1No mundo da gestão do conhecimento digital e interconectado em que vivemos, os dados e informações de grande relevância social tornam-se essenciais para o planejamento e monitoramento de políticas públicas. A integração entre diferentes áreas do conhecimento é fundamental neste contexto. Este dossiê reflete essa realidade, surgindo do diálogo entre dois campos de estudo: Geografia e Tecnologia da Informação (TI), compondo uma abordagem de Inteligência Territorial (IT) (Girardot, 2008, Bertachini, 2010).
2Esta colaboração acadêmica e profissional foi fundamental para o desenvolvimento do projeto "Painel de Segurança Hídrica", liderado em conjunto pela UFRN, por meio do Instituto Metrópole Digital (IMD), Laboratório Processamento de Dados e Gestão Territorial (LAPROTER), Centro de Educação (CE) e pelo Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR), por meio da Secretaria Nacional de Segurança Hídrica (SNSH) e diversos outros órgãos/ departamentos/ unidades associadas a temática da segurança hídrica. Neste projeto, os conhecimentos geográficos se encontram com as inovações tecnológicas para desenvolver metodologias e análises aplicadas às políticas públicas.
Figura 1 – A interface IT (Inteligência Territorial) e TI (Tecnologia da Informação)
Fonte: equipe do PSH
3Essa parceria concretiza-se no LI²T - Laboratório de Inovação e Inteligência Territorial da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O LI²T desempenha um papel central na implementação de atividades e projetos que variam da pesquisa à extensão, todos sob o conceito de IT. O laboratório cria ferramentas tecnológicas avançadas e métodos aplicados, buscando captar a essência do território em sua totalidade, integrando informações de diversas soluções tecnológicas e bancos de dados.
4O LI²T atua no desenvolvimento tecnológico no contexto territorial, garantindo inovações significativas em sistemas de informação geográfica e uma resposta mais informada às políticas públicas que enfrentam desafios espaciais e temporais. Adicionalmente, o laboratório apoia a formação acadêmica integrada, abrangendo epistemologia, tecnologia e empiria, enquanto também contribui com produções científicas aplicadas (NONATO JUNIOR e LOPES, 2022).
5O Painel de Segurança Hídrica está sendo desenvolvido para oferecer alternativas que auxiliem na gestão dos recursos hídricos no território nacional. O PSH integra diferentes tipos de dados, apresentados em mapas temáticos interativos e ferramentas de TI, como os Painéis de Business Intelligence (BI), entre outras funcionalidades. Para o desenvolvimento do projeto PSH, escolheu-se a Plataforma Smart Geo Layers (SGeoL) como base para a sistematização do vasto conjunto de informações, fornecendo suporte para visualização, manipulação e compartilhamento destes dados.
6A aplicação do conceito de inteligência territorial associado ao uso da ferramenta SGeoL mostrou-se viável para a utilização dos dados visando promover análises sobre políticas, programas, projetos, planos e desafios da segurança hídrica, em diferentes escalas de análise. Este dossiê, composto por seis artigos que seguem esta introdução, explora as metodologias inovadoras desenvolvidas para dar base ao Painel de Segurança Hídrica (PSH) e sua relevância no âmbito da inteligência territorial, evidenciando a crescente importância de novas metodologias e sua integração com as políticas públicas de segurança hídrica.
7O primeiro artigo, “Geografia e Inteligência Territorial: conceitos e métodos para a pesquisa em Segurança Hídrica”, adentra na compreensão da inteligência territorial (IT). Apresenta a evolução histórica do conceito de IT, sua aplicação para estudos sobre aprendizagem territorial e geoinovação, com foco nas estratégias e ferramentas oriundas deste conceito para governança e políticas públicas. Introduz a organização teórico-conceitual do PSH em relação a temática da Segurança-Hídrica.
8No segundo, “Banco de dados geoespaciais: padronização e avaliação como suporte à Inteligência Territorial”, traz à tona a importância da coleta e tratamento de dados geoespaciais. Ao enfocar as práticas adotadas pelo PSH, o artigo revela como a padronização e avaliação desses dados se tornam vitais para decisões informadas em gestão hídrica.
9O terceiro, intitulado “A geotecnologia Smart Geo Layers (SGeoL) e sua aplicação para as políticas públicas: o caso do Painel de Segurança Hídrica (PSH)”, é apresentada a inovação da tecnologia Smart Geo Layers (SGeoL) desenvolvida pelo IMD/UFRN, na parceria entre os laboratórios LI²T, Smart Metropolis (IMD) e LAPROTER. Este trabalho destaca como essa plataforma atua como um impulsionador na gestão de informações do PSH.
10Ao analisar “O Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF): uma estratégia piloto de Inteligência Territorial para o PSH”, o quarto artigo explora como este projeto enquanto recorte metodológico piloto dentro do PSH, realçou sua influência nas políticas públicas de segurança hídrica no Brasil.
11No quinto artigo, “Módulo de Dados Dinâmicos - MDD: o emprego prático da inteligência territorial”, é descrita uma proposta inovadora destinada à gestão hídrica. Esta contribuição sugere uma ferramenta dinâmica, com uma atenção particular aos desafios encontrados na região do Semiárido.
12Finalmente, o sexto artigo, “Inteligência territorial e análise de recursos hídricos: apontamentos teórico-metodológicos aplicados ao diagnóstico e prognóstico do PSH”, aborda a elaboração e metodologia da matriz SWOT em cada base de dados utilizada no PSH, identificando forças, limites, oportunidades e desafios associados às funcionalidades da plataforma.
13Esta compilação visa não apenas informar, mas também inspirar novas perspectivas e abordagens em relação às práticas contemporâneas na Geografia, especialmente no contexto da segurança hídrica. Espera-se que este conjunto de artigos ofereça novas reflexões teórico-metodológicas sobre ações, teorias e métodos produzidos na interface Universidade e outras instâncias do poder público. Destaca-se o fato deste dossiê se limitou a apresentar os fundamentos teóricos-conceituais e metodológicos, não expondo os dados, resultados e limites a serem investidos quando da conclusão do projeto.
14A síntese completa com os dados concretos do PSH será fruto de uma futura publicação bilateral entre a Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a Secretaria Nacional de Segurança Hídrica, a ser consolidada a partir do lançamento do Painel e à análise de seus resultados em operação. As publicações neste dossiê se restringem a apresentar as metodologias e conceitos desenvolvidos para dar base e funcionalidade ao projeto, salvaguardando o ineditismo dos dados e resultados quantitativos para outra etapa, após operação e uso do painel.
15A interface entre conhecimento científico e política pública se mostra pujante a partir das metodologias desenvolvidas neste projeto e sinalizam que a inteligência territorial se produz na conexão entre diferentes atores, escalas e governanças; lançando uma provocação para uma maior aproximação entre essas duas instâncias. O dossiê oferece apoio e atua como referência para futuras pesquisas que explorem a interseção entre Geografia e TI, especialmente aquelas que buscam uma colaboração integrada através da Inteligência Territorial para políticas públicas.