concluir que as pessoas achavam que o país ainda não estava pronto, baseando-se apenas “nos seus olhares vagos”. McKinnon afirmava frequentemente ter-se tornado “muito boa amiga” de pessoas com quem não podia falar por causa das barreiras linguísticas.47 Margaret Roots também afirmou ter convencido o vice-primeiro-ministro da Birmânia a passar de uma posição contrária ao planeamento familiar para uma posição entusiasticamente favorável num espaço de cinco minutos,48 o que parece pouco provável, para dizer o mínimo.

  • 49 McKinnon, “Pathfinding for the Pathfinder Fund in the Field of Family Planning from the Year 1960-1 (...)

31Este excesso de confiança é intrigante quando se considera o poder que o Fundo Pathfinder tinha para moldar o curso do ativismo local através de subvenções seletivas. De facto, McKinnon criticou o IPPF por ter concedido uma grande subvenção a uma organização em Manila depois de os representantes do Fundo terem passado apenas alguns dias na cidade, argumentando que os escolhidos “provavelmente não eram os que teriam sido selecionados se tivesse sido dado mais tempo para investigar as possibilidades de liderança, etc., antes de ser disponibilizado dinheiro”.49 O facto de as representantes do Pathfinder, incluindo ela própria, terem atuado frequentemente da mesma forma pareceu não lhe ocorrer. Estes responsáveis da Pathfinder moldaram também a paisagem local mais indiretamente através do fornecimento gratuito de apenas alguns métodos – nomeadamente espermicidas, espumas e métodos do algodão baratos e mais tarde DIU.

  • 50 Carta de Gamble a Mrs. Roots, 1955/10/06, p. 1 (F2858, B182, MSC23, CG papers, FAC).
  • 51 Edith M. Gates, “Progress Report, Lagos, Nigeria”, 1959/04 (F19, B7, DHB Papers, SSC), p. 2; Edith (...)
  • 52 Edna McKinnon, “Report to F.E.A.R.”, 23-27/10/1960, (F96, ERM Papers, SL).
  • 53 Edna R. McKinnon, “Report of Visit to Liberia No. I”, 1964/03/05-24, p. 1 (F102, MC325, ERM Papers, (...)

32Como o próprio Clarence Gamble reconheceu abertamente, mesmo sem proibir os médicos locais de utilizarem o diafragma (que muitos preferiam pela sua maior eficácia), poderiam dissuadir a sua utilização, recusando-se a fornecer apoio financeiro num contexto de escassez.50 Ainda assim, não devemos sobrestimar o seu poder. Muitas vezes, os seus esforços eram gorados. Nas viagens de acompanhamento à Nigéria e a Zanzibar em 1959, por exemplo, Edith Gates notou que pouco tinha sido feito com os comprimidos de espuma que tinha fornecido numa viagem anterior e que o trabalho estava essencialmente parado.51 Outras reuniões ou tentativas de formar federações também se desvaneceram, e algumas “associações” locais existiam apenas em nome.52 Na Libéria, por exemplo, que Gates visitara em 1956, foi criada uma associação de planeamento familiar em 1959. Mas quando, em 1964, Edna McKinnon fez uma visita, deparou-se apenas com algumas reuniões pouco participadas e pouca atividade, verificando que não tinham sido disponibilizados quaisquer serviços clínicos durante anos.53

  • 54 Carta de Edith a Clarence, 1957/10/14., p. 2 (F2902, B184, MSC23, CG papers, FAC).

33De facto, se a abordagem de “intervenção rápida” tinha limites óbvios, também tinha a vantagem de, em última análise, deixar aos atores locais a possibilidade de seguirem ou não as orientações sugeridas pelas representantes do Pathfinder. Isto foi intencional: Edith Gates observou que o ideal seria que as visitas fossem suficientemente longas para dar ajuda, mas não tão longas que o outsider estivesse a gerir a organização, que deveria ser liderada pelos locais.54 Se estas trabalhadoras no terreno transportavam, assim, muitos dos legados ideológicos de anteriores tradições missionárias e maternalistas coloniais, afastaram-se destes de algumas formas cruciais: faltava-lhes a força do poder militar do estado para as apoiar e não estavam interessadas no compromisso de governar diretamente, no longo prazo, estes territórios. Este era um poder limitado, e que acabou por se revelar mais poroso. De facto, se estas mulheres são as protagonistas centrais nas suas próprias histórias, nas histórias nacionais dos movimentos de planeamento familiar nos países que visitaram elas não passam de personagens secundárias (e.g. Necochea López 2014a; Ashford 2019).

3. Conclusão

34À medida que a ajuda internacional ao desenvolvimento se foi profissionalizando e tornando mais sofisticada ao longo do tempo, o papel de trabalhadoras leigas no terreno como Edna McKinnon, Edith Gates e Margaret Roots tornar-se-ia cada vez mais anacrónico. Embora a IPPF e o Fundo Pathfinder tenham continuado o seu trabalho, organizações como o Population Council e a Fundação Ford, juntamente com a USAID, começaram a dominar a cena internacional, investindo milhões e enviando equipas sofisticadas de médicos, demógrafos e especialistas em comunicação de massas para aconselhar programas de planeamento familiar estatais em crescimento a nível internacional (Connelly 2008; Parry 2013). Como um ativista do planeamento familiar no Sri Lanka observou na década de 1970, “a era das senhoras idosas com tempo de sobra estava a chegar ao fim” (Huston 1992, 43).

35Contudo, investigar o trabalho destas mulheres com mais detalhe permite-nos identificar as origens mais diversas do movimento internacional de planeamento familiar e populacional no período posterior à Segunda Guerra Mundial. Este não foi apenas um movimento conduzido por homens, demógrafos de elite e decisores políticos receosos do colapso geopolítico, foi também um apelo social e espiritual às mulheres preocupadas com o bem-estar de outras mulheres, crianças e famílias. Estas mulheres viam-se a si próprias como ocupando um papel de intermediárias, qualificadas pelo seu entusiasmo e competência transcultural, e não pelo controlo de conhecimentos ou recursos. Mas o seu trabalho também foi moldado por legados coloniais e desigualdades globais. A crença no seu papel de profetas da “Grande Causa” poderia ser tão limitativa como a obsessão com o crescimento populacional global. Em última análise, se estes atores, em diferentes níveis do movimento, diferiam nas suas trajetórias, ideologias e objetivos, tinham em comum o zelo. Zelo por reformar o outro, acompanhado de excesso de confiança na sua capacidade de dar respostas, e de uma rápida frustração e recaída no estereótipo quando esta confiança não era partilhada localmente. É este zelo, e a sensibilidade profunda sobre a qual atua, que pode ser o legado mais duradouro do humanitarismo do pós-Segunda Guerra Mundial e dos programas de desenvolvimento internacional de forma mais global.

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Notas

1 Sobre estes tópicos, ver Gordon (2007), Soloway (1982), Grossman (1995), McLaren e McLaren (1997), Klausen (2004), Connelly (2008), Ahluwalia (2008), Bashford e Levine (2010), Bashford (2014), Bourbonnais (2016).

2 Ver também Sharpless (1997), Parry (2013) e Merchant (2021).

3 Estas fontes encontram-se sobretudo nos seguintes arquivos: Clarence Gamble Papers, MSC23, Francis A. Countway Library of Medicine, Boston, Mass (doravante, “CG papers, FAC”); Sarah Merry Bradley Gamble Papers, MC368, Schlesinger Library, Cambridge, Mass (doravante, “SMBG papers, SL”); Edna Rankin McKinnon Papers, MC325, Scheslinger Library (doravante, “ERM Papers, SL”); e Dorothy Hamilton Brush Papers, Sophia Smith Collection, Smith College, Northampton, Mass (doravante, “DHB Papers, SSC”). A história de vida de Edna Rankin McKinnon é também descrita em Dykeman (1974).

4 “Professional Experience” (F2892, B184, MSC23, CG papers, FAC).

5 Margaret Roots, “Pathfinding in Family Planning for Pathfinder Fund”, pp. 1-4 (F559, MC368, SMBG Papers, SL).

6 Edna McKinnon, “Pathfinding for the Pathfinder Fund in the Field of Family Planning from the Year 1960-1966”, 1971. F76, tape 1 (MC325, ERM, SL), Dykeman (1974).

7 Carta de Margaret Roots aos pais, “Folks”, 1956/11, p. 1 (F2862, B182, MSC23, CG papers, FAC).

8 Edna R. McKinnon, “Talk on Family Planning in Indonesia”, 07/1962, p. 1 (F97, MC325, SMBG Papers, SL).

9Edna McKinnon, “Pathfinding for the Pathfinder Fund in the Field of Family Planning from the Year 1960-1966”, 1971. tape 3, pp. 12-13 (F76,MC325, ERM, SL).

10 Excerto de relatório, “Written 1961 for YWCA Magazine – Not Published” (F2907, B184, MSC23, CG papers, FAC).

11 “Pathfinding in Family Planning for Pathfinder Fund”, p. 3 (F559, MC368, SMBG Papers, SL).

12 Sobre maternalismo, ver Klein et al. (2012), Ladd-Taylor (1993), Allman (1994), Davin (1998), Birn (1999), Pedersen (2001).

13 Edna McKinnon, “Pathfinding for the Pathfinder Fund in the Field of Family Planning from the Year 1960-1966”, 1971, tape 3, pp. 5-6 (F76, MC325, ERM, SL).

14 Excerto de relatório, “Written 1961 for YWCA Magazine – Not Published”, p. 4 (F2907, B184, MSC23, CG papers, FAC).

15 Mrs. Margaret F. Roots to The National Committee on Maternal Health, “Report from March-April, 1955”, 1955/04, p3 (F559, MC368, SMBG Papers, SL).

16 Carta de Margaret a Sarah, 1965/11/22, p. 1 (F559, MC368, SMBG Papers, SL).

17 Carta de Margaret a Sarah, 1965/04/13 (F559, MC368, SMBG Papers, SL).

18 Margaret F. Roots, “Report to Pathfinder Fund”, 1959/08 (F20, B7, DHB Papers, SSC), p. 2.

19 Edna R. McKinnon, “Report of First Trip to Freetown, Sierra Leone”, 1965/05/04, p. 2 (F102, MC325, ERM Papers, SL.).

20 Edith M. Gates, “An Exploratory Tour into South America” (1959 [c.]), p. 3.

21 McKinnon a “Pathfinding for the Pathfinder Fund in the Field of Family Planning from the Year 1960-1966”, 1971, tape 2, p. 4 (ERM Papers, SL).

22 Edna R. McKinnon, “Report for Manila, The Philippines”, 30/09-09/10, 1960, p. 1 (F96, ERM Papers, SL).

23 Edna R. McKinnon, “Report of a Third Trip to Indonesia”, 27/02-27/08/1963, p. 2 (F97, MC325, SMBG Papers, SL).

24 Margaret Roots, “Pathfinding in Family Planning for Pathfinder Fund”, p. 6 (F559, MC368, SMBG Papers, SL).

25 “Thailand”, Around the World: News of Population and Birth Control, vol. 41, 1956/01, p. 2 (F12, B6, DHB Papers, SSC).

26 Around the World: News of Population and Birth Control, vol. 48, 1956/10, p. 1 (F12, B6, DHB Papers, SSC).

27 Carta de Edith Gates a Edna McKinnon, 1964/05/11, p. 1 (F105, MC325, ERM Papers, SL). Sobre a política colonial britânica para o controlo da natalidade, ver Ittmann (2013) e Ahluwalia (2008).

28 Carta de Edith a Clarence, 1957/10/14, p. 1 (F2902, B184, MSC23, CG papers, FAC).

29 E.R. McKinnon, “Jordan Report No I”, 1966/01/02-14 (F101, MC325, ERM Papers, SL.)

30 Margaret Roots, “Pathfinding in Family Planning for Pathfinder Fund”, p. 5 (F559, MC368, SMBG Papers, SL)

31 McKinnon, “Pathfinding for the Pathfinder Fund in the Field of Family Planning from the Year 1960-1966”, 1971. Tape 2, pp. 5-7 (F76, ERM Papers, SL).

32 “Highlights of the Middle East Tour”, 1956/05/11 (F2894, B184, MSC23, CG Papers, FAC).

33 McKinnon, “Pathfinding for the Pathfinder Fund in the Field of Family Planning from the Year 1960-1966”, 1971. Tape 2 (F76, ERM Papers, SL).

34 Carta de Margaret a Sarah, 1965/11/22, p. 2 (F559, MC368, SMBG Papers, SL).

35 Ibid., tape 3, pp. 8-9.

36 McKinnon, “Pathfinding for the Pathfinder Fund in the Field of Family Planning from the Year 1960-1966”, 1971. Tape 3, pp. 8-9 (F76, ERM Papers, SL), Edna R. McKinnon, “Report No II on Saudi Arabia”, 1966/01/28-02/17, p. 1 (F101, MC325, ERM Papers, SL).

37 Carta de Margaret a Clarence, 1957/03/01 (F2863, B182, MSC23, CG papers, FAC).

38 Carta de C.P. Blacker a Dr. Clarence J. Gamble, 1958/05/14 (F23, B1, MS 23, DHB Papers, SSC), p. 3; McKinnon, “Pathfinding for the Pathfinder Fund in the Field of Family Planning from the Year 1960-1966”, 1971. Tape 1, p. 11 (F76, ERM Papers, SL).

39 Carta de Edna a Bernadine e Charles, 1965/12/29 (F104, MC325, ERM Papers, SL.).

40 Carta de Hanna Rizk a Mrs. Dorothy Brush, 1955/011/10 (F19, B2, MS 23, DHB Papers, SSC), Carta a Edith, 1955/12/02 (F2895, B184, MSC23. CG papers, FAC).

41 Carta a Edith, 1955/12/02 (F2895, B184, MSC23. CG papers, FAC).

42 Edna R. McKinnon, “The Inter Report no. II of Second Trip to Indonesia”, 01-17/06/1962, p. 4 (F97, MC325, SMBG Papers, SL).

43 Carta de Margaret a Helen, 1956/02/27, p. 1 (F2862, B182, MSC23, CG papers, FAC).

44 Carta de Margaret aos pais, “Folks”, 1956/11, (F2862, B182, MSC23, CG papers, FAC), pp. 1-2; “Summary of What It Takes to Get 3 Reels Film Released from Customs in Dacca”, 1959 (F20, B7, DHB Papers, SSC).

45 “Margaret Roots”, biografia, n.d., pp, 2-3 (F559, MC368, SMBG Papers, SL).

46 Excerto de relatório, “Written 1961 for YWCA Magazine – Not Published”, p. 3 (F2907, B184, MSC23, CG papers, FAC).

47 McKinnon, “Pathfinding for the Pathfinder Fund in the Field of Family Planning from the Year 1960-1966”, 1971. Tape 2, p. 11, 10, 2 (F76, ERM Papers, SL).

48 Margaret F. Roots, “Report to Pathfinder Fund: Burma”, 1959/11 (F20, B7, DHB Papers, SSC), p. 2.

49 McKinnon, “Pathfinding for the Pathfinder Fund in the Field of Family Planning from the Year 1960-1966”, 1971. Tape 2, p. 3 (F76, ERM Papers, SL).

50 Carta de Gamble a Mrs. Roots, 1955/10/06, p. 1 (F2858, B182, MSC23, CG papers, FAC).

51 Edith M. Gates, “Progress Report, Lagos, Nigeria”, 1959/04 (F19, B7, DHB Papers, SSC), p. 2; Edith M. Gates, “Ibadan, Nigeria – Visit”, 1959/04/20-27 (F19, B7, DHB Papers, SSC), p. 1.

52 Edna McKinnon, “Report to F.E.A.R.”, 23-27/10/1960, (F96, ERM Papers, SL).

53 Edna R. McKinnon, “Report of Visit to Liberia No. I”, 1964/03/05-24, p. 1 (F102, MC325, ERM Papers, SL.).

54 Carta de Edith a Clarence, 1957/10/14., p. 2 (F2902, B184, MSC23, CG papers, FAC).

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Para citar este artigo

Referência do documento impresso

Nicole C. Bourbonnais, «A ‘Grande Causa’: missionárias do planeamento familiar no mundo em descolonização»Ler História, 85 | 2024, 43-64.

Referência eletrónica

Nicole C. Bourbonnais, «A ‘Grande Causa’: missionárias do planeamento familiar no mundo em descolonização»Ler História [Online], 85 | 2024, posto online no dia 19 setembro 2024, consultado no dia 19 janeiro 2025. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/lerhistoria/13597; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/12c7j

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Nicole C. Bourbonnais

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