Navigation – Plan du site

AccueilNuméros59Alimentação e Políticas Alimentar...Conveniencialização da comida e d...

Alimentação e Políticas Alimentares nas Cidades

Conveniencialização da comida e do comer

Conveniencisation of food and eating
Conveniencisation” des aliments et du manger
Maycon Noremberg Schubert

Résumés

L'objectif principal de l'article est de reconceptualiser le phénomène social «aliments de convenance», en l'interprétant comme étant «la “conveniencisation” des aliments et du manger». En ce regard, il propose une analyse de l'expansion des livraisons dans l'environnement de restauration, à travers les plateformes numériques, en mettant l'accent sur le cas emblématique de Dark Kitchens. En outre, il réfléchit aux défis que le processus de expansion de ces produits et cettes pratiques pose aux politiques alimentaires. L'étude de cas des Dark Kitchens relie le phénomène de la “conveniencisation” de la nourriture et de l'alimentation aux changements profonds de l'environnement de restauration, perçus dans les relations avec la clientèle, dans les structures de la cuisine, dans les relations de travail, dans la logique de préparation et de livraison des aliments, ainsi que comme dans la promotion des menus et des marques. La recherche est exploratoire, et fait partie d'un programme d'étude qui a récemment réfléchi sur le phénomène de  “conveniencisation” L'article conclut qu'il est nécessaire de (re)penser les politiques alimentaires sur les aspects liés aux relations de travail, à la sécurité alimentaire et nutritionnelle, réglementation aux fusions/acquisitions, au gaspillage alimentaire, au changement climatique et à la contrôle des espaces dans lesquels opèrent les Dark Kitchens. Ces questions présentent de nouveaux défis pour la société, car le processus de rendre la nourriture et le manger plus pratique a provoqué de profonds changements structurels dans le système alimentaire.

Haut de page

Texte intégral

1Comida de conveniência não é um termo novo, tampouco desconhecido por ampla parte da sociedade. Geralmente, essa classificação está associada à comida enlatada, congelada, lanches rápidos (fast food) e ultraprocessados em geral (bolachas recheadas, massas pré-prontas, chips, doces – chiclete, balas, etc.). Do ponto de vista moral, essas comidas têm sido vistas com “maus olhos”, tanto pelo avanço do conhecimento sobre os efeitos negativos à saúde, quanto pela dissociabilidade social que pode gerar, como a individualização do ato de comer e a desconexão das pessoas com o alimento (Jackson e Viehoff, 2016).

2A participação desses alimentos é cada vez maior nos mercados e no dia a dia das pessoas (Plessz e Étilé, 2018). A rotina alimentar nos lares tem demandado cada vez mais uma economia do tempo (Halkier, 2021), ou mesmo, pressionado as mulheres, especialmente, a usar esses alimentos como “pontos de fuga” para reduzir a penosidade do trabalho (Bowen, Brenton e Elliot, 2019). Alinhada a essa mudança, ao longo dos anos, os lares vêm passando por uma revolução tecnológica, facilitando o armazenamento, o preparo e o descarte dos alimentos (Shove e Southerton, 2000). Não obstante, o marketing em torno desses produtos tem sido um fator de grande relevância nas escolhas alimentares, especialmente entre as crianças (Gomes, Castro e Monteiro, 2010). A prática do comer fora de casa, em algumas situações, é outra forma de economizar tempo (Bezerra, et al. 2021). Nesses ambientes, muitas mudanças já vêm ocorrendo, especialmente com a “revolução” dos aplicativos de smartphone (Gimenes-Minasse, et al. 2018).

  • 1 Segundo o High Level Panel of Experts da FAO, Sistema Alimentar se caracteriza por “reunir os eleme (...)

3Diante dessas mudanças, que vêm alinhadas ao aumento na demanda por comidas de conveniência, nos cabe problematizar sociologicamente o tema como um fenômeno social que parece incidir sobre todo o Sistema Alimentar1.

  • 2 Termo inicialmente cunhado por Halkier (2017), “conveniencisation”, buscou precisar melhor, analiti (...)

4Assim, o objetivo central do artigo é reconceitualizar o que vem a ser “comida de conveniência”, propondo um olhar sobre as dinâmicas e os processos sociais em torno das práticas alimentares que caracterizam a “conveniencialização”2 da comida e do comer. Para tanto, oferece uma análise sobre a expansão dos deliveries no ambiente de restauração, por meio das plataformas digitais, dando ênfase ao caso emblemático das Dark Kitchens. Ademais, reflete sobre os desafios que o processo da conveniencialização da comida do comer oferece às políticas alimentares.

5Os dados utilizados nessa pesquisa advêm de artigos acadêmicos, mas principalmente de jornais, revistas e relatórios, captados ao longo do ano de 2022 e início de 2023. O artigo se baseia na metodologia de revisão narrativa, a qual permite captar e atualizar informações sobre uma determinada temática específica, em um curto espaço de tempo (Rother, 2017). Segundo Cordeiro et al (2007), essa metodologia dificilmente parte de uma questão específica bem definida, e resulta em uma busca menos abrangente, com interferência da percepção subjetiva do pesquisador. Nesse sentido, o estudo é exploratório, tendo em vista a natureza recente do fenômeno, com poucas pesquisas acadêmicas disponíveis. Foram utilizadas palavras chaves para a pesquisa online, sendo elas: Dark Kitchens e deliveries (e suas variações, Cloud Kitchens, Ghost Kitchens e delivery). As buscas ocorreram pelo Google acadêmico, que direcionava as buscas aos repositórios em que os artigos haviam sido publicados. No entanto, pela escassez de materiais, grande parte das referências foram coletadas de jornais, blogs, relatórios de pesquisa, entre outros, disponíveis ao público. As referências em torno do termo “conveniencisation” ficaram restritas aos artigos de Bent Halkier e ao livro de Peter Jackson, et al. (2018), por se tratar de algo muito recente nos food studies.

6Algumas “portas” de entrada são apresentadas à reflexão. Primeiro, caracterizar o quem vem sendo chamado de “conveniencialização” da comida e do comer. Segundo, identificar elementos que definam o processo de conveniencialização como algo estruturante no Sistema Alimentar contemporâneo, observando como esse processo vem se ampliando, especialmente pela revolução logística dos deliveries. Terceiro, discutir o caso das Dark Kitchens, fenômeno emblemático do processo de conveniencialização da comida e do comer, no ambiente de restaurantes. Quarto, refletir sobre as formas como as políticas alimentares incidem, ou poderiam incidir, sobre alguns fenômenos que surgem a partir do processo da conveniencialização da comida e do comer. Por fim, apresentar uma síntese do artigo e algumas conclusões.

Repensando a comida de conveniência

7A comida de conveniência tem uma longa história, pois é algo que está associado à economia de tempo e à mudança no uso do tempo, ou seja, aquilo que é possível comer (improviso) de forma rápida (tempo) (Warde, 1999). Inúmeros fatores sociais contribuem para a expansão desse fenômeno social: a) aumento da participação das mulheres na força de trabalho (Allen e Sachs, 2007); b) as inovações tecnológicas na cozinha (Goodman e Redclift, 1991); e c) as inovações na tecnologia dos alimentos na indústria (Goody, 2013); entre outros.

8Do ponto de vista dos contextos socioculturais, as justificativas para o uso de comidas de conveniência oscilam em torno da falta de tempo, falta de habilidades culinárias e rupturas na rotina diária (Bava et al. 2008). Segundo Autio et al. (2013), há um contraste, muitas vezes, entre a “comida feita em casa” e a “comida de conveniência”, o que não se verifica empiricamente em grande parte dos contextos sociais. Como ressalta Halkier (2009), muitos ingredientes ultrapassam esses limites entre o “feito em casa” e o “de conveniência”. Isso levou alguns autores a afirmar que a “comida feita em casa” e a “de conveniência” não seriam duas categorias separadas, mas eventos contínuos em torno da prática do comer (Marshall e Bell, 2003).

9Essa dificuldade em delimitar analiticamente o que vem a ser uma comida de conveniência, levou alguns autores a pensar mais nos processos sociais em torno das práticas alimentares do que em determinados tipos ou categorias de alimentos (Jackson et al., 2018). Nestes termos, algumas situações seriam melhor interpretadas como sendo uma prática alimentar mais ou menos conveniente. Comer fora de casa, por exemplo, seria uma prática alimentar conveniente. Se isso ocorrer em um fast food, tal característica seria ainda mais acentuada, pois o preparo e a entrega do prato são rápidos, diferente de uma refeição a la carte. O preparo de uma refeição em casa poderia ser mais ou menos conveniente, dependendo da quantidade de ingredientes prontos ou pré-prontos que comporiam o menu, ou mesmo dependendo da forma como os alimentos foram adquiridos e entregues, online, por delivery, com deslocamento, compra presencial, etc.

10De acordo com essa perspectiva, interpretar as práticas e os processos em torno da comida e do comer, observando os contextos e as circunstancias que tornam determinado alimento mais ou menos conveniente, parece uma interpretação analítica importante. Isso possibilita compreender tal fenômeno dentro de um processo social mais amplo, como será apresentado a seguir.

A conveniencialização como um amplo processo social

  • 3 Walmart tem um faturamento em torno de U$$ 500 bilhões, uma rede de cinco mil lojas e um corpo de (...)

11No processo da conveniencialização, as grandes empresas do setor de logística têm controlado a cadeia de abastecimento final, junto aos consumidores. O poder parece estar se transferindo do setor varejista/atacadista (Lawrence e Dixon, 2015) para o setor de logística e distribuição. Isso vem ocorrendo, especialmente, pelo avanço nos sistemas de informação, que agora não atuam somente na organização de estoques e distribuição, mas especialmente sobre tendências de consumo e perfil de consumidores (Wilkinson, 2019, 2022). Tal dinâmica é possível por meio das tecnologias de Inteligência Artificial (AI) e do chamado big data, sendo que as Startups são as iniciativas que se apresentam como os principais “motores” desse novo complexo logístico. Gigantes coorporativos, como Amazon e Alibaba já possuem valores de mercado superiores às grandes companhias do varejo, apesar de ainda representarem uma fatia pequena nos mercados3 .

12Uma prática alimentar que impulsiona essa tendência é o uso de aplicativos de delivery, por meio do smartphone. É claro que os deliveries já existem há tempos, porém, não em um nível tão axiomático como os aplicativos modernos se apresentam atualmente. Essa prática serve para economizar tempo na cozinha e nas compras, e vem apresentando uma forte expansão no ambiente de restaurantes, especialmente pós-covid 19. Antes, o delivery era uma tendência de negócios (Ahuja, et al., 2021), agora, é uma estratégia quase que “obrigatória” aos restaurantes. Dados da Associação Nacional dos Restaurantes (ANR) – levantados entre 12/08 e 08/09 de 2021, com 22.907 lojas –, apontaram que o faturamento destas lojas, antes da pandemia, era de 24% com delivery, e que no momento da pesquisa esse faturamento já representava 39%. Ademais, 85% dos estabelecimentos pretendem manter esse modelo de negócio (IFB, 2021).

13Segundo pesquisa feita pela VR Benefícios, em parceria como o Instituto Locomotiva, 89% dos restaurantes no Brasil realizam vendas por delivery, sendo que essa modalidade é responsável por mais da metade do faturamento em 56% dos estabelecimentos (Grandi, 2021). Ou seja, não há dúvida que a forma como o delivery atualmente se organiza contribui fortemente com o processo de conveniencialização da comida e do comer. Para reforçar esse argumento, 72% dos usuários apontam que o determinante para a adoção desse costume é a praticidade e comodidade (Negócios SC, 2021).

14Segundo Meemken et al. (2022, p. 811, tradução livre) “As receitas globais do setor de entrega de alimentos online foram de cerca de US$ 90 bilhões em 2018, subiram para US$ 294 bilhões em 2021 e devem ultrapassar US$ 466 bilhões até 2026”. Os autores argumentam que apesar do delivery existir há algum tempo, a “chave” para impulsionar esse setor foi a ampla disseminação e popularização das tecnologias de informação.

  • 4 Unicórnio é o termo usado para classificar uma Startup que passou a valer 1 bilhão de dólares.

15Ademais, novos players têm se apresentado nesse cenário. A empresa iFood, por exemplo, que atua no Brasil e América Latina, foi criada em 2011, mas tornou-se um unicórnio4 somente em 2018. Atualmente é líder no mercado brasileiro, ocupando 80% no setor de delivery de comida, sendo, inclusive, questionada pelo CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) quanto aos contratos de exclusividade que realiza com os restaurantes (Braun, 2022). Outro grande player do setor, a britânica Deliveroo, está prestes a se tornar a maior empresa de tecnologia na bolsa de valores de Londres, com um valor de mercado de 12 bilhões de dólares, e já atua em 12 países (Azevedo, 2021). A DoorDash, nos EUA, saiu de um Market Share de 20% em 2018 para 59% em 2022. O mercado de delivery Norte Americano estima chegar a um valor de 85 bilhões de dólares em 2024 e o Chinês em 64 bilhões de dólares (Gelder, 2022). A principal empresa que atua na China é a Meituan Dianping, que em 2020 já dominava 65% desse mercado (Jun, 2020).

16Porém, essas transformações não ocorrem somente a nível corporativo ou macro territorial. Iniciativas territorializadas também incorporam essa tendência de conveniencialização da comida e do comer, como é possível perceber em organizações da agricultura familiar que trabalham com plataformas de comercialização online próprias, lançando mão de diversos recursos digitais para alcançar novos mercados (Niederle, Schneider e Cassol, 2021).

17Em suma, os Sistemas Alimentares vêm sendo modificados pelo processo da conveniencialização. Compreender tal fenômeno e analisá-lo de forma mais ampla, observando as rápidas mudanças que vêm ocorrendo nas logísticas de abastecimento, nos permite dimensionar melhor os impactos que vêm causando à sociedade.

Dark Kitchens”: um caso emblemático

18A Dark Kitchen, ou ainda Cloud Kitchen ou Ghost Kitchen, é um modelo de negócio criado recentemente (Rock Content, 2020), especialmente com o advento do uso dos smartphones e da tecnologia da informação – algoritmos – que permitiram uma reconfiguração no sistema de abastecimento e distribuição de comida pelos restaurantes, os chamados deliveries (Seghezzi, Winkenbach e Mangiaracina, 2020).

19A característica principal das Dark Kitchens é que o seu funcionamento, na maioria dos modelos de negócios que há, ocorre sem a presença física dos consumidores, ou seja, as vendas e negociações realizam-se somente através das plataformas digitais. Um caso emblemático é o restaurante IT Burger, na Cidade do México, criado em 2018, que ficou famoso sem que ninguém soubesse a sua localização (BBC News, 2020).

20A Dark Kitchen é um fenômeno com múltiplos modelos de negócios e em rápida ascensão, especialmente no período pandêmico do covid-19, que forçou essa tendência a se tornar hegemônica nos planos de negócio dos restaurantes. As vantagens anunciadas, como forma de incentivo aos empreendedores, são várias: a) baixo custo com aluguel, pois a localização da cozinha pode se dar em espaços menos nobres; b) prospecção de informações importantes para a escolha do local e dos menus, através dos algoritmos de tendência de consumo, especialmente às Dark Kitchens com modelo de negócio integrado aos aplicativos de empresas como Deliveroo, iFood, Rappi, etc; c) baixo custo operacional, pois não contrata pessoas para trabalhar diretamente com os clientes; d) baixo custo na compra ou locação dos equipamentos, sendo que algumas empresas já oferecem espaços prontos para alugar – com todo os equipamentos já instalados; d) aluguel de cozinhas equipadas, em que o chef utiliza por um dia, meio dia, ou mesmo períodos mais longos, ou, ainda, o uso da cozinha no formato de “rodízio”, entre diferentes chefs em diferentes horários; e) destaque no aplicativo, dependendo do contrato firmado com a empresa de delivery, aparecendo no topo das listas e/ou na interface inicial; etc.

Quadro 01 – Modelos de negócios das Dark Kitchens

Modelo

Características gerais

Modelo tradicional de empresa 100% delivery

Restaurantes que operam há muitos anos nesse modelo de negócio, com comércio centrado no delivery, alguns com identificação da marca na fachada. Exemplo: Domino’s Pizza e China in Box

Dark kitchen própria

Restaurantes que vendem tanto no salão quanto no delivery, decidem procurar um espaço próximo para não duplicar todas as estruturas e passam a ter uma cozinha separada apenas para delivery, exemplo: Pampa Burguer

Restaurante tradicional que se transforma em uma Dark kitchen multimarca no delivery

Restaurantes com capacidade ociosa na cozinha, que utilizam esses períodos com uma nova marca própria para operar apenas por delivery. Exemplo: Restaurante Boali.

Cloud kitchens

Restaurantes que possuem várias marcas e operaram com sistemas integrados no mesmo espaço. Exemplo: Cloud Foods, que opera com seis marcas próprias.

Coworking de cozinhas

Modelo de restaurante “virtual”, mas dentro de Dark Kitchen de terceiros. Nesse formato, o responsável pela estrutura cobra manutenção e aluguel do dono do restaurante e este, por sua vez, só se preocupa com a operação do próprio negócio Exemplo: TAG Co-Kitchen em Porto Alegre.

Restaurantes virtuais em Dark Kitchens de terceiros, com serviços limitados

Restaurantes que, além da operacionalização das cozinhas, ofertam serviços de espaço de estoque em câmaras frigoríficas, software de gestão integrado, negociação especial para vendas em plataformas de delivery, entre outros. Exemplo: Kitchen Central

Kitchen as a service

Operadores especializados em delivery que possuem Dark Kitchens em vários locais. Assim, eles fazem todo o processo, treinamento, logística e até embalagens e pagam pelo uso da marca, seja franquia ou licenciamento. Esse modelo é autodenominado de kitchen as a service (cozinha como serviço). Exemplo: Mimic e Green Kitchen.

Da indústria para o delivery

Indústrias de alimentação que produzem refeições e decidem operar via delivery com cozinhas satélites – Dark Kitchens. Normalmente, essas refeições eram vendidas congeladas ou via e-commerce direto. Exemplo: Em fevereiro de 2021, a Liv Up passou a adotar este modelo.

Fonte: Abrasel (2021) e Galante (2021)

21Cabe mencionar que essas informações são muito genéricas e fornecem, apenas, uma noção sobre os modelos de negócios que têm surgido em torno das Dark Kitchens. É possível encontrar outros modelos de Dark Kitchens, cujas características se assemelham ao descrito no Quadro 01. O fato é que esse modelo de restaurante vem crescendo rapidamente, impulsionado pelas novas relações contratuais que surgem junto às empresas de delivery (Freitas, 2021).

22No Brasil há um estudo pioneiro de Hakin et al. (2022), que pesquisaram 623 consumidores, buscando entender o conhecimento destes consumidores sobre Dark Kitchens, e a confiança neste modelo de negócio. Os autores chegaram à conclusão de que a maioria dos consumidores apenas ouviram falar de Dark Kitchens, tendo uma percepção fragmentada sobre as características deste modelo de negócios. Obviamente, aponta o estudo, isso se dá devido à dificuldade de identificar tais empreendimentos, já que os aplicativos não rotulam, ou mesmo as autoridades competentes possuem tal classificação em termos legais. No entanto, grande parte dos consumidores pesquisados confiam nas autoridades de saúde pública, tendo a percepção de que estas fiscalizam e monitoram as Dark Kitchens, mas que na realidade há dificuldades (Vieira, 2022).

23O fenômeno, mesmo apresentando uma forte curva de crescimento, está apenas no começo de sua expansão e diversificação, se mostrando como fator potencial de mudanças profundas na forma como nos alimentamos. O entrelaçamento deste modelo de negócios ao crescimento das grandes corporações de delivery, fortalecem o processo de conveniencialização da comida e do comer. Diante desses fenômenos, nos cabe perguntar quais seriam os desafios, atualmente, que demandam atenção do poder público, da sociedade civil e das empresas, frente a esse processo?

Políticas alimentares frente aos processos de conveniencialização da comida e do comer

24Mudanças no Sistema Alimentar exigem atenção aos efeitos que causam às questões nutricionais, climáticas e de justiça social (HLPE, 2017; Swinburn, 2019). Neste caso, é desafiador pensar sobre as consequências que a conveniencialização vem imprimindo.

  • 6 Ver o relatório da II VIGISAN (2022).

25Destaca-se que os processos sociais que tornam uma prática alimentar mais ou menos conveniente variam de um contexto social a outro (Jackson, et al, 2018). Partindo dessa perspectiva, os impactos que o processo de conveniencialização da comida e do comer causam ao sistema alimentar são diferentes, demandando políticas e práticas contextualizadas e situacionais (Niederle e Wesz, 2022). Isso não quer dizer que não existam pressões globais, como as corporações de deliveries agindo sobre o Sistema Alimentar, mas se faz necessário situar as escalas em que incidem, e os tipos de desigualdades e as injustiças que geram (corpos negros sofrem com a insegurança alimentar mais do que os corpos brancos, assim como as mulheres em relação aos homens6), dependendo do território em que ocorrem.

26Um dos aspectos que “salta aos olhos”, nesse processo, é a precarização do trabalho. Cabe ressaltar que as empresas de delivery têm causado mudanças estruturais profundas nesse mercado, empregando mais de 1,5 milhões de brasileiros (Guimarães, 2020). Tal fenômeno tem levado a novas formas de remuneração, pressionando fortes mudanças no campo da legislação trabalhista (Oliveira, 2021). Uma série de questionamentos sobre as condições precárias de trabalho tem vindo à tona – baixa remuneração, ausência de direitos, autoexploração (Vasconcelos, Mello, e Oliveira, 2021; Abílio, 2020). Diante do chamado “mercado flexível de oportunidades” (Silva, 2019) é que se faz necessária uma ação pública mais eficaz e adequada à realidade de cada contexto, já que essa é uma relação trabalhista que surgiu nos EUA, mas que ganhou o mundo rapidamente. Algumas iniciativas da sociedade civil têm surgido, como as cooperativas de entregadores (Mendes, 2020). Na França, há pelo menos 30 iniciativas oferecendo salário e condições de trabalho dignos (RFI, 2021). Algumas experiências já vêm funcionando no Brasil, como a FENAMOTO (Federação Nacional dos Trabalhadores dos Motociclistas profissionais e autônomos) (Barbosa, 2020).

27Outro aspecto importante corresponde à segurança alimentar e nutricional, especialmente quanto à qualidade da comida. Alguns estudos apontam que grande parte da comida comercializada por delivery é classificada como não saudável, acelerando a transição nutricional (Popkin e Reardon, 2018). Partridge, et al. (2020), ao estudar casos em Sydney (Austrália) e Auckland (Nova Zelândia), concluem que o delivery facilita a compra de comida não saudável, o que demanda atenção das agências públicas de nutrição e políticas alimentares estratégicas. Rinaldi, Aguilar e Egan (2022), ao estudarem casos na região metropolitana de Londres, concluem, de forma exploratória, que as Dark Kicthens e o serviço de entrega rápida de supermercado, vendem grandes quantidades de comidas com altos índices de sal, açucares e gordura, além de álcool e tabaco. Concluem que esses modelos de negócios ampliam, temporalmente e geograficamente, a oferta de alimentos não saudáveis, facilitando e incentivando o seu consumo. Nesse ponto, as autoridades públicas parecem pouco preparadas para lidar com as consequências dessas mudanças. Políticas como a de taxação de alimentos obesogênicos poderão se expandir, como já vem acontecendo com as bebidas açucaradas (WHO, 2017). O controle da publicidade, especialmente direcionada ao público infantil, também é uma política pública importante (Henriques, et al., 2014).

28A expansão financeira das empresas de deliveries também se torna uma questão relevante aos olhos das políticas públicas. As empresas têm feito joint ventures e praticado fusões/aquisições, gerando, inclusive, preocupação por parte dos órgãos de controle (Globo, 2022). Freitas (2021) relata, a partir de um estudo de caso da Rappi, que as plataformas digitais utilizam dados e informações para atuarem no mercado de forma a criar vantagens a alguns restaurantes. Os critérios de exposição e ranqueamento, por exemplo, além das taxas diferenciadas aplicadas aos pedidos, não são claros e transparentes, abrindo espaço para relações desleais de mercado entre os restaurantes. Como é um mercado relativamente novo, com atuação das plataformas digitais como “terceira parte”, seria importante um olhar atento dos órgãos de controle e defesa da concorrência, especialmente quanto ao uso das informações, captadas pelos algoritmos que monitoram o comportamento dos consumidores.

29O desperdício alimentar também é ponto de destaque nessa nova dinâmica de consumo. A comida que é preparada, mas não comercializada no dia, é, ou ao menos deveria ser, destinada à doação. Essas sobras tendem a ser maiores com a proliferação de restaurantes ao estilo Dark Kitchens, já que a oferta alimentar por delivery aumenta (Meemken, et al., 2022). Algumas iniciativas, como o aplicativo “Refood”, tendem a ajudar com isso, vendendo os alimentos não comercializados com preços bastante reduzidos, no final do expediente. De todo modo, seria importante políticas alimentares que incentivassem e promovessem essas iniciativas. Delivery solidário seria um bom exemplo7, já que incentiva restaurantes e pessoas há doarem alimentos prontos para consumo, de forma rápida e conveniente.

30Seguindo com a lista de desafios, alguns estudos vêm apontando o aumento no uso de embalagens plásticas no setor de restaurantes, especialmente pelos deliveries. Jang, Kim e Woo (2023) estudaram a realidade da Coreia do Sul, medindo essa contaminação e propondo práticas que minimizassem o impacto no meio ambiente. Outra contaminação ambiental seria a pegada do carbono, em razão do CO2 emitido pelas entregas. Uma solução, segundo Meemken, et al. (2022), seria pensar em cidades mais “amigas às bicicletas” já que grande parte desse trabalho tem sido feito utilizando esse meio de transporte. De todo modo, mais pesquisas precisam ser feitas, e, inevitavelmente, trabalhar com educação, campanhas e outros formas de incentivo às atitudes ambientalmente proativas são necessárias, tendo em conta que o modelo de negócios online traz novos desafios ecológicos à logística de abastecimento alimentar.

31Por fim, destaca-se a regulação dos espaços em que as Dark Kitchens estão sendo instaladas. Reclamações quanto à poluição do ar, pela emissão de gordura – devido ao funcionamento quase que intermitente das coifas dos restaurantes –, são constantes. Soma-se a isso a obstrução das calçadas pelos motoboys e o barulho das máquinas que funcionam quase que ininterruptamente nessas cozinhas. Falta fiscalização e/ou mesmo regras que liberem alvarás específicos para esses empreendimentos, visando minimizar estes impactos ao redor dos empreendimentos (Vieira, 2022). Nesse ponto, as autoridades públicas deveriam ter mais atenção, cobrando alvarás de abertura, ou, ainda, as próprias empresas de delivery poderiam ter uma equipe especializada que fizesse visitas aos restaurantes, observando tais aspectos (Hakim, et al., 2022).

32Estes seriam alguns dos desafios mais imediatos, que têm sido foco dos pesquisadores que têm estudado o mercado de deliveries e as Dark Kitchens. Como demonstrado, esses fenômenos são expressões de um processo social mais amplo, que é o da conveniencialização da comida e do comer, o qual demanda um conjunto de outras políticas alimentares que visem minimizar os efeitos negativos sobre a saúde, as mudanças climáticas e as desigualdades alimentares, que vão além dos situados somente na esfera do delivery.

Conclusões

33O artigo se propôs a repensar a comida classificada como de conveniência, sugerindo ir além das categorias e classificações dadas a um ou outro alimento, se desafiando a compreender a conveniencialização da comida e do comer como um amplo processo social, que impulsiona grandes mudanças estruturais em todo o Sistema Alimentar.

34A prática do delivery é um ícone dessa mudança. Com o avanço das tecnologias, popularização dos smartphones e controle das informações pessoais – por algoritmos pouco “transparentes” –, alinhadas à falta de tempo, à falta de habilidades culinárias e às rupturas na rotina alimentar diária das pessoas, mudanças profundas no Sistema Alimentar vêm ocorrendo.

35Um caso emblemático, que materializa parte dessas mudanças, é o recente surgimento das Dark Kitchens, que foram impulsionadas pela pandemia do covid-19, e que, atualmente, ocupam um espaço estratégico no ambiente de negócios dos restaurantes. Cabe destacar que as relações entre as plataformas de delivery e o surgimento das Dark Kitchens guardam estreita relação, estando sob o radar dos órgãos de controle da concorrência em vários países.

36Diante desse cenário, o Sistema Alimentar já vem apresentando alguns impactos, o que impõe uma atualização na agenda das políticas alimentares. Aspectos ligados às relações de trabalho, Segurança Alimentar e Nutricional, regulação de fusões/aquisições, desperdício alimentar, mudanças climáticas e a regulação dos espaços em que operam as Dark Kitchens, são alguns desafios elencadas nesse artigo que emergem a partir do fenômeno da conveniencialização da comida e do comer.

37Conclui-se que grandes mudanças no Sistema Alimentar estão surgindo a partir do fenômeno da conveniencialização da comida e do comer, especialmente pós-período pandêmico da covid-19. Aponta, inclusive, para uma forte tendência de transferência de poder do setor varejistas/atacadista para o setor de logística e distribuição. O que impõe (re)pensar políticas alimentares de forma contextualizada e situacional, já que o fenômeno se manifesta de forma diferente nos territórios e em grupos sociais.

38Todavia, se faz necessário avançar nas agendas de pesquisa, tendo em vista que grande parte destes fenômenos são recentes e carecem de dados, descrições, explicações e debates.

39Abílio, L. Plataformas digitais e uberização: Globalização de um Sul administrado? Contracampo, Niterói, volume, 39, n.1, abr./jul. 2020, p.12-26. DOI: 10.22409/contracampo.v39i1.38579

40ABRASEL (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes). Saiba quantos tipos de Dark Kitchens existem e quais são as melhores para o seu negócio. Boa Viagem, 02/08/2021, https://pe.abrasel.com.br/​noticias/​noticias/​saiba-quantos-tipos-de-dark-kitchens-existem-e-quais-sao-as-melhores-para-o-seu-negocio/​?_ga=2.85821276.430210645.1631266134-263317886.1631075240

41Ahuja, K..; Chandra, V.; Lord, V.; Peens, C. Ordering in: the rapid evolution of food delivery. McKinsey & Company, set. 2021. Disponível em <https://www.mckinsey.com/​industries/​technology-media-and-telecommunications/​our-insights/​ordering-in-the-rapid-evolution-of-food-delivery> Acessado em 11/07/2022.

42Allen, P.; Sachs, C. Women and food chains: the gendered politics of food. International Journal of Sociology of Food and Agriculture, volume 15, n. 1, abr. 2007, p. 1-23. DOI 10.48416/ijsaf.v15i1.424

43Autio, M.; Collins, R.; Wahlen, S.; Anttila, M. Consuming nostalgia? The appreciation of authenticity in local food production. International jornal of consumer studies, volume 37, n. 5, set. 2013, p. 564-568. DOI: 10.1111/ijcs.12029

44Azevedo, V. Deliveroo pode atingir valor de mercado de US$ 12 bilhões e ser a maior IPO em 10 anos de Londres. Suno notícias, São Paulo, 12.05.2021, <https://www.suno.com.br/​noticias/​deliveroo-pode-atingir-valor-de-mercado-de-us-12-bilhoes-e-ser-a-maior-ipo-em-10-anos-de-londres/​> Acessado em 01/02/2023.

45Bava, C.M.; Jaeger, S.R.; Park, J. Constraints upon food provisioning practices in ‘busy’ women’s lives: Trade-offs which demand convenience. Appetite, volume 50, n. 2-3, mar/mai. 2008, p. 486-498. DOI: 10.1016/j.appet.2007.10.005

46Barbosa, V. Conheça coletivos e cooperativas de entregadores no Brasil. CNTTL - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística Presidente, Brasília, 27/07/2020, https://cnttl.org.br/​noticia/​9994/​conheca-coletivos-e-cooperativas-de-entregadores-no-brasil

47BBC News. 'Dark kitchens': o que são as 'cozinhas fantasma', que só existem em apps de comida. Negócios, 01/03/2020, https://epocanegocios.globo.com/​Startup/​noticia/​2020/​03/​dark-kitchens-o-que-sao-cozinhas-fantasma-que-so-existem-em-apps-de-comida.html

48Bezerra, I.N.; et alli. Evolução do consumo de alimentos fora do domicílio no Brasil de 2008–2009 a 2017–2018. Revista de saúde pública, volume 55, supl. 1, 2021, p. 1-11. DOI: 10.11606/s1518-8787.2021055003221

49Bowen, S.; Brenton, J.; Elliot, S. Pressure cooker: Why home cooking won’t solve our problems and what we can do about it. UK: Oxford, 337p., 2019.

50Braun, D. Cade questiona iFood em processo sobre concentração de mercado. Valor Investe, São Paulo, 21.07.2022, https://valorinveste.globo.com/​mercados/​brasil-e-politica/​noticia/​2022/​07/​21/​cade-questiona-ifood-em-processo-sobre-concentracao-de-mercado.ghtml

51Cordeiro, A.M.; Oliveira, G.M.; Rentería. J.M.; Guimarães, C.A. Revisão sistemática: uma revisão narrativa. Colégio brasileiro de cirurgiões, volume 34, n. 6, dez. 2007, p. 428-431. DOI: 10.1590/S0100-69912007000600012

52Freitas, E. 'Dark Kitchens': O exercício abusivo de poder econômico e a utilização de tecnologias de dados como vantagem competitiva (November 16, 2021). Programa Institucional de Iniciação Científica - ISSN 2526-4699, XVII - Jornada de Iniciação Científica - 2021, Available at SSRN: https://ssrn.com/​abstract=4276896

53Galante, S. Food service: o novo universo do delivery e do consumo/negócios fora do salão, 01.07.2021, https://www.suafranquia.com/​noticias/​alimentacao-e-food-service/​2021/​07/​food-service-o-novo-universo-do-delivery-e-do-consumonegocios-fora-do-salao/​

54Gelder, K. Van. Meal delivery services: market share of companies in the U.S. 2022. Statista, 18.07.2022, https://0-www-statista-com.catalogue.libraries.london.ac.uk/​statistics/​1235724/​market-share-us-food-delivery-companies/​

55Gimenes-Minasse, M.H.; Drudi, P.H.; Faltin, A.O.; Lopes, M.S. Comensalidade.com – uma reflexão introdutória sobre as novas tecnologias e as práticas do comer junto. Hospitalidade, volume 15, n. 2, dez. 2018 p. 102-123. DOI:10.21714/2179-9164.2018v15n2.006

56Globo, O. Dona do iFood pode ser multada em até R$ 60 milhões pelo Cade. Exame, 26/05/2022, https://exame.com/​negocios/​dona-do-ifood-pode-ser-multada-em-ate-r-60-milhoes-pelo-cade/​

57Goody, J. Industrial food: towards the development of world cuisine. In: Counihan, C.; Esterik, P. Van. Food and Culture. New York/USA: Routledge, 3rd ed., 631p., 2013.

58Goodman, D.; Redclif, M. Refashioning nature: food, ecology and culture. London: Routledge, 279p., 1991.

59Gomes, F.S.; Castro, I.R.R.; Monteiro, C.A. Publicidade de alimentos no Brasil: Avanços e desafios. Ciência e Cultura, volume 62, n. 4, São Paulo, out. 2010. Disponível em <http://cienciaecultura.bvs.br/​pdf/​cic/​v62n4/​a15v62n4.pdf> acessado em 17/01/2023.

60Grandi, G. Delivery chega a 89% dos restaurantes brasileiros com a pandemia da Covid. Gazeta do Povo, Curitiba, 12/12/2021, https://www.gazetadopovo.com.br/​bomgourmet/​mercado-e-setor/​delivery-restaurantes-covid/​

61Guimarães, F. Cerca de 11,4 milhões de brasileiros dependem de aplicativos para ter uma renda. CNN Brasil, 12/04/2021, https://www.cnnbrasil.com.br/​business/​cerca-de-11-4-milhoes-de-brasileiros-dependem-de-aplicativos-para-ter-uma-renda/​

62Hakim, M.P.; et alli. What is a dark kitchen? A study of consumer’s perceptions of deliver-only restaurants using food delivery apps in Brazil. Food Rsearch International, volume 161, nov. 2022, p. 1-10. DOI: 10.1016/j.foodres.2022.111768

63Halkier, B. Suitable Cooking? Food, Culture & Society, volume 12, n. 3, set. 2009, p. 357-377. DOI: 10.2752/175174409X432030

64Halkier, B. Normalising convenience food? The expectable and acceptable places of convenient food in everyday life among young danes Food Culture and Society, volume 20, n. 1, 2017, p. 133-151. DOI: 10.1080/15528014.2016.1243768

65Halkier, B. Hybridity and change in cooking skills in everyday life: Conceptual contributions from a study of cooking with meal-box schemes. Appetite, volume 165, Out. 2021, p. 1-7. DOI:10.1016/j.appet.2021.105311

66Henriques, P.; Dias, P.C.; Burlandy, L. A regulamentação da propaganda de alimentos no Brasil: convergências e conflitos de interesses. Cadernos de Saúde Pública, volume 30, n. 6, p. 1219-1228. DOI: 10.1590/0102-311X00183912

67HLPE – High Level Panel of Experts. Agroecological and other innovative approaches: for sustainable agriculture and food systems that enhance food security and nutrition. Comitte on World Food Security, FAO, 2014. Disponível em <http://www.fao.org/​3/​ca5602en/​CA5602EN.pdf> Acessado em 15/12/2022.

68HLPE – High Level Panel of Experts. Nutrition and foods systems. Comitte on World Food Security, FAO, 2017. Disponível em <http://www.fao.org/​3/​ca5602en/​CA5602EN.pdf> Acessado em 15/12/2022.

69IFB (Instituto Foodservice Brasil). Pesquisa aponta realidade do operador independente que vende apenas por delivery. Foodbiz, 28/10/2021, https://foodbizbrasil.com/​ifb/​pesquisa-aponta-operador-foodservice-vende-por-delivery/​

70Jackson, P. et alli. Reframing convenience food. Switzerland: Palgrave macmillan, 274p., 2018.

71Jackson, P.; Viehoff, V. Reframing convenience food. Appetite, volume 98, n.1, Mar. 2016, p. 1-11. DOI: 10.1016/j.appet.2015.11.032

72Jang, Y.; Kim, K.N.; Woo, J. Post-consumer plastic packaging waste from online food delivery services in South Korea. Waste Management, volume 156, n. 1, fev. 2023, p. 177-186. DOI: 10.1016/j.wasman.2022.11.036

73Jun, T. De. Meituan Dianping: The undisputed king of China’s 45 billion dollar online food delivery industry. Fundsupermart, 14/02/2020, https://secure.fundsupermart.com/​fsm/​article/​view/​rcms204700/​meituan-dianping-the-undisputed-king-of-china-s-45-billion-dollar-online-food-delivery-industry

74Louzada, M.L.C.; et alli. Impact of the consumption of ultra-processed foods on children, adolescents and adults' health: scope review. Cadernos de Saúde Pública, volume 37, supl. 1, 2021, p. 1-47. DOI: 10.1590/0102-311X00323020

75Lowrence, G.; Dixon, J. The political economy of agri-food: supermarkets. In: Bonanno, A.; Busch, L. Handbook of a international political economy of agriculture and food. Cheltenham/UK: Edward Elgar Publishing Limited, 2015, p. 213-231.

76Marshall, D.; Bell, R. Meal construction: exploring the relationship between eating occasion and location. Food Quality and Preference, volume 14, n. 1, jan. 2003, p. 53-64. DOI: 10.1016/S0950-3293(02)00015-0

77Meemken, E.M.; Bellemare, M.F.; Reardon, T.; Vargas, C.M. Research and policy for food-delivery revolution. Science, volume 377, n. 6608, ago. 2022, p. 810-813. DOI: 10.1126/science.abo2182

78Mendes, G. Cooperativismo de plataforma: alternativa para entregadores de aplicativo. Coonect, 26/06/2020, https://coonecta.me/​cooperativismo-de-plataforma-entregadores-de-aplicativo/​

79Negócios SC. Delivery no Brasil: crescimento e tendências do segmento. Negócios SC, Florianópolis, 26.10.2021 https://negociossc.com.br/​blog/​delivery-no-brasil-crescimento-e-tendencias-do-segmento/​

80Niederle, P.; Schneider, S.; Cassol, A. Mercados alimentares digitais: inclusão produtiva, cooperativas e políticas públicas. Porto Alegre: Editora UFRGS, 377p., 2021.

81Niederle, P.; Junior, V.J.W. A transição para sistemas alimentares sustentáveis e saudáveis por meio de políticas orientadas para uma gestão estratégica das práticas sociais. Revista Raízes, volume 42, n. especial, dez. 2022, p. 507-520. DOI: 10.37370/raizes.2022.v42.804

82Oliveira, M.C.S. Plataformas digitais e regulação trabalhista: precificação e controle do trabalhador neste novo modelo empresarial. Revista Faculdade de Direito da UFG, volume 45, n. 3, 2021. DOI: 10.5216/rfd.v45i3.68170

83Partridge, S.; et alli. Junk Food on Demand: A Cross-Sectional Analysis of the Nutritional Quality of Popular Online Food Delivery Outlets in Australia and New Zealand. Nutrients, volume 12, n. 10, out. 2020, p. 1-16. DOI: 10.3390/nu12103107

84Plessz, M.; Étilé, F. Is cooking still a part of our eating practices? Analysing the decline of a practice with time-use surveys. Cultural Sociology, volume 13, n.1, Marc. 2019, p. 93-118. DOI:10.1177/1749975518791431

85Popkin, B.M.; Reardon, T. Obesity and the food system transformation in Latin America. Obesity Reviews, volume 19, n. 8, ago. 2018, p. 1028-1064. DOI: 10.1111/obr.12694

86Rinaldi, C.; Aguilar, M.D.; Egan, M. Understanding the Online Environment for the Delivery of Food, Alcohol and Tobacco: An Exploratory Analysis of ‘Dark Kitchens’ and Rapid Grocery Delivery Services. International Journal of Environmental Research and Public Health, volume 19, n. 9, abr. 2022, p. 1-16. DOI: 10.3390/ijerph19095523

87RFI – Radio pública francesa. Contra precarização, cooperativas de entregadores se multiplicam por condições éticas de trabalho. Carta Capital, 05/08/2021, https://www.cartacapital.com.br/​economia/​contra-precarizacao-cooperativas-de-entregadores-se-multiplicam-por-condicoes-eticas-de-trabalho/​

88Rock Content. Dark kitchen: o que é e como funciona? Kitchen Central, 22/07/2022, https://blog.kitchencentral.com.br/​o-que-e-dark-kitchen/​

89Rother, E.T. Revisão sistemática X revisão narrativa. Acta Paulista de Enfermagem, volume 20, n. 2, 2007, p. v–vi. DOI: 10.1590/s0103-21002007000200001

90Seghezzi, A.; Winkenbach, M.; Mangiaracina, R. On-demand food delivery: a systematic literature review. The International Journal of Logistics Management, volume 32, n. 4, 2021, p. 1334-1355. DOI: 10.1108/IJLM-03-2020-0150

91Shove, E.; Dale, S. Defrosting the freezer: from novelty to convenience. Journal of Material Culture, volume 5, n. 3, p. 301-319. DOI: 10.1177/135918350000500303

92Silva, L.S. O trabalho como risco: a auto exploração de motoristas da Uber. Blog do Pedlowski, 15/01/2019, https://blogdopedlowski.com/​2019/​01/​15/​o-trabalho-como-risco-a-auto-exploracao-de-motoristas-da-uber/​

93Swinburn, B.; et alli. The Global Syndemic of Obesity, Undernutrition, and Climate Change. The Lancet, volume 393, n. 10173, jan. 2019, p. 791-846. DOI: 10.1016/S0140-6736(18)32822-8

94Vasconcelos, J.E.M.; Mello, L.E.; Oliveira, M.C.S. Os Trabalhadores das Plataformas de Entregas: essencialidade em tempos de Covid-19 e desproteção legislativa e judicial. Revista Direito e Praxis, volume 12, n. 3, jul/set. 2021, p. 2044-2074. DOI: 10.1590/2179-8966/2021/61285

95Vieira, B.M. Dark kitchens: como funcionam os galpões com dezenas de cozinhas para delivery. g1, São Paulo, 03/06/2022, https://g1.globo.com/​sp/​sao-paulo/​noticia/​2022/​06/​03/​dark-kitchens-como-funcionam-os-galpoes-com-dezenas-de-cozinhas-para-delivery.ghtml

96VIGISAN II - Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. Rede PENSSAN (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), São Paulo, https://olheparaafome.com.br/​wp-content/​uploads/​2022/​06/​Relatorio-II-VIGISAN-2022.pdf Acessado em 25/11/2022.

97Warde, A. Convenience food: space and timing. British Food Journal, volume 101, n. 7, 1999, p. 518-527. DOI: 10.1108/00070709910279018

98Warde, A.; Martens, L. Eating out: Social differentiation, consumption and pleasure. New York/USA: Cambridge University Press, 246p., 2003.

99Warde, A.; Cheng, S.; Olsen, W.; Southerton, D. Changes in the practice of eating: a comparative analysis of time-use. ACT sociológica, volume 50, n. 4, dez. 2007, p. 363-385. DOI: 10.1177/0001699307083978

100Wilkinson, J. O Setor Privado Lidera Inovação Radical no Sistema Agroalimentar desde a Produção até o Consumo. In: Goulet, F.; Le Coq, J.F.; Sotomayor, O. (org). Políticas Públicas e Sistemas de Inovação Agropecuária em América Latina. Rio de Janeiro: E-Papers, p. 385-412., 2019.

101Wilkinson, J.; Rama, R. Sistema produtivo, agroindústria e foco setorial em alimentos processados. Brasília: CNI, 2018. Disponível em <http://digital.csic.es/​bitstream/​10261/​166612/​1/​Wilkinson_Rama2018.pdf> Acessado em 10/05/2022.

102Wilkinson, J. O Sistema Agroalimentar global e brasileiro face à nova fronteira tecnológica e às novas dinâmicas geopolíticas e de demanda. FIOCRUZ, texto para discussão nº 84. Rio de Janeiro, 2022. Disponível em <https://www.arca.fiocruz.br/​bitstream/​handle/​icict/​52363/​TD_84.pdf?sequence=2&isAllowed=y> Acessado em 17 de janeiro de 2023.

103WHO – World Health Organization. Taxes on sugary drinks: why do it? 2017. Disponível em <https://apps.who.int/​iris/​bitstream/​handle/​10665/​260253/​WHO-NMH-PND-16.5Rev.1-eng.pdf?sequence=1&isAllowed=y> Acessado em 08/03/2022.

Haut de page

Notes

1 Segundo o High Level Panel of Experts da FAO, Sistema Alimentar se caracteriza por “reunir os elementos (ambiente, pessoas, insumos, processos, infraestruturas, instituições, etc.) e atividades relacionadas com a produção, o processamento, a distribuição, o preparo e o consumo de alimentos, incluindo os resultados socioeconômicos e as consequências e ambientais” (HLPE, 2014, p. 28).

2 Termo inicialmente cunhado por Halkier (2017), “conveniencisation”, buscou precisar melhor, analiticamente, o que seria uma comida de conveniência e/ou conveniente, incluindo não somente tipos de comidas (ultraprocessadas, prontas comer ou consumidas fora – eating out), mas também as práticas e as materialidades envolvidas no processo do consumo alimentar (compra, preparo, ingestão, entre outros).

3 Walmart tem um faturamento em torno de U$$ 500 bilhões, uma rede de cinco mil lojas e um corpo de dois milhões de trabalhadores. Já a Amazon vende cerca de US$ 100 bilhões de produtos fornecidos por cem armazéns altamente robotizados e emprega 150 mil pessoas. No entanto, o valor de mercado da Amazon em 2016 foi de US$ 472 bilhões, contra US$ 222 bilhões da Walmart” (Rama e Wilkinson, 2018, p. 55).

4 Unicórnio é o termo usado para classificar uma Startup que passou a valer 1 bilhão de dólares.

5 https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/06/03/dark-kitchens-como-funcionam-os-galpoes-com-dezenas-de-cozinhas-para-delivery.ghtml

6 Ver o relatório da II VIGISAN (2022).

7 https://gowhere.com.br/restaurant-week-lanca-delivery-solidario-durante-o-periodo-da-pandemia/

Haut de page

Table des illustrations

Titre Corredor de cozinhas na dark kitchen do Butantã
Crédits Fonte: g1.globo.com5
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/52349/img-1.jpg
Fichier image/jpeg, 50k
Haut de page

Pour citer cet article

Référence électronique

Maycon Noremberg Schubert, « Conveniencialização da comida e do comer »Confins [En ligne], 59 | 2023, mis en ligne le 29 juin 2023, consulté le 10 décembre 2024. URL : http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/52349 ; DOI : https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/confins.52349

Haut de page

Auteur

Maycon Noremberg Schubert

Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: maycon.schubert@gmail.com

Articles du même auteur

Haut de page

Droits d’auteur

CC-BY-NC-SA-4.0

Le texte seul est utilisable sous licence CC BY-NC-SA 4.0. Les autres éléments (illustrations, fichiers annexes importés) sont « Tous droits réservés », sauf mention contraire.

Haut de page
Search OpenEdition Search

You will be redirected to OpenEdition Search