1As relações entre a sociedade e a natureza nos ambientes urbanos têm despertado cada vez mais o interesse de pesquisadores preocupados com a qualidade ambiental porque esta interfere na qualidade de vida dos citadinos.
2São muitos os indicadores que podem ser considerados na avaliação da qualidade dos ambientes urbanos e que são igualmente importantes para o bem estar das pessoas, entretanto, neste artigo, pretende-se centrar as atenções na geração do clima urbano, especialmente na distribuição da temperatura intraurbana, que além do desconforto térmico e de problemas relacionados à saúde, tem se mostrado como um indicador de exclusão social e espacial (Amorim, Dubreuil, Quenol, Sant´Anna Neto, 2009).
3Estudos de ilhas de calor urbanas vêm ganhando importância na área do sensoriamento remoto por meio da utilização das imagens térmicas do satélite Landsat 7. Esta técnica permite, além das visões em diferentes escalas, realizar medidas através dos dados do sensor infravermelho termal de temperatura da superfície, fornecendo o desenho da temperatura local, ou seja, a temperatura qualitativa da cidade.
4Estudos mostraram que não apenas as grandes cidades, mas também as cidades de pequeno e médio porte têm gerado ilhas de calor (Oke e Hannell (1970), Mendonça (1994), Monteiro (1997), Pitton (1997), Viana e Amorim (2008), Amorim (2005, 2010), Lima (2011)). Assim, as cidades têm respondido cada vez menos às necessidades de qualidade de vida e bem estar de seus habitantes e apesar disso, continuam sendo o tipo de organização espacial onde se concentra a maioria da população em escala mundial (Monteiro, 1976).
5Além da geração do clima urbano, no processo de urbanização, a sociedade altera o meio natural por meio da retirada da cobertura vegetal para a construção de estradas, casas e equipamentos públicos sem planejar adequadamente os espaços que estão sendo alterados. Muitas vezes essas construções são em locais inapropriados ou mesmo sem os cuidados mínimos quanto ao relevo e aos corpos d’água e nascentes (Monteiro, 1976). As construções não acompanham à drenagem natural das águas relacionadas às declividades dos terrenos resultando em enchentes, deslizamentos e outros danos que prejudicam a população residente nesses lugares.
6Outro problema também identificado na maioria das cidades, especialmente nas brasileiras, é a falta de infraestrutura básica para o ordenamento e desenvolvimento das mesmas, como, por exemplo, a falta de galerias para o escoamento das águas pluviais, a rede coletora de esgoto e principalmente a de tratamento desses resíduos que, na maioria das vezes, são lançados indevidamente nos corpos d’água. A falta de vegetação nas áreas verdes e nos espaços públicos destinados ao lazer e à recreação da população também interfere negativamente na qualidade ambiental dos espaços urbanos. (Amorim, 2000).
7Todos esses problemas juntamente com vários outros fatores, contribuem para diminuir a qualidade ambiental nas cidades, relacionando-se, em alguns casos, com o inadequado planejamento e a falta de consciência de se preservar os elementos naturais que compõem o espaço urbano, o que resulta em alterações que influenciam direta ou indiretamente na qualidade de vida de seus habitantes.
8Considerando-se que as ilhas de calor sintetizam uma série de mudanças decorrentes do tipo de uso e de ocupação do solo, este artigo tem por objetivo comparar as diferenças de temperaturas intraurbanas por meio de imagens térmicas do satélite Landsat 7 em duas cidades de porte médio com latitudes diferentes: Porto (Portugal) e Presidente Prudente (Brasil) em episódios de verão. O interesse em se realizar este estudo decorre da parceria entre os grupos de pesquisa das duas Universidades (FCT/UNESP e FLUP) que possuem experiências na análise do clima urbano, em ambientes naturalmente diferentes, não apenas sob o ponto de vista físico, mas, também, econômico, social e cultural. Esta parceria resultou em financiamento pelo CNPq (Edital Universal, processo 476051/2009-6), que viabilizou as condições necessárias para a pesquisa.
- 1 Concelho é uma unidade de divisão territorial e de divisão administrativa utilizada em Portugal qu (...)
9O concelho1 do Porto ocupa uma área de cerca de 40 km2, no noroeste de Portugal, entre os paralelos 41º8’ N e 41º11’ N e entre os meridianos 8º 33’ W e 8º41’ W Greenwich (Figura 1). Usufrui de uma costa litorânea a oeste, banhada pelo oceano Atlântico e é delimitado ao sul pelo Rio Douro. Desenvolveu-se sobre uma plataforma ligeiramente inclinada para o oceano Atlântico cujas altitudes oscilam entre os 160m e o nível do mar. Com uma população residente estimada em 216.080 habitantes, o concelho do Porto é o centro da segunda maior área metropolitana de Portugal (GAMP), com 1.682.447 habitantes (INE, 2009).
Figura 1 – Localização da cidade do Porto/Portugal
Fonte: Esteves, F. F. 2010, p. 47.
10Presidente Prudente localiza-se no oeste do Estado de São Paulo, próxima ao trópico de Capricórnio, entre os paralelos de 22º 07’ de latitude sul e entre os meridianos de 51o 23’ de longitude oeste (Figura 2). Fundada em 1917 é a capital regional de uma extensa área agropastoril. A área urbana possui aproximadamente 60 km2, tem cerca de 207.610 habitantes, segundo o censo demográfico do IBGE 2010, e localiza-se no planalto ocidental paulista. Seu relevo formado basicamente por colinas médias, amplas e morrotes alongados e espigões. A altitude média é de 472m acima do nível do mar e diferentemente do norte de Portugal, o relevo regional é monótono, com predomínio de colinas e morrotes.
11Presidente Prudente, embora tenha área maior (60km2) do que a cidade do Porto (40km2), tem menor densidade de edificações, conforme pode ser observado na população total do Porto que é ligeiramente maior (216.080 habitantes) do que a de Presidente Prudente (207.610habitantes).
Figura 2 – Localização de Presidente Prudente no oeste do Estado de São Paulo/Brasil
Fonte: BRASIL, (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) - IBGE.
12De modo geral, o clima do Porto apresenta quatro estações bem definidas, com verões quentes (temperaturas médias das máximas entre os 24°C e 25°C) e mais secos (entre 20 a 30 mm mensais) e os invernos são mais ou menos frios (temperaturas médias das mínimas entre 10°C e 11°C) e mais úmidos (entre 150 e 200 mm mensais).
13Presidente Prudente apresenta um clima tropical, com duas estações definidas, um período de verão/outono, mais quente (temperaturas médias das máximas entre os 27°C e 29°C) e muito chuvoso (entre 150 e 200 mm mensais) e invernos amenos (com temperaturas médias das mínimas entre os 16°C e 18°C) e menos úmidos (chuvas mensais entre os 20 e 50 mm).
14No norte de Portugal a densidade populacional é elevada em toda a fachada litorânea. No interior, a população aglomera-se à volta das capitais de concelhos ou se dispersa por pequenos núcleos à medida que a altitude aumenta. Os fundos de vale foram ocupados primeiro porque eram férteis e depois se deu a ocupação das vertentes, muitas vezes, muito íngremes.
15A escolha dos lugares obedeceu a necessidades místicas, religiosas, militares, sociais, econômicas, lúdicas, mas, raramente, ambientais. O progresso científico e tecnológico convenceu o Homem do seu maior controle sobre a natureza e incentivou, por vezes, a dilapidação desenfreada dos recursos naturais.
16A região de Presidente Prudente foi ocupada na segunda metade do século XIX. No início do século XX, o café transformou a paisagem do oeste paulista, pois sua marcha propiciou um movimento de leste para oeste, na procura de novas terras, de mão de obra imigrante, e também devido ao aumento dos preços do grão.
17A expansão da cultura do café no oeste paulista valorizou os espigões do planalto ocidental de São Paulo a partir dos loteamentos rurais e da criação de cidades.
18Esse processo de ocupação foi incrementado pela Estrada de Ferro Sorocabana, que se expandiu pela região, ao longo do espigão entre os rios do Peixe e Paranapanema, cumprindo um programa do governo brasileiro, de ordem política e militar, no sentido de tornar mais acessível o oeste aos centros litorâneos. Assim, a Estrada de Ferro Sorocabana, antecedeu o café, cortou os sertões do sudoeste em busca do Rio Paraná.
19Nesse contexto é que se coloca o aparecimento de Presidente Prudente: a busca de solos virgens para o café, a especulação com terras e a colonização pelo loteamento de grandes glebas resumem as características do povoamento da região. Os núcleos urbanos surgiram como pontos de apoio para a exploração econômica da região.
20Atualmente, os indicadores de desenvolvimento e as aspirações de qualidade de vida de qualquer sociedade moderna, exprimem-se pela disponibilidade de funções (residência, indústria, comércio, cultura, recreio, lazer, justiça, imagem, mobilidade, etc.), pelas performances conseguidas (congruência qualitativa e quantitativa entre funções, variedade de oferta, participação, equidade, acessibilidade, liberdade de manipulação e uso das oportunidades), e, também, pelas componentes estruturais do ambiente, tais como, o sítio, a qualidade do ar, da água e do solo, o equilíbrio entre o espaço edificado, o povoamento, as áreas verdes, os espaços públicos, etc. (Amorim e Monteiro, 2010).
21As componentes estruturais dos lugares têm, contudo, sido subvalorizadas pelos modernos modelos de design urbano. O baixo custo da energia e o rápido progresso científico e tecnológico, tornou praticamente negligenciáveis o clima e a geomorfologia no processo de seleção das áreas escolhidas pelo Homem para se instalar.
22Nas últimas décadas, tanto em Portugal como no Brasil, o solo original viu substituída a sua cobertura natural, por uma combinação de materiais impermeáveis,com cores, volumetrias e características físico-químicas, distintas das originais, sem que os potenciais impactos provocados, tenham sido avaliados.
23O processo de urbanização de Presidente Prudente e do Porto, mesmo com histórias e climas diferentes, mostrou que tem um papel muito forte para explicar o aquecimento observado nessas regiões evidenciando a complexidade das interações climáticas locais e regionais.
24Nesse contexto, o uso das imagens de satélite foi decisivo para se verificar as fontes de calor, dentro das cidades na origem da formação das ilhas de calor urbanas. Este fato também foi diagnosticado por medidas da temperatura do ar realizadas por Amorim (2000 e 2005) em Presidente Prudente e por Monteiro (1997) na cidade do Porto.
25A maioria da bibliografia relacionada aos estudos de clima urbano refere-se aos dados obtidos em estações e postos meteorológicos, instalação de abrigos fixos, uso de transectos móveis ou o emprego de imagens de satélites. Como relata Pitton (1997), todas estas técnicas estão sujeitas a críticas.
26O satélite Landsat 7 foi lançado emabril de 1999 pela National Aeronautics and Space Administration (NASA), mas o sensor ETM+ funciona com problemas a partir de maio de 2003 por uma falha no equipamento. As imagens utilizadas nesse trabalho foram adquiridas no site da United States Geological Survey (USGS: http://www.usgs.gov/).
27Para verificar as temperaturas das superfícies intraurbanas na cidade e Presidente Prudente e no Porto, foram utilizadas imagens do canal do infravermelho termal (canal 6) do satélite Landsat-7, com resolução espacial de 60 metros. O Landsat 5 também possui o canal infravermelho termal, que permite se chegar à temperatura da superfície, entretanto a sua resolução espacial é de 120 metros, sendo, portanto, mais adequado para análise da temperatura de grandes centros urbanos.
28Os procedimentos para a obtenção das temperaturas em grau Celsius (°C) foram realizados no software IDRISI Andes versão 15.0, com a utilização de parâmetros fixos de conversão de níveis de cinza da imagem (NC) para radiância, depois para temperatura Kelvin e finalmente para graus Celsius obtidos no site do satélite Landsat (NASA) – (Disponível em: http://landsathandbook.gsfc.nasa.gov/handbook/handbook_htmls/chapter11/chapter11.htm). Assim, os dados do canal 6 do Landsat -7 foram convertidos para uma temperatura superficial considerando um valor fixo de emissividade de 1. Pixels digitais foram convertidos em temperaturas usando elementos fornecidos com a calibração da imagem (Amorim, Dubreuil, Quenol, Sant´Anna Neto, 2009).
29Para a seleção das áreas que contemplam as cidades nas imagens de satélite, foram importadas as malhas urbanas georreferenciadas e assim foram possíveis as análises da distribuição das temperaturas das superfícies nas duas cidades.
30O uso desta técnica permitiu, além das visões em diferentes escalas, verificar a temperatura qualitativa da cidade. É importante salientar que as imagens por satélite são úteis para estimar a temperatura da superfície, dependendo do tipo de uso e ocupação do solo. Trata-se apenas indiretamente da temperatura do ar ligada às medidas em abrigos por meio do balanço da energia local (Amorim, Dubreuil, Quenol, Sant´Anna Neto, 2009).
31Com a disponibilidade de informações geradas através de sensoriamento remoto do infravermelho termal foi possível verificar as diferenças das temperaturas dos alvos no ambiente urbano. Jensen (2009) exemplifica através de algumas avaliações realizadas em pesquisas utilizando essas técnicas que as áreas comerciais podem apresentar durante o dia temperaturas mais altas e já as mais baixas podem ficar restritas aos corpos d’águas, vegetação e terras de uso agrícola. Entretanto, salienta que áreas residenciais podem apresentar temperaturas intermediárias pela composição heterogênea de casas, grama e coberturas arbóreas. Essas características também foram observadas no Porto e em Presidente Prudente, conforme será evidenciado no próximo item do presente artigo.
32As informações da temperatura da superfície adquiridas através de técnicas de sensoriamento remoto com o uso do canal termal mostram-se relevantes para as análises de qualidade ambiental.
33Assim, esta pesquisa acrescenta informações importantes para a caracterização do clima urbano das duas cidades. Elas tinham sido estudadas utilizando-se de outras técnicas de pesquisa, tais como medidas da temperatura do ar por meio de pontos fixos e medidas itinerantes, sendo realizada por Amorim (2000 e 2005) para a cidade de Presidente Prudente e Monteiro (1997) para a cidade do Porto. Entretanto, a cidade do Porto não tinha sido analisada considerando-se a utilização do sensoriamento remoto para o estudo do clima urbano. No caso de Presidente Prudente, o uso do sensoriamento remoto com essa finalidade foi objeto de análise em artigos apresentados por Amorim, Dubreuil, Quenol, Sant´Anna Neto (2009) e Amorim, Sant´Anna Neto, Dubreuil (2009).
34Trata-se, portanto, de uma experiência nova, na medida em que a comparação entre os dois ambientes apresenta uma peculiaridade interessante, pois embora tenham praticamente a mesma quantidade de pessoas morando nessas cidades, Presidente Prudente (207.610 habitantes) e Porto (216.080 habitantes), a cidade brasileira tem no seu entorno o ambiente rural e a portuguesa faz parte de uma região metropolitana. Os contrastes de temperaturas entre o campo e a cidade ficaram evidentes na cidade brasileira. Já no Porto os contrastes de temperatura em relação ao entorno decorreram das diferenças entre a área construída, o mar e o Rio Douro.
35No que diz respeito a análise das temperaturas das superfícies intraurbanas, percebeu-se claramente a influência e a importância da vegetação para o aumento ou não da temperatura da superfície. Lembrando que esses dados referem-se ao grau de emissividade dos objetos da superfície captados pelos sensores a bordo do satélite num determinado dia e horário.
36As imagens de satélite ajudaram a compreender o desenho das temperaturas intraurbanas resultantes da distribuição das fontes de calor que contribuem para a geração das ilhas de calor.
37Este tipo de análise já foi apontado por Gómez et al. (1995), como um importante instrumento para a compreensão das diferenças térmicas entre o campo e a cidade, assim como no interior das áreas urbanas. Amorim, Dubreuil, Quenol e Sant´Anna Neto (2009), também fizeram um estudo comparativo das características térmicas do clima urbano em duas cidades de médio porte: Rennes (França) e Presidente Prudente (Brasil), por meio de registros da temperatura do ar (pontos fixos e medidas itinerantes) e dados térmicos de superfície obtidos pelo tratamento de imagens do satélite Landsat 7. Nesta pesquisa, verificou-se o aumento das temperaturas, ligeiramente maiores em Rennes, do que em Presidente Prudente e a geração de ilhas de calor urbanas, decorrentes do processo de urbanização nas duas cidades.
38As estruturas térmicas das áreas urbanas interpretadas nas imagens tratadas do Landsat 7 traduzem a ocupação atual, a densidade de construções, o tipo de material construtivo e a arborização nas cidades. Nas Figuras 3 e 4, são apresentadas as cartas térmicas de Presidente Prudente e do Porto em episódios de verão.
39No dia da tomada da imagem, a cidade de Presidente Prudente (21/03/2001) estava sob condição atmosférica estável e a temperatura do ar máxima diária registrada na estação meteorológica localizada na Faculdade de Ciências e Tecnologia foi de 31,5ºC e a mínima de 22,1ºC. Na Figura 3, verifica-se o perímetro urbano de Presidente Prudente e o ambiente rural próximo. O perímetro urbano engloba a área urbana e a área de expansão urbana. Observa-se temperaturas muito diferentes entre essas duas áreas, sendo as mais elevadas registradas na área edificada e as menores na não edificada.
40No Porto, no dia da tomada da imagem (24/06/2000), a temperatura do ar máxima registrada na estação meteorológica localizada na Serra do Pilar foi de 33,4ºC e a mínima de 16,8ºC, também sob condição atmosférica estável. A direção do vento nesse dia foi de leste-sudeste, sem, portanto, a interferência direta da brisa marítima. Em dia com vento de oeste-noroeste, a brisa do mar tem papel fundamental na diminuição da temperatura dos alvos na porção oeste da cidade do Porto, conforme se observa no dia 27/04/2002 (Figura 5). Assim, para este estudo, se considerou a imagem do dia 24/06/2000 pelo fato de não estar sob a interferência da brisa marítima.
41As duas cidades apresentam paisagens complexas, sendo que Presidente Prudente possui em seu entorno, um ambiente rural com o predomínio de pastagens. O Porto faz parte da Grande Região Metropolitana, não sendo, portanto, envolvida pelo meio rural (Figuras 6 e 7).
42Nas duas cidades, existem vários tipos de usos, formas e elementos naturais e antrópicos que configuram os espaços e territórios bastante especializados, que interagem modificando os elementos do clima por meio da relação entre o balanço de energia e a composição dos sistemas naturais, urbanos e agrícolas.
43As cartas térmicas de Presidente Prudente (Figura 3) e do Porto (Figura 4), mostram que nas áreas densamente construídas, as temperaturas detectadas na superfície foram as mais elevadas.
44Em Presidente Prudente, principalmente nas habitações populares com coberturas de fibrocimento e com pequena quantidade de vegetação arbórea nas calçadas e fundos de quintais, as temperaturas detectadas na superfície foram as mais elevadas, atingindo 27ºC. Nos bairros com terrenos maiores, em que as edificações não ocupam toda a área e, com a presença de vegetação arbórea esparsa, as temperaturas foram menores (22ºC). Nos parques e demais áreas verdes urbanas, as temperaturas variaram entre 19 e 21ºC, em função do tipo de vegetação rasteira ou arbórea.
Figura 3 – Presidente Prudente: Carta de temperatura da superfície gerada a partir da imagem do infravermelho termal (banda 6) do sensor ETM+ do Landsat-7 de 21/03/2001.
Fonte da imagem original: http://edcsns17.cr.usgs.gov/EarthExplorer/ WRS 222-075
Figura 4 – Porto: Carta de temperatura da superfície gerada a partir da imagem do infravermelho termal (banda 6) do sensor ETM+ do Landsat-7 de 24/06/2000, com vento predominante de leste-sudeste.
Fonte da imagem original: http://edcsns17.cr.usgs.gov/EarthExplorer/ WRS 204-031
Figura 5 – Porto: Carta de temperatura da superfície gerada a partir da imagem do infravermelho termal (banda 6) do sensor ETM+ do Landsat-7 de 27/04/2002, com vento predominante de oeste-noroeste.
Fonte da imagem original: http://edcsns17.cr.usgs.gov/EarthExplorer/ WRS 204-031
Figura 6 – Área urbana de Presidente Prudente/Brasil.
Fonte: Google Earth TM mapping service/NASA/Terra Métrics copyright (acesso: julho de 2010)
Figura 7 – Área urbana do Porto/Portugal.
Fonte: Google Earth TM mapping service/NASA/Terra Métrics copyright (acesso: setembro de 2010).
45Na Figura 8 mostram-se as diferenças das temperaturas em um bairro onde há o predomínio de telhados de fibrocimento e em outro onde há o predomínio de telhados de cerâmica, evidenciando-se como esses materiais apresentam diferenças nas temperaturas dos alvos. Cabe destacar que os telhados de fibrocimento são muito utilizados, no Brasil, em moradias da população de baixa renda e os telhados de cerâmica em moradias de população de média e alta renda.
Figura 8 – Tipos de telhados predominantes em algumas residências e suas relações com as temperaturas (fibrocimento e cerâmica).
46No Porto, na imagem tratada do Landsat 7, tomada em 24/06/2000, os bairros mais quentes (acima de 38°C) foram: centro histórico (na porção sul, próximo ao Rio Douro), zona industrial na porção noroeste (prédios com coberturas de zinco) e na porção nordeste que se trata de uma área densamente construída e com vias de circulação rápida e intensa. As menores temperaturas (em torno de 21ºC) foram observadas nas áreas verdes, como, por exemplo, a mostrada na Figura 9.
Figura 9 – Características da temperatura de acordo com os tipos de ocupação do solo.
47Nas duas cidades as temperaturas mais elevadas mostraram-se diretamente relacionadas à densidade de construções. A diminuição na densidade de construções produz um efeito pronunciado no que se refere à quebra de continuidade da distribuição das temperaturas mais elevadas.
48Em Presidente Prudente, os limites das áreas construídas em direção ao rural, definiram claramente o limite das temperaturas elevadas. As áreas intraurbanas com menor densidade de construções estiveram sujeitas às temperaturas mais baixas.
49Em pesquisa realizada anteriormente, Amorim (2000), mostrou que no verão as magnitudes mais fortes das ilhas de calor (entre 4ºC e 6ºC) durante o dia foram observadas principalmente entre 10h e 16h, coincidindo com os horários de maior insolação e maior aquecimento diurno e intensificando assim o desconforto térmico presente no verão das cidades tropicais. Nos outros horários (7h, 8h, 9h, 17h e 18h), foram frequentes ilhas de calor de média magnitude (entre 2ºC e 4ºC), mas, também foram registradas, em alguns dias, ilhas de calor de forte magnitude, embora com menor frequência.
50Naquela pesquisa, no verão, os principais responsáveis pelas maiores diferenças entre os pontos mais quentes foram as áreas densamente construídas e com pequena quantidade de vegetação. A presença da arborização nas calçadas e fundos de quintais exerceu papel fundamental nesta estação, pois as áreas densamente arborizadas e, em alguns casos, com alta densidade de construções tiveram as temperaturas mais baixas, mas as áreas densamente construídas e com pouca vegetação ou com poucas construções, e também sem vegetação, tiveram as temperaturas mais altas. Assim, pode-se afirmar que a presença da vegetação tem papel fundamental para amenizar as altas temperaturas durante o dia, fato também observado na imagem tratada do Satélite Landsat 7 (Figura 8).
51Em pesquisa realizada por Monteiro (1997), na cidade do Porto, foram registradas anomalias térmicas entre 4ºC e 5ºC; entre 3ºC e 4ºC; entre 2ºC e 3ºC; entre 1ºC e 2ºC; entre 0ºC e 1ºC, e entre -1ºC e 0ºC. Como na carta termal apresentada (Figura 4), as medidas realizadas por meio de transecto por Monteiro (1997), mostraram que nas porções este e oeste foram detectadas anomalias térmicas mais baixas, já no centro do concelho para o centro histórico acompanhando o eixo da Avenida da Boavista e a zona industrial, as temperaturas foram maiores com anomalias positivas entre 3º e 4ºC. Complementando a leitura da cartografia apresentada anteriormente, deduziu-se que os espaços verdes e o edificado, foram fatores decisivos para esta diferenciação.
52Este trabalho comprovou que a utilização do sensor infravermelho termal é uma técnica importante para fornecer a temperatura qualitativa da cidade, que muito pode contribuir na perspectiva do planejamento urbano, na medida em que são definidos padrões na distribuição da temperatura da superfície de acordo com o uso e a ocupação do solo.
53Presidente Prudente e o Porto mesmo com latitudes diferentes mostraram que o processo de urbanização teve um papel muito forte para explicar o aquecimento observado nessas regiões evidenciando a complexidade das interações climáticas locais. O uso das imagens de satélite foi decisivo para evidenciar as fontes de calor na origem da formação das ilhas de calor urbanas.
54Nas cidades de médio porte de climas tropical continental e temperado (mediterrâneo), a produção do clima urbano resultou da interação entre a radiação recebida e a refletida pelos tipos de materiais construtivos das edificações nos diferentes tipos de uso do solo que armazenam o calor.
55Com isso, observou-se que alguns locais das cidades são extremamente inadequados do ponto de vista do conforto térmico e medidas precisam ser tomadas para que situações de temperaturas elevadas sejam amenizadas, especialmente no verão, como, por exemplo, o plantio de árvores com espécies adequadas aos diferentes tipos climáticos (tropical e mediterrâneo), utilização de materiais construtivos adequados que não exijam tanto a climatização dos ambientes internos, o incentivo a utilização de transportes públicos para que seja emitida menor quantidade de poluentes para a atmosfera, dentre outras.