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1Este número se abre com uma homenagem ao saudoso professor Carlos Walter Porto-Gonçalves, falecido no dia 6 de setembro de 2023. Inicialmente, publicamos uma entrevista, inédita, com Carlos Walter realizada em 27 de agosto de 1999 em Niterói por Paulo Cesar Scarim e que faz parte da dissertação deste último intitulada Coetâneos da crítica. Contribuição ao estudo do movimento de renovação da Geografia brasileira, defendida na USP em 2000 e cuja orientadora foi a professora Ani Fani Alessandri Carlos. A entrevista é precedida de uma apresentação por Paulo Scarim.
- 1 BARROS, A.M.L.; ZANOTELLI, C.L; ALBANI, V. (ORGS.) Geografia urbana. 30 anos do Simpósio Nacional d (...)
- 2 Ver PORTO-GONÇALVES, C. W. De utopias e de topoi: espaço e poder em questão. Geographia Opportuno T (...)
- 3 A Mesa redonda, como todas aquelas do XVI Simpurb, foi gravada e pode ser vista em https://youtu.be (...)
2Também, como parte da homenagem à Carlos Walter, publicamos um artigo dele, inédito, América Latina/Abya Yala no Sistema Mundo: De Geopolítica, de outras configurações socioespaciais e de Outros Horizontes de Sentido (A questão da terra e da Terra revisitada), que era destinado, inicialmente, a ser publicado no livro organizado com as intervenções das mesas do XVI Simpurb1 realizado em Vitória na Universidade Federal do Espírito Santo entre os dias 14 e 17 de novembro de 2019. Como o texto na época não teve tempo de ser revisado e adequado às normas do livro, não pôde ser publicado. Parte do texto foi retirada de artigo já publicado por Carlos Walter em um periódico2. A palestra de Carlos Walter que deu origem ao texto fez parte da Mesa Redonda A geopolítica urbana na América Latina contemporânea: disputas dos comuns e cujos palestrantes foram Carlos Walter, Rodrigo Hidalgo, Mônica Arroyo e teve como debatedora Ester Limonad3.
3O artigo de Carlo Eugênio Nogueira, A moderna colonização dos trópicos: geografia e planejamento na primeira metade do século XX, aborda o problema da colonização dirigida das terras tropicais, analisa o modo como alguns geógrafos abordaram esse tema ao longo da primeira metade do século XX, durante o processo de afirmação da geografia como campo disciplinar. Primeiramente, discute de forma breve como a colonização de espaços tidos como vazios, em particular os localizados em terras tropicais, transforma-se num tema relevante de uma geografia já preocupada com problemas globais. Posteriormente, no contexto histórico dos anos 1950, problematiza a avaliação que a geografia brasileira estava efetuando das políticas territoriais de colonização levadas a cabo no país.
4Milena Monteiro Feitosa, Erika Costa Sousa, Louize Nascimento e José de Jesus Sousa Lemos com o artigo A soja no estado do Maranhão, Brasil: uma análise temporal da expansão e substituição das culturas alimentares, analisam como no Maranhão, um dos estados pertencentes à nova fronteira agrícola brasileira denominada de MATOPIBA (englobando regiões do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), se observa um incremento na produção de soja em 135 dos seus atuais 217 municípios. O artigo analisa as dinâmicas espacial e temporal do avanço do cultivo de soja sobre as áreas que antes eram cultivadas com as lavouras de arroz, feijão, mandioca e milho naquela parte do estado do Maranhão.
5Virgílio Lourenço Silva Neto, Lucas Barbosa e Souza e Marco Antonio Vieira Morais, com Índice de pobreza hídrica dos municípios no estado do Tocantins, Brasil, analisam as condições de pobreza hídrica de 139 municípios tocantinense e utilizam indicadores diversos para realizar uma análise comparativa e nos dizem que o resultado obtido não pode ser interpretado como abundância de recursos hídricos, mas como uma combinação favorável de fatores que permite boas condições no que se refere aos recursos, acessos, capacidades, usos e meio ambiente no estado do Tocantins em determinado contexto.
6Ralph Charles, Regina Célia de Oliveira, Guilherme Almussa Leite Torres e Roberto Greco no artigo Análise das características ambientais e implicações da produção agrícola no Departamento Oeste da República do Haiti escrevem que a agricultura é um dos principais setores econômicos do Haiti, assim, no Departamento Oeste, mais da metade da população vive em áreas rurais e usa a agricultura como principal fonte de subsistência. Os autores analisam as implicações ambientais da aptidão agrícola para as principais culturas praticadas da região. Para tanto, o relevo, a pedologia e o clima foram considerados como fatores ambientais relevantes para a determinação da aptidão agrícola, bem como as características fisiológicas das plantas. Os resultados mostram que, devido às condições ambientais desfavoráveis, a produção agrícola no Departamento Oeste ainda é precária, resultando em menor produção de alimentos para consumo local. Ao considerar a tolerância à falta de água de algumas culturas, conclui-se que o plantio em menor escala com foco na alimentação familiar e no comércio local é viável para milho, feijão e mandioca.
7Vinícius Santos Lima e Carlos Eduardo de Rezende no artigo Risco socioambiental às inundações na bacia do rio Macabu, Região Hidrográfica IX (Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana), Rio de Janeiro, Brasil, estudam a ocorrência integrada das inundações, bem como das intervenções antrópicas na bacia do rio Macabu, atentando para seus efeitos sobre o uso da terra e cobertura vegetal. Todos os usos da terra mapeados estão em áreas sujeitas a inundações, notadamente as áreas antrópicas não-agropastoris (78%) e as áreas naturais não florestadas (90,3%). Os resultados obtidos podem auxiliar o planejamento e ordenamento territorial-ambiental da bacia ou de áreas em condições socioambientais similares.
8Flávia Ingrid B. Paiva Gomes e Maria Elisa Zanella em Histórico, causas e características da semiaridez do Nordeste do Brasil, pesquisam as causas e características da semiaridez no Nordeste, considerando o que já foi estudado sobre o tema, utilizando a revisão bibliográfica como metodologia. Esta discussão resulta em um ponto de partida para aqueles que desejem conhecer mais sobre o clima da região e uma atualização necessária para aqueles que mantêm percepções equivocadas sobre ele e sobre os fatores que causam suas características peculiares.
9Salah Bouirbiten, Salima Salhi, Wafaa Benhsain no artigo, em francês, Acesso aos cuidados de saúde: obstáculos, desafios e necessidade de equidade territorial. O caso da província de Al Haouz, Marrocos, analisam as barreiras ao acesso à saúde na província de Al Haouz, no Marrocos, e os desafios resultantes e como atender aos requisitos de equidade territorial. A abordagem utilizada é geográfica, adotando métodos quantitativos e uma representação cartográfica dos dados para analisar a situação. Os resultados mostram que os fatores geográficos e socioeconômicos dificultam o acesso à assistência médica, especialmente o relevo difícil, a distribuição desigual dos serviços de saúde, a insuficiência de recursos e a pobreza persistente. Esses problemas continuam sendo um grande desafio na província de Al Haouz, apesar dos esforços do governo marroquino para melhorar o acesso à saúde.
10Priscila Freitas da Silva e Leandro Bruno Santos em Transporte público coletivo e desigualdade de acesso à cidade: estudo dos distritos do extremo norte de Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, Brasil, analisam como se dá o acesso ao distrito-sede de Campos dos Goytacazes por parte dos moradores dos distritos do extremo norte do município. Para realizar tal análise foram utilizadas metodologias qualitativas e quantitativas, o resultado da pesquisa aponta para a necessidade de se pensar no planejamento de políticas municipais de mobilidade e acessibilidade urbanas efetivas, levando em conta as especificidades da organização territorial do município de Campos dos Goytacazes.
11Leandro Di Genova Barberio, Fernando Guilherme Silveira Manocchio e Fabricio Gallo em Micromobilidade urbana e atuação de agentes financeiros: o caso da empresa Tembici (Banco Itaú) na cidade de São Paulo, Brasil, debatem o conceito de micromobilidade urbana e o papel das instituições financeiras atuantes nesse setor na cidade de São Paulo (SP), com especial ênfase no caso da empresa Tembici (do Banco Itaú). Os autores interpretam os impactos territoriais das plataformas digitais discutidas, examinando diferentes usos do território e analisando a forma como essa empresa se insere no processo de expansão dos serviços de mobilidade. Os resultados revelam como o espaço urbano, impulsionado pelo uso da tecnologia por entidades financeiras, torna-se mercado lucrativo, afetando diretamente a mobilidade urbana.
12Mariana de Oliveira Santana e Maina Pirajá Silva em Hegemonia do capital imobiliário na (re)produção do espaço da Orla Atlântica de Salvador, Bahia, Brasil, entre 2006 e 2018, analisam a (re)produção da Orla Atlântica de Salvador, entre 2006 e 2018, período que compreende as mudanças de planos diretores da cidade, as grandes modificações na Orla Atlântica, além da atuação dos diferentes agentes envolvidos no processo. O artigo respalda-se em uma abordagem de cunho qualitativo e quantitativo, tendo como métodos de procedimentos o histórico e o comparativo. Os principais resultados mostraram que o capital imobiliário é o maior agente de (re)produção da cidade, bem como existe um grupo heterogêneo, porém hegemônico de agentes privados, e que a cidade vai sendo (re)produzida com vistas aos interesses desses agentes. Finalmente, Alain Herscovici em A democracia em vertigem: escolhas coletivas, ordem democrática e instituições explana, a partir de uma abordagem teórica, que as Escolhas Sociais não podem refletir as vontades individuais, mas são determinadas pelos valores morais e éticos da coletividade. A partir desta perspectiva mostra que os regimes democráticos e suas instituições são ameaçados por grupos sociais extremistas que contestam os mecanismos da Escolha Social. Primeiro, define o conceito de ordem, em suas dimensões social, econômica e política e destaca os limites da racionalidade individual como variável reguladora. Em seguida, demonstra como e por que as escolhas coletivas tornam necessária a limitação de determinadas liberdades individuais. Finalmente, utiliza estes conceitos para especificar as fraquezas intrínsecas de qualquer regime democrático e para definir as ameaças atuais a maior parte desses regimes.
Notas
1 BARROS, A.M.L.; ZANOTELLI, C.L; ALBANI, V. (ORGS.) Geografia urbana. 30 anos do Simpósio Nacional de Geografia Urbana. Cidades, revoluções e injustiças: entre espaços privados, públicos, direito à cidade e comuns urbanos. Rio de Janeiro: Ed. Consequência, 2020. Disponível em https://simpurb2019.ufes.br/sites/simpurb2019.ufes.br/files/field/anexo/livro_xvi_simpurb._cidades_revolucoes_e_injusticas_1.pdf
2 Ver PORTO-GONÇALVES, C. W. De utopias e de topoi: espaço e poder em questão. Geographia Opportuno Tempore, Londrina, v. 3, n. 2, p. 10-58, 2017. Disponível em https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.5433/got.2017.v3.32464. Acessado em 08-11-2023.
3 A Mesa redonda, como todas aquelas do XVI Simpurb, foi gravada e pode ser vista em https://youtu.be/qs_Clt2WljI?si=Q8yFsS6S1Oa3qCyF
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Referência eletrónica
Cláudio Luiz Zanotelli, «Editorial», Geografares [Online], 37 | 2023, posto online no dia 01 dezembro 2023, consultado o 16 janeiro 2025. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/geografares/9809
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