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Resenhas

David Harvey. Cidades rebeldes. Do direito à cidade à revolução urbana

Martins Fontes, 2014.
Cláudio Luiz Zanotelli
Referência(s):

David Harvey. Cidades rebeldes. Do direito à cidade à revolução urbana. Martins Fontes, São Paulo, 2014 (versão original em inglês de 2012, editora Verso), 294p.

Texto integral

1Nesse livro David Harvey retoma diversos aspectos de sua obra, nele desenvolve uma tese que já havia invocado em outros escritos de que a urbanização, e as cidades, tem sido ao longo dos anos o meio-chave para a absorção do capital e de trabalho durante toda a história do capitalismo, e também o lócus das crises, conflitos e resistências, lugar das rebeliões, revoluções e compromissos.

2Para Harvey a urbanização exerce uma dinâmica muito particular no processo de acumulação do capital « devido aos longos períodos de trabalho e rotatividade e a longevidade da maior parte dos investimentos no ambiente construído » (Harvey, 2014). As cidades e os espaços urbanos têm uma especificidade geográfica única, convertem a produção do espaço e dos monopólios espaciais em uma participação intrínseca na dinâmica de acumulação do capital. Não somente em virtude dos fluxos de mercadorias no espaço, mas também por causa da natureza dos espaços e lugares criados onde têm lugar tais fluxos (Harvey, 2014).

3Há nas cidades, indica Harvey, uma necessidade da combinação dos capitais financeiros e da intervenção estatal para assegurar tais investimentos. Aliviando, desse modo, os capitais sobrantes em busca de investimentos, mas, em assim fazendo, corre-se o risco de muito mais a frente e em escala ampliada reproduzir as próprias condições dessa sobre-acumulação (valorização, especulação e desvalorização dos ativos). Daí o caráter cíclico das inversões urbanas e em outros tipos de infraes-truturas físicas (auto-estradas, vias férreas, grandes represas etc.) que precede ou acompanha desde o século XIX as sucessivas crises do capitalismo.

4Porém, outras perspectivas, nos diz Harvey, podem se abrir com as « cidades rebeldes », com as alternativas não capitalistas e não produtivistas inventadas nas cidades em busca do comum, do coletivo. Nesse sentido as heterotopias de Lefebvre são lugares outros da cidade opondo-se às isotopias, lugares do mesmo (e do controle), são os espaço da diferença, de outros possíveis na vida urbana, cria-se a possibilidade de ação coletiva, irrompe no real um outro possível. Mas, como indicava Lefebvre, qualquer momento revolucionário, rebelde e alternativo ao sistema capitalista é passageiro, se não se amplia se diluirá ou poderá ser recuperado, estancado, inevitavelmente (como em Paris em 1848, 1871 ou 1968 e 2013 no Brasil e em outras manifestações urbanas recentes nas cidades pelo mundo).

5Nessa direção a reivindicação do « direito à cidade » e à « reforma urbana » que demandam uma « função social para a cidade », levando em conta o direito do oprimido, em particular das grandes cidades, que se inscreve na tradição da teoria social-crítica, é uma etapa das lutas urbanas e citadinas para questionar os fundamentos mesmos do sistema capitalista de acumulação perpétua.

6Os bens coletivos, os bens comuns urbanos, tem seus interesses em um eterno choque com os interesses do capital que procuram capturar as criações coletivas e submeter a vida. Mas como realizar esse processo de maneira articulada e constituindo redes de oposições com as experiências existentes horizontais, não autoritárias, mas ao mesmo tempo limitadas por não haver centralidade das alternativas e movimentos que surgem nos últimos anos como contestação ao poder centralizado do Estado e ao capitalismo? Essa é uma das questões que coloca David Harvey no livro Cidades Rebeldes. Inúmeras possibilidades existem, mas muitas recuperações emergem de todas as ordens por meio dos fetichismos difusos do consumo e do esfumaçamento da origem da produção coletiva com a multiplicação das ficções bem concretas do capital.

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Para citar este artigo

Referência eletrónica

Cláudio Luiz Zanotelli, «David Harvey. Cidades rebeldes. Do direito à cidade à revolução urbana»Geografares [Online], 18 | 2014, posto online no dia 18 dezembro 2014, consultado o 13 novembro 2024. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/geografares/14732

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Autor

Cláudio Luiz Zanotelli

Universidade Federal do Espírito Santo
claudio.zanotelli@ufes.br

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CC-BY-NC-4.0

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