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A descrição da máquina do mundo: Francisco Garrido de Villena e Luís de Camões

Aude Plagnard
p. 115-140

Resúmenes

La descripción de la máquina do mundo, que tan famoso hizo a Camões desde el siglo xvi, tiene sus orígenes en varios textos anteriores, especialmente en tratados cosmográficos de orientación ptolemaica de principios del siglo xvi. Exploramos aquí otro antecedente de esta descripción, poético, esta vez, que no se había descubierto hasta hoy: la máquina del mundo descrita por el valenciano Francisco de Villena en su poema sobre Roncesvalles. Varios aspectos de esta descripción justifican una comparación con el poema de Camões: la necesidad de pensar la descripción del mundo a una nueva escala, vista de lejos; la articulación entre geografía y cosmografía en la poetización de la geografía ptolemaica; el papel de la revelación cosmográfica en la culminación del relato épico.

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Notas de la redacción

Article reçu pour publication le 15/08/2018; accepté le 05/11/2018.

Notas del autor

Agradeço a sua valiosíssima ajuda para a escrita de este artigo em português aos amigos e investigadores que o leram e me deram os seus conselhos: Hélder Carvalhal, Hélio Alves, Soledad Pérez-Abadín, Martha Blanco, José Bernardes, Joseph Roussiès. O trabalho pertence ao Projeto de I+D La poesía hispano-portuguesa de los siglos xvi y xvii: contactos, confluencias, recepción (FFI2015-70917-P), financiado por AEI (Agencia Estatal de Investigación, España) / FEDER, UE

Texto completo

  • 1 Alves, 2011a, p. 555.

1A máquina do mundo (no sentido reduzido de descrição cosmográfica) apresentada pela ninfa Tétis no décimo e último canto d’Os Lusíadas é, sem dúvida, uma das passagens mais comentadas da obra1. Enquanto culminação do relato, é um trecho fundamental para a interpretação do poema no seu conjunto e uma fonte inesgotável para os comentaristas. O mais prolífico destes, Manuel de Faria e Sousa, escolhe esta cena como ilustração do último canto do poema, situando-a na economia do canto.

  • 2 Nicolopulos, 2000, pp. 175-219.

2A parte direita da imagem remete para o banquete que reúne as ninfas e os navegadores portugueses no início do canto. Na parte esquerda, aparece a cena —posterior na cronologia poética— na qual Vasco da Gama recebe a revelação e visão das esferas que rodeiam a terra, seguida por uma descrição geográfica dos quatro continentes então conhecidos. Esta esfera aparece sob a forma de um artifício maravilhoso que evoca tanto a armilar com a qual se representava então o globo celeste, como um conceito, aquele da esfera das Ideias, representação neoplatónica do Tudo inteligível, como bem demonstrou James Nicolopulos2.

  • 3 Faria e Sousa, 1639, vol. 4, cols. 447-448.

3É tentador ver nesta cena uma singular mostra do génio camoniano e da originalidade visionária do poeta, e comentar a posteridade desta cena na épica contemporânea, por exemplo na segunda parte da Araucana de Alonso de Ercilla3. Proponho voltar a este famoso fragmento desde outra perspectiva, examinando os precedentes da descrição.

Faria e Sousa, 1639, t. IV, cols. 291-292, ilustração do canto décimo.

  • 4 XVIII, vv. 478-617, onde a máquina do mundo aparece nos versos 483-489.
  • 5 Mena, 1994, pp. li‑liv e 78‑173.
  • 6 Silva, 1915.

4A presença, na épica, de descrições do mundo é antiga: desde a écfrase do escudo de Aquiles na Ilíada4 até a descrição dos sete círculos dos planetas no Laberinto de Fortuna de Juan de Mena (vv. 62‑268). Este último precedente se construía a partir de uma astrologia medieval, associando cada planeta com um humor ou um temperamento: a castidade da lua, a luxúria de Vénus, a sabedoria do Sol, o temperamento belicoso de Marte, a justiça e o bom governo de Júpiter5. Distinta pelo género, mas comparável em conteúdo com o poema de Camões, é a cosmografia moderna que Pedro Nunes desenvolveu no Tratado da esfera, publicado em 1537. Luciano Pereira da Silva dedicou um livro à Astronomia dos Lusíadas onde lê a máquina poética de Camões sob a luz das teorias astronómicas do tempo, em especial deste Tratado de Nunes6. Seguindo as suas conclusões, o meu propósito é destacar um outro precedente poético de descrição cosmográfica que bem pode ter influenciado a Camões: o canto XXXI do Roncesvalles de Francisco Garrido de Villena, poema épico espanhol publicado em Valência em 1555.

  • 7 Hélio Alves, no seu artigo sobre «Epopeia e o poema cavaleiresco no Renascimento», apontou uma séri (...)
  • 8 Sobre esta tradução, muito pouco estudada, vejam Aguilà Ruzola, 2013.
  • 9 No exemplar BNF Arsenal 4-BL-2604, estão encadernadas juntas as duas edições antuerpienses: La prim (...)
  • 10 Valsalobre, 2003 e 2005; Plagnard, 2012.

5Existem motivos para pensar que Camões conhecia o poema de Garrido de Villena7. Este poeta valenciano era famoso pela sua tradução do Orlando innamorato de Boiardo, editada por três vezes em 1555 (Valência, Joan de Mey), 1577 (Alcalá, Hernán Ramírez) e 1581 (Toledo, Juan Rodríguez)8. O seu poema original, El Verdadero sucesso de la famosa batalla de Roncesvalles; con la muerte de los doze pares de Francia, não foi recebido com o mesmo êxito, talvez porque se publicou ao mesmo tempo que outra continuação espanhola do Orlando furioso, a Segunda parte do também valenciano Nicolás Espinosa. Esta última obra foi primeiro publicada em 1555 em Saragoça (Pedro Bermuz) e logo em 1556 em Antuérpia, numa edição de Martín Nucio destinada a ser difundida com a famosíssima tradução que Jerónimo de Urrea fez do poema de Ariosto9. A rivalidade entre o mecenato dos Borja de Valência frente aos Centelles da mesma cidade também pode ter influído nessa relação de emulação literária10. Apesar da sua pouca e má fama (principalmente porque a versificação é tão pouco ágil que dificulta a leitura), o poema de Garrido de Villena revela ter um papel importante na história da épica e, em vários aspectos, trata de maneira muito original motivos tradicionais do género, como é o caso da descrição geográfica ou cosmográfica.

6Explorarei aqui sucessivamente vários aspectos da descrição que podem justificar uma comparação com o poema de Camões: a necessidade de pensar a descrição do mundo a uma escala nova, vista de longe (I); a articulação entre geografia e cosmografia (II) na poetização da geografia ptolemaica (III); o papel da revelação cosmográfica na culminação do relato épico (IV).

Representar o mundo a uma nova escala

7Nos primeiros poemas épicos do século xvi, inspirados em Ariosto, a geografia era terrestre e seguia as andanças das personagens através de lugares ora reais, ora fictícios. A diegese dos poemas de Nicolás Espinosa e Garrido de Villena —primeiras epopeias vernáculas de tema histórico-militar publicadas em 1555— encontra-se, portanto, situada numa geografia limitada e europeia: Saragoça, Valência, Catalunha, Roncesvalhes, e mais esporadicamente Paris, Borgonha e Rossilhão. Surge, contudo, o desafio de abranger, no relato épico, a geografia fragmentada do império de Carlos V e de oferecer uma representação de América, o novo continente descoberto. Noutros termos, a necessidade de actualizar, no género épico, a representação do território espanhol. Um território cada vez mais complexo, cujos extremos, cada vez mais distantes, não se podiam atingir por terra e precisavam de um ponto de vista mais elevado para serem contemplados juntos. Esta mesma exigência compartilhavam também, uns vinte anos mais tarde, Os Lusíadas. As soluções ideadas por Nicolás Espinosa e Garrido de Villena confirmam o carácter crucial desta parte dos textos.

8Na Segunda parte de Orlando, Espinosa introduz uma larga descrição geográfica num episódio maravilhoso: o herói Cotaldo a subir com a maga Marfisa numa barca mágica, na qual remam anões prodigiosos, capazes de cruzar em poucos minutos o Atlântico. A barca desenha então um percurso que une América com as costas mediterrânicas da Andaluzia: as ilhas Afortunadas até a ilha Hispaniola; rumo Sur, Nova Espanha e México, Perú e o Estreito de Magalhães; de volta para os Açores, e as costas espanholas, Vandâlia (nome romano da Andaluzia) com Sevilha, Cartagena, a ilha Santa Pola, Alicante, Dénia, e finalmente Valência, cidade dos Centelles, dedicatários do poema e patronos de Nicolás Espinosa. Esta geografia nova surge no marco narrativo de uma aventura maravilhosa. Trata-se de mais uma viagem na história dos cavaleiros medievais, só que usando um meio de transporte mais rápido, adaptado a distâncias maiores. Em nenhum momento se altera o ponto de vista sobre a geografia.

  • 11 Plagnard, 2015, pp. 12-14.
  • 12 Sobre o carácter literário e humanístico de esta prática cartográfica, decisiva vários decénios dep (...)

9A solução de Francisco Garrido de Villena a este mesmo problema é, em todos os seus aspectos, mais inovadora, quando propõe uma visualização radicalmente distinta deste espaço. Em vez de percorrer a grande velocidade um amplo território (como fez Espinosa e como faria depois, por exemplo, Corte-Real com a fúria Alecto)11, procura um ponto de vista elevado e uma imagem global do território que sem dúvida seduziu Camões. Na realidade, esta inovação inscreve-se na continuidade de outra tradição antiga: aquela do Somnium Scipionis de Cícero, recolhida no século xvi na fecunda prática cartográfica, desde o Atlas Miller até o Theatrum orbis terrarum de Abraham Ortelius, que permitia ao leitor inclinar-se sobre o mundo figurado numa pequena escala12.

10Contudo, a visão do Roncesvalles é introduzida num episódio ecfrástico de cunho ariostesco, onde o mago de Delfos comenta pinturas representando os mares, as terras e o cosmos inteiro. A descrição das terras do planeta organiza-se por continentes: Europa (14‑16, começando com Inglaterra, que é a pátria onde Felipe II acaba de contrair matrimónio com Mary Tudor), África (17) e Ásia (18‑19). Os continentes são explicitamente mencionados ao longo da enumeração de topónimos:

Mirad a Europa, que esta es nuestra parte (14, v. 1)

Ahora mira a África (17, v. 1)

Con Asia ves por donde ha dividido (18, v. 2)

11À descrição dos três velhos continentes segue a profecia do descobrimento da «región Vespucha» —América designada metonimicamente a-través do nome do navegador que compreendeu a sua natureza continental, Américo Vespucci. Como n’Os Lusíadas (X, 138-142), o quarto continente surge em forma profética.

La cuarta parte es la región Vespucha,
es rica y cuando sea descubierta,
se verá esta región que será mucha,
que aún ahora cerrada está la puerta.
Son pocas sus provincias, mas escucha
que toman mucha tierra cosa cierta,
Caníbales, Perú, Sina es su tierra,
lo demás se verá por pura guerra.
(XXXI, 20)

12As enumerações dos continentes em função da sua proximidade com Europa mimetizan um trajecto de expansão desde ali até os limites do mundo conhecido. N’Os Lusíadas, a América e o estreito de Magalhães também constituem a profecia, deceptiva desta vez, que conclui uma visão:

Eis aqui as novas partes do Oriente,
Que vos outros agora ao mundo dais,
Abrindo a porta ao vasto mar patente,
Que com tão forte peito navegais;
Mas há também razão, que no Ponente
Dum Lusitano um feito inda vejais,
Que de seu Rei mostrando-se agravado
Caminho há de fazer nunca cuidado.

Vedes a grande terra que contina
Vai de Calisto ao seu contrário pólo,
Que soberba a fará a luzente mina
Do metal, que a cor tem do louro Apolo,
Castela vossa amiga será dina
De lançar-lhe o colar ao rudo colo,
Várias províncias tém de várias gentes
Em ritos e custumes diferentes.

Mas cá onde mais se alarga, ali tereis
Parte também co pau vermelho nota,
De Santa Cruz o nome lhe poreis,
Descobri-la‑á a primeira vossa frota;
Ao longo desta costa que tereis
Irá buscando a parte mais remota
O Magalhães, no feito com verdade
Português, porém não na lealdade.

Des que passar a via mais que meia,
Que ao Antártico polo vai da linha,
Duma estatura quase Gigantea
Homens verá, da terra ali vizinha;
E mais avante o estreito, que se arreia
Com nome de ele agora, o qual caminha
Pera outro mar, e terra que fica onde
Com suas frias asas o Austro a esconde. (X, 138‑141, f. 183v‑184r)

13Magalhães, português ao serviço dos espanhóis, fracassa em frias águas na tentativa de abrir a Portugal as portas do Pacífico. Ao contrário, é Vasco da Gama, apresentado como o fiel patriota, quem triunfa neste papel.

14A apreensão intelectual da terra, através do ponto de vista elevado do mapa e da enumeração dos seus topónimos, é o instrumento, tanto no Roncesvalles como n’Os Lusíadas, de uma actualização da representação terrestre. Na descrição de Garrido de Villena, a menção dos continentes é o indicador da sua inserção em outra percursio mais ampla que articula a esfera elemental (terrestre) com a esfera etérea (cósmica) na cosmologia ptolemaica.

Articular geografia e cosmografia

15Depois da descrição das terras, Garrido de Villena segue com uma enumeração muito similar dos mares do globo —mar e terra estão lá unidos como no Tratado da esfera de Pedro Nunes, seguido por um tratado da navegação. De maneira muito significativa, o ponto de chegada é o «Oceano Español» (XXXI, 25, v. 6), isso é, o Atlântico que faz frente à América e lhe abre a via. Esta dinâmica atlântica faz dos mares uma zona intermédia na organização do globo. Por um lado, está modelada pelas actividades humanas e pela expansão europeia, como em Os Lusíadas, onde a empresa marítima de Vasco da Gama fixa o rumo do relato e da expansão portuguesa. Por outro, é esférica e incluída numa série de esferas imbricadas:

Ahora que la tierra te ha mostrado
que Esférica ves bien que está formada
la del agua verás que con cuidado
también ha sido Esférica criada.
[…]. (XXXI, 21, vv. 1-4)

  • 13 «No me detengo, vamos adelante: / la tierra y agua ha sido ya mostrada, / vamos a ver ahora la otra (...)
  • 14 «[…] nubes, nieblas, granizo se ha criado, / relámpagos y truenos sin medida, / rayos, lluvias y ni (...)

16Na écfrase de Garrido de Villena, geografia (terrestre e marítima) e cosmografia sucedem-se numa relação de continuidade. Depois da zona marítima seguem-se a zona do ar13 —«en tres […] dividida», com o rocio, fenómenos meteorológicos14 e cometas— e a zona do fogo (29, vv. 1‑3). Esta última compartilha com os círculos da parte etérea do globo tal relação de continuidade que Garrido de Villena as apresenta seguidamente na mesma oitava:

La del fuego, después, es sola una,
tampoco hay que poder decirte de ella:
mírala allí, no toca con ninguna.
Mas mira más arriba otra más bella;
es el asiento y casa de la Luna,
ya goza el suelo harto bien por ella,
es húmida y es fría de natura,
tiene a Cáncer por signo su hermosura. (XXXI, 29)

17Tudo, nesta construção, sublinha a sucessão entre o mundo elemental e o mundo etéreo, elevando a descrição até aos céus. A mesma situação de continuidade encontra-se no poema de Camões, ainda que em sentido oposto. A descrição d’Os Lusíadas parte da esfera empírea para chegar à geografia e logo enlaçar com a aventura marítima dos portugueses. No centro da máquina do mundo aparece, de facto, a terra:

Neste centro, pousada dos humanos,
Que não somente, ousados, se contentam
De sofrerem da terra firme os danos,
Mas inda o mar instábil exprimentam,
Verás as várias partes, que os insanos
Mares dividem, onde se apousentam
Várias nações que mandam vários Reis,
Vários costumes seus e várias leis. (X, 91)

18Reconhecemos aqui uma união entre mar e terra similar àquelas de Villena e Pedro Nunes. A variedade humana na terra («várias nações», «vários reis», «vários costumes», «várias leis») é consequência da divisão das terras pelos mares, num movimento de fragmentação geográfica que contrasta com o firme traço da expedição de Vasco da Gama nos oceanos desde Portugal até à Índia. Em ambas as descrições, ainda que em sentido contrário, a passagem entre o globo terrestre e a cosmografia é pensada numa relação de continuidade com o mundo humano e as suas dinâmicas políticas e territoriais.

Poetizar a cosmografia moderna

  • 15 Sobre a história de esta tradição em relação com Camões, vejam Silva, 1915. Sobre a história da ast (...)
  • 16 Reisch, Margarita philosophica, f. Nm.

19Garrido de Villena e Luís de Camões tinham acesso às mesmas fontes para poetizar esta máquina do mundo: o já mencionado Tratado da Esfera do português Pedro Nunes (1537), tradução de um tratado latino De Sphera (primeira publicação 1497) do inglês John of Holywood (século xiii, latinizado como Sacrobosco), a sua complexa compilação de fontes antigas, algumas conhecidas através de traduções árabes, ou recompilações enciclopédicas latinas, mais difundidas, como as Margaritae philosophicae de Gregor Reisch, entre outras. Nestes tratados, descrevia-se a terra como o centro das onze esferas que compõem as duas partes, elemental e etérea, da máquina do mundo15. A ilustração de Gregor Reisch no livro VII da sua suma enciclopédica («De principiis Astronomiae») pode reduzir-se ao seguinte esquema16:

PARTE ETÉREA

- Céu empíreo

- Primeiro móvel

- Céu Áqueo

- Firma-mento

- Saturno

- Júpiter

- Marte

- Sol

- Véus

- Mercúrio

- Lua

PARTE ELEMENTAL

- Fogo

- Ar (3 partes: ínfima, mediana, suprema)

- Mares

- Terras

20A esta astronomia fundada sobre movimentos circulares, regulares e uniformes, acrescentam-se os signos do zodíaco, descritos antes dos planetas, em função do seu eixo de saída e de pôr. Cada um dos signos é associado com o planeta mais próximo no momento em que entra na sua fase superior.

21Esta fonte é comum para as máquinas do mundo de Villena e Camões. A imagem trazida por Faria e Sousa para tornar mais prazenteira a leitura deste fragmento é, de facto, quase idêntica àquela que comentamos: menos precisa para as esferas mais exteriores da máquina e mais precisa quando inclui os signos do Zodíaco.

22Contudo, estas duas descrições funcionam, como já antecipámos, em sentidos inversos. Recapitulamos no seguinte quadro:

Roncesvalles, XXXI

13-20: terra, 4 continentes

    • Europa

    • África

    • Ásia

    • região Vespucha

21-25: mares

26-29: parte elemental do globo

    • Ar (ínfima, media, suprema)

    • Fogo

30-41: parte etérea

    • Lua (1)

    • Mercúrio (2)

    • Vénus (3)

    • Sol (4)

    • Marte (5)

    • Júpiter (6)

    • Saturno (7)

    • Firmamento (8)

    • Caelum aquaeum (9)

    • Primeiro móvel (10)

    • Caelum empireum (11)

Lusíadas, X

80: presentação da grande fábrica do mundo

81-85: céu empíreo

86: Cealum aqueum

Primeiro móvel

87-88: Firmamento

89-90: planetas

    • Saturno

    • Júpiter

    • Marte

    • Sol

    • Vénus

    • Mercúrio

    • Diana (Lua)

Terra e mar

23Garrido de Villena segue exactamente o esquema cosmográfico na ordem inversa: desde o círculo da Lua, mais perto da terra, até à esfera empírea. A descrição de cada um dos planetas ocupa uma parte importante do centro da écfrasis. Repete para todos o mesmo esquema: o nome do planeta, as suas principais características, a duração da sua revolução e os signos do zodíaco associados, compilados numa mesma oitava. Vejamos um exemplo com a descrição de Marte:

El quinto mira allá en más alta parte,
que en dos años acaba su carrera.
En él está el feroz y fiero Marte,
cuyo ejercicio es de la gente fiera.
Caliente y seco lleva su estandarte
y dos signos se tiene allá de su esfera.
Son Aries y Escorpión, feroz figura,
mas de estos dos se sirve su natura.
(XXXI, 35)

24No resto da descrição, dedica-se em geral uma oitava para cada esfera da máquina. O firmamento, o céu aquoso e o primeiro móvel são caracterizados pelo seu tempo de revolução. A descrição do céu empíreo indica propriedades físicas e divinas:

Ves allí el otro, que es el Cristalino,
tan trasparente y el cristal tan puro;
el empíreo es el otro, tan divino
aposento, de gloria tan seguro.
Siempre está firme, no hace camino,
no se mueve de aquel su firme muro.
En él están los bienaventurados,
por voluntad divina aposentados. (XXXI, 40)

  • 17 «Celum undecimum imobile primo die creatur. Mor angelis sctis completum est corpus subtilissimum. P (...)
  • 18 Sobre as esferas do universo usadas como sistema de memória, vejam Frances Yates, 1984, pp. 110-117

25Imóvel, o céu empíreo é morada de Deus e dos bem-aventurados, conforme encontramos referido nos tratados de cosmografia17. A regularidade da descrição de Villena é concebida à imagem daquela do sistema cosmográfico aludido. Até poderia sugerir que se trata de uma poetização mnemotécnica da cosmografia ptolemaica18. É, em todo caso, a primeira (1555) que encontrei na tradição épica ibérica.

  • 19 Nicolopulos, 2000, pp. 198 e 204.

26A comparação com o precedente de Villena permite calibrar melhor o trabalho de aggiornamento aplicado por Camões à descrição da máquina do mundo19. O poeta português abrevia e sintetiza alguns pontos, dos quais não sacaria partido a nível poético. Assim, onde Villena lembra a divisão em três partes do Ar e das suas propriedades, distinguindo-o da quarta parte elemental, o fogo, Camões só enumera brevemente as quatro esferas da parte inferior:

Que o fogo fez [O pai omnipotente] e o ar, o vento e neve,
Os quais verás que jazem mais a dentro
E tem co Mar a Terra por seu centro. (X, 90, vv. 6-8)

27Para evitar a monotonia, Camões também sintetiza numa única oitava a enumeração dos planetas que tanto espaço ocupa no texto de Villena:

Debaxo deste grande Firmamento,
Vês o céu de Saturno, Deus antigo;
Júpiter logo faz o movimento,
E Marte abaxo, bélico inimigo;
O claro Olho do céu, no quarto assento,
E Vénus, que os amores traz consigo;
Mercúrio, de eloquência soberana;
Com três rostos, debaxo vai Diana. (X, 89)

28A caracterização dos planetas é reduzida a uma brevíssima menção relativa ao seu humor ou carácter, sem desenvolver as suas propriedades astronómicas. Com efeito, Camões interessa-se menos pelos planetas que pelas figuras mitológicas que os encarnam e cuja natureza de «fabulosas» figuras glosa na oitava 82 (v. 3). Pelo contrário, põe ênfase em alguns lugares estratégicos para o seu projecto poético, em especial, a écfrase do objecto da esfera (77-80) e as primeiras esferas do céu empíreo (81-85, onde surge a reflexão sobre a divina providência e o carácter fingido das criaturas mitológicas). Das descrições astronómicas, Camões retém em especial a transparência da esfera empírea, «com luz tão clara radiando / Que a vista cega e a mente vil também» (81, vv. 3-4), ponto de partida do discurso de Tétis. A invenção do globo é, como podemos apreciar, radicalmente nova em comparação com o precedente de Villena.

29Existe, contudo, mais um ponto de contacto entre ambas máquinas do mundo: a sua função de revelação gloriosa ante um mortal que vem concluir o relato.

A cosmografia como revelação gloriosa

30Nas análises da máquina do mundo de Camões, a ilha dos amores e a revelação de Tétis ante os portugueses tem um triplo papel: é apoteose heroica, pelo triunfo dos navegantes que conseguiram abrir a via marítima para a Índia; é acme amorosa, pelo erótico encontro com as ninfas; e é acme do conhecimento pela revelação aos mortais de uma ciência capaz de «cegar» (81, v. 4) a sua mente. Estas três dimensões encontram-se também presentes no Roncesvalles de Garrido de Villena. Convém, para apreciá-lo, recorrer ao poema, ainda que seja com a brevidade requerida pela extensão limitada deste artigo.

  • 20 A tradição poético-historiográfica sobre este protagonista de lenda foi traçada por Burton, 1988, p (...)
  • 21 Chevalier, 1966, pp. 116-127.

31A écfrase de Garrido de Villena tem como modelo o templo de Delos, sendo o seu sacerdote quem descreve as terras, os mares e as esferas da máquina do mundo, no canto XXXI. O receptor de toda esta écfrasis é Bernardo, o herói espanhol Bernardo del Carpio, bem conhecido do leitorado quinhentista tanto através de crónicas medievais quanto de uma ampla tradição de romanceiros épicos20. O Roncesvalles conta a retaliação dos espanhóis cristãos, aliados com os espanhóis árabes, contra os paladinos de Carlo Magno, heróis do Orlando furioso de Ariosto. Maxime Chevalier, em L’Arioste en Espagne, permanece, apesar do tempo transcorrido, um dos melhores estudiosos deste poema pouco lido. Chamou a atenção para as principais linhas argumentativas do poema: o encómio à família de Borja, mecenas de Villena, louvados em vários lugares da obra enquanto máximos representantes da nobreza da cidade de Valência; a celebração da gloriosa genealogia de Alberto e Marfisa, os antepassados comuns do futuro Felipe II e da sua esposa Mary Tudor, cujo enlace matrimonial se tinha celebrado em 1554, um ano antes da publicação do poema; a batalha dos franceses —entre os quais contam Roldão e Alberto— e os espanhóis, encabeçados por Bernardo, herdeiro do rei Afonso II de Leão21.

32Este último é o protagonista da revelação ecfrástica na apoteose do poema. Proponho aqui desenvolver a hipótese seguinte: a revelação cosmográfica sanciona a vitória dos espanhóis sobre os franceses enquanto dá vantagem a Bernardo sobre Alberto num longo paralelo que estrutura o conjunto do poema. Neste sentido, a vitória de Bernardo sobre Roldão em Roncesvalhes, que conclui o texto e serve de ilustração para vários cantos do poema, não é a única vitória significativa do texto.

33Este fio narrativo leva-nos a seguir as aventuras dos personagens e a maneira como se confrontam ambos com um motivo épico antigo: a conquista das armas de dois heróis da guerra de Tróia. Bernardo e Alberto são os dois ilustres protagonistas dos campos em presença. No primeiro canto, Bernardo lidera o levantamento dos nobres castelhanos contra o rei Afonso de Leão, que tinha pedido a ajuda de Carlos Magno para defender-se contra os reis árabes vizinhos. Para evitar aquilo que considera, ao contrário de Afonso, uma invasão francesa, Bernardo constitui uma aliança com o rei muçulmano de Saragoça, Marsilo, com quem vence os franceses em Roncesvalhes no final do poema. Os numerosos episódios dos quais Bernardo é protagonista são aventuras cavaleirescas espalhadas pelos cantos VII, VIII, IX, XV do poema, enquanto cavalga para juntar-se com o exército. Estas peripécias pouco têm a ver com a guerra franco-espanhola. Esta volta a aparecer como tema dos cantos XVI, XVIII e XX, em torno ao duelo que opõe, como numa antecipação do combate final, Bernardo e Roldão.

  • 22 O conflito para a herança das armas de Aquiles, opondo Ulisses e Ajax, é um motivo frequente desde (...)

34Entretanto, Villena constrói com Alberto um personagem duplo, ao mesmo tempo inimigo e fundador da dinastia real. É inimigo enquanto francês, mas também enquanto assassino de Grandonio, o irmão do rei Marsilo, provocando a sua ira e o seu desejo de vingança (cantos VI e VII). Alberto também é o receptor da revelação da genealogia ecfrástica dos reis da Europa e de Espanha (canto III), que ele engendrará com Marfisa, com a qual namora a partir do canto XII. No canto IX ambos os aspectos do personagem se juntam na busca das armas de Aquiles. Angélica atribui como missão a quatro cavaleiros ir em busca das armas do grego herói de Tróia, logo ganhas por Ulisses e finalmente espalhadas no mar22. O mago Brudo escondeu-as depois no templo de Argos, fundado por Perseu para honrar o seu pai Júpiter e cuja entrada é guardada pela cabeça de Medusa. Apesar de Angélica desejar mais o espelho que as acompanha que as armas em si, a Alberto «mueve el ardimiento / de ir a ganar las armas encantadas» (f. XLv). Esa conquista realiza-se no canto XIII.

35Para entrar no templo, tem de afrontar os três outros cavaleiros que, procurando buscar as armas, jà tinham sido transformadosem estátuas de pedra pela mirada de Medusa; um gigante acompanhado por dois dragões; um monstro meio humano, meio porco. Vencidos estes inimigos, já pode vestir as armas do grego:

¡Cuán poco que ha tardado en desarmarse
de aquellas armas ya tan fatigadas,
y de las otras ha empezado a armarse
de aquellas que por él son ya ganadas!
Armóselas también sin fatigarse,
como si fueran para él forjadas,
tomó la espada que el feroz troyano
sintió mil veces de la griega mano.
(XIII, 45)

  • 23 «Alberto dejó aquí su arnés cansado / porque la herencia que en el mundo es rara / de Aquiles el fa (...)

36Em lugar das armas gregas, Alberto deixa as suas próprias, acompanhadas por um brasão que encarece a sua fama para a posteridade23. Chama aqui a atenção o silêncio do poeta em relação ao carácter cosmográfico das armas de Aquiles (Ilíada, XVIII, vv. 483-489), famosas por levar, no seu escudo, a primeira machina mundi da tradição épica ocidental. Ao contrário, Villena põe, no prólogo deste mesmo canto, a conquista das armas de Aquiles sob os auspícios das origens da criação do mundo:

Cuando el divino artífice tenía
en su primera idea ya formado
todo este mundo, que no parecía
ninguna cosa de lo fabricado,
pues en el cielo no se descubría
lo que en su voluntad habia ordenado,
las pinturas que tienen las estrellas,
los planetas y signos que hay en ellas.

Determinado habia a la prima esfera
que primo móvil es también llamada,
la vuelta al mundo, pero tan ligera
que es en veinticuatro horas acabada.
Después, para las nueve, su carrera
cada una según le fue ordenada;
también prometió, el tiempo terminado,
que en contrario camino va guiado.

En estos signos hay los movimientos
de los hombres y en todos los estados
que participen en sus nacimientos,
como en la calidad que son criados,
algunos hay felices y contentos,
otros que nascen en contrarios hados
y esto sabrá el que hubiere deprendido
conocer en el punto que ha nacido.

Real progenie, valerosa casta,
antigua descendencia conocida
del señor mío, que su estrella basta
a la feliz y memorable vida,
ningún planeta, ningún signo os gasta
vuestra inmortalidad que va subida
y ahora os quiere dar, señor, el cielo
las armas que hay mejores en el suelo.

Que cuantos a ganar van el trofeo,
que fue del valor griego vestidura,
ninguno de ellos cumplirá el deseo,
que no fue para ellos la ventura;
fue, Señor, para Alberto, de quien veo
descender vuestra casta y que procura
el cielo que no pueda ser la herencia
sino para la antigua descendencia.
(XIII, 1-5)

37Não encontramos, nesta breve descrição, nenhum tipo de ressalva censória contra as influências dos planetas, nem em favor da Providência. O triunfo do francês coincide no poema com um estado primitivo de descrição da máquina do mundo. Aparece a «primera ideia» do divino artífice reduzida à sua primeira esfera e à promessa de movimento das outras, sem estrelas, sem planetas e sem signos. Neste momento primitivo, acompanha o personagem de Alberto uma conexão privilegiada com o divino e anunciadora da grandeza da linhagem real que de lá descende: do cielo ao suelo, duas palavras colocadas estrategicamente na rima, existe uma afinidade entre os astros, Alberto e a sua descendência. Trata-se de uma relação etiológica ou de predestinação, mas não de conhecimento.

  • 24 A secuência final deste verso aparece idêntica em outro d’Os Lusíadas, para descrever a roupa que l (...)
  • 25 «Eneas estas armas ha dejado / que a griegos vencedores ha ganado» (43, vv. 7-8). Estes dois versos (...)

38Esta situação oferece um contraste evidente com a conquista por Bernardo das armas de Abante: episódio-marco dentro do qual se desenvolve a descrição da máquina do mundo que nos ocupa, no canto XXXI. No momento em que, depois de várias aventuras pelos caminhos de Espanha, Bernardo decide voltar ao seu campo e juntar-se com o seu exército, sonha com uma visão anunciando que receberá uma revelação na ilha de Delos, «donde ha nascido Apolo con Diana» (f. CXLVIv). Em Saona embarca para Delos, onde chega numa barca, como antes Alberto a Argos. A aventura divide-se em três momentos sucessivos. O primeiro, a descrição da máquina do mundo pelo sacerdote do templo, ocupa as oitavas 12 a 40. Logo a seguir, chega uma donzela, antes anunciada pelo sacerdote como «una ninfa [...] / que es de la diosa Venus servidora» (11, vv. 7-8), outro ponto de contacto com o epílogo d’Os Lusíadas. Revela-lhe «que quiere aquí guardar la diosa bella / joya que por su hijo fue ganada» (12, vv. 3-4). O filho de Vénus aqui aludido é Eneas, como logo veremos. Na oitava 41 chega esta «otra nueva guía», «extraña hermosura» (41, vv. 5 y 8), «graciosa, muy gentil, hermosa, bella / y de muy ricos paños adornada» (42, vv. 3-4) 24. Começa neste ponto o triunfo guerreiro de Bernardo. Está predestinado a ganhar as armas de Abante, aqui chamado «Avante», conquistadas durante a guerra de Tróia por Eneas25 e logo encantadas pela sua mãe Vénus. Para as conquistar, o herói tem de, sucessivamente, afrontar um guerreiro, trepar numa coluna lisa, evitar as flechas disparadas por um anão e um touro furioso com cornos de aço, render homenagem à ninfa que segura a espada; e, finalmente, derrotar um fantasma do próprio Abante montado num elefante (oct. 52-93). Até este ponto, notamos que os obstáculos que Bernardo supera são mais variados e o relato mais longo relativamente a quando Alberto conquistou as armas de Aquiles. As oitavas que se seguem acentuam este contraste. O último episódio de Bernardo em quanto guerreiro, contra Abante e o seu elefante, tem lugar numa sala mais pequena. Lá penduran as armas desejadas por Bernardo. Pelejando ao lado de Abante, prontamente aparece outro grego, «cavallero muy espantable», saído das entranhas de fogo do elefante:

Diciendo sale: «viva la alta fama
de Grecia, que jamás podrá perderse,
ven, loco caballero, tú, a la llama,
que abrasa un valeroso sin valerse.
Aquiles soy, perdido por la dama
que en el templo a traición me dejo verse.
Mis armas lleva hoy la flor del mundo,
pláceme, si hay placer en el profundo.
(XXXI, 95)

39É então Aquiles —o herói cujas armas conquistou Alberto— o último adversário de Bernardo. Com esta última vitória, Bernardo triunfa duplamente: pelas armas de Abante, consegue uma filiação directa com a Antiguidade, por mediação de Eneias, primeiro rei de Roma; por vencer Aquiles, o protector através das armas do seu inimigo francês, vence de maneira antecipada o adversário dos espanhóis.

40A última parte do triunfo de Bernardo é amorosa: seis donzelas entram cantando no aposento para celebrar o herói. Elas vestem-lhe as armas conquistadas, juntando o triunfo do guerreiro e aquele do homem:

Cantando vienen himnos sonorosos
y todas traen toallas en las manos:
«vení, dicen, valor de valerosos,
venid, honra y valor de los hispanos,
venid, propia virtud de virtuosos,
gozad lo que ganaron vuestras manos,
toma el valor de aquesas manos vuestras
vení, seréis armado por las nuestras.

Con las toallas todas lo enjugaban,
con aguas lo van todo rociando,
los cabellos después le desudaban
y flores olorosas van echando.
Después junto al estrado lo llegaban
y cada cual su pieza va tomando;
armado fue Bernardo en un instante
de aquellas armas del famoso Avante.

Después le dan la vaina de la espada
y al cuello el fuerte escudo le colgaron. (XXXI, 104-106)

41O triunfo prossegue com a benção da deusa Vénus:

«la ventura, Señor, es acabada,
le dicen, que los hados os guardaron.
La madre del amor, Venus llamada,
que antiguos y modernos acataron,
por la virtud que vos habéis tenido
os concede otro don, y muy cumplido.

Y será que doquier que el pensamiento
amor os guiará por cualquier dama,
de valor y de gran merecimiento
en ella encenderá la misma llama.
Y por vuestro valor seréis contento
y del amor también ganaréis fama.
Id, pues, alegre en esto, confiado,
que vais con el trofeo bien hadado.

Diciendo esto han desaparecido,
que no las vido más […].
(XXXI, 106-108)

42Promete-se a Bernardo um casamento feliz, como costumam os heróis de cavalaria e como também conseguiriam os Portugueses na Ilha dos Amores. Sai então Bernardo do templo, com a promessa dupla de triunfar em Roncesvalhes e de conseguir um amor recíproco. Alcança efectivamente o segundo com Lucrécia, uma dama francesa, nos cantos XXXII-XXXIII. Na batalha de Roncesvalhes, finalmente, triunfa de Roldán e dos cavaleiros franceses, estando desqualificado o mesmo Alberto por abandonar o campo de batalha. O seu tio mago aparece-lhe na forma do arcebispo Turpino e manda-lhe socorrer Carlos Magno preso.

43Chegando à conclusão deste longo percurso, apreciamos melhor a importância do poema de Garrido de Villena na história da construção de um padrão ibérico. Se bem que Villena não foi um grande mestre na arte da oitava, destaca-se pela sua inventio. A sua cosmografia, no canto XXXI do Roncesvalles, é a primeira máquina poética do mundo conhecida na épica ibérica quinhentista. Inspira-se nas teorias então bem conhecidas da cosmografia ptolemaica e poetiza-as de forma rigorosa e completa. Várias características desta descrição anunciam aquelas da descrição final d’Os Lusíadas: a procura de um ponto de vista elevado e global para contemplar a geografia; a continuidade assim criada entre a escala geográfica e a escala cosmográfica; a coincidência entre a revelação intelectual que constitui a máquina do mundo e o triunfo guerreiro e amoroso dos heróis. Este último aspecto do poema de Villena é também interessante per se: o herói antepassado dos reis de Espanha, o francês Alberto, que ganhou a batalha da posteridade a longo prazo, através da sua descendência, não é o vencedor que permite defender e conservar a integridade do território espanhol frente à França. A complexidade desta reflexão política e territorial merece, sem dúvida, um estudo próprio. Reavaliar os precedentes d’Os Lusíadas também ajuda a compreender a fábrica do poema de Camões. Ensina-nos que o poeta português lia épica em língua castelhana, e que o aggiornamento da máquina do mundo que o tornou tão famoso foi pensado em relação ao campo poético espanhol tanto quanto em referência a literatura cosmográfica. Aparece, assim, um Camões que merece ser lido em relação com os seus precedentes peninsulares.

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Anexo

ANEXO: Francisco Garrido de Villena, Roncesvalles, XXXI, 12‑40 (f. CLIv‑CLIIv)26

Mas mientras no viniere la doncella,
porque no os pese no haciendo nada,
mirad por todo el templo la pintura:
declararos he toda la escritura.

Mirad allí el gran Jove poderoso,
con el cetro real del gran imperio,
benigno, justo y misericordioso,
criando todo junto el hemisferio.
Mirad cómo reparte el dadivoso
la tierra por nivel muy verdadero:
para mostrar que no hay a él segundo,
divide en cuatro partes todo el mundo.

Mirad a Europa, que esta es nuestra parte,
también en muchas partes repartida,
que el gran señor en tantas la reparte
y ha de ser cada cual bien conocida.
Y todas van con el ingenio y arte
del que pudo hacerlo sin medida.
Ingalaterra, Escocia las nombradas,
Ybernia
27, y luego vienen las Orcadas28.

[15] Es la postrera Thile29, que con maña
parece que el factor lo repartía.
Veis luego la feroz, fértil España
Francia luego, y Italia con Hungría,
la potentada y gran tierra Alemania,
Bohemia, Dacia, y veis a Esclavonia,
Polonia con Nuruega y Grecia luego,
Tracia, Moscovia, Escitia con sosiego.

De África divide por derecho
Europa como allí lo iré mostrando,
en Gibraltar, allí por el estrecho,
después a Tramuntana, rodeando
por los montes Rifeos, y de hecho
el río Tanáis la va apartando
30,
la Palude Meótides
31 la aparta
por otra parte, y es divisïón harta.

Ahora mira a África, que quiero
que veas poco a poco lo criado.
Esta región es poca y lo primero
estéril el gran Jove la ha dejado.
Verás presto se cerca por entero:
por Mauritania habemos comenzado,
Numidia, Libia, y ves allí a Etiopia,
y habemos acabado ya su copia.

Es poca y tiene bien poca fortuna.
Con Asia ves por donde ha dividido,
por los montes del sol y de la luna
y por el río Nilo conocido.
Asia verás ahora sola una,
de gran fertilidad que le ha cabido,
y sus provincias grandes y grande ella
que se extiende hasta allá, mira si es bella.

Persia, Media y Asiria comencemos,
Silicia con Panfilia (¡qué regiones!)
a Capadocia, Armenia volveremos,
a Bitinia y a Ciria
32, y los rincones
de la Mesopotamia y tornaremos
a Palestina, noble de varones.
Veis luego a Ponto y Sérica
33, y acabo
con Hircania
34, que a Asia hace cabo.

[20] La cuarta parte es la región Vespucha35,
es rica y cuando sea descubierta,
se verá esta región que será mucha,
que aún ahora cerrada está la puerta.
Son pocas sus provincias, mas escucha
que toman mucha tierra cosa cierta,
Caníbales, Perú, Sina es su tierra,
lo demás se verá por pura guerra.

Ahora que la tierra te ha mostrado
que Esférica ves bien que está formada
la del agua verás que con cuidado
también ha sido Esférica criada.
También en sus provincias la ha apartado
cada parte la suya terminada;
la tierra es firme y toda fructuosa
de animales y plantas abundosa.

Mira el gran mar ahora repartido
con la artífice, alta y santa mano,
que el uno va del otro dividido.
El primero es el gran mar Oceano.
Aquel Mediterráneo le ha cabido,
Baleárico el otro, o soberano,
señor, que a todo término pusiste
y que allí pasasen, no quesiste.

Gálico y Ginovés, luego Toscano,
por orden te los voy todos contando.
Luego comienza desde allí el Campano,
Adrïático, luego va empezando,
el trico
36 y el mar griego mano a mano,
y el Helesponto ves allí ensanchando
y la Propontis luego, y luego viene
el Bósforo, de Tracia ves que tiene.

El Euginio37 y el Póntico ves luego,
y el mar Panfilio y Sílico alargando,
y el Palestino con tan gran sosiego
y el Egipcíaco que es bien nombrado.
El Bíbico es aquel, y ya me allego
al Líbico Oceano así llamado.
Atlántico y Arábico ahora aquellos,
y luego el Etiópico par de ellos.

[25] El Pérsico y el Índico a esta mano,
el Loo que par de él se señalaba.
Mira después el otro mar Hircano
y el Sítico y Germánico allegaba,
y el mar Francés que se llamó Oceano
y a Océano Español se confinaba,
y ves aquí las aguas ya contadas
como están unas de otras apartadas.

Aquí crió también el gran Tonante
animales, que allí tienen morada,
la división de peces abundante
con que también la gente es sustentada.
No me detengo, vamos adelante:
la tierra y agua ha sido ya mostrada,
vamos a ver ahora la otra Esfera,
que es la del aire y esta es la tercera.

Está en tres esta Esfera dividida:
rocío en la primera se ha engendrado;
en la segunda que es más escondida,
nubes, nieblas, granizo se ha criado,
Relámpagos y truenos sin medida,
rayos, lluvias y nieves se han formado;
y en la tercera cosas más secretas
que se encendían en ella las cometas.

En la primera tienen sus asientos
las aves que por ella van volando;
y en estas tres Esferas hay los vientos,
servicio a los que siguen navegando.
Tienen también contrarios movimientos
y en el nombrar se van diferenciando:
Levante y Poniente son y Medio día
y el otro Tramontana se decía.

La del fuego, después, es sola una,
tampoco hay que poder decirte de ella:
mírala allí, no toca con ninguna.
Mas mira más arriba otra más bella;
Es el asiento y casa de la Luna,
ya goza el suelo harto bien por ella,
es húmida y es fría de natura,
tiene a Cáncer por signo su hermosura.

[30] El curso de la Luna es acabado
fuera de aquel primero vïolento,
en veinte y ocho días terminado,
y ocho horas que se llega a este cuento,
porque forzosamente ya es llevado
su curso casi en tiempo de momento,
que es en veinte y cuatro horas, y forzadas
las nueve Esferas son allí llevadas.

Mira el segundo cielo donde tiene
Mercurio su aposento conveniente.
También por su natura le conviene
de ser este planeta indiferente:
con los buenos es bueno, mas si viene
a estar con malos, malo es propiamente.
Tiene dos signos este, por sus lados,
que Géminis y Virgo son llamados.

Trecientos y sesenta y cinco días
y más seis horas tarda en su camino,
digo en el suyo proprio por sus vías
que con el primo va por su destino.
Al aventura dices que venías,
y verás el efecto del divino
Júpiter alto, todo aquí pintado,
según que fue por su saber formado.

Adelante pasemos al tercero,
cuya planeta es Venus tan amada.
Su vuelta propia tiene el propio fuero
que aquella de Mercurio ya nombrada.
Su natura, que habia de ser primero
caliente y húmida, será llamada.
A Libra y Taurus tiene en compañía,
de estos signos se sirve cada día.

Tiene el Sol por asiento el cuarto cielo.
Su curso como Venus ha llevado
fuera de aquel que por forzoso celo
que va del primo móvile güiado.
Caliente y seco es este en nuestro suelo,
y está de un solo signo acompañado,
y así como es mayor el signo es fuerte,
que el León le ha cabido por su suerte.

[35] El quinto mira allá en más alta parte,
que en dos años acaba su carrera.
En él está el feroz y fiero Marte,
cuyo ejercicio es de la gente fiera.
Caliente y seco lleva su estandarte
y dos signos se tiene allá de su esfera.
Son Aries y Escorpión, feroz figura,
mas de estos dos se sirve su natura.

El Júpiter, benigno y pïadoso,
quien en la sexta esfera está sentado,
templado, es el planeta generoso,
y es su curso en doce años acabado.
Digo fuera de aquel que es tan forzoso
que a cada cielo lleva a su mandado.
También tiene dos signos en su asiento:
Piscis y Sagitario a su contento.

Saturno tiene aquella por morada,
setena esfera es a nuestra cuenta;
en treinta años su vía es acabada.
Fuera también de aquella vïolenta,
fría y seca natura le fue dada.
También tiene dos signos do se asienta:
Capricornio y Acuario son llamados,
los dos le están sirviendo a los dos lados.

Ahora es el octavo el firmamento,
que de tantas estrellas va adornado.
No se acaba su curso en un momento,
porque siete mil años ha tardado.
Sigue también al otro vïolento,
que en veinte y cuatro horas es llevado.
Mira el noveno y tarda sin engaños
cuarenta y nueve mil y todos años.

Aquel es el que tiene tanta fuerza
que los lleva tras sí forzadamente,
mas no porque tampoco aquel se tuerza
de su curso veloz tan diligente.
En veinte y cuatro horas que es se esfuerza
a mostrar sus misterios a la gente
y todos van tras él y él gana fama
y aquel el primo móvile se llama.

[40] Ves allí el otro que es el Cristalino
tan trasparente y el cristal tan puro;
el empíreo es el otro, tan divino
aposento, de gloria tan seguro.
Siempre está firme, no hace camino,
no se mueve de aquel su firme muro.
En él están los bienaventurados,
por voluntad divina aposentados».

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Notas

1 Alves, 2011a, p. 555.

2 Nicolopulos, 2000, pp. 175-219.

3 Faria e Sousa, 1639, vol. 4, cols. 447-448.

4 XVIII, vv. 478-617, onde a máquina do mundo aparece nos versos 483-489.

5 Mena, 1994, pp. li‑liv e 78‑173.

6 Silva, 1915.

7 Hélio Alves, no seu artigo sobre «Epopeia e o poema cavaleiresco no Renascimento», apontou uma série de coincidências léxicas e sintagmáticas entre a dedicatória do poema de Garrido de Villena e aquela de Camões (Alves, 2011b, pp. 359). Para outro estudo sobre a intertextualidade entre um poema espanhol e Os Lusíadas no aspecto geográfico, veja-se Lara Garrido, 1999, pp. 209-231.

8 Sobre esta tradução, muito pouco estudada, vejam Aguilà Ruzola, 2013.

9 No exemplar BNF Arsenal 4-BL-2604, estão encadernadas juntas as duas edições antuerpienses: La primera parte de Orlando Furioso dirigido al principe don Philipe nuestro Señor: traduzido en Romance Castellano por don Ieronimo de Urrea, Corregido segunda vez por el mismo, En anvers, En casa de la Biuda de Martin Nucio, Año de M.D.LVIII, e La segunda parte de Orlando, con el verdadero sucesso de la famosa batalla de Roncesvalles, fin y muerte de los doze Pares de Francia: dirigida al muy Illustre Señor Don Pedro de Centellas Conde de Oliva, &c, por Nicolas Espinosa nuevamente corregida, En anvers, En casa de Martin Nuncio, a la enseña de las dos Cigueñas, M.D.LVII, Con gracia y privilegio de su Magestad (http://catalogue.bnf.fr/ark:/12148/cb30027001t).

10 Valsalobre, 2003 e 2005; Plagnard, 2012.

11 Plagnard, 2015, pp. 12-14.

12 Sobre o carácter literário e humanístico de esta prática cartográfica, decisiva vários decénios depois, para a prática poética de Luis de Góngora, veja-se a síntese de Blanco, 2012, pp. 242-245.

13 «No me detengo, vamos adelante: / la tierra y agua ha sido ya mostrada, / vamos a ver ahora la otra Esfera, / que es la del aire y esta es la tercera» (XXXI, 26, vv. 5-8).

14 «[…] nubes, nieblas, granizo se ha criado, / relámpagos y truenos sin medida, / rayos, lluvias y nieves se han formado» (XXXI, 27, vv. 4‑6).

15 Sobre a história de esta tradição em relação com Camões, vejam Silva, 1915. Sobre a história da astronomia no século xvi, pode consultar-se o trabalho mais recente de Lestringant, 1991.

16 Reisch, Margarita philosophica, f. Nm.

17 «Celum undecimum imobile primo die creatur. Mor angelis sctis completum est corpus subtilissimum. Primum mundi fundamentum qualitare maximum qualitate lucidum figuratione sphericum locali situ supremum amplitudine spiritum e corpore visibilium e invisibilium contentium dei summum habitaculum […] aut qua supbenedicta trinitate in eodem residente illuminatum. Dicit aut olympum a limpitudine, e cristallinum atque sit corpus solidum non concavum transparens e lucidum. In quo tam corpora beatos subtilia sine residentia […]» (Reisch, Margarita philosophica, livro VII, tratado 1, capítulo viii, De Celo Empyreo, f. nn).

18 Sobre as esferas do universo usadas como sistema de memória, vejam Frances Yates, 1984, pp. 110-117.

19 Nicolopulos, 2000, pp. 198 e 204.

20 A tradição poético-historiográfica sobre este protagonista de lenda foi traçada por Burton, 1988, pp. 14-23. Tem origem no Chronicon mundi de Lucas de Tuy (1236) e no De rebus Hispaniae de Rodrigo Ximénez de Rada (1243), e foi logo recolhida por Alonso X na Primera crónica general (ca. 1270), enfatizando a variedade de versões biográficas atribuídas ao personagem. Como recentemente fez notar Alberto Montaner (Balbuena, 2017, pp. 11-12), existem, associados a Bernardo del Carpio, dois filos de acontecimentos históricos: a vitória patriótica contra os franceses em Roncesvalles, onde foi responsável da morte de Roldão, e a defesa da sua piedade filial pela maneira como defendeu a liberdade dos seus pais servindo o seu rei Afonfo II de Leão. Garrido de Villena interessa-se aqui pela primeira faceta do personagem, silenciando a segunda. Infelizmente, o estudo, muito necessário, das eleições historiográficas do nosso poeta excede o propósito deste artigo. A matéria épica da lenda de Bernardo del Carpio, teve fortuna na épica posterior, sendo o texto mais notável El Bernardo, o victoria de Roncesvalles do poeta homónimo Bernardo de Balbuena, eclesiástico toledano estabelecido em Nueva España. Vejam a recente edição de Martín Zulaica López (Balbuena, El Bernardo, 2017), onde não se menciona, contudo, relação de continuidade alguma com o poema de Villena.

21 Chevalier, 1966, pp. 116-127.

22 O conflito para a herança das armas de Aquiles, opondo Ulisses e Ajax, é um motivo frequente desde as Metamorfoses de Ovídio (XIII, vv. 1-398). Cf. La contienda de Áyax Telamonio y de Ulises sobre las armas de Aquiles, de Hernando de Acuña (vejam a nota de Díaz Larios, 1982, p. 152) e Bernardo de Balbuena (l. IX), entre outros. Seria muito necessário um estudo mais detalhado sobre a reformulação deste motivo por Garrido de Villena.

23 «Alberto dejó aquí su arnés cansado / porque la herencia que en el mundo es rara / de Aquiles el famoso se ha llegado» (XIII, 47, vv. 2-4).

24 A secuência final deste verso aparece idêntica em outro d’Os Lusíadas, para descrever a roupa que leva Vasco da Gama ao chegar em Calecute: «[…] sem detença / Parte, de ricos panos adornado» (VII, 43, v. 4, f. 102r). Agradeço muito a Hélio Alves a sua sugestão sobre este verso.

25 «Eneas estas armas ha dejado / que a griegos vencedores ha ganado» (43, vv. 7-8). Estes dois versos traduzem um verso do terceiro livro da Eneida, onde Eneas conta como pendurou o escudo do rei Abas de Argos na entrada do templo de Áccio: «Æneas haec de Danais victoribus arma» (Eneida, III, v. 288). O seu fabuloso escudo tinha a propriedade de paralisar os inimigos e aparace, por exemplo nas Argonáuticas de Valério Flaco (I, v. 451).

26 Aqui também modernizo a grafia e a pontuação do texto.

27 Do latim Hibernia, Irlanda.

28 As ilhas Órcadas, no norte de Escócia.

29 Ilha situada entre as Órcadas e as ilhas Féroe.

30 Nos montes Rifeos situam Plinio o Velho (IV, 24, 6) e Pomponius Mela (I, XIX) as fontes do Tanaïs (actual Don).

31 O lago Maeotis, hoje chamado mar de Azov, encontra-se ao norte do mar Negro.

32 Cilícia, Panfília, Bitínia e Círia são províncias romanas da Ásia Menor.

33 Assim designavam os gregos e os romãos a província do Catai, na Chila mongol.

34 As regiões do sudeste do mar Cáspio, chamadas na Antiguidade mar Hircánio.

35 América, bautizada pelo nome de Amerigo Vespucci, quem descobriuque as terras descobertas por Cristóvão Colombo formavam um continente.

36 Talvez o mar Jónico.

37 O Ponto-Euxino.

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Para citar este artículo

Referencia en papel

Aude Plagnard, «A descrição da máquina do mundo: Francisco Garrido de Villena e Luís de Camões»Criticón, 134 | 2018, 115-140.

Referencia electrónica

Aude Plagnard, «A descrição da máquina do mundo: Francisco Garrido de Villena e Luís de Camões»Criticón [En línea], 134 | 2018, Publicado el 20 diciembre 2018, consultado el 12 diciembre 2024. URL: http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/criticon/5056; DOI: https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/criticon.5056

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Autor

Aude Plagnard

Aude Plagnard es Maîtresse de conférences de literaturas comparadas en la Universidad Paul Valéry de Montpellier. Además de su investigación sobre la épica luso-española (véase Une épopée ibérique. Alonso de Ercilla et Jerónimo Corte-Real (1569-1589), de próxima publicación en la biblioteca de la Casa de Velázquez), colabora en el proyecto de edición digital de la polémica gongorina dirigido por Mercedes Blanco (OBVIL, Paris-Sorbonne). Es también miembro del Réseau Euro-Africain de Recherche sur les Épopées y del CIMEEP.
aude.plagnard@gmail.com
Université Paul-Valéry Montpellier 3, IRIEC EA 740, F34000, Montpellier, France.

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