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1Quatro décadas decorridas desde a nossa fundação, podemos orgulharmo-nos de ter conseguido afirmar um projeto ambicioso, que se deveu à continuidade de objetivos das quatro direções da revista, independentemente do seu cunho pessoal. Criar uma publicação periódica para promover uma nova conceção de história, comparada e interdisciplinar no contexto de uma colaboração interuniversitária e internacional são objetivos plenamente conseguidos. Em 1983, foi preciso abrir fronteiras enquistadas e “criar um ambiente de liberdade de crítica num domínio ainda dominado por um arcaico espírito corporativo” (Editorial, nº 1). Alertava-se: “Ou a historiografia portuguesa envereda de forma mais decidida pela história comparada ou será conduzida ao anquilosamento científico e ficará confinada num provincianismo letal. [...] O chauvinismo historiográfico e o eurocentrismo persistem. Principia no fazer da nossa própria história, como a penúria de pesquisas sobre a história dos países das ex-colónias portuguesas o mostra” (Editorial, nº 11). Conseguimos “a abertura e o pluralismo em todos os sentidos [que] sempre foram uma marca identitária da LH, uma explicação para a sua longevidade, qualidade e reputação” (J. V. Serrão, Editorial,70).

2A iniciativa da Ler História partiu de um núcleo do Centro de História Contemporânea Portuguesa do ISCTE, deixando uma marca na ênfase dada à época contemporânea, numa primeira fase. Era um objetivo prioritário, face à parca publicação de estudos sobre a história dos séculos XIX e XX. Contudo, prezámos a presença de medievalistas e modernistas prestigiados, logo no primeiro número, em consonância com a proposta editorial apresentada: “É necessário paralelamente procurar restabelecer um equilíbrio: incentivar a renovação da historiografia medieval já em curso, nela integrando o período árabe, excluído por motivos religiosos, [...] e impulsionar o estudo da sociedade de antigo regime [...] cujo melhor conhecimento virá esclarecer diversas questões fundamentais da própria história contemporânea”. Encontrámos uma notável colaboração em colegas de diferentes instituições universitárias portuguesas e internacionais, entre eles investigadores de outras áreas das ciências sociais. A sua participação é visível desde o início no Conselho de Redação e, numa segunda fase, no corpo de consultores, constituído a partir de 1987. Também nisto fomos pioneiros no contexto português, recorrendo à consulta de referees, quando tal ainda não era prática corrente.

3A mudança na historiografia portuguesa durante quatro décadas traduziu-se pela diversidade cronológica e de escolhas metodológicas da colaboração. Numa primeira fase, privilegiou-se na colaboração internacional a Península Ibérica, o Brasil e os outros países de língua portuguesa, horizonte internacional progressivamente alargado. A colaboração de grandes nomes da historiografia foi um objetivo conseguido desde o início, ao lado da abertura a investigadores jovens. A reflexão crítica sobre a historiografia ocupou um espaço significativo desde cedo (Critica e Debates, O espelho de Clio, e números dedicados ao tema). Almejava-se “impulsionar a inserção do debate teórico e metodológico em grandes debates internacionais, como os da história narrativa versus desconstrutivismo, ou da história nacional, da história comparada, da história conectada e da história transnacional” (Maria de Fátima Sá e Melo Ferreira, diretora, Fernanda Rollo e Frédéric Vidal, diretores adjuntos, 2014-2016, Editorial,66).

4A língua portuguesa impôs-se inicialmente como escolha decisiva para o desenvolvimento do vocabulário científico português. A redução dos recursos que nos obrigou à abertura a outras línguas, o francês e o inglês, tornando-se um instrumento de internacionalização. Quando se lhe juntou o desinteresse do mercado livreiro pelas revistas científicas, a transição para o imaterial impôs-se. Entre a criação de um site próprio em 2001 e a digitalização decorreu cerca de década e meia, refletindo a ausência de investimento nacional, parcialmente resolvida através de uma plataforma internacional. As mudanças de dimensão e da geografia do público leitor na web são um veículo poderoso para o conhecimento da historiografia portuguesa, que continua a ter de enfrentar o chauvinismo do universo linguístico inglês e francês, entre outros. Procurou-se, “marcando presença no espaço virtual, contribuir para a internacionalização dos historiadores portugueses” (Magda Pinheiro, diretora 2009-2012, Editorial, 56). O acesso aberto, finalmente inaugurado em 2015, veio permitir o cumprimento de “propósitos de responsabilidade social e partilha do saber” (Editorial, nº 66, Ferreira et al.). A revista encontra-se classificada em bases de dados e sistemas de indexação internacional, o que é fundamental.

5Constitui motivo de satisfação pessoal ter sido a fundadora da Ler História e ter encontrado excelentes colaboradores. Impossível concluir sem enfatizar a função essencial do secretariado da revista, que integrou nas funções editoriais o acompanhamento da produção, ao optarmos pela edição independente. A Jorge Almeida Fernandes, assistente editorial até o nº 10, sucedeu Maria João Vaz, dos números 12 ao 52, que veio a integrar o Conselho de Redação em 1994 e foi diretora adjunta de 2009 a 2013. Atualmente, o secretariado é desempenhado por Tânia Gerbi Veiga, que sucedeu a Pedro Cerejo. A Ler História situa-se, hoje, entre as mais prestigiadas publicações científicas de História.

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Para citar este artigo

Referência do documento impresso

Miriam Halpern Pereira, «Editorial. Uma viagem no tempo»Ler História, 82 | 2023, 7-8.

Referência eletrónica

Miriam Halpern Pereira, «Editorial. Uma viagem no tempo»Ler História [Online], 82 | 2023, posto online no dia 07 junho 2023, consultado no dia 16 fevereiro 2025. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/lerhistoria/11966; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/lerhistoria.11966

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Autor

Miriam Halpern Pereira

Fundadora e Diretora da Ler História, 1983-2008

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CC-BY-NC-4.0

Apenas o texto pode ser utilizado sob licença CC BY-NC 4.0. Outros elementos (ilustrações, anexos importados) são "Todos os direitos reservados", à exceção de indicação em contrário.

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