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Crónica de campo

Tertúlia geográfica pelo Rio Madre de Dios

Tertúlia géographique au bord du Madre De Dios
Geographical tertúlia by the Madre de Dios river
Ricardo José Batista Nogueira

Résumés

Cet article est le résultat d’une recherche de terrain financée par le CNPq (Conseil national de la recherche scientifique et du développement) pour étudier la dynamique frontalière entre le Brésil, la Bolivie et le Pérou. Tout au long de la recherche, l’importance et la signification du réseau de drainage de la rivière Madre de Dios a été identifiée. Au long de son cours, il effectue un fort travail d’érosion et de dépôt sur ses rives, causant des problèmes dans les zones urbaines qu’il traverse. Nous avons constaté l’existence de la technique des « defensas ribeiriñas » dans la ville péruvienne de Puerto Maldonado comme alternative pour la réduction du processus d’érosion, elle est composée de barrières métalliques pour réduire la vitesse et l’impact de la rivière sur les zones touchées. Présenté de manière ludique, mêlant le scientifique et le fictif, l’article imagine une excursion en bateau inhabituelle avec plusieurs noms de la géographie brésilienne et de l’étranger, qui ont vécu des époques différentes, dialoguant les uns avec les autres, en utilisant leur propre production bibliographique et à leur sujet, sur la théorie, la méthode et la recherche en géographie, dans le but de démontrer la capacité réflexive forte et diverse de cette science dans la recherche menée partout dans le monde.

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Index géographique :

Madre de Dios, Peru, Amazônia

Índice de palavras-chaves:

teoria, método, pesquisa de Campo, geografia, Amazônia.
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Texte intégral

  • 1 Ver em Horacio Capel na obra: Filosofía y ciencia en la Geografía contemporánea. Una introducción a (...)

1Os eventos científicos de geografia são realizados há quase dois séculos em diversos lugares do mundo1. Promovidos pelas associações nacionais com a finalidade de apresentar resultados de trabalhos de pesquisas ou pesquisas em andamento nas mais variadas áreas da Geografia, sejam novas formulações teóricas ou metodológicas para explicação ou compreensão do espaço geográfico ou mesmo trabalhos temáticos sobre regionalização, problemas urbanos, agrários, de clima, relevo ou vegetação, estes eventos regra geral são encerrados com a realização dos clássicos “trabalhos de campo”, onde se organizam visitas de reconhecimento na região proporcionando um clima de descontração e integração dos participantes.

  • 2 A expressão ‘Tertúlias geográficas’ remete aos eventos que o Conselho Nacional de Geografia -IBGE ( (...)

2Num evento2 realizado no Peru, na cidade de Puerto Maldonado, que fica às margens do rio Madre de Dios, reuniram-se geógrafos de alguns lugares do mundo para, no período de três dias, realizar conferências, mesas redondas e palestras para estudantes e professores. E ao final do evento foi realizada uma atividade de passeio fluvial restrita a alguns professores.

3A cidade de Puerto Maldonado fica localizada na Amazônia peruana, próxima à fronteira com a Bolívia; a cerca de duzentos quilômetros ao sul da fronteira com o Acre, no Brasil, e cerca de trezentos quilômetros da histórica cidade de Cusco (figura 1). Todas essas ligações são hoje realizadas por rodovias, que vieram substituir o tradicional uso do transporte fluvial.

4O rio Madre de Dios possui cerca de 1.500 quilômetros desde suas nascentes na vertente oriental andina até desaguar no rio Beni, já na Bolívia, que é um dos formadores do rio Madeira. Todos esses rios da margem direita da bacia Amazônia possuem a característica de serem fortemente sinuosos, pois percorrem uma área de planície inundável em terreno sedimentar. Sem leito consolidado e ainda em formação, em sua trajetória carregam grande quantidade de sedimentos que são retirados das margens e depositados em outros pontos do curso, num movimento incessante de erosão e deposição a cada período anual da dinâmica fluvial, em que o fenômeno das “terras caídas” é uma presença constante na vida dos ribeirinhos, que muitas vezes são obrigados a recuarem suas casas das margens para evitar que sejam levadas pela erosão.

  • 3 As crônicas das primeiras viagens pela Amazônia já relatam a força da correnteza das águas. Frei La (...)

5Isto não afeta somente a zona rural. Muitas cidades da Amazônia brasileira, boliviana e peruana localizadas às margens desses rios também convivem com esses processos de erosão fluvial em que as primeiras ruas, as ‘ruas da frente’, já foram levadas pelas águas, e em outras cidades os governos municipais realizam obras de muros de arrimo para tentar resolver estes problemas da natureza. Puerto Maldonado, assim como outras cidades peruanas, também convive com esse fenômeno3.

Figura 1- Mapa da região fronteiriça

Figura 1- Mapa da região fronteiriça

Região da fronteira Brasil – Peru – Bolívia

O passeio de barco

  • 4 Ver artigo de Brunet, Roger “O mapa – modelo e os coremas, em Revista Confins 50, 2021.

6A organização do evento alugou uma embarcação típica da região, construída em madeira, com capacidade para quinze passageiros, além dos dois tripulantes: o piloto e seu filho, ajudante para todas as viagens. A saída estava programada para às 9:00 da manhã do porto próximo à cabeceira da ponte internacional, assim denominada porque é parte da via interoceânica do projeto IIRSA (Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana). Foram selecionados alguns professores que estavam bem ansiosos pelo passeio no rio Madre de Dios: do Brasil estavam, Milton Santos, Antonio Christofoletti, Hilgard Sternberg, Bertha Becker, Lia Osório Machado e Lívia de Oliveira. Do exterior a lista de passageiros era composta por Paul Claval, David Harvey, Yi-Fu Tuan, Anne Buttimer, Eric Dardel e, em virtude da desistência de William Bunge, defensor dessas expedições de campo, seu parceiro de apartamento no hotel (e de combate) Eliseé Reclus, ocupou a vaga. Um estudante francês, Hervé, orientando de Pierre Monbeig, que fazia sua tese de doutorado sobre a frente pioneira em Rondônia, ficou responsável para fazer mapas do local e elaborar uns modelos gráficos denominados ‘coremas’4

  • 5 Ver Introdução: o estudo do sabor pela Geografia. Geograficidade, v.2, n.1, 2012.

7O acesso ao barco não era dos mais simples, havia uma escada de madeira para descer a vertente de cerca de 20 metros e chegar ao barco. Lá do alto os professores observaram a embarcação e se dirigiram a ela. Alguns se entreolharam como se quisessem fazer algum comentário sobre a embarcação. Milton Santos, ligeiro, foi o primeiro a descer a escada construída artesanalmente por carpinteiros do lugar; Bertha Becker e Lia Osório, estudiosas da Amazonia brasileira, também não se intimidaram, pois já haviam realizados esses ‘cruzeiros’ em outros rios amazônicos; para Sternberg isso também não era uma novidade, pois conhecia a bacia amazônica; Christofoletti estava mais preocupado em observar a geomorfologia fluvial, o transporte de sedimentos do que propriamente o transporte fluvial. David Harvey e Yi-Fu Tuan, embora apreensivos, não recuaram e desceram a vertente para entrar no barco. Harvey, mais precavido, procurou logo um colete salva-vidas, afinal estava mais acostumado a Bristol e Nova York; Anne Buttimer ao ver o barco, fez o sinal da cruz, mostrando ainda sua ligação com o passado na ordem religiosa das dominicanas, no entanto, aceitou e segurou firmemente a mão estendida, gentilmente, por Dardel e desceram para o barco, atravessando a estreita prancha que ligava a escada ao barco. Em seguida chegaram Lívia de Oliveira e Eliseé Reclus, a primeira atrasou cinco minutos porque foi comprar umas frutas para comer durante o passeio, afinal, queria sentir o sabor e o cheiro das frutas da região5; já Reclus demorou cerca de dez minutos para chegar porque estava na militância desde as sete horas da manhã reunido com uns poucos anarquistas que moravam em Puerto Maldonado.

  • 6 Tese de doutorado “Pediments in Southeastern Arizona”, em Berkeley, em 1957. Ver entrevista (capítu (...)
  • 7 Ver OLIVEIRA, Lívia. De rio em rio, meus olhos se encantam com a magia das águas. Revista Hipótese. (...)

8O piloto começou a viagem contra a correnteza, ‘subindo’ o rio, pois o percurso seria realizado no meandro que circunda a cidade com destino final no porto de La Pastora, ou seja, em cerca de três horas estaria concluído. No barco tocava uma música de Rossy War, cantora de sucesso no Peru e natural da região de Madre de Dios e o piloto perguntou a Claval se conhecia a cantora. Respondeu-lhe que não, mas que gostava do ritmo da Cumbia. Cada um procurou um lugar para se acomodar e um colega para conversar sobre o passeio. As duplas formadas até que apresentaram uma aproximação teórica. Claval, esperto, percebeu essa formação e fez uma breve apresentação do roteiro, depois disse que os colegas deveriam ter ‘olhos de geógrafo’, mas não apenas olhos, coração também! Bertha Becker e Lia Osório foram para o piso superior do barco porque poderiam observar melhor e era mais ventilado; Santos e Harvey ficaram no convés próximo à proa da embarcação; Christofoletti, com seu celular, um GPS, um drone e uma máquina fotográfica, ficou deslumbrado com as planícies de inundação e as terras erodidas, formou dupla com Sternberg porque o assunto em comum seria o processo de erosão fluvial e se aquilo poderia ser denominado de ‘movimento de massa’ e logo o comandante disse que o rio era cheio de “terras caídas”; Dardel e Tuan, sentaram-se no meio da embarcação, mas em lados opostos, o primeiro, a bombordo, olhava à margem direita e o outro, a estibordo, olhava a margem esquerda do rio e já fazia comparações entre o ‘mundo úmido’ da Amazônia e o ‘mundo deserto’ do ‘Vale da Morte’, na Califórnia, que lhe serviu de referência para o doutoramento em Geomorfologia6; Anne Buttimer e Lívia de Oliveira preferiram se aproximar do piloto para ouvi-lo sobre o lugar do que fotografar a paisagem ribeirinha. Lívia contava para Anne e o piloto que conhecia vários rios no mundo, mas, de todos, o preferido, de amor e de encanto, era o rio Tapajós7. Enfim, Reclus ficou isolado na popa da embarcação lendo o jornal que havia comprado antes de embarcar. O dia estava agradável, o sol ainda não aquecia o ambiente.

9Enquanto o barco navegava, as conversas aconteciam entre os professores de modo bem descontraído. Comentavam sobre a importância dos eventos, a participação dos estudantes como fonte de renovação do pensamento geográfico, o papel das instituições de ensino, além de temas associados ao futuro da Amazônia, pois ficaram sabendo que há nessa região uma grande exploração de madeira nessa parte da floresta peruana e um enorme garimpo localizado no rio Inambari, afluente do rio Madre de Dios. Alguns já reclamavam do calor, outros até gostavam de sentir o ‘vapor da floresta’ em seus corpos. Harvey e Anne Buttimer, precavidos, trouxeram do exterior creme de proteção solar, da Vichy, enquanto Dardel e Yi-Fu-Tuan tinham na mochila spray contra picadas de insetos. Milton Santos, Christofoletti, Bertha, Lia e Sternberg, acostumados com o calor e com os insetos, expressavam um suave sorriso com os produtos dos colegas. Reclus continuava na popa do barco e refrescava-se com um pouco de água do rio que apanhava com a mão e passava no rosto.

  • 8 Ver página 166 de Buttimer, Anne. Apreendendo o dinamismo do mundo vivido. In. Christofolleti, A. ( (...)

10O comandante conduzia a embarcação com a perícia de quem navega no rio há pelo menos três décadas. Aprendeu essa habilidade com o pai e já levava o filho para aprender também. Lívia de Oliveira e Anne Buttimer, cada uma de um lado do piloto, faziam várias perguntas sobre a vida dele, se era natural do lugar, se morava na cidade ou não; sobre a navegação, o rio, a erosão das margens, a agricultura, a pesca e floresta e também sobre o clima. Queriam compreender o que aquele meio ambiente significava na vida do piloto, como percebia os fenômenos naturais da enchente e vazante, como identificava os canais de navegação, pois elas haviam ouvido de Christofoletti algumas informações sobre a mudança do talvegue nos rios de leito não definidos. A vontade de Lívia era que o piloto desenhasse um mapa mental com os principais rios da região, os meandros, para ela não apenas se localizar na área onde estava, mas para depois utilizar como material didático em suas aulas sobre percepção do espaço. Buttimer, por outro lado, estava mais interessada em capturar nas falas do piloto o sentido heideggeriano de ‘dwelling’, que seria o significado de construir um lar que é símbolo de um diálogo diário entre o meio ecológico e a pessoa, uma forma de reconciliar corpo e mente8.

11Depois de uma série de perguntas formuladas pelas professoras, o piloto, com muita atenção na condução, começou a responder sem tirar o olho do rio. Disse que conhece o rio como a palma da mão, cada curva, cada praia, cada comunidade, pois desde criança navega por ali; que já havia descido o rio até a cidade de Riberalta, na Bolívia. Continuando, falou da dinâmica fluvial, dos sinais que o rio apresenta quando começa a secar ou a encher; dos cardumes de peixes; do tempo de pegar ovos de tartarugas nas praias; dos pássaros que aparecem quando mudam as estações; dos ventos, dos afluentes e da recente mineração que polui a água. ‘Professora Anne, disse o piloto, eu adoro esse lugar, eu vivo isso aqui, navego aqui pelo rio desde criança, fico muito agoniado quando tenho que fazer algo na cidade, é muita motocicleta, muito barulho, fumaça e poeira juntos. Os senhores, que vem de fora, ficam encantados com essa natureza, mas para mim que sou daqui, isso é a minha vida’.

12O barco seguiu pelo meio do rio por cerca de cinco quilômetros até que logo em seguida o piloto gira o leme rapidamente para a esquerda e se aproxima da margem, causando uma surpresa aos passageiros, menos para Christofoletti e Sternberg, que pediram à Lívia e Anne Buttimer para ceder seus lugares próximo ao piloto, pois agora era a vez deles de inquiri-lo: “como o senhor soube que deveria desviar para a esquerda”? Ao que o piloto respondeu: “as borbulhas e os pequenos redemoinhos formados na superfície da água são os sinais da profundidade do rio, além do que desde uns três anos, ou três períodos de cheia/vazantes, sei que vem formando uma praia no meio do rio”. Sternberg sorriu e lembrou de seus trabalhos na várzea do município do Careiro, no rio Amazonas, próximo a Manaus. Virou-se para Christofoletti e disse que a partir daquele momento seria necessário realizar umas experiências e queria a sua ajuda. Mas faltavam os instrumentos. Lívia olhou para Anne Buttimer e, sorrateiramente, falou: “realizar experiências”!!!!! Ambas riram.

13Nesse momento Christofoletti chamou o ajudante do piloto e perguntou se eles pescavam naquele rio. Ao responder que sim, o professor disse-lhe que precisava de linha de pesca e o rapaz foi buscar um carretel com cerca de duzentos metros de linha. Christofoletti chamou Sternberg e disse que precisava da pequena garrafa plástica de água que ele bebia. Aliás, todos levaram garrafas de água mineral, temerosos com a água disponível no barco. Imediatamente, Christofoletti amarrou a linha na garrafa, pediu para o piloto parar o barco por um instante pois ele precisava fazer umas medições. Jogou a garrafa no rio e deixou a correnteza levá-la, para com isso medir a velocidade do rio. Empolgado com aquele improviso científico, Sternberg conseguiu no barco um pequeno pedaço de ferro, amarrou com outra parte da linha de pesca e jogou ao rio para medir a profundidade. “Vamos fazer a batimetria Christofoletti, e levar uns litros de água para medir a quantidade de sedimentos”!!!

14Alheios a essa movimentação dos colegas, Milton Santos e Harvey conversavam na proa do barco sobre a cidade que havia sediado o evento. Santos explicava para Harvey que Puerto Maldonado era uma miniatura de Lima, pois o peso da economia informal era enorme: uma grande quantidade de ambulantes, inúmeros pequenos comércios e as paraditas, lugares provisórios de aglomeração de pequenos comerciantes à espera da construção de algo definitivo denominados mercadillo9. Santos argumentava com Harvey que preferia denominar estas atividades como ‘circuito inferior’ da economia, que juntamente com o ‘circuito superior’ demonstravam a existência do Espaço dividido, porém articulado pelos fluxos existentes entre eles. Isto seria uma marca muito forte dos países latino-americanos. “Veja este barco Harvey, é a verdadeira expressão do tempo lento”, do circuito inferior. Harvey, pensativo, lamentou a ausência de Bunge, que ficara em terra negociando um tuk-tuk10 (figura 2) na cidade, pois queria deixar de ser taxista em Toronto para ser taxista em Puerto Maldonado11; ouvia Santos atentamente e parecia querer formular um questionamento a esse raciocínio, pois a sua preocupação maior era compreender a produção do excedente, o significado do valor de uso e, mais importante, o valor de troca. Voltou-se para Milton Santos e disse: “Milton, minha preocupação é tentar identificar se essa pequena cidade, opaca como você diz, com esse comércio extremamente pulverizado entre pequenos comerciantes, autônomos, ambulantes, vendendo os mais diversos utensílios e quinquilharias vinda da China, roupas usadas, além de frutas, verduras e até folha de coca, é uma cidade do tipo geradora de excedente ou uma cidade parasitária. Tentei expor um pouco disso no livro Justiça Social e a Cidade12.”

Figura 2 Tuk-Tukn em Puerto Maldonado

Figura 2 Tuk-Tukn em Puerto Maldonado

Na parte traseira do Tuk-Tuk, o autor do texto.

Foto: Carlos Eduardo Simões. Maio/22.

  • 13 Ver cap.IV, p.217, do livro YI-FU TUAN. NOGUÉ, J. (org.) Coleção Espacios. Icaria editorial,Barcelo (...)

15Apesar da aparência tímida e introvertida, Tuan procurou Lívia de Oliveira para conversar sobre o evento, a cidade, as pesquisas que vem realizando. Agradeceu a tradução de seus livros para o português, desde a primeira edição do Topofilia em 1980. Comentou com ela a última aula dele antes da aposentadoria, intitulada “Espaço, Lugar e Natureza: discurso de despedida”, na Universidade de Wisconsin- Madison, em 201413, onde quis destacar a diferença entre o apego e o amor ao lar e ao Estado-nação: enquanto o primeiro traz boas lembranças, o segundo pode estar carregado de feridas decorrentes de derrotas e humilhação que podem se transformar em ódio. Contou que, ao passar por uma lanchonete em Puerto Maldonado, viu uma cena semelhante a que ele presenciou num café Starbucks, em Madison, onde três jovens estavam numa mesa, cada uma com seu telefone celular, sem conversar entre si, mas conversando com alguém distante. Isto serviu para pensar que os lugares já não nos vinculam da mesma maneira que antes (op.cit.p.25). Porém, adorou olhar a cidade de cima quando subiu no ‘Mirante da Biodiversidade’ em Puerto Maldonado.

  • 14 Geografiamove: Uma importante entrevista com a grande geógrafa Bertha Becker.
  • 15 Espaço Aberto, PPGG - UFRJ, V. 1, N.1, p. 189-192, 2011.
  • 16 Ver p.77 da entrevista com Claval em “Comment je suis devenu Géographe”, organizado por Sylvian All (...)
  • 17 Ver relatos da viagem em KOZEL, Salete et alli (org.) Expedição amazônica: desvendando espaços e re (...)
  • 18 Ver p.31 do artigo “O comercio ilícito de drogas e a geografia da integração financeira: uma simbio (...)

16Paul Claval, que fora o idealizador do passeio, sentindo a falta de Bertha Becker e Lia Osório, dirigiu-se ao piso superior do barco e encontrou as duas numa conversa bem descontraída sobre aquela Amazônia. Bertha falava dos tempos que havia sido auxiliar de ensino e orientanda de Sternberg, mas com o tempo “tornei-me independente”14, e como começou a se interessar pela Amazônia. Lia, que também havia sido aluna dele, e dela, recordava da viagem realizada em 1962 para Santa Catarina acompanhando Sternberg, junto com Maristela Brito e Maria do Carmo Menezes15. Ao verem Claval, perguntaram o que ele estava achando do passeio no barquinho, e Claval disse: Muito bom! Bertha, “durante meus estudos entre 1952 e 1953, a geomorfologia me interessava mais que a geografia humana, pois ela tinha uma aparência de ciência”16. ‘Estou aqui lembrando uma viagem que fiz em 2007, com meus alunos lá de Porto Velho, da UNIR, descendo o rio Madeira até Manaus. Foram cinco dias dentro de um barco17. Depois de um merecido descanso num hotel em Manaus, onde fiz uma palestra na Universidade Federal do Amazonas a convite do diretor do Instituto de Ciências Humanas e Letras, o professor Nogueira, seguimos de barco até a cidade de Parintins para ver a festa folclórica da cidade’. Elas ficaram surpresas com a disposição de Claval, e Lia também lembrou de uma viagem que havia feito de ônibus de Macapá a Oiapoque entre muita lama e atoleiros para ministrar um curso sobre fronteira. Claval retornou ao piso inferior do barco e as professoras continuaram suas conversas sobre a fronteira na Amazônia e Bertha dizia: ‘Lia, vamos dividir o estudo da Amazônia entre nós: enquanto eu estudo a fronteira econômica, você estuda a fronteira política’. Enquanto Bertha analisava a ‘floresta urbanizada’ na fronteira agrícola, o surgimento das ‘company-towns’, a natureza como capital fictício, Lia estava apreensiva porque já havia passado por um perigo em Rondônia quando estudava o tráfico de drogas. Falava para Bertha que “os lucros dessa atividade dependem da localização geográfica dos lugares de produção e de consumo e da existência de fronteiras nacionais. São verdadeiros narco-regimes”18! Aí Bertha disse: ‘Lia, estamos no ‘heartland’ do tráfico, fale baixo para o comandante não ouvir’.

  • 19 Reclus publicou em 1880 o livro “História de uma Montanha”. Sobre o livro ver NOGUEIRA, R. e COELHO (...)

17Quando Claval desceu ao piso inferior percebeu que Reclus estava sentado na popa do barco e foi até ele para uma conversa. A primeira pergunta foi saber o que ele estava achando do passeio. Reclus disse que estava gostando, mas queria colocar algumas questões ali com Claval. A primeira era o seu inconformismo com o nome do rio. ‘Madre de Dios não me agrada, coisa dos colonizadores católicos espanhóis. Eu fiz uma pesquisa e descobri que o nome original desse rio era Amarumayo, um nome indígena. Do mesmo modo Claval, o nome da cidade: Maldonado foi um conquistador espanhol que chegou por aqui no século XVI, foi nomeado governador de Cusco e explorador dessas áreas. Deve ter matado muitos índios. Antes tivessem colocado o nome de Fitzcarrald, o rei do caucho que, dizem, fundou a cidade no início do século XX. Quando acabar esse evento vou aproveitar e rever meus amigos que fiz em Sierra Nevada, na Colômbia, onde morei e fui agricultor por um período, depois quero escalar o Chimborazo, como fez Humboldt, e escrever um livro sobre as montanhas, melhor que Humboldt. Elas me fascinam’19.

  • 20 Construção muito comum na Amazônia feita de madeira e coberta de palha de diversos tipos de palmeir (...)
  • 21 Equipamento utilizado para realizar pequenas perfurações no solo, para cavar o solo
  • 22 Movimento religioso de caráter messiânico fundado por Ezequiel Ataucusi Gamonal em meados da década (...)

18Depois de uma hora navegando, o piloto reduziu a velocidade quando passava em frente a uma pequena comunidade rural. Yi-Fu Tuan pediu para encostar o barco pois queria conversar com os moradores e não poderia perder essa oportunidade de uma charla com os nativos. Paul Claval, democrático, fez uma rápida reunião com os outros e disse que poderia ficar apenas meia hora. Tuan disse que seria suficiente. Todos desceram do barco e se dirigiram até ao “chapéu de palha”20, lugar onde a comunidade se reúne para decidir seus destinos e também onde realizam as festas. Tuan, Dardel e Anne Buttimer queriam saber como os moradores estabeleciam suas relações com o rio, as inundações, o calendário agrícola, as lendas e mitos da floresta e as festas. Depois ficaram discutindo se seria topofilia, geograficidade ou dasein; Harvey e Santos, perguntaram o que produziam, como produziam, e como escoavam seus produtos, tentando identificar quem se apropriava do trabalho excedente e qual o “circuito espacial da produção”; Bertha estava curiosa para saber quais as ações do estado peruano para aquela comunidade e quais as malhas institucionais existiam ali, se predominava o vetor tecno-ecológico ou o vetor tecno-industrial; Lia queria perguntar sobre o tráfico de drogas na fronteira, mas evitou esse assunto e perguntou sobre a rede bancária; Lívia de Oliveira, com seu interesse particular no ensino de geografia, foi conversar com umas crianças que brincavam ali sobre as coisas da natureza; Christofoletti e Sternberg aproveitaram o momento para coletar amostras do solo para análise no Laboratório de Solos da Unesp- Rio Claro, em São Paulo. Na falta de um trado21, conseguiram a pá de um agricultor, afinal Sternberg conseguia tudo, isso nas palavras de Bertha. Reclus preferiu conhecer a pé, como de costume, o ‘arranjo espacial’ do pequeno povoado de 30 casas e viu um campo de futebol, uma pequena oficina de construção de canoas e remos, um garoto tecendo uma rede de pesca, um varal de peixes salgado secando ao sol, um canteiro suspenso de hortaliças, uma roça de mandioca, uma casa de farinha e um templo da igreja israelita22 que, chamando-lhe muita atenção, exclamou: “Até aqui???”.

  • 23 Ver capítulo 6 do livro “Por uma Geografia Nova”, onde Santos tece considerações sobre a “Geografia (...)

19Depois de 40 minutos, Claval, regulando o horário, começou a chamar a turma para voltar ao barco. Sternberg trazia umas garrafas plásticas com o solo coletado; Tuan ganhou castanhas de um morador; Dardel ganhou um pequeno macaco artesanal feito de borracha natural (látex) extraída de árvores do local, enquanto Bertha ganhou uma onça artesanal de madeira; Anne ganhou um talismã de ‘olho de boto’, achou estranho, mas guardou; e Lia ganhou um colar de sementes de seringueira e adorou; Milton ganhou um cacau do líder comunitário, que garantira ser melhor que os da Bahia; e Harvey, muito suado, já havia descido para o barco para renovar o protetor solar e o repelente de insetos na pele. Só faltava Reclus! Claval subiu a vertente para buscar o retardatário e encontrou Reclus com um peixe salgado às mãos falando que era oferta de morador. Com um pequeno riso, completou: ‘Ganhei de presente! É bom que isso fique claro, que não estamos saqueando a comunidade’. O comandante do barco, por sua vez, aproveitou o momento parado para fazer o mapa, sob o olhar atento do estudante Hervé, que a professora Lívia havia pedido, indicando os afluentes, os meandros, os lagos, as comunidades, as praias e bancos de areia. Ao entregar o desenho, Lívia agradeceu e pensou: vou mostrar para o Milton, ele precisa compreender a importância da percepção espacial23. Depois de todos a bordo, o barco segue subindo o rio já contornando a cidade.

20Tuan, fascinado com a rápida conversa com os moradores, aproximou-se de Claval e Dardel para comentar o que ele sentiu. Disse-lhes que ficou admirado com a simbologia que os moradores dão para a floresta e os rios, lembrando que escreveu algo sobre isso no livro Topofilia; Claval, concordando, complementou afirmando que as representações que eles criam do mundo natural definem suas ações cotidianas; Dardel, mais cuidadoso, indo além dos símbolos ou das representações, queria argumentar sobre a existência dos ribeirinhos e suas vidas aí, sua geograficidade. Anne Buttimer quis entrar na conversa e sentiu estar diante do verdadeiro ‘dwelling’. Todos viram os macacos e os papagaios existentes na comunidade criados como animais domésticos; as crianças brincando com as tartaruguinhas; mas viram também os rapazes com camisas do clube PSG (Paris Saint Germain), e as moças com os cabelos pintados, com tintura da Wella, e tatuagens que se pareciam com aquelas das jovens urbanas. Embora Harvey estivesse conversando com Milton Santos, ouvia a conversa dos colegas e, sobre as tatuagens, emendou: ‘Lefebvre já afirmava que o ‘modo de vida urbano’ invade todos os poros do mundo rural. Não há mais o gênero de vida’. Dardel volta-se para Tuan e diz baixinho: ‘tinha que ser o Harvey’.

  • 24 Tuan, Pag.132 op cit.
  • 25 HARVEY, D. Monument and Myth.  Annals of the Association of American Geographers, 69(3), 1979, pp. (...)

21Tuan aproveitou a oportunidade para conversar com Harvey e dizer que a interpretação do espaço geográfico comporta uma diversidade metodológica, não se limitando à dinâmica do capitalismo. Harvey, presta atenção: “ao estudar como nascem os lugares, os geógrafos se prenderam quase exclusivamente nos processos materiais e as forças socioeconômicas, sem considerar a linguagem (...) essa ideia é absurda”24. No seu artigo sobre a Catedral Sacré Coeur25, de Paris, você já mostra o poder da dominação simbólica.

  • 26 Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana. Programa governamental de pa (...)

22O barco seguiu viagem contornando mais uma curva do meandro do rio. O piloto chamou o seu filho para mostrar-lhe como nessas curvas ocorre a formação de depósito de sedimentos areno-argilosos e como os canais de navegação mudam a cada enchente e vazante, dizendo-lhe: “O trabalho do rio não para”. Logo em seguida o piloto avistou as estruturas de ferro construídas na margem direita do rio Madre de Dios, denominada ‘las defensas ribereñas’, e solicitou que seu filho mostrasse aos professores aquele conjunto de doze barreiras de espigões enterrados às margens como solução para diminuir a queda do barranco (Figura 3). O barco aproximou-se e parou no meio do rio para que os professores observassem melhor e o piloto comentou que aquela obra fora uma solução para reduzir o avanço do rio sobre as margens e que logo ameaçaria a rodovia interoceânica, da IIRSA26, acima da vertente. O ânimo entre os professores foi surpreendente e cada um, ao seu modo, tentava dar uma interpretação para aquela obra.

Figura 3: Defensas metálicas no rio.

Figura 3: Defensas metálicas no rio.

Foto autoria: Thiago Oliveira Neto. Maio/22

  • 27 Ver página 88 do livro “Geomorfologia fluvial”, São Paulo, Ed. Edgard Blücher, 1980.
  • 28 Ver página 99 do livro “A água e o Homem na várzea do Careiro – Amazonas. 2ªed. Belém, Ed. Museu Pa (...)

23Christofoletti, em êxtase, segurando o braço de Milton Santos e apontando para as margens, foi o primeiro a expor considerações sobre as estruturas metálicas: Milton, veja bem, “os canais meândricos são aqueles em que os rios descrevem curvas sinuosas, largas, harmoniosas e semelhantes entre si, através de um trabalho contínuo de escavação na margem côncava -maior velocidade da corrente- e de deposição na margem convexa, pela menor velocidade. A origem do nome meandro é de um rio na Turquia chamado Maiandros”27. Sternberg aproveitou para lembrar de seus trabalhos na várzea do rio Amazonas e, tentando simplificar a explicação, reproduziu o que ouviu de um morador daquela região a propósito desse fenômeno: “água botou, água tirou”28 (Figura 4). Disse ainda que o drama para o morador ribeirinho nessa luta da água com a terra era o fato de que enquanto o processo de deposição de sedimentos ocorre de modo muito lento, porém constante durante a enchente, não sendo perceptível senão ao longo do tempo, com a formação, por exemplo, de uma ilha ou praia, a erosão, o desmoronamento das margens, que arrasta pacotes de terra rio abaixo, ocorre de modo muito rápido, deixando uma marca evidente na paisagem, assombrando a vida dos ribeirinhos que estão no alto da vertente. Há relatos desses fenômenos deixados pelos antigos cronistas que passaram pela Amazônia brasileira no século XVII.

Figura 4. O rio e suas margens.

Figura 4. O rio e suas margens.

Organização: Thiago Oliveira Neto. Imagem: Google Earth.

  • 29 Ver página 61 do livro “A terra e os devaneios da vontade. Gaston Bachelard. 4.ed. São Paulo, Ed. M (...)
  • 30 Ver página 5 do livro “O Homem e a Terra: natureza da realidade geográfica” São Paulo, Ed. Perspect (...)

24Ao ouvir de Sternberg a descrição da luta entre a terra e a água, Dardel manifestou sua interpretação, dizendo que aprendera com Bachelard a importância da imaginação material desses dois elementos e os devaneios decorrentes disso: “por mais que se misture os dois elementos, um é sempre o sujeito ativo e o outro sofre a ação”. Continuou argumentando nessa direção afirmando que essa cooperação das substâncias pode originar uma luta em que a terra aparece como desafio para a água, com sua potência dissolvente, água dominadora; ou o oposto quando a água enfrenta o desafio da potência absorvente da terra seca29. Christofoletti pirou, claro! Mas Sternberg, pela vivência com os ribeirinhos do rio Amazonas, foi mais cordial, dizendo que ‘entendeu’ o que Dardel quis dizer. Dardel continuou sua exposição afirmando que “a geografia não implica somente no reconhecimento da realidade em sua materialidade, ela se conquista como técnica de irrealização, sobre a própria realidade”30, por isso escrevi que a realidade geográfica é composta do espaço telúrico, aquático, aéreo e o espaço construído. Estou consciente de que demorei a ser compreendido na geografia. Também.....quando escrevi aquilo a geografia só falava de ‘localização industrial’, ‘localidades centrais’, Polos de crescimento, probabilidades, modelos, teoria dos grafos, cadeia de Marcov, Hägerstrand, Peter Hagett, ‘ciência da distância’ e outras coisas. Coisa fria’!!!! Christofoletti retrucou e argumentou com Dardel sobre a validade dos sistemas e modelos, que apesar de serem abstratos representam verdades sempre provisórias. ‘Vocês vão adorar os coremas que Hervé está elaborando’.

25Tuan e Anne Buttimer ainda comentavam a visita à comunidade ribeirinha quando viram os espigões de metal na margem do rio. Ao contrário de Sternberg, que ficou maravilhado com a técnica de cravar na terra aquelas estruturas, Tuan e Buttimer olharam primeiro para o topo da vertente e viram algumas casinhas próximo à margem (figura 5). O prognóstico não poderia ser outro: ‘olha lá Tuan, os moradores logo serão deslocados pela força da natureza. Certamente não conseguiram pagar por um lugar melhor na cidade e, em breve, a natureza poderá tragá-los’. Tuan, balançando a cabeça afirmativamente, disse que aquilo era uma paisagem do medo; e que talvez tivesse que relativizar a ideia de Lugar enquanto noção de segurança, porque apesar do belo panorama proporcionado por morar de frente para o rio, aquela situação, certamente, não tranquilizava os moradores do barranco.

Figura 5 - Tela “Paisagem” (1982),

Figura 5 - Tela “Paisagem” (1982),

Tela do pintor amazonense Moacir Andrade.

  • 31 Ver página 88 do livro “Novo imperialismo”. 8.ed. São Paulo: Ed. Loyola, 2014.
  • 32 Referência ao livro “Explanation in geography”, publicado por David Harvey em 1969. Sobre a ‘virada (...)

26A dupla Harvey e Milton não se esquivou de reflexões sobre aquelas estruturas metálicas encravadas na margem do rio. Milton Santos tomou a palavra e disse, convencido, que aquilo era uma demonstração do avanço técnico aplicado sobre a natureza, uma tentativa de controlá-la, é o meio-técnico-científico-informacional (Figura 6). Entusiasmado em ter visto em plena floresta amazônica peruana um exemplo de sistema de engenharia daquele porte, ficou mais animado quando soube pelo piloto que teria sido uma empresa brasileira que fez a construção. Ao perguntar para o piloto se ele sabia o nome, o piloto respondeu: Odebrecht, e Milton franziu a testa, pensando na potência da engenharia brasileira. O piloto continuou dizendo que a obra tinha como objetivo diminuir a queda do barranco porque já estava próximo de afetar a rodovia interoceânica que passava na parte de cima. Aí Harvey entrou na conversa e disse: ‘eu sabia que havia algo mais nessa história, afinal há sempre uma essência por trás da aparência. O capital não deixaria que a natureza estragasse o seu destino, a rodovia é parte da estratégia capitalista de ampliar a fluidez das mercadorias, é pela necessidade de comprimir o tempo e o espaço que todas as barreiras impostas ao capital são removidas para acelerar a rotação da taxa de giro do capital. Essa é a paisagem geográfica da acumulação capitalista. Essa fixação de capital - as estruturas metálicas - certamente foi construída com dinheiro público para viabilizar, potencializar a produção capitalista’. Eu já havia escrito que “o capital busca perpetuamente criar uma paisagem geográfica para facilitar suas atividades num dado ponto do tempo simplesmente para ter que destrui-la e construir uma paisagem totalmente diferente num momento posterior...”31. Christofoletti ouvindo isso falou: nossa Harvey, como você mudou desde o “Explanation”32! E Harvey responde: até as rochas mudam com o intemperismo químico e físico!

Figura 6. Defensas ribeiriñas

Figura 6. Defensas ribeiriñas

Figura 6. Foto: Thiago Oliveira Neto. Maio/22.

27Lia Osório e Bertha Becker, no piso superior do barco, também olhavam para aquelas estruturas com um ar estarrecido. Enquanto Lia só pensava na facilidade em que os traficantes de drogas teriam para fazer circular mais rapidamente a droga entre fronteiras, Bertha argumentava sobre a expansão da malha física na Amazônia peruana, ligando a Amazônia brasileira e boliviana, num conjunto de ações devastadoras que exigiriam dos governos um plano de zoneamento econômico ecológico comum para os três países. ‘A geopolítica deve ser voltada para o desenvolvimento sustentável, a floresta só sobreviverá quando seu valor for maior que as outras atividades extrativistas, a floresta precisa ter valor em pé. Quando chegar ao Brasil, vou convidar o Claudio Egler para elaborarmos esse Zoneamento’.

  • 33 RECLUS, Élisée. Histoire d’un ruisseau. Paris: J. Hetzel et Cie.,1869 (Bibliothéque d’Éducation et (...)
  • 34 Ver A Homem e a Terra, tomo I, cap.1, origens.
  • 35 Ver pág.91 da Revista Geograficidade. Vol. 3, numero 2, 2013.
  • 36 Dardel op. Cit. Pag.21
  • 37 Ver artigo de BOINO, Paul, O pensamento geográfico de Élisée Reclus in “Da ação humana na geografia (...)

28Enquanto o barco estava parado, Claval foi até a popa, onde estava Reclus, sozinho, e o convidou para integrar-se com os colegas. Reclus, com a mão estendida na água do rio, sentindo a temperatura, disse: ‘Camarada Claval, estou gostando muito desse passeio. Você sabe que tenho um livro sobre os rios? Chama-se a ‘História de um riacho’33 e nesse passeio tenho lembrado muito do que escrevi. Esse rio nasce nos Andes e em seu caminho até a foz, próximo ao Brasil, carrega muitos sedimentos, faz e refaz as margens. Mas, na verdade, eu estou pensando em tomar um banho nesse rio. O calor está muito intenso’. Claval ponderou dizendo que poderia ser perigoso e insistiu com Reclus para juntar-se ao grupo. Quando Claval voltou à proa, ouviu um barulho de algo caindo no rio. Era Reclus que havia pulado do barco para deliciar-se nas águas do rio. Houve um alvoroço dentro do barco. Todos correram para ver Reclus sendo levado pela correnteza. Ele acenava e gritava, repetidamente, aos colegas: “O homem é a natureza tomando consciência de si mesma”34. O barco dirigiu-se para resgatá-lo e todos o repreenderam. ‘Não nos assuste Reclus, bebeu chá de folha de coca?’ perguntou Tuan, sorrindo, em tom de brincadeira; Anne Buttimer, tensa com a situação, rezava no canto do barco; Lívia, que antes de formar em Geografia havia cursado Enfermagem, identificou um pequeno ferimento no braço de Reclus, aplicou uma pomada e falou: entendo você, “essa sua atitude frente ao meio ambiente, espelha seus interesses, seus valores e refletem sua visão de mundo”35; Dardel se aproximou de Reclus e disse: Não precisa levar ao extremo a experiência de incorporar-se à natureza, eu sei que “as águas exercem sobre o homem uma atração que chega à fascinação”36. Reclus, com a barba amarelada, carregada de sedimentos, disse que precisava tomar um banho naquelas águas para se purificar, imaginar a dialética de Heráclito e sentir o que os índios sentiam. Juntou-se ao grupo e, dirigindo-se a Harvey, comentou os embates que tivera, no passado, com Marx e Engels. E que atualmente não estava gostando nada dessa disputa entre Lacoste e Brunet sobre seus escritos. Completou dizendo: ‘Aprecio aquele italiano, o Ferretti, pelo que vem escrevendo sobre minha vida’37.

  • 38 Entrevista com a professora Bertha Becker. Geosul v.22, n 44, 2007.
  • 39 Ver THERY, Herve. Geografia global das piadas. Revista Mercator (Fortaleza) 19, 2020.
  • 40 Ver pág.20 de Giblin, Beatrice (org.) El Hombre y la Tierra. Madrid, Fondo de Cultura, 1986.

29O barco segue a viagem por mais alguns minutos e Anne Buttimer vê um peixe enorme pular próximo ao barco e grita entusiasmada. O piloto diz: ‘senhora, é um boto’, e ri! Nesse momento os brasileiros também caem na gargalhada e Lia diz para Anne: ‘ele gostou de você’. Anne Buttimer, sem entender nada, foi procurar saber o motivo da algazarra, da zombaria. Bertha, que já havia trabalhado com Anne na União Geográfica Internacional (UGI)38, tratou de contar a lenda do boto e Anne reagiu também com uma risada, e lembrou do presente que ganhou na comunidade. Isto inspirou Hervé a escrever algo sobre o fato39. Depois de quase quatro horas de passeio dentro do barco, Bertha diz para Lia que estava com uma tontura decorrente do balanço do barco. E Lia, aproveitando a oportunidade, disse a Bertha: ‘Não sei como aqueles passageiros lá do Amazonas aguentam sete dias dentro de um barco de Manaus até Tabatinga’. E Bertha complementou dizendo que iria repensar a defesa que ela faz do uso do transporte fluvial na Amazônia. ‘Verdade, Lia. Nós, lá no Rio de Janeiro, temos que ter um certo cuidado com nossas proposições de um futuro para o povo da Amazônia. Eles querem rodovias, mas como defender isso’? Reclus, que trabalhou como cozinheiro de um navio40, ouvindo a conversa das professoras, só imaginava elas dentro de um barco comendo frango por sete dias, uma bolacha dura no café da manhã, e ainda tendo que aguentar as redes dos passageiros batendo umas nas outras.

Conclusão

  • 41 Ver página 379 do livro Epistemologia da geografia. Florianópolis, Edufsc. 2011.
  • 42 NISHIDA, Kitaro. Ensaio sobre o bem. São Paulo. Ed.Phi, 2016.
  • 43 Ver THERY, Herve. “Le Brésil – pays émergé”. Paris, Armand Colin, 2016.

30Antes de encerrar o passeio, Claval reuniu todos os professores e disse que daria um prazo de trinta dias para que cada professor lhe enviasse um relatório do passeio para organizar um livro pela Edition L’Harmattan. Que cada um estava livre para escrever como bem entendessem. Recordava apenas duas coisas: a primeira, que a “ambição da geografia hoje é compreender o mundo tal qual os homens o vivem: ela fala da sensibilidade de uns com os outros, das paisagens que eles modelaram, dos patrimônios aos quais estão vinculados, dos enraizamentos ressentidos; ela descreve ao mesmo tempo a mobilidade crescente dos indivíduos, a confrontação das culturas, as reações de retorno que ela provoca, regionalismos, nacionalismos ou fundamentalismos, mas ela destaca também a exploração dos multiculturalismos e a fecundidade dos contatos renovados”41. E a segunda, o que Kitaro Nishida dizia a respeito da realidade: “a realidade é apenas uma, mas apresenta diversas formas em função das diferentes maneiras de ver a realidade”42. Depois disso surgiram os questionamentos: Harvey perguntou se poderia escrever sobre o valor de uso e troca dos produtos da floresta, sobre o ‘capitalismo selvagem’; Santos queria escrever sobre o território usado e o sistema de objeto e do sistema de ações; Anne e Dardel disseram que iriam escrever juntos sobre o dinamismo do mundo vivido na floresta tropical úmida, ela enfatizando os sabores da floresta, e ele os vapores do espaço aquático; Bertha queria escrever sobre a devastação da floresta, pois observou muitos caminhões transportando madeira para exportação; Reclus iria escrever mais um guia de viagens, pois tinha prática com isso desde os ‘Guias Joanes’; Christofoletti e Sternberg iriam encaminhar a Claval um relatório com as análises do solo areno-argiloso, uns coremas feitos junto com o Hervé para representar a configuração espacial e a elaboração de propostas técnicas para as prefeituras das cidades. Lívia de Oliveira desenvolveria algo sobre percepção do meio ambiente; e Lia Osório enviaria um estudo sobre a rede hidrográfica como caminho das drogas e a rede bancária daquela região. Hervé, por sua vez, prometera ao grupo que após a defesa do doutorado escreveria um livro sobre o Brasil.43

  • 44 Ver MACHADO, Lia O., MONTEIRO, Lício e PARENTE, Leticia. Geopolítica fragmentada: interações transf (...)
  • 45 “Penser le monde en géographe: soixante ans des reflexion”, título de seu livro biográfico publicad (...)

31A despedida foi um momento marcante para todos. Prometeram se encontrar no próximo evento com local ainda a ser definido pela entidade; trocaram livros; uns convidaram outros para palestras em suas universidades...e Reclus, olhando aquela institucionalidade, pensou: Quem será o próximo prêmio “Vautrin Lud”? As atividades de pesquisa de cada um não se encerraram ali. Cada um ainda seguiria caminhos diferentes para levantar dados para um artigo futuro. Lia Osório e Bertha Becker, na falta de transportes regulares, viajaram num taxi-lotação até a fronteira com o Brasil. Lia ficou na cidade de Assis Brasil (Acre) para desenvolver mais a ideia de ‘geopolítica fragmentada’44 e conhecer a “Iniciativa MAP”, um movimento social transfronteiriço unindo Madre de Dios (Peru), Acre (Brasil) e Pando, na Bolívia; e Bertha Becker seguiu até Rio Branco, capital do Acre, onde tinha um encontro com os militares do 61º Batalhão de Infantaria de Selva; Christofoletti, Sternberg e Hervé desceram o rio até a cidade de Guayaramerin, na Bolívia, fronteira com Rondônia, no Brasil, mapeando as áreas erodidas; Milton Santos e David Harvey pegaram um ônibus até a cidade de Cusco e de lá foram de avião até Lima para um encontro com Anibal Quijano sobre Colonialidade. Anne Buttimer e Lívia de Oliveira decidiram ir até La Paz, sentir a altitude de 3.500 metros, enfrentando cerca de 500 quilômetros de ônibus. Dardel e Tuan decidiram ficar em Puerto Maldonado para conhecer uma comunidade indígena e a prática do ayahuasca. Claval, depois de sessenta anos de reflexão como geógrafo45, ficou muito feliz com a organização do passeio e saiu com Reclus para comer um ceviche acompanhado de uns alunos peruanos num restaurante denominado El Tiburón.

Figura 7. Retrato de grupo

Figura 7. Retrato de grupo

No piso superior, Bertha Becker e Lia Osório. No piso inferior, da esquerda para a direita, David Harvey, Milton Santos, Lívia de Oliveira, Anne Buttimer, Paul Claval, Eric Dardel, Yi-Fu-Tuan, Hilgard Sternberg, Antonio Christofoletti e Elisée Reclus.

Ilustração de Marcos Castro de Lima.

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Notes

1 Ver em Horacio Capel na obra: Filosofía y ciencia en la Geografía contemporánea. Una introducción a la Geografia. (Nova edição ampliada). Barcelona: Ediciones del Serbal, 2012, capítulo 8.

2 A expressão ‘Tertúlias geográficas’ remete aos eventos que o Conselho Nacional de Geografia -IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) passou a realizar semanalmente a partir de 1943 para amplo debate de assuntos geográficos em geral com orientação científica de Francis Ruellan e coordenadas por Cristovão Leite de Castro, secretário geral do C.N.G. Ver Revista Brasileira de geografia 1943, vol. 5 nº 1

3 As crônicas das primeiras viagens pela Amazônia já relatam a força da correnteza das águas. Frei Laureano de La Cruz descreve o fenômeno das terras caídas provocadas pelos rios que descem das cordilheiras, em Nuevo Descubrimiento del Marañón llamado de las Amazonas (1651). Ver Ugarte, Auxiliomar, “Sertão de bárbaros”, Manaus: Ed. Valer, 2009, p. 204.

4 Ver artigo de Brunet, Roger “O mapa – modelo e os coremas, em Revista Confins 50, 2021.

5 Ver Introdução: o estudo do sabor pela Geografia. Geograficidade, v.2, n.1, 2012.

6 Tese de doutorado “Pediments in Southeastern Arizona”, em Berkeley, em 1957. Ver entrevista (capítulo II), do livro Yi-Fu Tuan. NOGUÉ, J. (org.) Coleção Espacios. Icaria editorial, Barcelona, 2018.

7 Ver OLIVEIRA, Lívia. De rio em rio, meus olhos se encantam com a magia das águas. Revista Hipótese. Vol 2, n.4, 2016

8 Ver página 166 de Buttimer, Anne. Apreendendo o dinamismo do mundo vivido. In. Christofolleti, A. (org.) As perspectivas da Geografia. São Paulo, Ed. Difel, 1982

9 Ver p. 74 de Santos, Milton. A periferia está no polo: O caso de Lima, Peru. In. Economia Espacial. São Paulo, ed. Hucitec, 1979. Idem, Espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana (1979).

10 Pequeno veículo utilizado como meio de transporte para passageiros e cargas. Muito utilizado na Ásia, é uma espécie de triciclo motorizado que serve de táxi nas cidades de alguns países latino-americanos e na Europa algumas cidades já adotam para passeios turísticos

11 ENTRE MARES (Observatorio Geográfico - Panamá): BIOGRAFÍA DE GEÓGRAFOS (WILLIAN BUNGE 1928 - 2013) (georem.blogspot.com)

12 Ver capítulo 6 de Harvey, D. A Justiça Social e a Cidade. Trad. Armando Corrêa da Silva. São Paulo: Ed. Hucitec, 1980.

13 Ver cap.IV, p.217, do livro YI-FU TUAN. NOGUÉ, J. (org.) Coleção Espacios. Icaria editorial,Barcelona, 2018.

14 Geografiamove: Uma importante entrevista com a grande geógrafa Bertha Becker.

15 Espaço Aberto, PPGG - UFRJ, V. 1, N.1, p. 189-192, 2011.

16 Ver p.77 da entrevista com Claval em “Comment je suis devenu Géographe”, organizado por Sylvian Allemand. Paris, Le Cavalier Bleu Editions, 2007.

17 Ver relatos da viagem em KOZEL, Salete et alli (org.) Expedição amazônica: desvendando espaços e representações dos festejos em comunidades amazônicas. Curitiba: SK. Ed. 2009.

18 Ver p.31 do artigo “O comercio ilícito de drogas e a geografia da integração financeira: uma simbiose?” In. CASTRO, I. GOMES, P. CORREA, R. (Orgs) Questões atuais da reorganização do território. Rio de Janeiro, ed. Bertrand, 1996.

19 Reclus publicou em 1880 o livro “História de uma Montanha”. Sobre o livro ver NOGUEIRA, R. e COELHO, Olivia.  «Apontamentos sobre o livro “Historia de una montaña”, de Élisée Reclus», Confins [Online], 24 | 2015.

20 Construção muito comum na Amazônia feita de madeira e coberta de palha de diversos tipos de palmeira. Cabana que serve para reuniões, festas, celebrações e outras atividades das comunidades rurais

21 Equipamento utilizado para realizar pequenas perfurações no solo, para cavar o solo

22 Movimento religioso de caráter messiânico fundado por Ezequiel Ataucusi Gamonal em meados da década de 1960 no Peru com a denominação de Movimento Messiânico Israelita ou Associação Evangélica da Missão Israelita do Novo Pacto Universal – AEMINPU. Sobre isso ver SAÉNZ, David. Sobre isso ver SAÉNZ, David. Os israelitas: religião, cultura e migração em espaços amazônicos: o caso da AEMINPU em Benjamin Constant, Amazonas. Dissertação PPGAS/UFRGS, 2014

23 Ver capítulo 6 do livro “Por uma Geografia Nova”, onde Santos tece considerações sobre a “Geografia da Percepção e do Comportamento”

24 Tuan, Pag.132 op cit.

25 HARVEY, D. Monument and Myth.  Annals of the Association of American Geographers, 69(3), 1979, pp. 362-381.

26 Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana. Programa governamental de países da America do Sul. Hoje a denominação é COSIPLAN.

27 Ver página 88 do livro “Geomorfologia fluvial”, São Paulo, Ed. Edgard Blücher, 1980.

28 Ver página 99 do livro “A água e o Homem na várzea do Careiro – Amazonas. 2ªed. Belém, Ed. Museu Paraense Emilio Goeldi, 1998.

29 Ver página 61 do livro “A terra e os devaneios da vontade. Gaston Bachelard. 4.ed. São Paulo, Ed. Martins Fontes, 2013.

30 Ver página 5 do livro “O Homem e a Terra: natureza da realidade geográfica” São Paulo, Ed. Perspectiva, sp, 2011.

31 Ver página 88 do livro “Novo imperialismo”. 8.ed. São Paulo: Ed. Loyola, 2014.

32 Referência ao livro “Explanation in geography”, publicado por David Harvey em 1969. Sobre a ‘virada’ teórica de Harvey, ver Benach, Nuria y Albet, Abel (eds). DAVID HARVEY: la lógica geográfica del capitalismo. Barcelona: Icaria Editorial, 2019.

33 RECLUS, Élisée. Histoire d’un ruisseau. Paris: J. Hetzel et Cie.,1869 (Bibliothéque d’Éducation et de Récréation). Ver também artigo de CAMPOS, Rui na revista Terra Brasilis, n.7, 2016. Élisée Reclus e a Histoire d’un ruisseau.

34 Ver A Homem e a Terra, tomo I, cap.1, origens.

35 Ver pág.91 da Revista Geograficidade. Vol. 3, numero 2, 2013.

36 Dardel op. Cit. Pag.21

37 Ver artigo de BOINO, Paul, O pensamento geográfico de Élisée Reclus in “Da ação humana na geografia física – Geografia comparada no espaço e no tempo. COELHO, P. (org.) Editora Imaginário, São Paulo ,2010. Federico Ferretti, geógrafo italiano que tem se dedicado a recuperar o pensamento do geógrafo anarquista. Possui inúmeras publicações em diversas línguas sobre o assunto.

38 Entrevista com a professora Bertha Becker. Geosul v.22, n 44, 2007.

39 Ver THERY, Herve. Geografia global das piadas. Revista Mercator (Fortaleza) 19, 2020.

40 Ver pág.20 de Giblin, Beatrice (org.) El Hombre y la Tierra. Madrid, Fondo de Cultura, 1986.

41 Ver página 379 do livro Epistemologia da geografia. Florianópolis, Edufsc. 2011.

42 NISHIDA, Kitaro. Ensaio sobre o bem. São Paulo. Ed.Phi, 2016.

43 Ver THERY, Herve. “Le Brésil – pays émergé”. Paris, Armand Colin, 2016.

44 Ver MACHADO, Lia O., MONTEIRO, Lício e PARENTE, Leticia. Geopolítica fragmentada: interações transfronteiriças entre o Acre (BR), o Peru e a Bolívia. Cuadernos de Geografia. Revista de Geografia de Colombia, 23 (2) 15-30. 2014.

45 “Penser le monde en géographe: soixante ans des reflexion”, título de seu livro biográfico publicado em 2015 pela L’Harmattan, Paris.

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Table des illustrations

Titre Figura 1- Mapa da região fronteiriça
Légende Região da fronteira Brasil – Peru – Bolívia
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Fichier image/png, 1,2M
Titre Figura 2 Tuk-Tukn em Puerto Maldonado
Légende Na parte traseira do Tuk-Tuk, o autor do texto.
Crédits Foto: Carlos Eduardo Simões. Maio/22.
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/58617/img-2.jpg
Fichier image/jpeg, 149k
Titre Figura 3: Defensas metálicas no rio.
Crédits Foto autoria: Thiago Oliveira Neto. Maio/22
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/58617/img-3.jpg
Fichier image/jpeg, 243k
Titre Figura 4. O rio e suas margens.
Crédits Organização: Thiago Oliveira Neto. Imagem: Google Earth.
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/58617/img-4.jpg
Fichier image/jpeg, 211k
Titre Figura 5 - Tela “Paisagem” (1982),
Crédits Tela do pintor amazonense Moacir Andrade.
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/58617/img-5.jpg
Fichier image/jpeg, 228k
Titre Figura 6. Defensas ribeiriñas
Crédits Figura 6. Foto: Thiago Oliveira Neto. Maio/22.
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/58617/img-6.jpg
Fichier image/jpeg, 246k
Titre Figura 7. Retrato de grupo
Légende No piso superior, Bertha Becker e Lia Osório. No piso inferior, da esquerda para a direita, David Harvey, Milton Santos, Lívia de Oliveira, Anne Buttimer, Paul Claval, Eric Dardel, Yi-Fu-Tuan, Hilgard Sternberg, Antonio Christofoletti e Elisée Reclus.
Crédits Ilustração de Marcos Castro de Lima.
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/58617/img-7.jpg
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Pour citer cet article

Référence électronique

Ricardo José Batista Nogueira, « Tertúlia geográfica pelo Rio Madre de Dios »Confins [En ligne], 64 | 2024, mis en ligne le 11 septembre 2024, consulté le 04 décembre 2024. URL : http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/58617 ; DOI : https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/12f38

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Auteur

Ricardo José Batista Nogueira

Professor Titular do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Amazonas. nogueiraricardo@uol.com.br

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