Texto integral
1O número 35 da revista Geografares traz um dossiê intitulado Territórios urbanos e estratégias do neoliberalismo que foi organizado e conta com uma apresentação de Márcia Pereira Cunha e Nilton Ken Ota. O dossiê, além dos artigos sobre o neoliberalismo que é analisado nas suas diferentes experiências brasileiras (na área da saúde, nas concessões públicas, na luta pela moradia, nas relações de trabalho dos entregadores de plataforma, nas relações na periferia com a cultura e nas ocupações secundaristas em São Paulo) e uma experiência Indiana (Sobre o saneamento básico e o sistema de castas na Índia), é composto também de dois textos inéditos, um de Pierre Dardot e o outro de Christian Laval, que serão publicados em versão em português e em francês e que tratam respectivamente da questão, tão atual no Brasil, da construção do inimigo no neoliberalismo e das práticas e discursos sobre a guerra cultural das classes dominantes na França. Esperamos, assim, contribuir com o debate sobre temática premente que é transversal a todos os campos dos saberes e debatida, dentre outros, pela Rede Interdisciplinar de Pesquisadores (USP) e o Laboratório Sophiapol (Université Paris-Nanterre) do qual fazem parte os organizadores do dossiê.
2Em seguida ao dossiê temos o Uso da terra e mudanças morfológicas em ambiente de cuesta na alta Bacia do Rio Capivara – Botucatu (São Paulo, Brasil), de Higor Lourenzoni Bonzanini e Cenira Maria Lupinacci, que analisa as mudanças no padrão de uso e ocupação da terra e alterações na morfologia do relevo que indicam aceleração no desenvolvimento de processos erosivos, no município de Botucatu (SP). Para isso foram elaboradas cartas geomorfológicas e de uso e ocupação da terra, que tornaram possível a definição e análise dos geoindicadores. Os resultados obtidos podem auxiliar o planejamento ambiental na área estudada e em áreas com características semelhantes, identificando os padrões de interferência antrópica em cenários com a presença do relevo cuestiforme.
3O artigo Panorama do uso de geotecnologias e de bases cartográficas nos municípios do Espírito Santo, Brasil, de Fábio Luiz Mação Campos, analisa o levantamento sobre o uso das geotecnologias e a existência e uso de bases cartográficas nos municípios do estado do Espírito Santo. Os resultados do estudo mostraram que há uma forte demanda por atualização de bases cartográficas e que o uso das ferramentas de geoprocessamento pode ser muito ampliado. Foram apontados caminhos e estratégias para essa ampliação, além de algumas experiências dos municípios e oportunidades de atuação para os profissionais e instituições da área de geotecnologia. O trabalho pode ser usado para traçar um panorama do uso de geotecnologias nos municípios brasileiros e auxiliar a construção de projetos voltados para esses órgãos públicos.
4O artigo Modos de intercâmbio, metabolismo e formações sociais: contribuições do esquema de Kojin Karatani para pensar a dimensão espacial, de Bruno Moreira Riani Costa, analisa o pensamento do filósofo marxista e crítico literário, Kojin Karatani, que é considerado um dos mais importantes teóricos japoneses da atualidade. Suas perspectivas inovadoras passaram a ser disseminadas no debate acadêmico ocidental à medida que algumas de suas obras foram traduzidas para a língua inglesa. Dentro desse quadro, mereceram destaque os argumentos contidos em seu livro The Structure of World History, em que o autor propõe releituras de certas categorias marxianas colocadas em perspectiva na tentativa de uma reinterpretação da história universal. Sua proposta de tratar sobre modos de intercâmbio e sua recuperação do conceito de metabolismo para descrever a relação estabelecida entre sociedade e natureza, por exemplo, estão entre algumas de suas contribuições. Nesse sentido, o presente artigo intenta apresentar de maneira sumarizada algumas das ideias contidas no esquema de Karatani, buscando apontar como poderiam ser mobilizadas para contribuir com certos debates caros à Geografia.
5Finalmente, o artigo Yves Lacoste e a Sierra Maestra: um geógrafo contra os geografismos, de Víctor Daltoé dos Anjos. Artigo que é acompanhado neste mesmo número da tradução, por Daltoé, de um artigo inédito em português de Yves Lacoste intitulado « Fidel Castro et la Sierra Maestra: un théâtre d’opérations volontairement choisi? », publicado na revista Hérodote em seu 5º número, relativo ao 1º trimestre de 1977, p. 7-33.
6O artigo de Daltoé examina a crítica de Yves Lacoste ao geografismo – discurso que trata o território como personagem político – da « Montanha revolucionária » em descrições sobre a guerrilha castrista da Sierra Maestra (1956-1958). Em primeiro lugar, é exposta a hipótese do geógrafo de que os irmãos Fidel e Raúl Castro não premeditaram uma guerrilha prolongada na região. Em seguida, é verificada a análise multiescalar realizada por Lacoste sobre a Sierra Maestra, desde o conjunto espacial do oriente cubano ao alto vale do rio Yara, tanto nas páginas da revista Hérodote como no livro « Unidade e diversidade do terceiro mundo ». A seguir, é destacada a importância da parceria intelectual entre Yves Lacoste e o geógrafo cubano Juan Perez De La Riva, que o acompanhou em suas viagens a Cuba (1963 e 1973). Por último, são relembrados os debates realizados na revista Hérodote na virada entre os anos 1970 e 1980 sobre o conceito de geografismo.
7Boa leitura!
Para citar este artigo
Referência eletrónica
Cláudio Luiz Zanotelli, «Editorial», Geografares [Online], 35 | 2022, posto online no dia 01 dezembro 2022, consultado o 16 janeiro 2025. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/geografares/5194
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