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Distribuição espacial dos homicídios de pessoas trans em Mato Grosso entre 2018 e 2022

Répartition spatiale des homicides de personnes trans dans le Mato Grosso entre 2018 et 2022
Spatial distribution of homicides of trans people in Mato Grosso between 2018 and 2022
Jorge Rodrigues Ataides Junior

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Index géographique :

Mato Grosso

Índice de palavras-chaves:

Modelos gráficos, homicídios, pessoas trans, Mato Grosso
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Texte intégral

1De acordo com dados coletados pela Rede Trans Brasil, Mato Grosso foi o segundo Estado do país com maior ocorrência de homicídios de pessoas trans entre 2017 e 2022, proporcionalmente a sua população. Ao nos atentarmos aos municípios mato-grossenses com casos de homicídios de pessoas trans entre 2018 e 2022, podemos avançar a hipótese que a violência transfóbica no Estado materializa-se consubstancialmente nas áreas de influência dos eixos de integração e crescimento econômico do estado, como as BRs 163, 174, 158 e 364.

  • 1 Adquirida na disciplina “Disparidades e identidades brasileiras: cartografia temática e modelização (...)

2Para apoiar essa hipótese, propomos usar o método de modelização gráfica1, primeiro desenvolvendo modelos elementares, depois montando-os em um modelo composto e retornando ao mapa clássico.

3A mesorregião Norte de Mato Grosso - que é uma área concentrada de produção agropecuária no Estado - conta com cinco municípios que juntos registram seis casos de homicídios de pessoas trans (Colniza, Juína, Sapezal, Sinop e Lucas do Rio Verde). Destarte, a mesorregião Centro-Sul, que abarca a região metropolitana do Vale do Rio Cuiabá, por ter o maior contingente populacional, registra o maior conjunto de homicídios, totalizando sete casos, distribuídos entre a capital Cuiabá, Várzea Grande e Santo Antônio de Leverger. Ademais, observa-se que as mesorregiões Sudeste e Sudoeste Mato-Grossense juntas contabilizam poucos casos de homicídios deste grupo social (quatro casos). Vazios estes que nos devem instigar, pois mais importante que investigar as áreas mais violentas/letais, devemos nos ater as que não possuem números expressivos de homicídios, já que sabe-se que a violência acontece em todo o país, o que nesse caso difere é que, boa parte desses casos não são reportados e denunciados, e quando são, muitas vezes são negligenciados pelas forças policiais, ocorrendo mais um tipo de violência.

4Ajustamos nossas lentes de análise e investigação para a mesorregião Nordeste Mato-Grossense (região do Vale do Araguaia), que conta com cinco homicídios de pessoas trans e, nos últimos anos, experiencia o avanço do eixo de expansão do agronegócio (especialmente de grãos à oeste da BR-158). Como forma de exemplificar a possível ligação existente entre a violência transfóbica em Mato Grosso e as novas relações campo-cidade impostas pelo agronegócio globalizado, podemos citar o município de Querência que vivencia os impactos do avanço da fronteira de expansão do capital com um crescimento econômico e populacional impulsionado pelo agronegócio de grãos.

Imagem 1. Modelos elementares

Imagem 1. Modelos elementares

5Segundo o Censo Demográfico de 2022, em 12 anos o município foi o que mais cresceu no Nordeste Mato-Grossense, duplicando sua população em relação a 2010, totalizando 26.769 habitantes (IBGE, Censo demográfico 2022). Atrelado a isso, destacamos que de acordo com dados coletados pela Rede Trans Brasil, entre 2018 e 2022, Querência, em números absolutos, registrou quatro casos de assassinatos de pessoas trans, quantitade que nos chama atenção por nos referirmos a um pequeno município que acaba contabilizando mais casos que as cidades médias do Estado. Contudo, não nos surpreendemos, já que de acordo com Elias e Pequeno (2007), as cidades do agronegócio passam a reproduzir os mesmos problemas urbanos de cidades maiores. Logo, a compreensão de que os homicídios de pessoas trans vem a ser um problema eminentemente urbano vivenciado na diversidade das cidades brasileiras, nos leva a encarar, neste recorte da pesquisa, que tal ato violento é reflexo das desigualdades socioespaciais vivenciadas nas cidades do agronegócio por esses corpos transgressores. É neste contexto que Querência pode estar inserida em um cenário de agronecrotransfobia que se entende pelo conjunto de técnicas e políticas de extermínio efetuadas pelo Estado que serve de forma submissa aos agentes hegemônicos do agronegócio, e com eles estabelece uma relação orgânica que parte de atributos higienistas, espacialmente seletivos e socialmente excludentes. Esses mecanismos qualificam e distribuem os corpos com identidades que transgridem a cisheteronormatividade espacial a partir de uma hierarquia urbana pautada em desigualdades, segregação socioespacial e interdições espaciais que lhes relegam a espaços pouco assistidos pelo poder público local, isto é, aos cenários de desumanização e precariedade em guetos e periferias, os quais, portanto, contribuem para que esses corpos sejam mais facilmente eliminados. Deve-se observar que dos quatro casos de homicídios de pessoas trans em Querência, três foram no Setor F, espaço underground, periférico, da violência, prostituição e de venda de drogas. Relação que nos leva a encarar - a partir desse estudo de caso - que tais homicídios possam vir a ter ligação com as cidades onde há predominância do agronegócio globalizado, já que entende-se que este é espacialmente seletivo e socialmente excludente, gerador de desigualdades e de segregação socioespacial e que nesse cenário, as pessoas trans (mas não somente elas) vem a ser um potencial grupo social marcado, suscetível a essas violações, especialmente se contemplarmos a atmosfera ultraconservadora e tradicional que paira sobre Mato Grosso, que acaba engendrando e consubstanciando ambientes propícios para ações violentas contra corpos dissidentes.

Imagem 2 Composição dos modelos e volta ao mapa

Imagem 2 Composição dos modelos e volta ao mapa
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Bibliographie

Ataides Junior, Jorge Rodrigues. Transexperiências espaciais: proposta geocartográfica queer/transviada a partir do mapeamento dos assassinatos de pessoas trans no Brasil entre 2017 e 2022.  TCC (Graduação em Geografia) - Universidade Federal de Mato Grosso - Araguaia, Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Barra do Garças, 75 f. 2023.

Elias, Denise, Pequeno, Renato “Desigualdades socioespaciais nas cidades do agronegócio”, Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, vol. 9, núm. 1, mayo, 2007, pp. 25-39 Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional Recife, Brasil

Elias, Denise. Mitos e nós do agronegócio no Brasil. GEOUSP, v. 25, 2021.

Rede Trans Brasil, oito dossiês elaborados pela entre os anos de 2016 e2023, além de pesquisas realizadas pelo Observatório Trans

Théry, Hervé, “Modelização gráfica para a análise regional : um método”, GEOUSP-Espaço e Tempo n° 15, pp. 179-188, 2004, http://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/123894

Outras fontes complementares, como os dados do Grupo Estadual de Combate aos Crimes de Homofobia (GECCH) da Secretaria de Estado de Segurança Pública (SESP) e do Sistema de Registro de Boletins da Segurança Pública de Mato Grosso.

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Notes

1 Adquirida na disciplina “Disparidades e identidades brasileiras: cartografia temática e modelização gráfica” do Programa de Pós-graduação em Geografia Humana da Universidade de São Paulo-USP, no segundo semestre de 2023.

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Table des illustrations

Titre Imagem 1. Modelos elementares
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/55574/img-1.jpg
Fichier image/jpeg, 105k
Titre Imagem 2 Composição dos modelos e volta ao mapa
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/55574/img-2.jpg
Fichier image/jpeg, 228k
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Pour citer cet article

Référence électronique

Jorge Rodrigues Ataides Junior, « Distribuição espacial dos homicídios de pessoas trans em Mato Grosso entre 2018 e 2022 »Confins [En ligne], 61 | 2023, mis en ligne le 31 décembre 2023, consulté le 04 décembre 2024. URL : http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/55574 ; DOI : https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/confins.55574

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Auteur

Jorge Rodrigues Ataides Junior

Universidade Federal de Goiás - UFG/IESA, jorgejjataides@gmail.com

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Droits d’auteur

CC-BY-NC-SA-4.0

Le texte seul est utilisable sous licence CC BY-NC-SA 4.0. Les autres éléments (illustrations, fichiers annexes importés) sont « Tous droits réservés », sauf mention contraire.

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