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Para a história do celuloide: evolução da indústria dos pentes em Portugal, 1880-1970

For the History of Celluloid: Evolution of the Comb Industry in Portugal, 1880-1970
Artur Neves e Maria Elvira Callapez
p. 119-143

Resumos

Neste artigo, abordamos a evolução da indústria dos pentes em Portugal de 1880 a 1970 com o objetivo de compreender o impacto tecnológico, económico e social do celuloide no contexto nacional. Explicamos, a partir de fontes históricas e estatísticas e da análise química de pentes portugueses com relevância histórica, das coleções da Sociedade Martins Sarmento e da Casa da Memória de Guimarães, que a introdução do celuloide pela indústria de pentes vimaranense, em 1895, revolucionou o contexto industrial de Guimarães, transformando-o num centro de produção de plásticos (semi)sintéticos a partir de 1950. O celuloide teve impacto no mercado da imitação da carapaça de tartaruga, procurado pelas classes sociais com baixo poder de compra, e conviveu industrialmente e comercialmente com o chifre, o material tradicional usado na fabricação de pentes.

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Notas do autor

Agradecemos à Sociedade Martins Sarmento, ao Dr. João Antero Gonçalves Ferreira pela autorização para a análise dos objetos e à Dra. Salomé Duarte por todo o seu apoio durante investigação realizada na instituição. Agradecemos também à Casa da Memória de Guimarães, nomeadamente à Dra. Catarina Pereira, pela autorização, apoio e informação partilhada acerca da indústria dos pentes vimaranense. Este trabalho foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino Superior (FCT/MCTES) através do programa de doutoramento CORES-PD/00253/2012, bolsa de doutoramento PD/BD/136678/2018 (Artur Neves) e do Laboratório Associado para Química Verde-LAQV (UIDB/50006/2020 e UIDP/50006/2020).

Texto integral

  • 1 Nascido em 1881, conhecido por A. L. de Carvalho, foi escritor, publicista e jornalista. Foi um d (...)

1“Qual é no museu da História, o lugar do pente? Conhecemos, ao menos, a história da sua indústria?” António Lopes de Carvalho fez estas duas perguntas na sua conhecida obra sobre os mesteres de Guimarães, publicada em 1943.1 Após quase 80 anos, pouco se escreveu sobre a história industrial do pente em Portugal. Do nosso conhecimento, o mais importante contributo foi o de Teresa Costa (2006) sobre a indústria do pente em Guimarães, cidade apontada como o local de origem do pente português. O presente artigo procura contribuir para um conhecimento mais alargado desta indústria num período de grandes transformações tecnológicas e sociais, de 1879 a 1970. Um dos principais agentes materiais desta transformação foi aquilo a que chamamos “plásticos”. Hoje, os “plásticos” são materiais essenciais no mercado de consumo, representando cerca de 5% do total de vendas a nível nacional em 2020 (Instituto Nacional de Estatística 2021). O termo “plásticos” é atribuído a “uma classe de polímeros orgânicos sintéticos que passam pelo estado plástico, ou seja, um estado moldável entre o líquido e o sólido, a uma temperatura superior à temperatura ambiente” (Callapez 2000, 21). Atualmente, o mercado é dominado por vários materiais que se encaixam nesta definição, como o polipropileno (PP) ou o polietileno (PE). A utilização destes materiais lança questões controversas sobre poluição e destruição de ecossistemas à escala global.

  • 2 Considerando a definição recomendada pelo IUPAC (Vert et al. 2012).

2Alternativas e substitutos aos plásticos sintéticos têm sido procuradas, por exemplo, no desenvolvimento de bioplásticos (Kakadellis e Rosetto 2021). No entanto, como foi alertado por Altman (2021, 47), “embora os bioplásticos representem um segmento crescente dentro da indústria, não são uma ideia nova e têm uma longa história, muitas vezes negligenciada e mal compreendida”. Como exemplo, citamos o celuloide, denominado por Robert Friedel (1983) como o “plástico pioneiro”, um bioplástico2 composto por nitrato de celulose (polímero semissintético) e cânfora. Foi desenvolvido em 1870 por John Wesley Hyatt (1837-1920) nos Estados Unidos da América com o objetivo de substituir o marfim utilizado em bolas de bilhar. As propriedades imitativas deste novo material eram notáveis, tendo sido posteriormente utilizado como substituto de muitos outros biomateriais preciosos, como a carapaça de tartaruga ou a madrepérola. Uma das primeiras indústrias a adotar este material nos seus processos produtivos foi a indústria dos pentes. Robert Friedel (1983) utilizou dois exemplos, o de Leominster (EUA) e Oyonnax (França), dois grandes centros de produção de pentes no século XIX, para demonstrar como a adoção do celuloide alterou profundamente a conjuntura económica e tecnológica destas duas cidades, mesmo quando a forma e a função dos pentes se mantiveram iguais. Os pentes tornaram-se apenas num dos vários produtos que faziam parte da grande indústria dos plásticos que surge no início do século XX. Ao invés do produto, foi o material que passou a dominar a vida industrial pelas suas características únicas.

3Em Portugal, estudos recentes (Miranda 2019; Neves et al. 2020) mostraram que o celuloide foi introduzido em Guimarães pela Fábrica de Pentes a Vapor da Madroa em 1895, mas o impacto tecnológico, económico e social da utilização deste material no contexto da indústria de pentes não foi explorado. Este artigo tem como objetivo central compreender este impacto no panorama da indústria de pentes vimaranense, perceber as suas implicações no desenvolvimento da indústria dos plásticos em Portugal e fazer um enquadramento comparativo com o contexto internacional. O trabalho está dividido em quatro secções. Na primeira, e dado que existe pouca informação na literatura sobre a indústria de pentes em Portugal, é analisada a evolução de fábricas e oficinas especializadas na produção de pentes a partir de dados encontrados nos Anuários Estatísticos de Portugal de 1879 a 1916 e comparada com fontes secundárias sobre o celuloide em Portugal. Dada a relação da indústria da cutelaria com a dos pentes, foi efetuada uma comparação estatística e com base nas observações de Cordeiro e Costa (2014). Para compreender o contexto da produção de pentes em Guimarães no século XIX, os relatórios sobre a Exposição Industrial de Guimarães de 1884 provaram ser especialmente valiosos.

4Na segunda secção, é discutida a evolução dos materiais usados nesta indústria, desde o chifre, passando pelo celuloide, até ao plástico. Esta discussão é feita com base em literatura de especialidade, nos relatórios sobre a Exposição Industrial de Guimarães de 1884 e na análise de coleções de pentes de duas fábricas vimaranenses, nomeadamente a Fábrica do Carregal de João Teixeira e a Fábrica de Plásticos Pátria, pertencentes aos acervos da Casa da Memória de Guimarães e à Sociedade Martins Sarmento. Os materiais que compõem estas coleções foram identificados in situ com um espectrómetro Raman portátil (MIRA DS), uma técnica de caracterização molecular. Na terceira secção, são analisados os dados de importação de matérias plásticas fornecidos pelas estatísticas comerciais de Portugal, no período entre 1923 e 1960. A evolução destes dados é discutida e relacionada com a evolução da indústria de pentes vimaranense, da indústria de celuloide no contexto internacional e da indústria de plásticos em Portugal, recorrendo a fontes primárias e secundárias. Na última secção, a quarta, o contexto industrial da produção de plásticos em Guimarães é comparado com os distritos de Lisboa, Porto, Leiria e Aveiro, os principais centros de produção de plásticos de Portugal. Com esse objetivo, foram analisados dados, obtidos das estatísticas industriais do Instituto Nacional de Estatística de 1955 a 1968, sobre a evolução do número de fábricas de matérias plásticas e sobre a quantidade de plásticos celulósicos produzidos a nível nacional. Esta comparação foi completada com base na literatura existente, na qual se destaca Callapez (2000) sobre a história dos plásticos em Portugal, Miranda (2019) sobre a indústria de plásticos em Aveiro, e Gomes (2005) e Beira et al. (2007) sobre a indústria dos moldes para plásticos na Marinha Grande e Oliveira de Azeméis.

1. O celuloide e a indústria dos pentes vimaranense

5A bacia hidrográfica do Vale do Ave engloba vários concelhos, entre eles Guimarães, Póvoa de Lanhoso, Póvoa de Varzim e Santo Tirso. O dinamismo industrial desta região está associado à energia motriz proporcionada pelos rios Ave e Vizela. Aproveitando a matéria-prima fornecida pela criação de gado bovino e utilizando os recursos hídricos para abastecimento de água e produção energética, elementos necessários para as diferentes fases de transformação do couro, do osso ou do chifre, as indústrias do curtume, da cutelaria e do pente estabeleceram-se nesta região desde os tempos medievais. Registos históricos indicam que a profissão do penteeiro em Guimarães já se encontrava organizada no século XIV (Costa 2006; Moscoso 2006). Após vários períodos de prosperidade, estas atividades estagnaram no século XIX devido à falta de inovação tecnológica, produtiva e organizacional (Cordeiro e Costa 2014). Segundo os números dos anuários comerciais, à escala nacional, em 1879 existiam 34 oficinas especializadas na produção de pentes (Gráfico 1a). Em 1881, das 30 existentes a nível nacional, 15 operavam em Guimarães, proporção que atesta esta cidade como principal centro produtor de pentes em Portugal (Caldas 1996, 73). Em 1890 apenas existiam três oficinas, uma queda demonstrativa do estado de asfixia económica em que estas oficinas operavam (Gráfico 1a). Dessas três, apenas uma estava registada no distrito de Braga (Tabela 1).

Gráfico 1. Número de oficinas e fábricas de pentes a operar em Portugal, 1879-1916

Gráfico 1. Número de oficinas e fábricas de pentes a operar em Portugal, 1879-1916

Fonte: anuários estatísticos de Portugal de 1879 a 1916. Nota: não existem informações sobre os períodos entre 1891-1895 e 1904-1910.

Tabela 1. Evolução do número de oficinas e de fábricas de pentes em Portugal, 1890-1916

Tabela 1. Evolução do número de oficinas e de fábricas de pentes em Portugal, 1890-1916

Fonte: anuários estatísticos de Portugal de 1879 a 1916. Nota: dados por distrito; só existem dados com esta informação para os anos descritos.

6Se compararmos com o número de cutileiros, observamos uma diminuição menos acentuada (Gráfico 1b). De acordo com Cordeiro e Costa (2014), as oficinas de cutelaria existentes eram de pequena dimensão, de baixo capital, insalubres, de produção manual, e não produziam lucros suficientes que permitissem ao proprietário investir na sua modernização. O mesmo parece verificar-se para as oficinas de pentes, mas a uma maior escala. Para os pentes, a diminuição do número de oficinas está também associada à dependência externa do país, resultante de políticas protecionistas que limitavam a inovação e a diversidade dos produtos nacionais (Costa, Miranda e Lains 2011, 317-321). As oficinas não conseguiam competir com o número e qualidade dos pentes produzidos mecanicamente e importados do estrangeiro. As oficinas que sobreviveram provavelmente vendiam a nível regional ou local. Sobre o estado decadente da indústria dos pentes neste período, será interessante ler o relatório escrito pelo comissário (barão de Pombeiro) que visitou Exposição Industrial de Guimarães de 1884, que contou com cinco expositores com pentes de chifre, o material tradicional:

  • 3 “Relatório do comissário que visitou a Exposição Industrial de Guimarães”, O Commercio de Guimarã (...)

A causa da decadência é a concorrência de produtos similares estrangeiros, que sendo obtidos por processos mais aperfeiçoados, vem concorrer vantajosamente com os nossos; entretanto os industriais lutam contra essa concorrência, baixando os preços e aumentando o número de horas de trabalho, que chegam a dezoito por dia.3

  • 4 A diferença entre oficina e fábrica não é explícita, mas estaria associada ao número de trabalhad (...)
  • 5 Apesar de esta fábrica ter sido instalada em 1895, a contabilização de fábricas de pentes nos anu (...)

7Entre 1892 e 1898 houve um grande investimento, a nível nacional, na importação de maquinaria (Castro 1978, 42). Esse investimento foi sentido no distrito de Braga. Na indústria de pentes observa-se a criação das primeiras fábricas e crescimento do número de oficinas (Gráfico 1a). Em 1900, das três fábricas existentes no país, duas estavam sediadas no distrito de Braga (Tabela 1).4 Foi uma dessas fábricas – a Fábrica de Pentes a Vapor da Madroa, instalada em Guimarães em 1895 sob a firma Dias, Silva e Lerdeira, apelidos dos fundadores Francisco Dias de Castro, José da Silva Guimarães e José Lerdeira Guimarães – que introduziu o celuloide em Portugal.5 Uma vez que não existia conhecimento no contexto industrial português para tal projeto, foi necessário recorrer a perícia estrangeira. Foi contratado um técnico francês de nome Edmond Chevrey e encomendada maquinaria à firma Genffenay & Sons, localizada num dos principais centros de produção de pentes de França, Ézy-sur-Eure. É importante referir que a importação de conhecimento técnico francês não era incomum. Foi uma necessidade partilhada por outros países europeus, como a Alemanha ou Itália (Neves et al. 2020). O celuloide para a fabricação de pentes era importado de França na forma de blocos quadrados ou de folhas.

  • 6 Manoel de Castro Sampaio. “Edital”, O Commercio de Guimarães, 28 de janeiro de 1897.

8A fábrica teve sucesso imediato e rapidamente exibiu os seus produtos em exposições industriais, participando na Exposição Industrial Portuguesa realizada em 1897 no Palácio de Cristal, na cidade do Porto, e conquistando uma medalha de prata. Em 1899, a fábrica contava com 40 trabalhadores e produzia 1800 pentes por dia, vendendo-os nos mercados de Lisboa e do Porto. Foi premiada ao ser selecionada para participar na Exposição Universal de Paris de 1900 em representação da indústria de Guimarães no Pavilhão de Portugal (Nogueira et al. 2017). Pouco se sabe desta fábrica no século XX. Em 1903, apenas existia uma fábrica registada a nível nacional e os dados indicam que seria a Costa, Lerdeira e Commandita. O requerimento para a fundação desta nova fábrica foi efetuado em 1897, sendo pedida a concessão de uma licença para a produção de pentes de chifre utilizando uma máquina a vapor.6

  • 7 “Fábrica a Vapor de Pentes e Cutelarias de Guimarães”, O Regenerador, 1909, p. 4.

9Em 1898, a Costa, Lerdeira e Commandita estava instalada na rua da Caldeirôa, em Guimarães (Freitas 1898). Em 1909, produzia pentes de chifre e celuloide, cutelarias “em todos os géneros” e “muitos outros artigos da indústria de Guimarães”.7 Participou na Exposição Industrial Agrícola de Guimarães em 1923, onde expôs diversos pentes e travessas e outros artigos de celuloide, galalite, chifre e unha, como calçadeiras e “estojos de toilette”, juntamente com outras três firmas, a Eduardo & Silva, a Emprêsa Industrial de Guimarães e a Machado & Pinto (Martins 1928). Esta evolução é reveladora do impacto do celuloide na indústria de pentes em Portugal e está de acordo com a asserção de Schmitt (1923), autor de um importante livro técnico sobre a produção de pentes, que afirma que o uso de celuloide induziu o crescimento global desta indústria.

  • 8 Patente 16:041, “Aperfeiçoamento no sistema mecânico de dentear travessas e pentes para o cabelo” (...)

10Em 1928, a fábrica Costa, Lerdeira e Commandita tinha cinco fábricas a vapor em Guimarães e uma em Vizela, e 10 fábricas de fabrico manual, que abasteciam o país (Costa 2006). O caráter inovador, pouco comum no contexto industrial português, foi uma das razões para o seu sucesso e longevidade, exemplificado pelas duas patentes encontradas nos Boletins da Propriedade Industrial de 1929 e 1930, registadas em nome desta empresa, relativas a um processo de estampagem a quente em pentes de celuloide e a uma melhoria de um sistema mecânico para a produção de travessas para o cabelo.8 Não é ainda conhecida a data de encerramento desta firma. Após o ano de 1916 não existem dados estatísticos sobre a indústria dos pentes. No entanto, nos censos de 1940 e 1950 é possível constatar que o distrito de Braga continuava a ser o principal centro de produção de pentes: 88% e 62% do total de penteeiros a nível nacional, respetivamente (Instituto Nacional de Estatística 1945b; 1953).

2. Chifre, celuloide e plástico – do natural ao sintético

  • 9 É de realçar que a descoberta de pentes, para higiene pessoal, em marfim e carapaça de tartaruga (...)
  • 10 Arquivo Municipal de Lisboa, AML-AH, Chancelaria da Cidade, Coleção de editais da Câmara Municipa (...)

11Até ao século XIX, os fabricantes de pentes utilizavam preferencialmente as seguintes matérias-primas: a madeira de buxo, o osso, o marfim, a madrepérola e a carapaça de tartaruga (Walton 1925). Estes materiais, de origem vegetal e animal, foram escolhidos por serem rígidos, fáceis de trabalhar em operações de corte e polimento, e estáveis perante flutuações de humidade e temperatura (Schmitt 1923). Em Portugal, foram encontrados em trabalhos arqueológicos no Convento de Santana, em Lisboa, pentes de higiene feitos em osso, marfim e carapaça de tartaruga, num acervo datado entre os séculos XVI e XVIII (Gomes, Gomes e Gonçalves 2015).9 Nesta cidade, o marfim terá também sido usado intensivamente pela Real Fábrica de Pentes de Marfim, Caixas de Papelão e Vernizes, fundada em 1764 pelo industrial francês Gabriel de la Croix e enquadrada na iniciativa reformista do Marquês de Pombal. Em 1833, na capital portuguesa, eram fabricados pentes de carapaça de tartaruga e chifre, conforme descrito num edital do Senado da Câmara de Lisboa sobre um requerimento para medidas regulatórias sobre estes dois materiais feito pelos “Juízes do Ofício de Penteeiro”.10

  • 11 Relatório da Exposição Industrial de Guimarães em 1884. Porto: Typograhia de António José da Silv (...)

12No século XIX, o chifre tornou-se a matéria-prima mais utilizada para a fabricação de pentes. Os avanços tecnológicos desenvolvidos na região de Leominster, EUA, foram fundamentais ao permitirem uma transformação mais eficiente deste material. Destaca-se a invenção de uma prensa, entre 1798 e 1812, que permitia o alisamento do chifre e o seu corte em quadrados, formato necessário para as restantes etapas de produção, assim como de métodos para colorir o chifre (Walton 1925). Em Guimarães, cidade localizada num dos principais centros de produção de gado bovino do país, as fontes históricas disponíveis apontam o chifre como a matéria-prima principal (Costa 2006). O relatório sobre a Exposição Industrial de Guimarães de 1884 informa-nos sobre o uso deste material e o seu público-alvo: “Ainda hoje se sustenta um comércio importante dos pentes mais ordinários, que, pelo seu baixo preço e duração, têm muito consumo nas classes populares. A matéria-prima é a ponta de boi”.11

13Na obra de A. L. de Carvalho (1943, 116-118) é possível ler uma transcrição de um processo de fabricação de pentes de chifre utilizado nesta cidade durante o século XIX. Apesar de referir o uso de uma prensa de madeira para alisar o chifre, todos os outros processos eram manuais. Sobre esta questão é ainda merecedor de atenção outro parágrafo do relatório do barão de Pombeiro sobre os pentes apresentados naquela exposição:

  • 12 “Relatório do comissário…”, já cit.

É pena que não sejam auxiliados, indicando-se-lhes os processos que lá fora são usados; mesmo porque, apesar de todas as dificuldades com que lutam os produtos têm melhorado muito em qualidade; e na exposição havia amostras de pentes e outros objetos de chifre, fingindo tartaruga, que na verdade não eram inferiores aos que vêm do estrangeiro.12

  • 13 Relatório da Exposição Industrial de Guimarães em 1884, já cit., p. 154.

14Um dos penteeiros presentes nesta exposição mencionou à comissão encarregada do relatório que não tinha nenhum maquinismo, a não ser uma serra manual, para a produção de pentes de chifre imitando tartaruga, uma tarefa dura e que em pentes pequenos cansava a vista.13 O chifre como matéria-prima e o uso de métodos para imitar materiais naturais, neste caso a tartaruga, foram fatores-chave para a introdução do celuloide nesta indústria vimaranense. O chifre e a carapaça de tartaruga são materiais compostos por queratina e têm propriedades termoplásticas, i.e., podem ser moldados quando submetidos a calor e pressão. Williamson (1994) explicou que foram os avanços na moldagem por compressão do chifre que motivaram o mercado de artigos moldados a baixo custo, mercado esse que viria a ser dominado mais tarde pelos materiais termoplásticos (semi)sintéticos, sendo o primeiro deles o celuloide. Freinkel (2011, 24) referiu-se ao chifre como um “plástico natural”. Os processos usados pelos penteeiros portugueses no século XIX não incluíam a moldagem por compressão, mas a experiência com o chifre preparou-os para trabalhar e compreender as propriedades termoplásticas do celuloide.

15Westmont (2019) usou o exemplo de pentes de celuloide em imitação de tartaruga para mostrar como este material permitiu à população rural e de baixo poder de compra de Eckley, Pennsylvania, EUA, a realização dos seus desejos materiais. O celuloide, usado para imitar materiais naturais preciosos, transmitia um nível de status social e sofisticação que superava o papel do pente como objeto puramente funcional. Em Guimarães, o mercado para este tipo de materiais “falsos” já existia com o chifre em 1884, 11 anos antes da introdução do celuloide. Friedel (1983) mostrou, para três companhias sediadas em Nova Iorque, entre 1877 e 1912, que o preço dos pentes de chifre se manteve inferior ao preço do celuloide. Dada a disponibilidade de matéria-prima, esta relação de preços também se deve ter verificado em Guimarães. Por isso, não existia grande vantagem económica na venda de pentes de celuloide. No entanto, o celuloide era tecnicamente e comercialmente vantajoso, ao permitir processos de fabricação mais eficientes, resultados uniformes e maior número de cores e padrões.

  • 14 J. Collyer (1714/15-1776) foi um editor e tradutor britânico. Em 1761, escreveu o livro The Paren (...)

16Joseph Collyer14 escreveu que o ofício do chifre, embora fedorento, requeria mais perícia do que força (apud Hardwick 1981, 13-14). Uma das primeiras etapas era a seleção do chifre com base na sua forma e peso. Depois, o operário encarregado da etapa do alisamento tinha de cortar o chifre em blocos com grande cuidado, seguindo a sua curvatura natural. Finalmente, estes blocos eram aquecidos e submetidos à prensa, entre duas chapas de ferro quentes. O celuloide eliminava completamente este processo. As fábricas licenciadas na transformação do celuloide recebiam o material em forma de chapas, uniformes e com dimensões e espessuras pré-definidas, que eram facilmente cortadas. Para além disso, o celuloide permitia uma imitação da tartaruga de melhor qualidade. As imitações de materiais naturais com celuloide eram excecionais, conseguindo enganar o olho mais experiente. Os resultados artesanais obtidos com o chifre eram variáveis e o leque de efeitos era limitado.

17Em Leominster, EUA, e Oyonnax, França, foram fundadas fábricas especializadas na produção de celuloide para fornecer a matéria-prima às fábricas de pentes. Destacam-se a Viscoloid Company em Leominster (1901) e a Societé Oyonnaxienne (1902). Foi necessário um grande investimento de capital para a construção de ambas. Estas fábricas realizavam todas as etapas de produção do celuloide, desde a síntese do nitrato de celulose ao corte e distribuição das chapas para a produção de pentes. Nestes dois centros de produção, o celuloide substituiu o chifre (Friedel 1983). Mas, ao contrário destes, em Guimarães a tradição do chifre manteve-se e conviveu com o celuloide, como observado pela análise espectroscópica de pentes produzidos pela oficina da José Teixeira e pela Fábrica de Plásticos Pátria, que operaram em Portugal após 1950. Isto ocorreu principalmente por duas razões: pela falta de conhecimento técnico e de capital para a construção de fábricas especializadas na produção e distribuição nacional de celuloide em bruto, e pela localização geográfica de Guimarães.

18António Rio de Janeiro, gerente da Sociedade Portuguesa do Celuloide, foi o primeiro português a patentear um processo para a produção de celuloide, em 1923 (Miranda 2019; Neves et al. 2020). Esta fábrica esteve presente na Exposição Industrial e Agrícola de Guimarães em 1923 e expôs brinquedos para criança de celuloide em pasta (Martins 1928). O uso do celuloide em pasta sugere que esta fábrica poderá ter produzido matéria-prima para consumo próprio. Para a indústria de pentes, o celuloide terá sido sempre importado em forma de chapa, semelhante ao que acontecia no contexto internacional. Em 1943 e 1956, o distrito de Braga tinha o maior efetivo pecuário bovino do país: respetivamente 13,1% e 13,6% do número a nível nacional (Instituto Nacional de Estatística 1945a; 1957). Apenas os distritos vizinhos do Porto e de Viana do Castelo competiam com estes números. Se somarmos estes três distritos, contabilizamos nos mesmos anos 36,9% e 35,9%, respetivamente. Para percebermos a diferença com o caso americano, Friedel (1983) sugere que o crescente uso de processos de refrigeração, permitindo o transporte de carne do centro para a costa leste dos EUA, levou a uma diminuição do efetivo pecuário na região próxima a Leominster e potenciou a transição total para o celuloide.

19A dinâmica de transmissão de conhecimento também teve um papel importante na conservação dos processos de transformação do chifre em Guimarães. Os conhecimentos eram transmitidos de geração em geração, por observação. É necessário ter em conta que a taxa de analfabetismo no distrito de Braga era de 72% em 1900 e de 47% em 1950 (Instituto Nacional de Estatística 1953; Direcção Geral da Estatistica e dos Proprios Nacionaes 1906). As propriedades mecânicas do celuloide permitiram que este fosse adaptado sem que os processos de manufatura fossem radicalmente alterados. O caso da fábrica de João Teixeira é um exemplo que nos informa sobre o funcionamento de uma fábrica de pentes tradicional em Guimarães no século XX. João Teixeira, nascido nos anos 20 do século XX, aprendeu o ofício de penteeiro do seu pai, observando-o a trabalhar na sua oficina. Nesta oficina, os pentes eram produzidos a partir de processos tradicionais, manuais, de corte e polimento. Nos anos 50, decide fundar a sua própria fábrica de pentes em Guimarães, a Fábrica de Pentes do Carregal. No seu apogeu, a fábrica empregou 80 pessoas e produziu, em média, 1000 pentes por dia. Em 2006, continuava a fabricar pentes e travessas com o seu filho.

20Segundo Teresa Costa (2006), o processo de fabrico continuava a ser “muito semelhante ao primitivo” e o chifre era o material de preferência. João Teixeira dispunha de maquinaria alimentada a gasóleo e a eletricidade, típica de um sistema tecnológico e produtivo de uma fábrica de pentes da primeira metade do século XX. Das análises de espectroscopia Raman efetuadas aos pentes da oficina de João Teixeira, pertencentes à coleção da Casa da Memória de Guimarães, foi possível verificar a existência de chifre e celulóide. Não foi possível precisar a data destes objetos, mas esta caracterização material reflete a significância destes materiais na indústria de pentes. O chifre, pelo seu baixo custo e durabilidade, era usado nos pentes para pentear, para caspa, para alisar ou para barbeiro. Os pentes de celuloide, devido às suas qualidades imitativas, eram produzidos como pentes de adorno, como é exemplo das travessas em imitação de tartaruga com dourados e prateados (figura 1).

Figura 1. Pentes da Fábrica de Pentes do Carregal

Figura 1. Pentes da Fábrica de Pentes do Carregal

Fonte: Objetos pertencentes à coleção da Casa da Memória, Guimarães. Nota: à esquerda, pentes de pentear de chifre; à direita, travessas de celuloide em imitação de tartaruga.

21Na década de 1940, existiam 13 fábricas de pentes registadas em Guimarães, que utilizavam chifre e celuloide (Costa 2006). Fundada em 1950, a Fábrica de Plásticos Pátria é um exemplo máximo da transição do natural para o sintético, do papel do celuloide nessa transição e do impacto na sociedade. Foi uma das maiores exportadoras de plásticos a nível nacional, tendo encerrado portas em 2009. As coleções da Fábrica de Plásticos Pátria, da Casa da Memória e da Sociedade Martins Sarmento são representativas da transição de uma indústria de pentes com processos tradicionais, como observado na Fábrica do Carregal, para a indústria moderna de plásticos, de moldagem por injeção e produção em massa. Produziu pentes de chifre, celuloide, acetato de celulose e poliestireno. Dois pentes de caspa, exatamente iguais na sua forma e função, são um excelente exemplo de como os materiais que os compõem nos contam a história desta evolução industrial (Figura 2).

22O pente de celuloide foi provavelmente produzido a partir de uma chapa de celuloide laranja transparente, a partir dos processos estabelecidos no século XIX e inícios do século XX, de cisalhamento, entrecorte dos dentes, gravação e outros. O pente de acetato de celulose foi produzido a partir da moldagem por injeção, processo reconhecido pela imperfeição deixada pelo orifício de enchimento do lado do pente. É interessante notar que era o acetato de celulose que se utilizava como imitação de tartaruga. Neste caso, o celuloide ganha uma nova dimensão estética, usado com uma tonalidade intensa e artificial, característica do novo mundo sintético do pós-segunda guerra mundial. Esta fábrica também produziu pentes de imitação de tartaruga e de chifre em celuloide (o maior número de pentes de celuloide desta coleção é de imitação de tartaruga). Foi esta versatilidade do celuloide, de imitar e de criar efeitos artificiais, a baixo custo, que revolucionou a indústria dos pentes. A modernização para a moldagem por injeção, de acetato de celulose, mas sobretudo de poliestireno, foi um passo natural numa indústria que já tinha ultrapassado os limites do natural.

Figura 2. Pentes da Fábrica de Plásticos Pátria

Figura 2. Pentes da Fábrica de Plásticos Pátria

Fonte: Objetos pertencentes à Sociedade Martins Sarmento, Guimarães. Nota: Pentes de caspa feitos de celuloide (esquerda) e acetato de celulose (direita).

3. Importação de matérias plásticas de 1923 a 1960

23Os dados sobre a importação de matérias plásticas são elucidativos do desenvolvimento da indústria dos plásticos em Portugal e da sua relação com a indústria de pentes de Guimarães (Gráfico 2). No ano de 1923-1924 ocorre o primeiro registo de importação de celuloide em bruto e em obra. O registo de dados estatísticos, a Exposição Industrial Agrícola de Guimarães de 1923, que contou com vários expositores com pentes e outros objetos de celuloide, e a publicação, nesse mesmo ano, da primeira patente portuguesa para a produção de celuloide, evidenciam o crescimento industrial e comercial deste material a nível nacional. A tendência de crescimento relaciona-se com o ciclo económico positivo observado em Portugal nos anos 20 e com a evolução da indústria do celuloide no contexto internacional (Costa, Miranda e Lains 2011, 367-374).

Gráfico 2. Importação de matérias plásticas em Portugal

Gráfico 2. Importação de matérias plásticas em Portugal

Fonte: relatórios do comércio externo do Instituto Nacional de Estatística de 1923 a 1954.

24Emil Ott (1940) mostrou, a partir de dados dos censos norte americanos, que o preço do nitrato de celulose diminuiu 40% de 1917 para 1918. Esta diminuição está relacionada com o aumento de produção de algodão-pólvora, material inflamável composto por trinitrato de celulose, para utilização militar durante a Primeira Guerra Mundial. No final da guerra, existia um excedente de nitrato de celulose por utilizar. Foram criadas fábricas para a produção de celuloide, como o caso da Società italiana della celluloide, fundada em 1922 pelos irmãos Mazzucchelli em Itália (Cecchini 2014). Nos EUA, Ott (1940) observou o crescimento da indústria do celuloide: em 1918 foram produzidos 8,1 milhões de toneladas de matéria-prima; em 1923, 12,7 milhões de toneladas, um aumento de 56,7%. Na Alemanha, país onde a produção de celuloide estava mais desenvolvida, a produção subiu de 25 toneladas/dia nos anos antes da guerra para 52 toneladas/dia em 1923, correspondente a um aumento de 108% (Michel 2013a, 1-3). Este crescimento da produção alemã teve impacto no contexto industrial português: do total de celuloide em bruto importado por Portugal entre 1923 e 1926 (cerca de 121,3 toneladas), 71% foi importado da Alemanha (cerca de 86 toneladas).

25A partir de 1930, observa-se um aumento da importação de matérias plásticas, ano em que é encontrado o primeiro registo de importação de baquelite em obra, o primeiro plástico sintético. O crescimento das importações está de acordo com o observado por Callapez (2000), que demonstrou que existia uma dinâmica empresarial no sector da transformação de matérias plásticas mesmo considerando as limitações impostas pelo regime de condicionamento industrial instaurado pelo Estado Novo em 1931. Este dinamismo está associado ao aumento do número de fábricas transformadoras de celuloide, galalite e baquelite em Lisboa, Leiria, Aveiro e Porto (Neves et al. 2020; Callapez 2000). Como constatado por Joaquim do Vale em 1952, num artigo de crítica ao condicionamento industrial publicado na imprensa regional, na indústria dos pentes este dinamismo resultou em inovação tecnológica, consequência da competição com a concorrência estrangeira:

  • 15 Joaquim do Vale. “Daqui Não Saio... O Condicionamento Industrial”, Notícias de Guimarães, 27 de j (...)

Diz-se que condicionamento desperta o progresso técnico da produção. Não parece. O progresso técnico desenvolve-se com a concorrência. Veja-se o que aconteceu com a indústria de pentes. A América inundou o mercado de pentes, em plástico, por preços de concorrência. Que fizeram os nossos industriais desse ramo? Apetrecharam-se com máquinas modernas e aí os temos a fabricar pentes, em abundância, por preços baratíssimos.15

26Em 1946, surge a primeira importação designada plástico, inserida na categoria 392, a mesma que o celuloide. Em 1948, o termo plástico desaparece, sendo substituído por vidro sintético, referindo-se ao polimetacrilato de metilo (PMMA). É de interesse notar que o livro Matérias Plásticas – o primeiro livro técnico português sobre a indústria de plásticos, escrito por António Rio de Janeiro e publicado em 1950 – descreve processos de produção do celuloide, da galalite, do vidro plástico (PMMA) e da baquelite, que nos registos de importação são os materiais plásticos com mais peso na economia portuguesa neste período (Janeiro 1950). De 1946 a 1948 é observado um aumento significativo da quantidade importada de matérias plásticas, devido à grande procura de matéria-prima importada após um período de escassez. O celuloide foi comprado a preços mais elevados entre 1946 e 1948 devido à inflação do pós-guerra (Costa, Miranda e Lains 2011, 381-385; Rollo 2004, 36). Após 1949, as quantidades importadas voltam a subir, não só do celuloide, mas de todas as outras matérias plásticas, denotando o crescimento da indústria dos plásticos em Portugal. A partir de 1947, a indústria de transformação de plásticos deixou de estar sujeita ao regime do condicionamento industrial, o que contribuiu significativamente para esta evolução (Callapez 2000).

27O crescimento da indústria traduziu-se num maior rigor técnico-científico dos termos utilizados nos registos de importação, um avanço que se relaciona temporalmente com a publicação do primeiro livro técnico português sobre matérias plásticas (Janeiro 1950). Em 1951 surge uma nova categoria – a categoria 389 “Matérias plásticas artificiais em bruto, mesmo com a incorporação de papel, tecido ou outras substâncias”, onde se inserem o celuloide, o PMMA e o acetato de celulose. Em 1960 existem alterações significativas na organização dos dados. Estão descritas pela primeira vez as quantidades e valores da importação de polímeros como o polietileno (PE), o cloreto de polivinilo (PVC) e o poliestireno (PS). A partir deste ano, não foram encontrados dados específicos para a importação do celuloide, estando de acordo com a diminuição do interesse comercial nesta matéria-prima a partir de 1960. Devido às suas desvantagens técnicas e económicas, o celuloide não conseguia competir com as matérias plásticas sintéticas. Como exemplo, em França, o celuloide deixou de ser produzido em 1978 (Michel 2013b, 9).

4. O impacto do celuloide na indústria transformadora de plásticos

28A metamorfose da indústria de pentes para a indústria dos plásticos foi constatada, em 1954, por António Lopes de Carvalho em ocasião da Exposição Industrial e Agrícola de Guimarães de 1953:

  • 16 António Lopes de Carvalho. “Labor: do passado oficinal ao industrialismo presente”, Notícias de G (...)

Marcando etapas sucessivas, os penteeiros caminharam. Do corno animal, chegaram ao celuloide, à galalite. Destas pastas mais ao menos transparentes e elásticas, chegaram, por um produto liquefeito, à mais sintética das matérias-primas […] A velha indústria dos pentes metamorfoseou-se, finalmente, na novíssima indústria dos plásticos. Industriais empreendedores, seguindo uma rota reformadora, estudaram, viajaram. E fizeram um “milagre” de renascimento, na hora em que a Velha indústria parecia naufragar. O que as suas máquinas produzem hoje, vai dos pentes às coisas mais lindas dos bazares quinquilheiros.16

  • 17 António Lopes de Carvalho. “Aquela fábrica”, Noticias de Guimarães, 20 de maio de 1956.
  • 18 Ibid.

29O mesmo autor menciona como principais figuras desta transição quatro fábricas de pentes e dois industriais: a Xavieres Limitada, José Teixeira da Fábrica de Pentes do Ribeirinho e José Mendes de Oliveira da Fábrica dos Pentes da Caldeirôa (o nome da quarta fábrica não é identificado, tratando-se provavelmente da Fábrica de Plásticos Pátria, dada a sua relevância neste sector).17 José Mendes de Oliveira foi uma figura importante na indústria de pentes vimaranense, mas ainda não foi encontrada informação adicional sobre o seu papel, para além do elogio de A. L. de Carvalho: “Quando, pois, se faça a história da introdução do plástico na indústria nacional, o nome desse vimaranense se terá de fixar como testemunho do esforçado espírito de progresso que acompanha tantos dos nossos industriais”.18 Este industrial está associado, por este autor, à Fábrica de Pentes da Caldeirôa. Será importante perceber se existe uma ligação entre esta fábrica e a Costa, Lerderia e Commandita, pioneira no uso do celuloide e sediada na rua da Caldeirôa. A Fábrica de Pentes do Ribeirinho foi fundada em 1905 por Manuel Teixeira para produção de pentes e ganchos em chifre, tendo diversificado o seu produto nos anos 40 com a produção de brinquedos. Em 1954, José Teixeira, filho de Manuel Teixeira, torna-se um dos primeiros industriais vimaranenses a comprar uma máquina de injeção moderna para a produção de brinquedos e outros objetos utilitários (Pires 2016). A Xavieres Lda. chegou a ter 800 empregados laborando na transformação de matérias-plásticas sintéticas, cujo processo técnico foi adquirido em estágios na Alemanha (Freitas 2017).

30A particularidade destas quatro fábricas é que todas estão diretamente ligadas à tradição da manufatura de pentes vimaranense, tendo esta tradição tido significativo impacto na evolução da indústria de plásticos desta cidade. Os dados sobre o número de fábricas de plásticos e quantidade de artigos celulósicos produzidos a nível nacional, encontrados nas Estatísticas Industriais do INE (1958-1967), na secção “Fabrico de Artigos de Matérias Plásticas”, mostram a singularidade do distrito de Braga (Gráfico 3). A taxa de crescimento do número de fábricas de plásticos no distrito de Braga foi muito inferior ao observado nos distritos de Lisboa, Porto e Leiria, mas a produção de artigos com matérias plásticas celulósicas manteve-se relevante. Se tivermos em consideração o menor número de fábricas a nível nacional no distrito de Braga, o peso das fábricas vimaranenses na transformação de materiais celulósicos em Portugal é evidente. O grupo dos celulósicos não é especificado, no entanto os dados das importações evidenciam o celuloide e o acetato de celulose como os mais importados. Independentemente dessa especificação, os dados das estatísticas industriais são um reflexo do legado do celuloide na indústria de plásticos vimaranense, sendo o distrito que mais produz dentro dessa classe dos celulósicos de 1964 a 1967 em Portugal.

Gráfico 3. Fabrico de matérias plásticas, 1955-1968

Gráfico 3. Fabrico de matérias plásticas, 1955-1968

Fonte: estatísticas industriais do Instituto Nacional de Estatística de 1955 a 1967. Nota: dados relativos aos distritos de Braga, Leiria, Lisboa e Porto.

31Comparando com o distrito de Leiria, observamos que neste a transformação de matérias plásticas celulósicas não teve expressão. Em Leira, o primeiro plástico utilizado foi a baquelite, introduzida pela firma Nobre & Silva, fundada em 1927. Em 1936, a fábrica moderniza-se e começa a produzir rolhas, tampas e cinzeiros de plástico de baquelite, usando processos de compressão. Devido ao legado “sintético” da Nobre & Silva e à proximidade com o centro produtor de moldes para plásticos, a Marinha Grande, nas décadas seguinte, observa-se um crescimento notável de fábricas de plásticos na região (Callapez 2010). Foram as matérias-primas sintéticas, como o poliestireno, o polietileno e o polipropileno que dominaram a produção leiriense.

  • 19 Fábrica Luso-Celulóide de Henriques e Irmão. Lisboa: Tipografia Casa Portuguesa, 1951.

32Apesar de não entrar nas estatísticas industriais para a produção de plásticos celulósicos, a cidade de Espinho, no distrito de Aveiro, foi um importante centro de produção de artigos de celuloide a partir de 1930. Como aconteceu com Guimarães em 1895, em Espinho o conhecimento industrial para produção de artigos de celuloide é trazido por Léon Petit, um francês de Oyonnax, local onde a família possuía um estabelecimento para a produção de pentes, óculos e bijuteria em osso, chifre e celuloide. Fundou em 1930, com os irmãos Henriques, proprietários de uma loja e armazém de brinquedos e quinquilharia sob a marca Pencudo, uma sociedade para a produção e venda de artigos de celuloide, a Henriques & Léon. Em 1931, os irmãos Henriques separam-se de Léon Petit e criam a Luso-Celulóide, que fabricou brinquedos e artigos religiosos. O chifre nunca fez parte dos processos de fabricação, quer da Luso-Celulóide, quer da Hércules, fundada em 1947 pelo irmão Artur Henriques (Miranda 2019). Em Espinho, apesar de o celuloide ter sido introduzido por alguém com experiência na indústria de pentes, essa tradição, por comparação com Guimarães, teve um papel menor no desenvolvimento dos plásticos na cidade. Em relação aos processos de produção, em 1951, a Luso-Celulóide operava com várias máquinas de injeção manual Eckert & Ziegler, desenvolvidas na Alemanha em 1926 para a injeção de poliestireno, e com duas máquinas de injeção horizontais de parafuso alternativo, demonstrando o seu avanço tecnológico.19 Os materiais usados por esta fábrica eram os usados pela Fábrica de Plásticos Pátria, indicando processos de transformação semelhantes.

33Esta semelhança de processos é também evidenciada pelas ligações de Guimarães, Aveiro e Leiria com a indústria dos moldes para plásticos da Marinha Grande e de Oliveira de Azeméis. A Aníbal H. Abrantes, primeira fábrica portuguesa a produzir moldes para injeção de plástico, foi fundada em 1945 na Marinha Grande. Entre 1945 e 1956, os principais clientes eram a Luso-Celulóide e a Hércules, de Espinho, a Baquelite Liz e a Matérias Plásticas Lda., de Leiria, e a Fábrica de Pentes do Ribeirinho, de Guimarães (Gomes 2005). A Moldoplástico, primeira fábrica dedicada à produção de moldes para plástico em Oliveira de Azeméis, fundada em 1955, vendeu para a Fábrica de Pentes do Ribeirinho, para a Xavieres Lda. e para a Fábrica de Plásticos Pátria, assim como para Leiria e Aveiro (Beira et al. 2007).

34É importante referir também o papel dos trabalhadores de Guimarães para o desenvolvimento da indústria dos moldes para plásticos, nomeadamente em Oliveira de Azeméis. António Silva, um dos fundadores da firma A. Silva Godinho, uma importante fábrica de moldes fundada em 1964 nesta cidade, recordou que “a fábrica Pátria de Guimarães teve os melhores artistas de moldes” (Beira et al. 2007, 92). Um desses artistas, Alfredo Frias, saiu da Fábrica de Plásticos Pátria para, mais tarde, formar sociedade com António Loura na fábrica Metaloura. António Rodrigues, líder da Simoldes Plásticos, mencionou o seu “tio Gabriel” como tendo “uma perícia impressionante: chegou a fazer moldes de pentes à mão, com uma punceta e sem pantógrafo para a Pátria, uma empresa de Guimarães”, sem, contudo, se perceber, ainda, qual terá sido o papel do celuloide nesta “escola” de moldes vimaranense (Beira et al. 2007, 185-186).

  • 20 “Um Caso Curioso!!!”, Diário de Lisboa, 25 de junho de 1933.

35Comparando Guimarães com os dois principais centros económicos do país, Lisboa e Porto, verificamos que no Porto a expressão dos celulósicos é residual, à semelhança de Leiria nos anos entre 1958 e 1967. De 1960 a 1964, existe competição entre o distrito de Lisboa e o de Braga na produção de artigos com celulósicos. A informação sobre o uso do celuloide em Lisboa é escassa. Nos anos 20, a Sociedade Portuguesa do Celulóide, fabricante de brinquedos em pasta de celuloide, esteve sediada em Lisboa. Nesta década, a Cunha Costa & Companhia produzia bonecas em pasta de celuloide (Miranda 2019). Mais intrigante para nós foi a descoberta de uma pequena coluna publicada numa edição do Diário de Lisboa em 1933, com o título “Um caso curioso!!!”, onde se refere um fabricante francês de Oyonnax, “o sr. E. Potard, que explora […] uma fábrica de artigos de celulóide em Benfica”.20 Novamente, encontramos uma relação entre a emigração de um industrial francês, de uma região conhecida pelos seus pentes, e o uso do celuloide em Portugal. De acordo com os dados obtidos por Callapez (2000), a E. Potard Lda. foi uma fábrica a exercer atividade na indústria de plásticos a partir de 1945. Fábricas de plásticos como esta poderão ter contribuído para a produção de celulósicos em Lisboa no período analisado. Mas a dinâmica de introdução desta indústria está mais próxima do caso de Aveiro do que do de Guimarães, na qual a tradição dos pentes teve um papel preponderante.

5. Conclusões

36Em Portugal o celuloide constituiu um avanço tecnológico de grande importância na evolução da indústria dos pentes. A noção de que o celuloide, um material plástico semissintético, permitia um conjunto de soluções técnicas e comerciais superiores ao chifre, um material plástico natural, transformou a indústria tradicional dos pentes de Guimarães na “nova” indústria dos plásticos. Assim, como explicado por Friedel (1983) para o contexto internacional, verificamos que em Portugal o celuloide teve um papel fundamental na construção da ideia moderna de “plástico” e na transformação do panorama industrial português no século XX. É interessante notar que, no caso português, a dinâmica de substituição do chifre, tradicionalmente utilizado em Guimarães para a produção de pentes, difere dos casos de Leominster, nos EUA, e de Oyonnax, em França. Nestes dois centros, foram criadas fábricas produtoras de celuloide em bruto, que disponibilizavam a matéria-prima em folhas uniformes, com tamanhos pré-definidos, num leque variado de cores e padrões.

37Em Portugal, não existia conhecimento técnico-científico para um empreendimento deste tipo: a produção de celuloide era um processo quimicamente complexo, exigia grande investimento de capital e, dada a inflamabilidade do material, as regras de segurança eram apertadas. No entanto, para a transformação do celuloide, existia uma base de conhecimento através da longa tradição da produção de pentes de chifre, uma vez que ambos os materiais partilham de um comportamento termoplástico. No entanto, o empreendedorismo dos industriais vimaranenses foi notável, nomeadamente na busca por este conhecimento através de missões e circulação pelo estrangeiro e do investimento de capital em maquinaria inédita no contexto nacional, criando as primeiras fábricas de pentes do país a produzir mecanicamente e a transformar o celuloide. Porém, ao contrário do que aconteceu nos centros de pentes americano e francês, em Portugal o celuloide não substituiu totalmente o chifre.

38O celuloide ofereceria vantagens técnicas e económicas: eliminava todas as etapas da difícil preparação do chifre, acelerando processos e diminuindo a folha salarial. Todavia, em Guimarães, o celuloide em bruto tinha de ser importado. Não foi encontrada informação comparativa entre os custos do chifre e os do celuloide para Portugal, mas se considerarmos a proximidade e disponibilidade do chifre em oposição à dependência com o fornecedor estrangeiro, transporte e taxas alfandegárias, anexadas à importação do celuloide, pode deduzir-se por que se manteve a utilização de material de origem animal nos processos de produção fabril. A identificação de pentes de higiene feitos com chifre e, por outro lado, de pentes de celuloide na sua maioria como imitação de tartaruga nas coleções da fábrica de João Teixeira e da Fábrica de Plásticos Pátria, duas referências na produção de pentes em Guimarães, indica que os pentes de celuloide foram introduzidos em Portugal para substituir as imitações de tartaruga feitas com o chifre.

39A noção da existência de um mercado de imitação de tartaruga com chifre é um assunto ao qual a comunidade científica tem prestado pouca atenção. Em geral, assume-se que a substituição da carapaça de tartaruga começou com o celuloide. O problema da concorrência estrangeira neste mercado de imitação, referido no Relatório da Exposição Industrial de Guimarães em 1884, sugere a existência de pentes de celuloide em território nacional já nesta década de 1880, importados dos EUA, Inglaterra ou França, países que começaram a produzir na década de 1870. Fazer um pente de chifre em imitação de tartaruga era lento, pois, para além de se trabalhar o chifre, era necessário mudar-lhe a cor, os efeitos eram limitados, variáveis, e o custo associado era superior. O celuloide em bruto vinha da fábrica já com a aparência da tartaruga, com um leque de variações por onde escolher, em grandes folhas que permitiam a produção de vários pentes. Adicionalmente, com um celuloide de boa qualidade a imitação podia ser tão perfeita ao ponto de enganar o olho mais treinado.

40O sucesso dos pentes de celuloide produzidos por fábricas portuguesas, a partir de 1895, em particular pela Fábrica de Pentes a Vapor da Madroa e pela Costa, Lerdeira e Commandita, mostram a importância deste mercado, onde o público-alvo eram as classes com menor poder de compra. À semelhança do que acontecia com a população rural americana, como refere Westmont (2019), os portugueses também procuravam estas imitações como meio de elevação do seu estatuto social. A importância da introdução de processos mecânicos e do celuloide na produção de pentes é demonstrada se compararmos Guimarães com Lisboa. A capital portuguesa era uma cidade com tradição na fabricação de pentes de tartaruga e chifre nos inícios do século XIX. Em 1903, no entanto, existiam apenas duas oficinas e, em 1916, já não existiam oficinas nem fábricas neste distrito (tabela 1). Isto sugere que Lisboa seria um dos portos de entrada dos pentes de celuloide estrangeiros, conduzindo à queda da produção artesanal de pentes nesta cidade.

41A significância do celuloide para a história dos plásticos em Portugal é exemplificada pela classificação dos materiais importados: o celuloide, classificado deste 1923, partilhou a classe da baquelite, o primeiro plástico sintético, de 1930 a 1950. A transformação do panorama industrial por influência do celuloide é demonstrada com a Fábrica de Plásticos Pátria, que, a partir de 1950, usa este material para pentes em imitação de chifre, tartaruga ou com cores artificiais que já em nada aparentavam o natural. O poliestireno, um plástico sintético, passou a ser o material produzido em maior quantidade, transformado por injeção em moldes portugueses, na Marinha Grande e em Oliveira de Azeméis. Tal como com o celuloide em 1895, esta inovação tecnológica, a dos plásticos sintéticos e da injeção, deveu-se ao espírito empreendedor dos industriais vimaranenses em procurarem o conhecimento técnico no estrangeiro. Guimarães tornava-se num dos principais centros de produção de plástico português, juntamente com Lisboa, Porto, Leiria e Aveiro.

42Em suma, e em resposta à pergunta retórica de António Lopes de Carvalho com que abrimos este artigo, num hipotético museu da história de Portugal o pente deveria ter um lugar de grande destaque. Foi o pente que abriu a porta para o novo mundo dos plásticos.

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Notas

1 Nascido em 1881, conhecido por A. L. de Carvalho, foi escritor, publicista e jornalista. Foi um dos fundadores do Centro Republicano Vimaranense, em 1906, presidente do município de Guimarães de maio a dezembro de 1922, membro da Direção da Sociedade Martins Sarmento e diretor do Jornal de Guimarães (Costa 2010).

2 Considerando a definição recomendada pelo IUPAC (Vert et al. 2012).

3 “Relatório do comissário que visitou a Exposição Industrial de Guimarães”, O Commercio de Guimarães, 12 de novembro de 1884, p. 1.

4 A diferença entre oficina e fábrica não é explícita, mas estaria associada ao número de trabalhadores e à produção mecânica com recurso a máquinas a vapor (Caetano 1986).

5 Apesar de esta fábrica ter sido instalada em 1895, a contabilização de fábricas de pentes nos anuários estatísticos só ocorre em 1897.

6 Manoel de Castro Sampaio. “Edital”, O Commercio de Guimarães, 28 de janeiro de 1897.

7 “Fábrica a Vapor de Pentes e Cutelarias de Guimarães”, O Regenerador, 1909, p. 4.

8 Patente 16:041, “Aperfeiçoamento no sistema mecânico de dentear travessas e pentes para o cabelo”, Boletim da Propriedade Industrial, nº 10, de 1929, p. 397. Patente 16:356, “Processo e máquina própria para a estampagem a quente em prateado ou dourado de ornamentos ou dizeres, sobre travessas e pentes em celulóide ou substância análoga”, Boletim da Propriedade Industrial, nº 6, de 1930, p. 226.

9 É de realçar que a descoberta de pentes, para higiene pessoal, em marfim e carapaça de tartaruga indica a presença de uma classe de elevado estatuto social e poder financeiro.

10 Arquivo Municipal de Lisboa, AML-AH, Chancelaria da Cidade, Coleção de editais da Câmara Municipal de Lisboa, 1823-1833, doc. 216 (15 de junho de 1833).

11 Relatório da Exposição Industrial de Guimarães em 1884. Porto: Typograhia de António José da Silva Teixeira, p. 246.

12 “Relatório do comissário…”, já cit.

13 Relatório da Exposição Industrial de Guimarães em 1884, já cit., p. 154.

14 J. Collyer (1714/15-1776) foi um editor e tradutor britânico. Em 1761, escreveu o livro The Parent's and Guardian's Directory, and the Youth's Guide, in the Choice of a Profession or Trade no qual descrevia diferentes artes e ofícios e as qualificações necessárias para as praticar.

15 Joaquim do Vale. “Daqui Não Saio... O Condicionamento Industrial”, Notícias de Guimarães, 27 de janeiro de 1952.

16 António Lopes de Carvalho. “Labor: do passado oficinal ao industrialismo presente”, Notícias de Guimarães, 27 de junho de 1954.

17 António Lopes de Carvalho. “Aquela fábrica”, Noticias de Guimarães, 20 de maio de 1956.

18 Ibid.

19 Fábrica Luso-Celulóide de Henriques e Irmão. Lisboa: Tipografia Casa Portuguesa, 1951.

20 “Um Caso Curioso!!!”, Diário de Lisboa, 25 de junho de 1933.

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Índice das ilustrações

Título Gráfico 1. Número de oficinas e fábricas de pentes a operar em Portugal, 1879-1916
Legenda Fonte: anuários estatísticos de Portugal de 1879 a 1916. Nota: não existem informações sobre os períodos entre 1891-1895 e 1904-1910.
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Título Tabela 1. Evolução do número de oficinas e de fábricas de pentes em Portugal, 1890-1916
Legenda Fonte: anuários estatísticos de Portugal de 1879 a 1916. Nota: dados por distrito; só existem dados com esta informação para os anos descritos.
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/lerhistoria/docannexe/image/12438/img-2.jpg
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Título Figura 1. Pentes da Fábrica de Pentes do Carregal
Legenda Fonte: Objetos pertencentes à coleção da Casa da Memória, Guimarães. Nota: à esquerda, pentes de pentear de chifre; à direita, travessas de celuloide em imitação de tartaruga.
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Título Figura 2. Pentes da Fábrica de Plásticos Pátria
Legenda Fonte: Objetos pertencentes à Sociedade Martins Sarmento, Guimarães. Nota: Pentes de caspa feitos de celuloide (esquerda) e acetato de celulose (direita).
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Título Gráfico 2. Importação de matérias plásticas em Portugal
Legenda Fonte: relatórios do comércio externo do Instituto Nacional de Estatística de 1923 a 1954.
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Título Gráfico 3. Fabrico de matérias plásticas, 1955-1968
Legenda Fonte: estatísticas industriais do Instituto Nacional de Estatística de 1955 a 1967. Nota: dados relativos aos distritos de Braga, Leiria, Lisboa e Porto.
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/lerhistoria/docannexe/image/12438/img-6.jpg
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Para citar este artigo

Referência do documento impresso

Artur Neves e Maria Elvira Callapez, «Para a história do celuloide: evolução da indústria dos pentes em Portugal, 1880-1970»Ler História, 83 | 2023, 119-143.

Referência eletrónica

Artur Neves e Maria Elvira Callapez, «Para a história do celuloide: evolução da indústria dos pentes em Portugal, 1880-1970»Ler História [Online], 83 | 2023, posto online no dia 29 novembro 2023, consultado no dia 15 janeiro 2025. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/lerhistoria/12438; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/lerhistoria.12438

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Autores

Artur Neves

Departamento de Conservação e Restauro, NOVA School of Science and Technology, Portugal

al.neves@campus.fct.unl.pt

Maria Elvira Callapez

CIUHCT, Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa, Portugal

mecallapez@fc.ul.pt

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CC-BY-NC-4.0

Apenas o texto pode ser utilizado sob licença CC BY-NC 4.0. Outros elementos (ilustrações, anexos importados) são "Todos os direitos reservados", à exceção de indicação em contrário.

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