Navigation – Plan du site

AccueilNuméros22Fim da geografia ou vingança da g...

Fim da geografia ou vingança da geografia ? As sociedades humanas entre um mundo liso, um mundo pontudo ou um mundo plano

Fin de la géographie ou revanche de la géographie ? Les sociétés humaines entre un monde lisse, un monde pointu ou un monde plat
End of Geography or Revenge of Geography ? The Human Societies between a Smooth World, a Spiky World or a Flat World
André-Louis Sanguin
Traduction de Camilo Pereira Carneiro Filho

Résumés

Présentée au cours des dernières années, la théorie de la fin de la géographie, la théorie du monde plat et la théorie de la revanche de la géographie ont suscité un débat intellectuel parmi les géographes du monde nord-américain. L’article examine les éléments constitutifs de ces trois théories en les replaçant dans le contexte de la révolution numérique et de l’explosion des lieux. Ce débat renvoie à l’ultime frontière de la géographie contemporaine, à savoir la déterritorialisation dans un monde sans frontières et l’avènement du cyberespace. La prédominance d’une géographie à deux faces engendre une dialectique de nouvelle territorialisation.

Haut de page

Texte intégral

Afficher l’image
Crédits : Illustration by Michael Hogue w.theamericanconservative.com/articles/the-map-to-power/

1No início da década de 1990, na medida em que se iniciava a era pós-soviética, dois pensadores americanos lançaram duas teorias que deram a volta ao mundo. Em 1992, o economista Francis Fukuyama, professor na Universidade Johns Hopkins, previu o fim da história, isto é, a realização de um consenso universal sobre a democracia, colocando um ponto final nos conflitos ideológicos. Em 1996, o politólogo Samuel Huntington (1927-2008), professor em Harvard, teorizou o choque das civilizações e a reformulação da ordem mundial: em um mundo pós-soviético as divisões não seriam mais ideológicas, mas civilizacionais com um forte substrato religioso. É preciso destacar que a espacialidade estava relativamente ausente na demonstração dessas duas teorias fortemente disseminadas pela mídia. Durante o mesmo período, Richard O’Brien, economista chefe da gigante financeira American Express, anunciou o fim da geografia (O’Brien, 1990, 1992). Isto se explicaria em função das novas tecnologias da informação que lhe teriam tornado obsoleta por causa da interconexão mundial dos mercados financeiros. Sua localização foi transferida das salas físicas das bolsas de valores para os sítios mais transitórios das redes telefônicas e informáticas. O’Brien foi acompanhado por Greig que estimou que esse fim da geografia se explicava pela padronização da cultura e das comunicações no sistema internacional (Greig, 2002). Em 2005, Thomas Friedman, grande editor do New York Times, afirmou que o mundo havia se tornado plano por causa de uma mundialização geral, inexorável e invasiva. Utilizando as noções de “equalização” e de “achatamento” da superfície do globo, Friedman procurou mostrar como cada vez mais pessoas podiam se conectar, jogar, concorrer e colaborar graças ao poder fantástico conferido pela internet. Para Friedman, as forças de equalização e de achatamento autorizavam os indivíduos a alcançar mais longe, mais rapidamente, mais profundamente e mais barato do que nunca. O mundo é plano: isso quer dizer que essa nova potência equalizadora que é a internet dá a mais e mais indivíduos as ferramentas e a capacidade de trabalhar, de se informar e de relaxar. Esse fenômeno novo não é somente econômico, ele é igualmente cultural (Friedman, 2007).

2No entanto, a teoria do fim da geografia e a teoria do mundo plano parecem ignorar quatro realidades geográficas extremamente presentes e incontornáveis: a escala local, a escala regional, a distância e a não onipresença da pessoa humana (Morgan, 2004). Elas desencadearam rapidamente um vivo debate intelectual entre os geógrafos e os cientistas sociais do mundo anglo-saxão. No entanto, entre 2009 e 2012 esse debate tomaria um novo rumo com a publicação de “A Vingança da Geografia”, artigo e em seguida livro escritos por Robert Kaplan, redator da publicação mensal The Atlantic, de Washington. Kaplan destacou uma antiga verdade: do Egito dos faraós até a Primavera árabe de 2011, a geografia foi o fator central do destino das nações. Segundo Kaplan, a geografia examina profundamente as relações internacionais e os conflitos que a mundialização é incapaz de explicar. O século XXI não vê o fim da história, mas o retorno da história e, por sua vez, a geografia analisa as velhas linhas de fraturas políticas que estão reemergindo. A teoria de Kaplan invoca uma outra realidade fundamental: a geografia continua hoje, como ela tem sido ao longo da história, um dos mais potentes condutores dos acontecimentos mundiais. Em outras palavras, as configurações geográficas do planeta, tanto quanto as ideológicas e as religiões concorrentes, moldam os conflitos humanos (Kaplan, 2009, 2013). Convém examinar em profundidade os elementos significativos dessas três teorias.

A revolução digital e a explosão dos lugares

3Todo esse debate refere-se à última fronteira da geografia contemporânea, ou seja, a desterritorialização e o ciberespaço. Desde a queda do Muro de Berlim e a implosão da União Soviética, a grande questão colocada à Geografia é, de fato, aquela da desterritorialização em um mundo sem fronteiras. Essa questão refere-se à reorganização e à reestruturação das relações espaciais como conseqüência das transformações tecnológicas, materiais e políticas ocorridas desde 1989-1991. O território teria então perdido seu significado e seu poder na vida cotidiana? Numa visão contemporânea concreta o território significa a conjunção em um sistema operacional de tudo aquilo que diz respeito às administrações públicas, às instituições militares, aos regimes políticos, às estruturas sociais e às redes de transporte e comunicações (O’Tuathail, 2000). Para o cidadão comum o território é feito de um triângulo que liga as instituições de poder, a materialização dos lugares e a idealização da psicologia coletiva. O entusiasmo de categorias inteiras da população pelas novas tecnologias de comunicação se explica provavelmente por uma desilusão em relação ao território nacional. Em suma, o poder do território político material é hoje abocanhado pelo poder político do ciberespaço (Spiegel, 2000).

4O ciberespaço é uma outra geografia (Kitchin, 1998; Brunn, 2000). É a geografia de um espaço imaterial de tipo heterotópico (um outro lugar) onde os fenômenos de localização não se pensam como no espaço geográfico material (Crampton, 2004). Os lugares do ciberespaço são associados aos endereços. Por sua vez, esses endereços são remetidos a outros endereços em uma rede infinita. O ciberespaço é um espaço geométrico, transcendente e radiante nas palavras de Antonio Casilli. É também um espaço psicológico, uma espécie de laboratório de identidades individuais que se constroem e reconstroem (Casilli, 2010).

5No lugar de uma desterritorialização do mundo, a questão é saber se nós não assistimos, ao invés disso, a uma reterritorialização por reorganização, reestruturação, entrelaçamento entre territórios, tecnologias, Estados e mercados numa outra escala. Convém então substituir a desterritorialização perante três questões simples: 1) a quem a desterritorialização beneficia?; 2) que classe social faz a promoção da desterritorialização?; 3) para quem é esse mundo sem fronteiras? A resposta para essas questões permite reavaliar essa retórica e essas metáforas.

6Certamente, para a maioria dos indivíduos que vivem nos países desenvolvidos, a posse de um computador pessoal trouxe a internet aos lares e à vida cotidiana para tudo aquilo que diz respeito a informação, lazer, reservas, transações bancárias, compras on-line, redes sociais, relações com a administração pública (Hamel & Sampler, 1998; Nixon & Koutrakou, 2007). Mesmo assim, a distância continua a ser um importante fator dissuasivo nas trocas entre vendedores e compradores de produtos de consumo ou entre prestadores e beneficiários de serviços públicos ou privados (Hortacsu, Martinez-Jerez & Douglas, 2009). Evidentemente, na pesquisa de certos bens e serviços os consumidores preferem muito mais a escala local e o contato direto. É certo que a internet e os novos sistemas de gestão modificaram a relação das empresas com seu espaço e com seu mercado, mas eles não se aborreceram. Na verdade, as escolhas de localização das empresas continuam escolhas geográficas. O aparecimento do comércio eletrônico reforçou a necessidade de transportar rápido e eficazmente. Esse tipo de atividade induziu um esforço de domínio do espaço, cujo melhor exemplo é dado pelo lugar importante tomado nos últimos anos pelas companhias aéreas cargo do tipo FedEx, UPS, DHL, Cargolux, entre outras (Lasserre, 2000).

7É ainda muito cedo para estabelecer um balanço sério dos efeitos possíveis ou reais do ciberespaço sobre a explosão dos lugares. A territorialidade humana e a dinâmica da vida humana, fundadas sobre a relação tradicional espaço-lugar, podem ser transcendidas pelas novas tecnologias da comunicação. Ainda assim, está claro que os espaços eletrônicos e os espaços materialmente territoriais são produzidos conjuntamente pelas mesmas sociedades. As novas tecnologias de comunicação se encontram inscritas em uma mistura complexa e sutil de atores humanos e de artefatos técnicos. Em outras palavras, a vida sócio-espacial dos indivíduos se recombina sutilmente e continuamente nos novos complexos crono-espaciais, sempre difíceis de generalizar (Graham, 1998).

O fim da geografia e o advento de um mundo plano?

8A Teoria do Fim da Geografia, desenvolvida por O’Brien em 1990 e 1992, é usada para demonstrar que a explosão das técnicas de comunicação aproximou os lugares e os homens. Se a Terra é redonda, sua forma parece ter cada vez menos importância para certos setores da atividade econômica. Apesar da tendência geral para uma maior mobilidade no comércio e nas trocas, a verdade é que os deslocamentos a média e longa distância não são a regra para a maioria da população do mundo: enquanto os capitais e as informações circulam à velocidade da internet, a mão de obra sofre de uma imobilidade extremamente reduzida.

9Existe uma velha regra nas questões humanas: o mercado se encontra sempre onde são fixados os preços. Porém, segundo O’Brien, até bem pouco tempo esse lugar era a praça da bolsa de valores, onde se acotovelavam os negociantes e os concessionários de capital. A partir de agora, esse mesmo lugar se encontra em um chip de computador cujas coordenadas geográficas são difíceis de identificar. Para O’Brien é aí que se situa o fim da geografia. Por essa expressão ele entende o fim do papel do Estado-nação como orquestrador da evolução econômica. Em outros termos, o conceito de Estado-nação se tornou antiquado no domínio da economia e das finanças (O’Brien, 1990, 1992). Focando uma dimensão especificamente cultural, Greig teorizou o fim da geografia da seguinte maneira: ou bem a extensão da revolução digital aumenta as trocas culturais e, desse modo, diminui a homogeneidade de cada país; ou bem essa mesma expansão favorece o desenvolvimento de diásporas culturais longe de seu país de origem (Greig, 2002). O que podemos afirmar é que assistimos a uma certa morte da distância. Cada vez mais vôos, cada vez mais companhias aéreas low cost (baixo custo), cada vez mais linhas de trens de grande velocidade têm diminuído o tempo das viagens. Os enormes investimentos realizados na implantação de cabos submarinos de fibra ótica e satélites de telecomunicações têm resultado no reinado da comunicação instantânea. Por sua vez, essa última vem permitindo a transferência de informações e de somas financeiras ao simples toque de um teclado de computador. Para Cairncross, a morte da distância como fator do custo das comunicações será provavelmente a mais importante força de modelagem da sociedade durante a primeira metade do século XXI. Essa morte da distância alterou, em proporções até então desconhecidas, as decisões a respeito dos locais de trabalho, dos gêneros de emprego, dos conceitos de fronteiras nacionais e de soberania, como os quadros do comércio internacional (Cairncross, 1997).

Figura n° Navio a vapor

Figura n°  Navio a vapor

http://www.flotilla-australia.com/​jpatrick.htm

10O planeta Terra conheceu três grandes eras da mundialização: 1492-1800, 1800-1998, 1998-?. A primeira mundialização (1492-1800) foi inaugurada por Cristóvão Colombo, cujas descobertas permitiram o desenvolvimento do comércio entre o Velho Mundo e o Novo Mundo. Ela exigiu a força de braços humanos, de cavalos, de moinhos de vento e, enfim, da máquina a vapor. A segunda mundialização (1800-1998) foi promovida companhias que se tornaram multinacionais por seus mercados e por sua mão de obra, a saber, as companhias neerlandesas, britânicas e todas aquelas dinamizadas pela Revolução Industrial. Em um primeiro momento, essa mundialização foi impulsionada pela navegação a vapor, pelo caminho de ferro, na seqüência pelo telégrafo e mais tarde pela eletricidade, pelo petróleo, pelo telefone, pela energia nuclear, pelo avião a jato de grande porte, pelos satélites, pelo computador, pelo cabo de fibra ótica e pela primeira versão da web. A terceira mundialização começa em 1998 com o início da internet e do comércio on-line. Friedman dá a essa terceira mundialização o nome de plataforma do mundo plano que ele define como o produto da convergência entre três elementos: o computador pessoal, o cabo de fibra ótica e os softwares de trabalho (Friedman, 2007). O primeiro permite a cada indivíduo se tornar o autor de seu próprio conteúdo sob uma forma digital. O segundo permite que os indivíduos acessem conteúdos cada vez mais digitalizados por todo o mundo, por um custo muito modesto ou inexistente. O terceiro permite que os indivíduos colaborem, não importando de onde, por todo o mundo, com o mesmo conteúdo digital sem levar em conta as distâncias entre eles. Essa convergência de plataforma apareceu em torno do ano 2000. Essa terceira mundialização difere das duas precedentes, que foram essencialmente conduzidas por empresas e indivíduos da Europa e da América. Na realidade, mesmo se a China era a maior economia do mundo no século XVIII, foram os países, as companhias e os exploradores do Ocidente que mundializaram o sistema. A medida em que estreita e achata o mundo, a terceira mundialização é conduzida não somente por indivíduos, mas também por grupos de indivíduos que não são mais os brancos e os ocidentais. Para Friedman, as dez forças que têm estreitado e achatado o mundo são as seguintes: Queda do Muro de Berlim, uso público da web a partir de 1998, softwares de trabalho, downloading, subcontratação, deslocalização, cadeias de abastecimento, transportes no modo just-in-time, estoque zero, auto-formação pelo acesso aos motores de pesquisa (Alta Vista, Bing, Google, Lycos, Yahoo, Voila, Yandex, etc.). O processo anabolizante de toda essa evolução é baseado na informática: mensagens instantâneas, partilha de arquivos, chamadas telefônicas por internet, videoconferência, infografia e novas tecnologias sem fio (Friedman, 2007).

11Friedman ilustra essa terceira mundialização com alguns exemplos concretos. No domínio do transporte de mercadorias e do correio a longa distância, a companhia UPS, baseada em Louisville (Kentucky), manipula 13,5 milhões de pacotes por dia com a ajuda de 88 mil caminhões, furgões, tratores e motos. Ela é objeto de 7 milhões de solicitações de rastreamento por dia. Para o transporte a longa distância ela dispõe de uma frota de 270 aviões cargueiros utilizados para 766 destinos. Isso faz da UPS Airlines a oitava companhia aérea do mundo. Atualmente, os passageiros da Southwest Airlines, primeira companhia aérea low cost do mundo podem baixar e imprimir diretamente a domicílio seu bilhete de embarque, o que melhora a produtividade da empresa e baixa os custos. Por sua vez, a JetBlue Airways, outra grande companhia americana low cost, é a ilustração do teletrabalho (telecommuting em inglês) e da externalização de suas atividades. Ainda que sua sede social esteja baseada em Forest Hills (Estado de Nova York), seu sistema de reservas é localizado em Salt Lake City (Utah), onde seus 400 agentes de reservas são donas de casa trabalhando 25 horas por semana, a domicílio. Todos os maiores fabricantes americanos de computadores externalizaram o suporte técnico a uma companhia baseada em Bangalore, apelidada de Silicon Valley da Índia. Seus computadores são montados em diferentes fábricas no método just-in-time, espalhadas na Ásia, na América Latina, na Europa e nos EUA. Friedman também constata que as economias da China, da Índia e de outros países externalizados têm um crescimento mais rápido do que os países que não entraram nesse processo como o México e os grandes países latino-americanos. Segundo o autor, são os países e as organizações inseridos plenamente no processo de achatamento do mundo que continuam a inovar, a ampliar e favorecer a imaginação.

12No entanto, a Teoria do Mundo Plano de Friedman pode ser objeto de críticas. Primeiramente, trata-se de uma teoria unicamente posicionada sobre o ponto de vista americano das coisas e esse americano-centrismo termina por se tornar frustrante. Em segundo lugar, Friedman ignora completamente os aspectos negativos da terceira mundialização e do achatamento do mundo. Ele ignora completamente algumas questões capitais. E quanto a todas essas populações no mundo que estão de fora da terceira mundialização? E quanto aos países excluídos desse processo? E quanto à destruição das culturas locais quando tudo começa a se dissolver em uma cultura de internet generalizada? E quanto à exploração do trabalho, da corrupção e dos danos ambientais causados por esse achatamento do mundo? Para que cada ser humano do planeta participe plenamente dessa terceira mundialização é preciso estar em posse de um computador. Porém, esse não é o caso. O mundo plano de Friedman se aplica apenas a uma parte não majoritária do planeta, aquela onde os territórios são providos de linhas elétricas e de linhas telefônicas. Sem eletricidade e sem telefone nós não podemos imaginar o computador e a internet. Além disso, por razões de analfabetismo, de grande pobreza e de ausência de regimes democráticos, populações inteiras do planeta não podem comprar um computador pessoal e não têm, portanto, acesso à internet. A visão de um mundo plano é aquela dos países de abundância e não aquela dos países da ditadura e da pobreza.

Nem liso nem plano: o mundo é todo pontiagudo!

13A topografia econômica do planeta está longe de corresponder ao mundo plano de Friedman. Sob muitos aspectos, a paisagem econômica não é nem lisa nem plana. Bem ao contrário, nosso mundo é extraordinariamente coberto de pontas. Em termos de locomotivas econômicas e de inovações de sucesso, poucas regiões têm um papel maior na economia mundializada. O planeta Terra é, sobretudo, o objeto de uma cartografia econômica feita de pontas e de cavidades. Em resumo, os mais altos cumes continuam a subir enquanto os vales permanecem estagnados. Um exemplo concreto suficiente para ilustrar esse contraste é a comparação entre o mapa da população mundial e a foto de satélite das emissões de luz a noite. O mapa da população do mundo mostra uma repartição muito desigual com pontas e cavidades. Cinco megalópoles têm mais de 20 milhões de habitantes cada uma, 24 têm mais de 10, 60 têm mais de 5 milhões e, enfim, 150 abrigam mais de 2,5 milhões cada uma. Os maiores pontos são primeiramente na Ásia, depois na Europa e, enfim, na América do Norte. Porém, a foto da concentração de luz emitida a noite, tomada a partir de um satélite apresenta uma situação radicalmente oposta. Os pontos são concentrados primeiro na América do Norte, em seguida no Japão e na Coreia do Sul, enfim, na Europa. Isso quer dizer que a população e a atividade econômica compõem os mapas cheios de pontas, mas é a inovação, motor do crescimento econômico, que é a mais concentrada. No capítulo da criação e da inovação, o resto do mundo está no melhor dos casos para uma estepe e no pior para um deserto (Florida, 2005).

Figura n° O mundo à noite

Figura n°  O mundo à noite

http://visibleearth.nasa.gov/​view.php?id=55167

14Outro exemplo revelador de um mundo coberto de pontas é o mapa da repartição internacional das patentes e marcas comerciais arquivadas na a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (300 mil patentes de inventores distribuídos em 100 países). As cifras falam por si. Cerca de 90 mil das 170 mil patentes arquivadas nos Estado Unidos em 2002 provinham de americanos, 35 mil de japoneses e 11 mil de alemães. Os dez outros países mais inovadores (União Europeia, Taiwan, Coreia do Sul, Israel, Canadá) dividiam as 25 mil patentes restantes. Em termos de patentes e de marcas comerciais, o resto do mundo é na melhor das hipóteses uma estepe e no pior dos casos um deserto. Um mapa composto com dados fornecidos pela OMPI, uma agência das Nações Unidas, e pelo U. S. Patent and Trademark Office mostra um mundo formado de picos inovadores e de vales sombrios. Tóquio, Seul, Nova York e San Francisco estão correndo à frente na competição de patentes. Boston, Seatle, Austin, Toronto, Vancouver, Berlim, Estocolmo, Helsinki, Londres, Osaka, Taipei e Sydney permanecem no bloco. Na verdade, alguns poucos lugares produzem o essencial das inovações no mundo. É preciso compreender, de fato, que a inovação segue um domínio difícil na ausência de uma massa crítica de financistas, de empreendedores e de cientistas apoiados por universidades de reputação mundial e por grandes empresas flexíveis.

15Convém acrescentar a esse mapa mundial de inovação aquele da localização dos 1200 cientistas mais citados nas principais disciplinas. Na verdade, o avanço científico na linha de frente do conhecimento é ainda mais geograficamente concentrado do que aquele da inovação por patentes e marcas de comércio. Não se trata mais de um punhado de países, mas de um punhado de cidades, mais ou menos uma dúzia no mundo, essencialmente localizadas nos EUA e subsidiariamente na Europa. Os criadores cientistas se aglutinam nos grandes centros cosmopolitas porque eles lhes oferecem uma gama de amenidades. Mas os cientistas e as empresas inovadoras se aglutinam igualmente devido às poderosas vantagens de produtividade, às economias de escala e às externalidades de conhecimento possibilitadas por tal densidade. A inovação, o crescimento econômico e a prosperidade apresentados nas cidades cosmopolitas atraem uma massa crítica de pesquisadores talentosos do exterior (Florida, 2005).

Figura n° Internet Census 2012

Figura n°  Internet Census 2012

16http://internetcensus2012.bitbucket.org/​paper.html

17A conexão entre todas essas grandes metrópoles criadoras de inovação e de ciência reforçou a mobilidade da classe criativa mundial composta por cerca de 150 milhões de pessoas. Elas participam do sistema tecnológico mundializado, o que lhes permite migrar livremente de uma grande metrópole mundial a outra grande metrópole mundial. Essas metrópoles formam um clube bastante reduzido, onde se destacam Londres, Nova York, Paris, Tóquio, Hong Kong, Singapura, Chicago, Los Angeles e San Francisco.

18É importante destacar que a Teoria do Mundo Plano de Friedman ignora a divisão crescente entre países ricos e países pobres que constitui, quer nós gostemos ou não, a linha fundamental da economia mundializada. A Teoria do Mundo Plano retrata mais um mundo desenvolvido que transfere seu desenvolvimento econômico à China e à Índia. De fato, os dois países mais populosos do planeta (1,3 bilhões de habitantes para a China e 1,2 bilhões de habitantes para a Índia) combinam as vantagens de custos de produção reduzidos e de capacidades em alta tecnologia e em energia empreendedora. Essas vantagens lhes permitem estar eficazmente competitivos em termos de indústria e de empregos. A Teoria do Mundo Plano de Friedman não evoca absolutamente as tensões insidiosas entre esses picos de desempenho em pleno crescimento e os vales afundando. O mundo plano de Friedman é um mundo onde a África é relegada ao esquecimento e a América Latina e a Rússia são relegadas a uma névoa de fundo.

19Esse mundo plano gera agora um bumerangue político contra a mundialização que se manifesta violentamente, especialmente entre parcelas inteiras da população da União Europeia. Essa mundialização repleta de pontas cria estragos nos países mais pobres do planeta. Na China, cidades como Xangai, Pequim, Shenzhen e Dailan são cercados de vastas zonas rurais empobrecidas. Nessas zonas a renda per capita é três vezes inferior àquela das megalópoles chinesas do mundo plano. A situação é a mesma na Índia onde megalópoles como Bangalore, Hyderabad, Bombaim e Nova Délhi possuem renda per capita quatro ou cinco vezes superior àquelas do campo indiano. No caso chinês como no caso indiano, a terceira mundialização definida por Friedman criou tensões políticas desestabilizadoras.

20Esse planeta cartograficamente feito de picos elevados e de vales profundos em termos de inovação e de ciência gera tribos humanas geograficamente agrupadas, mas tão antagonistas que o mundo parece assemelhar-se ao Leviatã de Hobbes. Florida afirma então que a terceira mundialização não possui um efeito de aplainamento do mundo como queria Friedman, mas tende, sobretudo, a aumentar os contrastes em todos os níveis. As classes criativas e a sociedade do saber estão localizadas nos países da Tríade. Isso contribui para reforçar não somente sua dominação, mas também a polarização em todas as escalas espaciais (Florida, 2002, 2004, 2005). Nesse mundo nem liso nem plano, mas sobretudo eriçado de pontas, De Blij distingue três grandes categorias de população que denomina de “os locais”, “os “deslocados” e “os globais” (De Blij, 2009). Os locais constituem a imensa maioria da população mundial. São os indivíduos que morrem relativamente perto do local onde nasceram. Esses são centenas de milhões de agricultores das grandes bacias hidrográficas da Ásia e da África que vivem um modo de vida pouco diferente de seus antepassados distantes. A terceira mundialização não os atingiu, ou atingiu muito pouco. Os “deslocados” são os migrantes transnacionais que assumem riscos (profissionais qualificados, imigrantes legais e clandestinos, requerentes de asilo, refugiados, mafiosos, revolucionários, terroristas, prostituídos...). Os deslocados são os agentes de mudança por suas percepções muito realistas de oportunidades a agarrar e de necessidades a satisfazer. Estima-se em 200 milhões de pessoas. Por fim, os globais são os membros da classe criativa das grandes metrópoles mundiais. São eles que vivem plenamente a terceira mundialização, o mundo plano, liso e sem fronteiras. Estimados em 150 milhões de pessoas, os globais vivem essencialmente na América do Norte, na União Europeia, no Japão e na Austrália. Eles constituem a clientela de base dos pólos emissores do grande turismo internacional para os destinos longínquos (Florida, 2005; De Blij, 2009).

21Em adição a uma população mundial classificada em locais, deslocados e globais, verifica-se que o mundo é dividido entre um núcleo mundializado e uma periferia. O núcleo mundializado é essa parte do globo, muito urbanizada e muito próspera, constituída da América do Norte, da União Europeia, do binômio Austrália/Nova Zelândia e do quarteto Japão-Coreia do Sul-Taiwan-Singapura. A periferia é formada pelo resto do mundo, isto é, basicamente de Ásia, África, e América Latina. Cerca de 15% da população do globo reside no núcleo mundializado onde ela aufere 75% da renda mundial anual. Isto quer dizer então que os 85% restantes da população do planeta ganha somente 25% da renda mundial anual. Ao utilizarmos esse índice de renda individual anual podemos concluir que estamos num mundo absolutamente não liso e absolutamente não plano onde os ricos têm uma renda per capita anual vinte vezes superior àquela dos não ricos. A sobreposição do núcleo mundializado e da periferia cria uma dinâmica espacial na qual o núcleo atrai milhões de deslocados e onde as remessas de dinheiro enviadas por estes para seus locais de origem garantem o sustento de famílias inteiras no México, na Turquia, na Índia, na China, nas Filipinas, na África negra, no Magreb e em outros lugares (De Blij, 2009).

A vingança da Geografia e o poder persistente dos lugares

22Para os partidários da teoria do mundo plano, afirmar que os lugares desempenham um papel na formação do mosaico humano é considerado como obsoleto, agressivo e determinista. Portanto, quer nós gostemos ou não, a Terra continua sendo um terreno acidentado de um ponto de vista físico e cultural. O poder dos lugares e o destino dos povos são interligados por numerosos laços, passando dos espaços físicos aos meios naturais, passando pelas culturas bem enraizadas e pelas tradições locais. O poder dos lugares cria uma topografia feita de altos e de baixos em uma gama heterogênea que vai desde o privilégio até a privação. Da segurança pessoal à saúde pública, da religião obrigatória à autoridade coercitiva, o mundo continua sendo um mosaico de lugares apresentando amplas combinações de desafios lançados a seus próprios habitantes (De Blij, 2009). O mundo não é nem liso nem plano quando toda a zona intertropical úmida, do México à Indonésia, é afetada pela dengue, pela esquistossomose e pela malária enquanto o resto do mundo encontra-se são e salvo. O mundo não é nem liso nem plano quando nós consideramos o mapa dos epicentros dos tremores de terra e aquele das erupções vulcânicas. As massas inteiras do planeta são isentas, não conhecem e não conhecerão jamais esses dois riscos naturais maiores. O mundo não é nem liso nem plano quando nós observamos os micro-Estados insulares do oceano Índico e do Pacífico que correm o risco de desaparecer para sempre pelos efeitos do aumento do nível dos mares. O mundo não é nem liso nem plano quando nós examinamos o mapa da mortalidade infantil e aquele da mortalidade maternal pós-parto. A África, a Ásia central, a Ásia das monções e a América Latina aparecem como zonas malditas, enquanto a América do Norte, a Europa, a Rússia e a Austrália são pouco ou nada afetadas por esses dois fluxos. Se é verdade que o mundo mudou de uma maneira espetacular durante os cinqüenta últimos anos, a terceira mundialização de Freidman diz respeito a uma minoria de habitantes no planeta Terra, a saber, os globais. A geografia e o lugar exercem um formidável poder sobre a enorme maioria da população mundial. Sua mobilidade está sujeita a restrições, sua bagagem cultural é inadaptável, seus recursos são limitados, sua saúde é muitas vezes comprometida, suas esperanças são fracas e vagas. É preciso destacar que mais de um bilhão de pessoas são os mais pobres entre os mais pobres, os mais doentes entre os mais doentes. Um outro bilhão de seres humanos vive no limite da penúria. As proclamações de um mundo liso, plano ou achatado podem, sem dúvida, alegrar a classe ativa de Florida que vive nos espaços das grandes metrópoles campeãs da terceira mundialização, mas certamente não as populações que vivem fora dessas zonas privilegiadas (De Blij, 2012).

23Publicado inicialmente sob forma de um artigo em 2009, depois sob forma de um livro em 2012, The Revenge of Geography (A Vingança da Geografia), de Robert Kaplan, estava na origem de um debate intelectual violento entre os cientistas sociais do mundo anglo-saxão (Kaplan, 2009, 2013). A geografia é uma temível inimiga e, para os dirigentes políticos esquecer a geografia apresenta certos riscos. Isto porque esquecer a geografia foi uma das conseqüências da queda do Muro de Berlim: o mundo não é plano e os políticos que ignoram a geografia a redescobrem posteriormente por sua conta e risco. Uma atenção apropriada à geografia conduz ao realismo e ao pragmatismo pela oposição ao idealismo e ao otimismo. Kaplan revisita então a teoria de Sir Halford Mackinder (1861-1947) em sua obra Democratic Ideals and Reality, publicada em 1919. Esse livro foi concebido como uma advertência aos idealizadores dos tratados de Versalhes. A análise realizada por Mackinder pode ser legitimamente percebida como uma lição de realismo geográfico na medida em que ele contrabalança as idéias julgadas utópicas do presidente Woodrow Wilson e dos idealizadores da Sociedade das Nações. Eis porque Mackinder estimava que os ideais democráticos (democratic ideals) pareciam estar fora do lugar frente às duras realidades (reality). Em sua obra, Mackinder pensava que os apelos a um universalismo e à igualdade das nações eram inúteis pela simples razão que, de uma maneira inerente, o acesso ao espaço e aos recursos naturais é desigual (Mackinder, 1919). Kaplan retomou por sua conta essa premissa estimando que um puro idealismo pode resultar em conseqüências inesperadas e indesejáveis na ausência de um realismo geográfico. Segundo Kaplan, o realismo geográfico consiste em identificar e aceitar as forças que fogem a nosso controle e que freiam a atividade humana: a cultura, a história, as tradições, os particularismos étnicos, culturais e religiosos. No realismo geográfico, se levanta a questão central das relações internacionais: quem pode fazer o que a quem? De todas as verdades desagradáveis que estão na raiz do realismo, a mais brutal, a mais incômoda e a mais determinante de todas é a geográfica (Kaplan, 2009, 2012). Longe de diminuir a importância da geografia, a mundialização não faz outra coisa que a reforçar. Na realidade, o ressurgimento dos localismos ancorados em paisagens específicas é melhor expressado por um recurso ao mapa e portanto à geografia. Google Earth e Google Maps permitem aos indivíduos tornarem-se seus próprios cartógrafos, colocando literalmente eles mesmos sobre o mapa. Os cidadãos têm então os incentivos para confundir as fronteiras de seus governos com a demarcação de suas próprias comunidades, imaginárias ou reais.

24Kaplan desenvolve talvez uma noção muito clássica da geografia que ele vê como uma combinação de espaço, topografia e latitude. O autor põe em dúvida uma demasiada ênfase nos mapas físicos. As idéias de Kaplan sobre a vingança da geografia suscitou imediatamente uma controvérsia a partir dos geógrafos anglo-saxões. Para esse grupo de críticos a distinção realismo-idealismo revisitada por Kaplan constitui um tecido de absurdos (Morissey et al., 2009). Tomando a ideia de Mackinder, Kaplan fez reviver as antigas preocupações imperialistas clássicas e fez regressar Mackinder no século XXI. Kaplan estima que, de todos os fatores modeladores do comportamento político, a geografia é o mais determinista. A geografia para Kaplan é semelhante ao que é a economia para um marxista. Você pode construir sua própria história, mas você deve viver com sua geografia, parece dizer Kaplan. Seus críticos respondem que são as pessoas reais com histórias reais e geografias reais que ficam em qualquer lugar sob o olhar das grandes estratégias. A Vingança da Geografia é igualmente considerada uma obra demasiadamente anglo-saxônica, defendendo implicitamente uma forma de hierarquia das civilizações: quanto mais distante você está dos valores anglo-saxões, mais inferior é sua sociedade. Muito ligado à uma visão vitoriana das coisas como Mackinder, Kaplan deixa de destacar o papel que desempenham os humanos na emergência de uma nova geografia, aquela dessa nova era geológica que nós denominamos Antropoceno. Esse processo vai muito mais longe do que a simples mudança climática. O paradoxo do Antropoceno é constatar que os humanos são doravante capazes de criar vida artificialmente ao mesmo instante em que sua atividade tenha desencadeado um tamanho declínio na biodiversidade terrestre que a ciência chega a mencionar uma sexta grande extinção desde o surgimento do homem na Terra. A mundialização é uma força física construída de novos ambientes e, por extensão, de novas geografias (Morrissey et al., 2009).

A preponderância da geografia, um Jano1 de duas faces

  • 1 Jano é o deus romano das mudanças e tradições, é o deus dos inícios, das decisões e escolhas, sua f (...)

25Por que a geografia é mais importante do que nunca? Essa é a questão capital formulada em 2012 por De Blij, uma das figuras tutelares da geografia americana contemporânea. Seu raciocínio diz respeito sobretudo aos EUA, mas ele se aplica igualmente às populações dos demais países do G8. A idéia central de De Blij é a seguinte: os americanos constituem uma das sociedades mais analfabetas em geografia do planeta em um tempo onde o poder dos EUA pode afetar os países e os povos ao redor do mundo. Esse analfabetismo geográfico desempenhou um papel nada negligenciável no colapso da política estrangeira americana no Vietnam, no Afeganistão e no Iraque. Ele constitui agora um risco para a segurança nacional do país no momento em que o poder americano está em declínio. Nos contextos sócio-ambientais, as perspectivas geográficas são cruciais na formulação da política. Infelizmente elas estão frequentemente ausentes nos discursos dos políticos (De Blij, 2012). A utilidade da geografia não é melhor ilustrada do que pela história de Tilly Smith, uma jovem britânica que tinha dez anos de idade na época do terrível tsunami de 26 de dezembro de 2004, na Tailândia. Aluna da escola Danes Hill, em Oxshott, Inglaterra, Tilly havia aprendido o conceito de tsunami com seu professor de geografia, Andrew Kearney, duas semanas antes do cataclismo. A menina partiu com seus pais em férias de fim de ano para a ilha de Phuket, na Tailândia, e ficou hospedada em um hotel em Mai Khao Beach. Quando estava na praia ela notou que, subitamente, a água recuou acentuadamente a uma grande distância, deixando a areia descoberta. Ela se lembrou do que aprendera duas semanas antes com seu professor de geografia: a onda profunda de um tsunami puxa a água da praia para o mar antes de retornar como uma parede maciça de água que inunda a costa. Tilly então alertou seus pais que alertaram os outros veranistas. Eles eram em torno de cem pessoas. Todos salvaram suas vidas subindo os andares do hotel e Mai Khao Beach foi a única praia na ilha de Phuket a não lamentar as vítimas do desastre (De Blij, 2009).

26A geografia não é de maneira nenhuma a base para algum determinismo, seja na forma da luta de classes de Marx ou do organicismo de Ratzel. É claro que cada momento histórico possui a sua própria perspectiva geográfica. No que diz respeito ao século XXI, a perspectiva geográfica é aquela de um sistema fechado, de um mundo já dividido onde nós observamos uma violência na repartição de terras e de mercados. Cada choque, cada desastre é indiretamente sentido em pólos opostos e pode voltar como um bumerangue desde os pólos opostos. A gramática da geografia está enraizada na realidade. A geografia deve ficar perto da história, porque a história é melhor compreendida pela geografia e porque a geografia é melhor ensinada através da história. No entanto, é evidente que os conceitos de tempo e espaço mudam em função da tecnologia. Dos primeiros sistemas de irrigação nos tempos antigos até a internet, a raça humana reinventou seu mundo. Da mesma maneira que nós não podemos lidar com os cálculos sem dominar álgebra, do mesmo modo que não podemos desconstruir convenções humanas do tempo e do espaço como é feito hoje, sem saber inicialmente aquilo que foi construído em primeiro lugar! (McDougall, 2003).

Figure n° Janus, deus de duas faces

Figure n°  Janus, deus de duas faces

27https://ferrebeekeeper.wordpress.com/​2013/​05/​16/​janus-god-of-the-threshold/​

28Os eventos continuarão a moldar a história e a localização continuará a estruturar a relevância e o papel da geografia. Embora o ciberespaço tenha mudado a configuração do nosso mundo esta mesma tecnologia nos torna capazes de aumentar nossa percepção responsável dos ambientes nos quais vivemos, de medir nosso impacto sobre o meio ambiente, de seguir os rastros de nossos movimentos, de gerar mais dados, de refinar análises cada vez mais complexas e, enfim, de desenvolver novas fontes de valor agregado (Gray, 1996). Esses avanços tecnológicos estão longe de significar o fim da geografia. A geografia do início do século XXI tem pouco a ver com a disciplina científica que existia no final da Segunda Guerra Mundial. Equipada para integrar quantidades enormes de dados, ela nos permite criar soluções integradas com o poder de transformar a maneira como vivemos e como trabalhamos (Morgan, 2004; Nixon & Koutrakou, 2007).

Conclusão

29O ciberespaço é um espaço social onde as pessoas podem se encontrar sob os novos nomes de encontro e de personalização. O colapso das relações espaço-tempo e a evolução de novos espaços sociais, sem espaço e sem lugar (Facebook, LinkedIn, Twiter, MySpace, etc.) desafiam a importância dos lugares geográficos a tal ponto que alguns acreditam que a geografia e o tempo não são mais fronteiras. O ciberespaço é profundamente anti-espacial uma vez que não se pode dizer onde ele está e não é possível descrever sua forma e suas proporções. E nós ainda encontramos coisas no ciberespaço sem saber onde elas se encontram! De uma certa maneira, a desespacialização operada pela internet destruiu a chave geocodificadora (Akos, 2009). Por outro lado, essa nova fórmula de comunicação é dependente das relações espaciais do mundo real, da posição geográfica dos pontos de acesso, da materialidade dos cabos de fibra ótica, do Wi-Fi para além dos cabos e dos fios telefônicos. Quando o acesso à internet é de melhor qualidade em um lugar ou está ausente noutro temos uma evidência da importância da posição e da localização geográficas.

30As tecnologias do ciberespaço podem acentuar as diferenças ou aumentar a concorrência entre as localizações geográficas, permitindo o acesso a lugares que oferecem os salários mais baixos ou a melhor força de trabalho. A nova geografia econômica leva à mesma conclusão sobre o papel do ciberespaço em estratégias de localização empresarial. Em muitos casos favorece tendências centralizadoras por sua conexão com as infraestruturas de telecomunicações e do meio social das grandes metrópoles. Em muitos casos, os serviços que podem ser descentralizados se instalarão, sobretudo, em regiões que dispõem de uma mão de obra apropriada e de boas condições de transporte.

31As novas tecnologias de comunicação facilitam estratégias globais das grandes empresas industriais (Colgate, Google, McDonald’s, Coca Cola, etc.), mas os consumidores não fazem suas compras segundo uma estratégia global. Eles apenas querem os melhores produtos e os melhores serviços na área que eles conhecem melhor, ou seja, na sua própria vizinhança. A empresa Google sofre censura estatal na China e enfrenta leis ligadas ao direito à privacidade na Alemanha. Como resultado, a Google, cujo produto final não possui forma física, de repente viu-se enraizada em localizações geográficas (Quelch & Jocz, 2012). A internet e os celulares transformaram os processos de comercialização reduzindo as barreiras físicas dos lugares. O exemplo da situação da Google na China e na Alemanha demonstra que a geografia conta ainda na prática, mesmo se os mercados do ciberespaço são teoricamente dispensados de fronteiras das geografias convencionais. De fato, as fronteiras políticas associadas às leis, aos regulamentos, às taxas e aos acordos comerciais regulam os vendedores e seus produtos físicos ou digitais. Podemos afirmar que relativamente poucas transações on-line atravessam as fronteiras nacionais.

32Por fim, o conceito que defende e anuncia o fim da geografia está focado nos efeitos equalizadores da terceira mundialização, enquanto o conceito que proclama a vingança da geografia adota o ponto de vista das diferenças espaciais presentes nos contextos locais, regionais e nacionais. Essas duas tendências (equalização e diferenciação) constituem a dialética permanente nas economias nacionais. Dessa forma, os geógrafos têm a dupla tarefa de atrair a atenção do público sobre a existência desses dois conceitos e de declarar que a geografia ainda é muito importante, mas sob diferentes aspectos (Akos, 2009).

AKOS, Jakobi (2009), « Diverse Approaches to the Importance of Geography: The Death of Geography or Geography Matters in the Information Age! », in DONERT, Karl, SCHMEINCK, Daniela,

ARI, Yilmaz, ATTARD, Marie & Gerry O’REILLY (sous la direction de), Celebrating Geographical Diversity, Berlin, Mensch und Buch Verlag, pp. 190-195.

BRUNN, Stanley (2000), « Towards An Understanding of the Geopolitics of Cyberspace: Learning, Re- Learning and Un-Learning », Geopolitics, vol. 5, n° 3, pp. 144-149.

CAIRNCROSS, Frances (1997), The Death of Distance, Cambridge, Harvard Business School Press.

CASILLI, Antonio (2010), Les liaisons numériques. Vers une nouvelle sociabilité, Paris, Seuil. 14

CRAMPTON, Jeremie (2004), The Political Mapping of Cyberspace, Chicago, The University of Chicago Press.

DE BLIJ, Harm (2009), The Power of Place: Geography, Destiny and Globalization’s Rough Landscape, New York, Oxford University Press.

DE BLIJ, Harm (2012), Why Geography Matters More Than Ever, New York, Oxford University Press.

FLORIDA, Richard (2002), The Rise of Creative Class, New York, Basic Books.

FLORIDA, Richard (2004), The Flight of Creative Class, New York, Harper Business.

FLORIDA, Richard (2005), « The World is Spiky », The Atlantic Monthly, October issue, pp. 48-51.

FRIEDMAN, Thomas (2007), The World is Flat. The Globalized World in the Twenty-First Century, London, Penguin Books.

GRAHAM, Stephen (1998), « The End of Geography or the Explosion of Place? Conceptualizing Space, Place and Information Technology », Progress in Human Geography, vol. 22, n° 2, pp. 165- 185.

GRAY, Colin S. (1996), « The Continued Primacy of Geography », Orbis: A Journal of World Affairs, vol. 40, n° 2, pp. 247-259.

GREIG, J. Michael (2002), « The End of Geography, Globalization, Communications, and Culture in the International System », Journal of Conflict Resolution, vol. 46, n° 2, pp. 225-243.

HAMEL, Gary & Jeff SAMPLER (1998), « The E-corporation: The End of Geography », Fortune Magazine, 7 December 1998, p. 28.

HORTACSU, Ali, MARTINEZ-JEREZ, F. Asis & Jason DOUGLAS (2009), « The Geography of Trade in Online Transactions: Evidence from eBay and MercadoLibre », American Economic Journal: Macroeconomics, vol. 1, n° 1, pp. 53-74.

KAPLAN, Robert (2009), « The Revenge of Geography », Foreign Policy, vol. 172, pp. 96-105.

KAPLAN, Robert (2013), The Revenge of Geography. What the Map Tells Us About Coming Conflicts and the Battle Against Fate, New York, Random House Trade Paperbaks.

KITCHIN, Robert (1998), « Towards Geographies of Cyberspace », Progress in Human Geography, vol. 22, n° 3, pp. 385-406.

LASSERRE, Frédéric (2000), « Internet : la fin de la géographie ? », Cybergeo (http://cybergeo.revues.org/​4467).

MACKINDER, Halford (1919), Democratic Ideals and Reality, A Study in the Politics of Reconstruction, London, Constable.

McDOUGALL, Walter (2003), « Why Geography Matters… But is so Little Learned », Orbis: A Journal of World Affairs, vol. 47, n° 2, pp. 217-233.

MORGAN, Kevin (2004), « The Exaggerated Death of Geography: Learning, Proximity and Territorial Innovation Systems », Journal of Economic Geography, vol. 4, n° 1, pp. 3-21.

MORISSEY, John, DALBY, Simon, KEARNS, Gerry & Gerard TOAL (2009), « Geography Writes Back Response to Kaplan’s The Revenge of Geography », Human Geography, A New Radical Journal, vol. 2, n° 2 (www.hugeog.com/index.php/issues).

NIXON, Paul & Vassiliki KOUTRAKOU (2007), E-Government in Europe: Rebooting the State, London, Routledge.

O’BRIEN, Richard (1990), « The End of Geography. The Impact of Technology and Capital Flows », The AMEX Bank Review, vol. 17, n° 5, pp. 2-5.

O’BRIEN, Richard (1992), Global Financial Integration: The End of Geography, London, Pinter Publishers.

O’TUATHAIL, Gearoid (2000), « Borderless Worlds? Problematizing Discourses of Deterritorialization », in KLIOT, Nurit & David NEWMAN, Geopolitics at the End of the Twentieth Century. The Changing World Political Map, London, Frank Cass, pp. 139-154.

QUELCH, John & Katherine JOCZ (2012), All Business is Local: Why Place Matters More than Ever in a Global, Virtual World, New York, Portfolio Penguin.

SPIEGEL, Steven (2000), « Traditional Space Versus Cyberspace: The Changing Role of Geography in Current International Politics », Geopolitics, vol. 5, n° 3, pp. 114-125.

Haut de page

Annexe

Au début des années 1990, alors que le monde entrait dans l’ère postsoviétique, deux penseurs américains lancèrent deux théories qui firent le tour de la planète. En 1992, l’économiste Francis Fukuyama, professeur à la Johns Hopkins University, prédisait la fin de l’histoire, c’est-à-dire l’atteinte d’un consensus universel sur la démocratie mettant un point final aux conflits idéologiques. En 1996, le politologue Samuel Huntington (1927-2008), professeur à Harvard, théorisait le choc des civilisations et la refonte de l’ordre mondial : dans le monde postsoviétique, les clivages ne seraient plus idéologiques mais civilisationnels avec un fort substrat religieux. Il faut souligner que la spatialité était relativement absente dans la démonstration de ces deux théories fortement médiatisées. Durant la même période, Richard O’Brien, économiste-en-chef du géant bancaire American Express, annonçait la fin de la géographie (O’Brien, 1990, 1992). Celle-ci s’expliquerait par les nouvelles technologies de l’information qui l’aurait rendue obsolète à cause de l’interconnexion mondiale des marchés financiers. Leur localisation s’est transférée des salles physiques des bourses vers les sites plus transitoires des réseaux téléphoniques et informatiques. O’Brien était suivi par Greig qui estimait que cette fin de la géographie s’expliquait par la standardisation de la culture et des communications dans le système international (Greig, 2002). En 2005, Thomas Friedman, grand éditorialiste au New York Times, affirmait que le monde était devenu plat à cause d’une globalisation générale, inexorable et invasive. En utilisant la notion d’égalisation et d’aplatissement de la surface du globe, Friedman cherchait à montrer comment de plus en plus de gens peuvent se connecter, jouer, concourir et collaborer grâce à la puissance fantastique conférée par Internet. Pour Friedman, les forces d’égalisation et d’aplatissement autorisent les individus à parvenir plus loin, plus rapidement, plus profondément et à meilleur marché comme jamais auparavant. Le monde est plat : cela veut dire que cette nouvelle puissance égalisatrice qu’est Internet donne à de plus en plus d’individus les outils et la capacité de travailler, de s’informer et de se détendre. Ce phénomène nouveau n’est pas seulement économique, il est également culturel (Friedman, 2007).

Toutefois, la théorie de la fin de la géographie et la théorie du monde plat semblent ignorer quatre réalités géographiques extrêmement prégnantes et incontournables : l’échelle locale, l’échelle régionale, la distance et la non ubiquité de la personne humaine (Morgan, 2004). Elles déclenchèrent rapidement un vif débat intellectuel parmi les géographes et les social scientists du monde anglo-saxon. Or, entre 2009 et 2012, ce débat allait prendre une nouvelle tournure avec la publication de The Revenge of Geography, article puis livre écrits par Robert Kaplan, rédacteur au mensuel washingtonien The Atlantic. Kaplan remettait à l’honneur une ancienne vérité : de l’Egypte des pharaons jusqu’au Printemps arabe de 2011, la géographie a été le facteur central du destin des nations. Selon Kaplan, la géographie examine au scalpel les relations internationales et les conflits que la mondialisation est incapable d’expliquer. Le XXIième siècle ne voit pas la fin de l’histoire mais le retour de l’histoire et la géographie analyse de vieilles lignes de fractures politiques qui sont en train de réémerger. La théorie de Kaplan remet en avant une autre réalité fondamentale : la géographie demeure aujourd’hui, comme elle l’a été tout au long de l’histoire, l’un des plus puissants conducteurs des événements mondiaux. En d’autres termes, les configurations géographiques de la planète, autant que les idéologies et les religions concurrentes, façonnent les conflits humains (Kaplan, 2009, 2013). Il convient d’examiner en profondeur les éléments significatifs de ces trois théories.

La révolution numérique et l’explosion des lieux

Tout ce débat renvoie à l’ultime frontière de la géographie contemporaine, à savoir la déterritorialisation et le cyberespace. Depuis la chute du Mur de Berlin et l’implosion de l’Union soviétique, la grande question posée à la géographie est, en effet, celle de la déterritorialisation dans un monde sans frontières. Cette question réfère au réarrangement et à la restructuration des relations spatiales comme conséquence des transformations technologiques, matérielles et politiques survenues depuis 1989-1991. Le territoire a-t-il donc perdu de sa signification et de son pouvoir dans la vie de tous les jours ? Dans une vision contemporaine concrète, le territoire signifie la conjonction en un système opérationnel de tout ce qui concerne les administrations publiques, les institutions militaires, les régimes politiques, les structures sociales et les réseaux de transports et communications (O’Tuathail, 2000). Pour le citoyen ordinaire, le territoire est fait d’un triangle reliant les institutions de pouvoir, la matérialisation des lieux et l’idéalisation de la psychologie collective. L’enthousiasme de catégories entières de la population pour les nouvelles technologies de la communication s’explique probablement par une désillusion vis-à-vis de l’Etat et par un désenchantement vis-à-vis du territoire national. En clair, le pouvoir du territoire politique matériel est aujourd’hui rongé par le pouvoir politique du cyberespace (Spiegel, 2000).

Le cyberespace est une autre géographie (Kitchin, 1998 ; Brunn, 2000). C’est la géographie d’un espace immatériel de type hétérotopique (un lieu autre) où les phénomènes de localisation ne se pensent pas comme dans l’espace géographique matériel (Crampton, 2004). Les lieux cyber-spatiaux sont associés à des adresses. Ces adresses renvoient à d’autres adresses dans un réseautage à l’infini. Le cyberespace est un espace géométrique, transcendant et radiant pour reprendre les termes d’Antonio Casilli. C’est aussi un espace psychologique, une sorte de laboratoire des identités individuelles qui s’y construisent et s’y reconstruisent (Casilli, 2010).

Au lieu d’une déterritorialisation du monde, toute la question est de savoir si l’on n’assiste pas plutôt à une reterritorialisation par réarrangement, restructuration, relaçage entre territoires, technologies, Etats et marchés à une autre échelle. Il convient donc de replacer la déterritorialisation devant trois questions simples : 1/ à qui bénéficie la déterritorialisation ? ; 2/ quelle classe sociale fait la promotion de la déterritorialisation ? ; 3/ pour qui est ce monde sans frontières ? La réponse à ces questions permet de réévaluer cette rhétorique et ces métaphores.

Certes, pour la majorité des individus vivant dans les pays développés, la possession de l’ordinateur personnel a fait entrer Internet dans les foyers et dans la vie quotidienne pour tout ce qui concerne l’information, la détente, les réservations, les transactions bancaires, les achats en ligne, les réseaux sociaux, les rapports avec l’administration publique (Hamel & Sampler, 1998 ; Nixon & Koutrakou, 2007). Toutefois, la distance continue d’être un important facteur dissuasif dans les échanges entre vendeurs et acheteurs de produits de consommation ou entre prestataires et bénéficiaires de services publics ou privés (Hortacsu, Martinez-Jerez & Douglas, 2009). En clair, dans la recherche de certains biens et services, les consommateurs préfèrent de beaucoup l’échelle locale et le contact direct. Il est certain qu’Internet et les nouveaux systèmes de gestion modifient le rapport des entreprises à leur espace et à leur marché, mais ils ne les bouleversent pas. En effet, les choix de localisation des entreprises demeurent des choix géographiques. L’avènement du commerce électronique renforce la nécessité de transporter vite et efficacement. Ce type d’activité induit donc un effort de maîtrise de l’espace. Le meilleur exemple en est donné par la place importante prise désormais par les compagnies aériennes cargo de type FedEx, UPS, DHL, Cargolux entre autres (Lasserre, 2000).

Il est encore trop tôt pour établir un bilan sérieux des effets possibles ou réels du cyberespace sur l’explosion des lieux. La territorialité humaine et la dynamique de la vie humaine, fondées sur le rapport traditionnel espace-lieu, peuvent être transcendées par les nouvelles technologies de la communication. Toutefois, il est clair que les espaces électroniques et les espaces matériellement territoriaux sont produits conjointement par les mêmes sociétés. Les nouvelles technologies de la communication se trouvent enrôlées dans un mélange complexe et subtil d’acteurs humains et d’artefacts techniques. Autrement dit, la vie socio-spatiale des individus se recombine subtilement et continuellement dans des nouveaux complexes chrono-spatiaux, toujours contingents mais difficiles à généraliser (Graham, 1998).

La fin de la géographie et l’avènement d’un monde plat ?

La théorie de la fin de la géographie, développée par O’Brien en 1990 et 1992, s’emploie à montrer que l’explosion des techniques de communication a rapproché les lieux et les hommes. Si la Terre est ronde, sa forme semble revêtir de moins et moins d’importance pour certains secteurs de l’activité économique. Malgré la tendance générale à une plus grande mobilité dans les échanges, il n’en demeure pas moins que les déplacements à moyenne et longue distance ne sont pas la règle pour la majorité de la population du monde : alors que les capitaux et les informations circulent à la vitesse d’Internet, la main d’œuvre souffre d’une mobilité extrêmement réduite.

Il existe une vieille règle dans les affaires humaines : le marché se trouve toujours là où sont fixés les prix. Or, selon O’Brien, ce lieu était la place boursière où se bousculaient les négociants et les courtiers. Désormais, ce même lieu se trouve sur une puce d’ordinateur dont les coordonnées géographiques sont difficiles à identifier. Pour O’Brien, c’est là où se situe la fin de la géographie. Par cette expression, il entend la fin du rôle de l’Etat-nation en tant qu’orchestrateur de l’évolution économique. En d’autres termes, le concept d’Etat-nation est devenu suranné dans le domaine de l’économie et de la finance (O’Brien, 1990, 1992). S’attardant à une dimension proprement culturelle, Greig théorise la fin de la géographie de la manière suivante : ou bien l’extension de la révolution numérique augmente les échanges culturels et, par le fait même, diminue l’homogénéité de chaque pays ; ou bien cette même expansion favorise le développement de diasporas culturelles loin de leur pays d’origine (Greig, 2002). Ce qui est sûr, c’est que nous assistons à une certaine mort de la distance. De plus en plus de vols, de plus en plus de compagnies aériennes low cost, de plus en plus de lignes de trains à grande vitesse ont compressé le temps des voyages. Les énormes investissements réalisés dans la mise en place de câbles sous-marins à fibre optique et de satellites de télécommunications ont abouti au règne de la communication instantanée. Désormais, cette dernière permet le transfert d’informations et de sommes financières sur la seule touche d’un clavier d’ordinateur. Pour Cairncross, la mort de la distance comme facteur du coût des communications sera probablement la plus importante force modelant la société durant la première moitié du XXIe siècle. Cette mort de la distance altérera, dans des proportions jusque-là inconnues, les décisions concernant les lieux de travail, les genres d’emploi, les concepts de frontières nationales et de souveraineté ainsi que les cadres du commerce international (Cairncross, 1997).

La planète Terre a connu trois grandes ères de mondialisation : 1492-1800, 1800-1998, 1998- ? La première mondialisation (1492-1800) fut inaugurée par Christophe Colomb dont les découvertes permirent le démarrage du commerce entre le Vieux Monde et le Nouveau Monde. Elle exigea la force des bras humains, des chevaux, des moulins à vent et, enfin, celle de la machine à vapeur. La seconde mondialisation (1800-1998) fut le fait de compagnies qui devinrent multinationales par leurs marchés et par leur main d’oeuvre, à savoir les compagnies néerlandaises, britanniques et toutes celles dynamisées par la Révolution industrielle. Dans un premier temps, cette mondialisation fut propulsée par la navigation à vapeur, le chemin de fer, le télégraphe puis, plus tard, par l’électricité, le pétrole, le téléphone, l’énergie nucléaire, l’avion gros porteur, les satellites, l’ordinateur, le câble en fibre optique et la première version du Web. La troisième mondialisation commence en 1998 avec le démarrage d’Internet et du commerce en ligne. Friedman donne à cette troisième mondialisation le nom de plate-forme du monde plat qu’il définit comme le produit de la convergence entre trois éléments : l’ordinateur personnel, le câble en fibre optique et les logiciels de travail (Friedman, 2007). Le premier permet à chaque individu de devenir l’auteur de son propre contenu sous une forme numérique. Le second permet aux individus d’accéder à des contenus de plus en plus numérisés partout dans le monde, pour un coût très modique voire inexistant. Le troisième permet aux individus de collaborer de n’importe où, partout dans le monde, avec le même contenu numérisé sans tenir compte des distances entre eux. Cette convergence de plate-forme est apparue autour de l’année 2000. Cette troisième mondialisation diffère des deux précédentes qui furent essentiellement conduites par des entreprises et des individus d’Europe et d’Amérique. En fait, même si la Chine était la plus grosse économie du monde au XVIIIème siècle, ce sont les pays, les compagnies et les explorateurs de l’Occident qui mondialisèrent le système. Dans la mesure où elle rétrécit et aplatit le monde, la troisième mondialisation est conduite non seulement par des individus mais aussi par des groupes d’individus qui ne sont plus des Blancs et des Occidentaux. Pour Friedman, les dix forces qui ont rétréci et aplati le monde sont les suivantes : chute du Mur de Berlin, usage public du Web à partir de 1998, logiciels de travail, téléchargement, sous-traitance, délocalisation, chaînes d’approvisionnement, transports en mode juste à temps, stocks zéro, auto-formation par l’accès aux moteurs de recherche (AltaVista, Bing, Google, Lycos, Voila, Yahoo, Yandex). Le processus anabolisant de toute cette évolution repose sur l’informatique, la messagerie instantanée, le partage de fichiers, les appels téléphoniques par Internet, la vidéoconférence, l’infographie, les nouvelles technologies sans fil (Friedman, 2007).

Friedman illustre cette troisième mondialisation par quelques exemples concrets. Dans le domaine du transport de marchandises et du courrier à longue distance, la compagnie UPS, basée à Louisville (Kentucky), manipule 13,5 millions de colis par jour à l’aide de 88.000 camions, fourgonnettes, tracteurs et motos. Elle est l’objet de 7 millions de demandes de suivi par jour. Pour le transport à longue distance, elle dispose d’une flotte de 270 avions cargo utilisés pour 766 destinations. Cela fait d’UPS Airlines la huitième compagnie aérienne du monde. Dorénavant, les passagers de Southwest Airlines, première compagnie américaine low cost, peuvent télécharger et imprimer directement à domicile leur carte d’embarquement, ce qui améliore la productivité de l’entreprise et en abaisse les coûts. JetBlue Airways, autre grande compagnie américaine low cost, est l’illustration même du télétravail et de l’externalisation de ses activités. Bien que son siège social soit basé à Forest Hills (Etat de New York), son système de réservation est localisé à Salt Lake City (Utah) où ses 400 agents de réservation sont des mères au foyer travaillant 25 heures par semaine à domicile. Tous les plus grands fabricants américains d’ordinateurs externalisent tout leur support technique à une compagnie localisée à Bangalore, surnommée la Silicon Valley de l’Inde. Leurs ordinateurs sont montés dans différentes usines en mode juste à temps, éparpillées en Asie, en Amérique latine, en Europe et aux Etats-Unis. Friedman constate également que les économies de la Chine, de l’Inde et des autres pays externalisés ont une croissance plus rapide que les pays qui ne sont pas rentrés dans ce processus comme le Mexique et les grands pays latino-américains. Ce sont les pays et les organisations entrés de plain pied dans les processus d’aplatissement du monde qui continuent à innover, à grandir et à favoriser l’imagination.

Toutefois, la théorie du monde plat de Friedman peut faire l’objet de critiques. Premièrement, il s’agit d’une théorie uniquement positionnée sur un point de vue américain des choses et cet américano-centrisme finit par devenir frustrant. Deuxièmement, Friedman ignore complètement les aspects négatifs de la troisième mondialisation et de l’aplatissement du monde. Il élude complètement quelques questions capitales. Qu’en est-il de toutes ces populations dans le monde qui sont en dehors de cette troisième mondialisation ? Qu’en est-il des pays exclus de ce processus ? Qu’en est-il de la destruction des cultures locales quand tout commence à se dissoudre dans une culture Internet généralisée ? Qu’en est-il de l’exploitation du travail, de la corruption et des dommages environnementaux causés par cet aplatissement et ce lissage du monde ? Pour que chaque être humain de la planète participe pleinement à cette troisième mondialisation, il lui faudrait un ordinateur. Or, tel n’est pas le cas. Le monde plat de Friedman ne s’applique qu’à une partie non majoritaire de la planète, celle dont les territoires sont pourvus en lignes électriques et en lignes téléphoniques. Sans électricité et sans téléphone, on ne peut imaginer l’ordinateur et Internet. En outre, pour des raisons d’analphabétisme, de grande pauvreté, d’absence de régimes démocratiques, des populations entières de la planète ne peuvent s’acheter un ordinateur personnel et n’ont donc pas accès à Internet. La vision d’un monde plat est celle des pays de l’abondance et non celle des pays de la dictature et de la pauvreté.

Ni lisse ni plat : le monde est tout pointu !

La topographie économique de la planète est loin de correspondre au monde plat de Friedman. A bien des égards, le paysage économique n’est ni lisse ni plat. Bien au contraire, notre monde est extraordinairement garni de pointes. En termes de locomotives économiques et d’innovations performantes, peu de régions ont un rôle majeur dans l’économie mondialisée. La planète Terre est plutôt l’objet d’une cartographie économique faite de pointes et de creux. En clair, les plus hauts sommets continuent à grimper tandis que les vallées stagnent. Un exemple concret suffit à illustrer ce contraste : la comparaison entre la carte de la répartition de la population mondiale et la photo-satellite des émissions de lumière la nuit. La carte de la population du monde montre une répartition très inégale avec des pointes et des creux. Cinq mégalopoles ont plus de 20 millions d’habitants chacune, 24 en ont plus de 10, 60 en ont plus de 5 millions et, enfin, 150 abritent plus de 2,5 millions chacune. Les plus grosses pointes sont d’abord en Asie puis en Europe et, enfin, en Amérique du Nord. Or, la photo de la concentration de lumière émise la nuit, prise depuis un satellite, présente une situation radicalement opposée. Les pointes sont concentrées d’abord en Amérique du Nord, ensuite au Japon et en Corée du Sud, enfin en Europe. Cela veut donc dire que la population et l’activité économique donnent des cartes garnies de pointes mais c’est l’innovation, moteur de la croissance économique, qui est la plus concentrée. Au chapitre de la création et de l’innovation, le reste du monde est au mieux une steppe, au pire un désert (Florida, 2005).

Un autre exemple révélateur d’un monde garni de pointes est la carte de la répartition internationale des brevets et marques commerciales déposés auprès de l’Organisation Mondiale de la Propriété Intellectuelle (300.000 brevets d’inventeurs répartis dans 100 pays). Les chiffres sont éloquents. Environ 90.000 des 170.000 brevets déposés au Etats-Unis en 2002 proviennent d’Américains, 35.000 de Japonais et 11.000 d’Allemands. Les dix autres pays les plus innovateurs (Union Européenne, Taiwan, Corée du Sud, Israël, Canada) se répartissent les 25.000 brevets restants. En termes de brevets et de marques commerciales, le reste du monde est au mieux une steppe, au pire un désert. Une carte utilisant les données fournies par l’OMPI, qui est une agence des Nations unies, et par le U.S. Patent and Trademark Office montre un monde formé de pics innovateurs et de vallées sombres. Tokyo, Séoul, New York et San Francisco font la course en tête dans la compétition des brevets. Boston, Seattle, Austin, Toronto, Vancouver, Berlin, Stockholm, Helsinki, Londres, Osaka, Taipei et Sydney restent dans le peloton. En vérité, seuls quelques lieux produisent l’essentiel des innovations dans le monde. Il faut bien comprendre, en effet, que l’innovation reste un domaine difficile en l’absence d’une masse critique de financiers, d’entrepreneurs et de scientifiques, soutenus par des universités de réputation mondiale et par des grandes entreprises flexibles.

Il convient d’ajouter à cette carte mondiale de l’innovation celle de la localisation des 1200 scientifiques les plus cités dans les disciplines majeures. De fait, l’avance scientifique sur le front des connaissances est encore plus géographiquement concentrée que celle de l’innovation par brevets et marques de commerce. Il ne s’agit même plus d’une poignée de pays mais d’une poignée de villes, à peu près une douzaine dans le monde, essentiellement localisées aux Etats- Unis et subsidiairement en Europe. Les créateurs scientifiques s’agglutinent dans les grands centres cosmopolites parce que ceux-ci leur offrent une gamme d’aménités. Mais les scientifiques et les entreprises innovatrices s’agglutinent également à cause des puissants avantages de productivité, des économies d’échelle et des externalités de connaissances qu’apporte une telle densité. L’innovation, la croissance économique et la prospérité présentes dans ces villes cosmopolites attirent une masse critique de chercheurs talentueux venus d’ailleurs (Florida, 2005).

La connexion entre toutes ces grandes métropoles créatrices d’innovation et de science a renforcé la mobilité de la classe créative mondiale composée d’environ 150 millions de personnes. Elles participent au système technologique mondialisé, ce qui leur permet de migrer librement d’une grande métropole mondiale à une autre grande métropole mondiale. Ces métropoles forment un club assez réduit : Londres, New York, Paris, Tokyo, Hong Kong, Singapour, Chicago, Los Angeles, San Francisco.

La théorie du monde plat de Friedman ignore la division grandissante entre pays riches et pays pauvres qui constitue, qu’on le veuille ou non, le trait fondamentale de l’économie mondialisée. La théorie du monde plat dépeint davantage un monde développé qui transfère son développement économique à la Chine et à l’Inde. En effet, ces deux pays les plus peuplés de la planète (1,3 milliard d’habitants pour la Chine et 1,2 milliard d’habitants pour l’Inde) combinent les avantages de coûts de production réduits et de capacités en haute technologie et en énergie entrepreneuriale. Ces avantages leur permettent d’être efficacement compétitifs en termes d’industries et d’emplois. La théorie du monde plat de Friedman n’évoque absolument pas les tensions insidieuses entre ces pics performants en pleine croissance et les vallées en train de sombrer. Le monde plat de Friedman est un monde où l’Afrique est passée à la trappe et où l’Amérique latine et la Russie sont reléguées dans une brume d’arrièrefond.

Ce monde plat engendre dorénavant un boomerang politique contre la mondialisation qui se manifeste violemment, notamment parmi des tranches entières de la population de l’Union européenne. Cette mondialisation garnie de pointes crée des ravages dans les pays les plus pauvres de la planète. En Chine, des villes comme Shanghai, Pékin, Shenzhen, Dalian sont entourées de vastes zones rurales appauvries. Dans ces zones, le revenu par tête est trois fois inférieur à celui des mégalopoles chinoises du monde plat. Il en va de même en Inde où des mégalopoles comme Bangalore, Hyderabad, Bombay, New Delhi ont des revenus par tête quatre à cinq fois supérieurs à ceux de la campagne indienne. Dans le cas chinois comme dans le cas indien, la troisième mondialisation définie par Friedman crée des tensions politiques déstabilisantes.

Cette planète cartographiquement faite de pics élevés et de vallées profondes en termes d’innovation et de science, engendre des tribus humaines géographiquement regroupées mais tellement antagonistes que le monde a l’air de ressembler au Léviathan de Hobbes. Florida juge donc que la troisième mondialisation n’a pas un effet de lissage du monde comme le voudrait Friedman mais tend plutôt à augmenter les contrastes à tous les niveaux. Les classes créatives et la société du savoir sont localisées dans les pays de la Triade. Cela contribue à renforcer non seulement leur domination mais aussi la polarisation à toutes les échelles spatiales (Florida, 2002, 2004, 2005). Dans ce monde ni lisse ni plat mais plutôt hérissé de pointes, De Blij distingue trois grandes catégories de population qu’il dénomme les locaux, les mobaux et les globaux (De Blij, 2009). Les locaux constituent l’immense majorité de la population mondiale. Ce sont les individus qui mourront relativement près du lieu où ils sont nés. Ce sont les centaines de millions de paysans des grands bassins hydrographiques d’Asie et d’Afrique qui vivent un genre de vie guère différent de leurs lointains ancêtres. La troisième mondialisation ne les a pas atteints ou très peu. Les mobaux sont les migrants transnationaux preneurs de risques (professionnels qualifiés, immigrants légaux et clandestins, demandeurs d’asile, réfugiés, maffieux, révolutionnaires, terroristes, prostituées…). Les mobaux sont des agents de changement par leurs perceptions très réalistes d’opportunités à saisir et de besoins à satisfaire. On les estime à 200 millions de personnes. Les globaux sont les membres de la classe créative des grandes métropoles mondiales. Ce sont eux qui vivent à plein la troisième mondialisation, le monde plat, lisse et sans frontières. On les estime à 150 millions de personnes. Les globaux vivent essentiellement en Amérique du Nord, en Union européenne, au Japon et en Australie. Ils constituent la clientèle de base des pôles émetteurs du grand tourisme international vers les destinations lointaines (Florida, 2005 ; De Blij, 2009).

En sus d’une population mondiale classée en locaux, mobaux et globaux, il se trouve que le monde est partitionné entre un noyau mondialisé et une périphérie. Le noyau mondialisé est cette partie du globe, très urbanisée et très prospère, constituée de l’Amérique du Nord, de l’Union européenne, du binôme Australie/Nouvelle-Zélande et du quadrige Japon-Corée du Sud-Taiwan-Singapour. La périphérie est formée par le reste du monde, c’est-à-dire, en gros, l’Asie, l’Afrique, l’Amérique centrale et l’Amérique du Sud. Environ 15 % de la population du globe réside dans le noyau mondialisé où elle gagne 75 % du revenu mondial annuel. Cela veut donc dire que les 85 % restants de la population de la planète gagne seulement 25 % du revenu mondial annuel. Si l’on utilise cet indice du revenu individuel annuel, cela suggère donc que nous sommes dans un monde absolument pas lisse et absolument pas plat où les nantis ont un revenu annuel par tête vingt fois supérieur à celui des non nantis. La juxtaposition du noyau mondialisé et de la périphérie crée une dynamique spatiale dans laquelle le noyau attire des millions de mobaux et où les mandats d’argent envoyés par les mobaux vers leur foyer d’origine font vivre des familles entières au Mexique, en Turquie, en Inde, en Chine, aux Philippines, en Afrique noire, au Maghreb et ailleurs (De Blij, 2009).

La revanche de la géographie et le pouvoir tenace des lieux

Pour les partisans de la théorie du monde plat, affirmer que les lieux jouent un rôle dans le façonnement de la mosaïque humaine est considéré comme obsolète, agressif et déterministe. Pourtant, qu’on le veuille ou non, la Terre continue d’être un terrain accidenté d’un point de vue physique et culturel. Le pouvoir des lieux et le destin des peuples sont attachés par de nombreux liens allant des espaces physiques aux environnements naturels en passant par les cultures bien enracinées et les traditions locales. Le pouvoir des lieux crée une topographie faite de hauts et de bas dans une gamme allant du privilège jusqu’à la privation. De la sécurité personnelle à la santé publique, de la religion obligatoire à l’autorité coercitive, le monde demeure une mosaïque de lieux présentant de larges combinaisons de défis lancés à ses propres habitants (De Blij, 2009). Le monde n’est ni lisse ni plat lorsque toute la zone intertropicale humide, du Mexique à l’Indonésie, est affectée par la dengue, la bilharziose et la malaria quand le reste du monde en est indemne. Le monde n’est ni lisse ni plat lorsque l’on considère la carte des épicentres des tremblements de terre et celle des éruptions volcaniques. Des masses entières de la planète en sont exemptes et ne connaissent et ne connaîtront jamais ces deux risques naturels majeurs. Le monde n’est ni lisse ni plat quand on observe les micro-Etats insulaires de l’Océan indien et du Pacifique qui risquent de disparaître à tout jamais par les effets de la montée du niveau des mers. Le monde n’est ni lisse ni plat quand on examine la carte de la mortalité infantile et celle de la mortalité maternelle post-natale. L’Afrique, l’Asie centrale, l’Asie des moussons, l’Amérique latine apparaissent comme des zones maudites quand l’Amérique du Nord, l’Europe, la Russie et l’Australie sont peu ou pas affectées par ces deux fléaux. S’il est vrai que le monde a changé d’une façon spectaculaire durant les cinquante dernières années, la troisième mondialisation de Friedmann ne concerne qu’une minorité des habitants de la planète Terre, à savoir les globaux. La géographie et le lieu exercent un formidable pouvoir sur l’énorme majorité de la population mondiale. Sa mobilité subit des contraintes, son bagage culturel est inadaptable, ses ressources sont limitées, sa santé est souvent mise en péril, ses espoirs sont faibles et vagues. Il faut savoir que plus d’un milliard de gens sont les plus pauvres parmi les plus pauvres, les plus malades parmi les plus malades. Un autre milliard d’êtres humains vit à la limite de la pénurie. Les proclamations d’un monde lisse, plat ou aplati peuvent sans doute réjouir la classe active de Florida vivant dans les espaces des grandes métropoles championnes de la troisième mondialisation mais certainement pas les populations vivant en dehors de ces zones privilégiées (De Blij, 2012).

Publiée d’abord sous forme d’un article en 2009 puis sous forme d’un livre en 2012, The Revenge of Geography (la revanche de la géographie) de Robert Kaplan a été à l’origine d’un débat intellectuel violent parmi les social scientists du monde anglo-saxon (Kaplan, 2009, 2013). La géographie est une redoutable ennemie et, pour les dirigeants politiques, oublier la géographie n’est pas sans risques. Autrement dit, oublier la géographie a été l’une des conséquences de la chute du Mur de Berlin : le monde n’est pas plat et les politiciens qui ignorent la géographie la redécouvrent par la suite à leurs risques et périls. Une attention appropriée portée à la géographie mène au réalisme et au pragmatisme, par opposition à l’idéalisme et à l’optimisme. Kaplan revisite donc la théorie de Sir Halford Mackinder (1861-1947) dans son ouvrage Democratic Ideals and Reality publié en 1919. Ce livre se voulait un avertissement aux concepteurs des traités de Versailles. L’analyse effectuée par Mackinder peut être légitimement perçue comme une leçon de réalisme géographique dans la mesure où elle contrebalance les idées jugées utopiques du président Woodrow Wilson et des concepteurs de la Société des Nations. Voilà pourquoi Mackinder estimait que les idéaux démocratiques (democratic ideals) jouent à contre-emploi face aux dures réalités (reality). Dans son ouvrage, Mackinder pensait que les appels à l’universalisme et à l’égalité des nations sont futiles pour la simple raison que, d’une manière inhérente, l’accès à l’espace et aux ressources naturelles est inégal (Mackinder, 1919). Kaplan reprend à son compte ce postulat en estimant qu’un pur idéalisme peut amener des conséquences inattendues et indésirables en l’absence d’un réalisme géographique. Selon Kaplan, le réalisme géographique, c’est identifier et accepter les forces qui échappent à notre contrôle et qui brident l’activité humaine : la culture, l’histoire, les traditions, les particularismes ethniques, culturels et religieux. Dans le réalisme géographique, se pose la question centrale des relations internationales : qui peut faire quoi à qui ? De toutes les vérités désagréables qui sont à la racine du réalisme, la plus brutale, la plus gênante et la plus déterminante de toutes est la géographie (Kaplan, 2009, 2012). Loin d’ôter de l’importance à la géographie, la mondialisation ne fait que la renforcer. En effet, le retour en force des localismes ancrés dans des paysages spécifiques est mieux exprimé par un recours à la carte et donc à la géographie. Google Earth et Google Maps permettent aux individus de devenir leurs propres cartographes, en se plaçant littéralement eux-mêmes sur la carte. Les citoyens ont donc maintenant des encouragements pour embrouiller les frontières de leurs gouvernements avec la démarcation de leurs propres communautés, imaginaires ou réelles.

Kaplan développe peut-être une notion trop classique de la géographie qu’il voit comme une combinaison d’espace, de topographie et de latitude. Il met dans doute trop l’accent sur les cartes physiques. Les idées de Kaplan sur la revanche de la géographie ont immédiatement suscité une controverse venant des géographes anglo-saxons. Pour ce groupe de critiques, la distinction réalisme-idéalisme revisitée par Kaplan est un tissu d’absurdités (Morissey et al., 2009). Reprenant cette idée de Mackinder, Kaplan fait revivre les vieilles anxiétés impérialistes classiques et fait revenir Mackinder au XXIème siècle. Kaplan estime que, de tous les facteurs façonnant le comportement politique, la géographie est le plus déterministe. La géographie pour Kaplan est semblable à ce qu’est l’économie pour un marxiste. Vous pouvez bâtir votre propre histoire mais vous devez vivre avec votre géographie, semble dire Kaplan. Ses détracteurs répondent que ce sont les gens réels avec des histoires réelles et des géographies réelles qui tombent partout sous le regard des grands stratèges. The Revenge of Geography est également considéré comme un ouvrage trop anglo-saxon défendant implicitement une forme de hiérarchie des civilisations : plus vous êtes éloigné des valeurs anglo-saxonnes, plus inférieure est votre société. Trop attaché à une vision victorienne des choses comme Mackinder, Kaplan néglige de mettre en relief le rôle que jouent les humains dans l’émergence d’une nouvelle géographie, celle de cette nouvelle ère géologique que l’on dénomme Anthropocène. Ce processus va beaucoup plus loin que le simple changement climatique. Le paradoxe de l’Anthropocène, c’est de constater que les humains sont désormais capables de créer artificiellement de la vie, au moment même où leur activité a déclenché un tel déclin de la biodiversité terrestre que la science en parle comme de la sixième grande extinction depuis l’apparition de la vie sur la Terre. La mondialisation est une force physique qui construit de nouveaux environnements et, par le fait même, de nouvelles géographies (Morissey et al., 2009).

La prépondérance de la géographie, un Janus à deux faces

Pourquoi la géographie est-elle plus importante que jamais ? Telle est la question capitale formulée en 2012 par De Blij, l’une des figures tutélaires de la géographie américaine contemporaine. Si son raisonnement concerne surtout les Etats-Unis, il s’applique également aux populations des pays du G8. L’idée centrale de De Blij est la suivante : les Américains constituent l’une des sociétés les plus analphabètes en géographie de la planète, en un temps où la puissance des Etats- Unis peut affecter les pays et les peuples autour du monde. Cet analphabétisme géographique a joué un rôle non négligeable dans la débâcle de la politique étrangère américaine au Vietnam, en Afghanistan et en Irak. Il constitue maintenant un risque pour la sécurité nationale du pays au moment où la puissance américaine décline. Dans les contextes socio-environnementaux, les perspectives géographiques sont cruciales dans la formulation de la politique. Malheureusement, elles sont souvent absentes dans les discours des politiciens (De Blij, 2012). L’utilité de la géographie n’est nulle part mieux illustrée que par l’histoire de Tilly Smith, cette jeune Britannique âgée de dix ans, lors du terrible tsunami du 26 décembre 2004 en Thaïlande. Elève au Danes Hill School à Oxshott dans le Surrey, Tilly avait appris la notion de tsunami de son professeur de géographie Andrew Kearney deux semaines avant le cataclysme. Partie pour les vacances de Noël avec ses parents dans l’île de Phuket en Thaïlande, elle séjournait dans un hôtel de Mai Khao Beach. Sur la plage, elle vit que l’eau reculait brusquement sur une grande distance en laissant la plage à découvert. Elle se rappela ce qu’elle avait appris de son professeur de géographie deux semaines auparavant : la vague profonde d’un tsunami aspire l’eau de la plage vers le large avant de revenir sous forme d’un mur d’eau massif qui inonde le rivage. Tilly alerta ses parents qui alertèrent les autres vacanciers. Ils étaient environ 100 personnes. Tous sauvèrent leurs vies en grimpant dans les étages de l’hôtel et Mai Khao Beach fut la seule plage de l’île de Phuket à ne pas déplorer de victimes du cataclysme (De Blij, 2009).

La géographie n’est en aucune manière la base pour quelque déterminisme que ce soit à la manière de la lutte des classes de Marx ou de l’organicisme de Ratzel. Il est clair que chaque siècle a sa propre perspective géographique. En ce qui concerne le XXIème siècle, la perspective géographique est celle d’un système fermé, d’un monde déjà divisé où l’on observe une violence dans la répartition des terres et des marchés. Chaque choc, chaque désastre est indirectement ressenti aux antipodes et peut revenir comme un boomerang depuis les antipodes. La grammaire de la géographie est ancrée dans la réalité. La géographie doit rester proche de l’histoire parce que l’histoire se comprend mieux à travers la géographie et parce que la géographie est mieux enseignée à travers l’histoire. Cependant, il est bien clair que les notions de temps et d’espace changent en fonction de la technologie. Des premiers systèmes d’irrigation dans l’Antiquité jusqu’à Internet, la race humaine a réinventé son monde. De la même manière qu’on ne peut pas manier des calculs sans maîtriser l’algèbre, de même on ne peut déconstruire les conventions humaines du temps et de l’espace, comme on le fait aujourd’hui, sans savoir ce qui a d’abord été construit en premier lieu ! (McDougall, 2003).

Les événements vont continuer à façonner l’histoire et la localisation va continuer à structurer la pertinence et le rôle de la géographie. Bien que le cyberespace ait transformé la configuration de notre monde, cette même technologie nous rend capables d’augmenter notre perception responsable des environnements dans lesquels nous vivons, de mesurer notre impact sur le milieu ambiant, de suivre les traces de nos mouvements, de créer davantage de données, de parfaire des analyses de plus en plus complexes et, enfin, de développer de nouvelles sources de valeur ajoutée (Gray, 1996). Ces avancées technologiques sont loin de signifier la fin de la géographie. La géographie du début du XXIème siècle a peu à voir avec la discipline scientifique qui existait au sortir de la Seconde Guerre mondiale. Equipée pour intégrer des quantités énormes de données, elle nous rend capables de créer des solutions intégrées ayant le pouvoir de transformer la façon dont nous vivons et dont nous travaillons (Morgan, 2004 ; Nixon & Koutrakou, 2007).

Conclusion

Le cyberespace est un espace social où les gens peuvent se rencontrer sous les nouvelles appellations de rencontre et de personnalisation L’effondrement des relations espace-temps et l’évolution des nouveaux espaces sociaux sans espace et sans lieu (Facebook, LinkedIn, Twitter, MySpace) remettent en question l’importance des lieux géographiques à un point tel que certains croient que la géographie et le temps ne sont plus des frontières. Le cyberespace est profondément anti-spatial puisqu’on ne peut dire où il est et qu’on ne peut décrire sa forme et ses proportions. Mieux encore, on trouve des choses dans le cyberespace sans savoir où elles se trouvent ! D’une certaine manière, la dé-spatialisation opérée par Internet détruit la clef du géocode (Akos, 2009). Inversement, cette nouvelle forme de communication est dépendante des liens spatiaux du monde réel, de la position géographique des points d’accès, de la matérialité des câbles de fibre optique, du WiFi en dehors des câbles et des fils téléphoniques. Lorsque l’accès à Internet est de meilleure qualité 13 dans un endroit ou qu’il est absent dans un autre endroit, c’est encore la preuve de l’importance de la position et de la localisation géographiques.

Les technologies du cyberespace peuvent accentuer les différences ou intensifier la concurrence entre lieux géographiques en rendant possible l’accès aux endroits offrant les salaires les plus bas ou la force de travail la meilleure. La nouvelle géographie économique aboutit à la même conclusion sur le rôle du cyberespace dans les stratégies de localisation des entreprises. Dans beaucoup de cas, il favorise les tendances à la centralisation par sa connexion aux infrastructures de télécommunications et au milieu social des grandes métropoles. De même, les services qui peuvent être décentralisés s’installeront plutôt dans des régions disposant d’une main d’oeuvre appropriée et de bonnes conditions de transport. Les nouvelles technologies de communication rendent plus faciles les stratégies mondiales des grandes sociétés industrielles (Colgate, Google, McDonald’s, Coca Cola) mais les consommateurs ne font pas leurs achats selon une stratégie mondiale. Ils veulent juste les meilleurs produits et les meilleurs services dans la zone qu’ils connaissent le mieux, à savoir leur propre voisinage. Google subit une censure d’Etat en Chine et fait face à des lois contraignantes sur le droit à la confidentialité en Allemagne. Du coup, Google dont le produit fini n’a pas de forme physique s’est soudainement retrouvée enracinée dans des lieux géographiques (Quelch & Jocz, 2012). Internet et le téléphone portable ont transformé les processus de mise en marché en abaissant les barrières physiques des lieux. Comme l’exemple de Google en Chine et en Allemagne le démontre, la géographie compte encore dans la pratique même si les marchés du cyberespace sont théoriquement dispensés des frontières des géographies conventionnelles. En effet, les frontières politiques associées aux lois, aux règlements, aux taxes et aux accords commerciaux gouvernent les vendeurs et leurs produits physiques ou numériques. Relativement peu de transactions en ligne traversent les frontières nationales.

Le concept proclamant la fin de la géographie se concentre sur les effets égalisateurs de la troisième mondialisation tandis que le concept proclamant la revanche de la géographie accepte le point de vue des différences spatiales présentes dans les contextes locaux, régionaux et nationaux. Ces deux tendances (égalisation et différentiation) constituent la dialectique permanente dans les économies nationales. Les géographes ont la tâche d’attirer l’attention du public sur l’existence de ces deux concepts et de déclarer que la géographie est toujours importante mais sous différents aspects (Akos, 2009).

Haut de page

Notes

1 Jano é o deus romano das mudanças e tradições, é o deus dos inícios, das decisões e escolhas, sua figura é associada a portas (entrada e saída), bem como a transições. Sua face dupla também simboliza o passado e o futuro.

Haut de page

Table des illustrations

Titre Figura n° Navio a vapor
Crédits http://www.flotilla-australia.com/​jpatrick.htm
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/9809/img-1.jpg
Fichier image/jpeg, 560k
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/9809/img-2.jpg
Fichier image/jpeg, 1,5M
Titre Figura n° O mundo à noite
Crédits http://visibleearth.nasa.gov/​view.php?id=55167
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/9809/img-3.jpg
Fichier image/jpeg, 388k
Titre Figura n° Internet Census 2012
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/9809/img-4.png
Fichier image/png, 485k
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/9809/img-5.jpg
Fichier image/jpeg, 212k
Titre Figure n° Janus, deus de duas faces
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/9809/img-6.jpg
Fichier image/jpeg, 145k
Haut de page

Pour citer cet article

Référence électronique

André-Louis Sanguin, « Fim da geografia ou vingança da geografia ? As sociedades humanas entre um mundo liso, um mundo pontudo ou um mundo plano »Confins [En ligne], 22 | 2014, mis en ligne le 08 février 2015, consulté le 11 décembre 2024. URL : http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/9809 ; DOI : https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/confins.9809

Haut de page

Auteur

André-Louis Sanguin

Université de Paris-Sorbonne, al.sanguin@orange.fr

Articles du même auteur

Haut de page

Droits d’auteur

CC-BY-NC-SA-4.0

Le texte seul est utilisable sous licence CC BY-NC-SA 4.0. Les autres éléments (illustrations, fichiers annexes importés) sont « Tous droits réservés », sauf mention contraire.

Haut de page
Search OpenEdition Search

You will be redirected to OpenEdition Search