Circulação, consumo mundial de carne e obesidade: coincidências ou co-incidências?
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- Circulation, consommation mondiale des viandes et obésité : coïncidences ou co-incidences ? []
Résumés
La consommation de viande, en particulier de viande bovine, est souvent mise en cause pour ses effets sur la santé humaine, notamment en raison de la croissante prévalence de l'obésité à laquelle elle est associée par certains. Pour aider à voir s’il s’agit de coincidences ou de co-incidences, l’article utilise les ressources de la cartographie, les cartes ont été produites à partir des base de données FaoStat de la FAO et de l’OMS, en utilisant le logiciel Cartes et Données (Articque) puis un traitement graphique complémentaire sur Adobe Illustrator
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1O consumo de carne, especialmente de carne bovina, é apontado por seus efeitos sobre a saúde humana, em particular devido à associação feita por alguns com a crescente prevalência da obesidade. Por isso, esse foi um dos assuntos cruciais de discussão em relação ao tema “Em que escala devemos organizar a circularidade dos sistemas alimentares: local ou mundial?” e o primeiro debate promovido pelo Mak'it – Montpellier Advanced Knowledge Institute on Transitions [Instituto de Conhecimentos Avançados de Montpellier sobre as Transições], um dos principais projetos da Iniciativa Universidade de Excelência de Montpellier, na França.
2Para contribuir para o tema, optamos por utilizar os recursos da cartografia, não para "ilustrar" as contribuições feitas pelos membros da equipe multidisciplinar que redigiram um relatório coletivo após quatro meses de trabalho, mas para explorar, graças a ela, os aspectos territoriais das questões que abordaram de outros ângulos. Essas configurações espaciais (disparidades, concentrações e contrastes) já estavam contidas em extensas bases de dados sobre as questões ambientais e agronômicas dos grandes organismos internacionais (FAO, OMS), mas são pouco visíveis até que os mapas as revelem na forma sinóptica, o que é uma das suas principais vantagens: elas têm tanto uma função maiêutica – inclusive para seus autores – como uma função comunicativa, assim esperamos, para os leitores deste texto.
Circulação mundial de carnes
- 1 Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), Statistics Division (ESS), http://ww (...)
- 2 https://www.articque.com/solutions/cartes-et-donnees/
3Os mapas a seguir foram produzidos a partir da base de dados FaoStat da FAO1, que contém centenas de variáveis sobre produção agrícola e seu comércio internacional, utilizando o software Cartes et Données2 da empresa Articque e, em seguida, um processamento gráfico complementar no Adobe Illustrator.
Carne bovina
4A figura 1 refere-se à oferta interna de carne bovina em 2013 (último ano disponível para o mundo inteiro em FaoStats), expressa em quilocalorias. Em termos de quantidade absoluta, destacam-se alguns grandes países produtores de carne (Estados Unidos, Brasil), e também a China, enquanto outro país muito povoado, a Índia, tem uma oferta interna muito pequena por razões religiosas, uma vez que o hinduísmo proíbe o consumo de carne bovina.
5Em quilocalorias disponíveis per capita e por dia, os dados revelam um grande contraste entre alguns países muito "carnívoros", sobretudo na América do Sul, na Ásia Central e em países com pouca disponibilidade de carne bovina na África (com exceção da África do Sul), e em uma diagonal que vai do Leste Europeu à Indonésia.
- 3 Produção + importações - exportações + variações de estoque (diminuição ou aumento) = oferta para u (...)
6Como essa oferta interna3 se define pela fórmula “produção + importações - exportações + variações de estoque”, é conveniente verificar de que forma os países do mundo organizam os abastecimentos mencionados acima. Enquanto certos países produzem a própria carne que consomem, outros a importam, por vezes de muito longe (figura 2): é, principalmente, o caso dos Estados Unidos, China, Japão e Rússia e, em menor escala (em importações por milhão de habitantes), da Europa e do Oriente Médio.
7Se compararmos importações e exportações (figura 3), verificamos que alguns países são grandes importadores e exportam pouco (semicírculo vermelho maior que o semicírculo verde), como China, Japão e Rússia. Outros são exportadores líquidos (semicírculo verde maior do que o semicírculo vermelho), como o Brasil, a Argentina, a Austrália e a Nova Zelândia, enquanto outros ainda equilibram importações e exportações, como os Estados Unidos e vários países europeus.
8Se, enfim, combinarmos os três elementos – exportações, importações e oferta interna (que associa os dois primeiros à produção interna) –, distinguem-se os casos opostos dos países que podem alimentar uma grande oferta interna e exportações, como o Brasil ou a Argentina (em menor escala), daqueles que podem apenas assegurar suas necessidades graças às importações (sobretudo China, depois Japão e Rússia). Alguns exportam mais porque consomem pouco (como Índia e Argentina, por diferentes razões). Os Estados Unidos têm, de longe, a maior oferta interna por conta da sua própria criação, exportando e importando volumes substancialmente iguais.
9Neste panorama, analisemos agora duas situações radicalmente opostas, a da China importadora líquida e do Brasil, exportador líquido.
China, onde o consumo de carne bovina condicionará o futuro do sistema global de alimentos
- 4 A segunda, uma vez que parece ter sido ultrapassada recentemente pela Índia.
10A China é, simultaneamente, um dos países mais populosos do mundo4 e um dos maiores importadores de carne bovina. O desenvolvimento em curso atualmente é ainda mais crucial para o futuro do sistema global de alimentos porque, se o consumo dessa carne continuar aumentando de acordo com o padrão de vida (como é o caso na maioria dos países e já acontece na China), nesse cenário, a tensão no mercado mundial será muito forte.
11De fato, já temos uma noção bastante precisa do que poderia acontecer graças aos dados FaoStat, que distinguem as ofertas internas per capita e por dia da China continental, de Taiwan, Macau e Hong Kong: se os dados dos dois primeiros são baixos, os dos outros são médios (Macau) ou muito elevados e comparáveis ao nível sul-americano (Hong Kong).
12Oferta interna na China (Kcal/capita/dia)
13Hong Kong 95
14Macau 42
15Mainland 28
16Taiwan 18
17Nas figuras 4 e 5, a superfície dos países foi anamorfizada de acordo com o peso relativo da população. Se utilizarmos, respectivamente, os valores de oferta interna de carne bovina da China continental (figura 4) e de Hong Kong (figura 5), observaremos claramente os efeitos de uma transição para um regime alimentar mais focado na carne bovina, o que já ocorreu em Hong Kong. A adoção desse comportamento alimentar pelo conjunto da população chinesa provocaria um enorme apelo às importações, seja de carne, de soja em grão ou em farelo, com efeitos muito significativos na conversão do uso das terras e o desmatamento, muito longe do território chinês.
O Brasil como fornecedor mundial de carne bovina
18O Brasil consiste em outro caso interessante, por razões opostas àquelas que caracterizam a China: ao contrário do país chinês, o Brasil é um grande exportador de carne bovina, para mais de 130 países no mundo (figura 6), especialmente para a China. Nota-se, no entanto, que exporta mais para Hong Kong do que para o restante do país, tendo o antigo enclave britânico adotado, no tempo do seu antigo estatuto, um regime alimentar mais baseado na carne, como já vimos.
- 5 É por esse motivo que os exportadores brasileiros de carne alertaram o novo Presidente da República (...)
19O mapa das exportações de carne bovina brasileira por 10.000 habitantes nos países importadores (figura 7) destaca a situação de Hong Kong, que é de longe o território onde esse índice é mais elevado. Seguem a Rússia e um grupo de países do Oriente Médio, do Irã ao Egito, que também representam mercados importantes para os exportadores brasileiros5. Por conseguinte, eles trazem de longe, do outro lado do Atlântico, a carne bovina que não podem produzir localmente, em parte devido aos seus climas, geralmente áridos, ou porque preferem comprar de um país dotado de recursos naturais (terra e água) e, portanto, capaz de produzir a custos mais baixos.
- 6 União aduaneira entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
20O mapa da variação das exportações entre 2016 e 2017 destaca os mesmos países, cujas compras compensam em grande parte, em volume e progressão, os poucos declínios observados na Argélia, no Chile ou sobretudo na Europa. É evidente que não se pode concluir que há uma tendência duradoura a partir da variação entre dois anos, mas pode-se afirmar que existe um "reservatório de exportação" para o Brasil e que ele provavelmente ainda é subexplorado. Cabe observar que são precisamente as proteções aduaneiras sobre as carnes que constituem um dos pontos de fricção que, há muito tempo, bloqueiam a conclusão de um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul6.
Outras carnes
21Além do caso da carne bovina, uma vez que devemos ter em mente que pode haver uma substituição parcial entre carnes, o comércio da carne é, de fato, um dos marcadores do lugar ocupado no comércio mundial por países que foram capazes de organizar (devido às suas vantagens comparativas ligadas a fatores naturais e humanos) poderosos canais de exportação. As figuras 9 e 10 mostram isso para a carne de porco, vendida pela Europa e pelos Estados Unidos, e para a carne de ovelha, vendida pela Austrália e Nova Zelândia, comprada em massa por países asiáticos.
22Quanto às carnes de pequenos ruminantes (ovinos e caprinos) e suínos, surgem fluxos específicos entre países produtores e consumidores, por vezes separados por milhares de quilômetros (figuras 11 e 12). Para as primeiras, a Austrália e a Nova Zelândia ultrapassaram amplamente a Europa para abastecer um mercado que se estende desde a China até o Marrocos. Quanto à segunda, a Europa e as Américas (Norte e Sul) estão competindo por parcelas do mercado principal, a China.
23Quanto à carne de aves (figura 13) os mercados de importação são México, África e Ásia, e Estados Unidos e Europa sofrem agora a concorrência do Brasil.
Alimentação animal: o caso da soja
24A circulação mundial das carnes é acompanhada pela circulação de insumos essenciais para a alimentação animal, que também podem vir de países distantes. Os alimentos são variados (raízes e tubérculos, cereais, forragens e pastagens), mas o foco aqui será o que se tornou a principal fonte de proteína: a soja.
25Os grandes exportadores e os grandes importadores são pouco numerosos: entre os primeiros (figura 14), destacam-se os Estados Unidos, o Brasil e a Argentina; entre os segundos, destaca-se mais uma vez a China que é, de longe, o principal mercado, bem à frente da Europa.
26Como ficou claro nas páginas anteriores, em muitos países do mundo, o consumo de carne aparentemente aumentou (não é possível afirmar isso de forma categórica porque as séries temporais ainda são curtas) à medida que os recursos locais foram complementados por importações de outros países capazes de fornecer carnes a preços competitivos.
A geografia da obesidade
- 7 "Meat consumption, health, and the environment", H. Charles J. Godfray et al., Science 20 Jul 2018: (...)
27Há hoje evidências7 de que as mudanças observadas nos regimes alimentares nas últimas décadas contribuíram, juntamente com outros fatores, para um aumento do número de casos de obesidade: segundo a OMS, em 2016, 39% das mulheres e 39% dos homens acima de 18 anos apresentavam sobrepeso. O crescimento, constante há mais de quarenta anos, tem sido tão forte que alguns estudiosos falam de uma epidemia de obesidade.
- 8 https://www.who.int/topics/obesity/en/ ou https://www.who.int/topics/obesity/fr/
28O evidente crescimento da prevalência da obesidade pode também ser traduzido em mapas, uma vez que as situações são muito diferentes de país para país. Um mapa da prevalência média da obesidade por país (figura 17), elaborado a partir das estatísticas coletadas e publicadas pela Organização Mundial da Saúde8, mostra um nítido contraste entre países nos quais ela é muito alta e outros onde é - pelo menos por enquanto - ainda baixa.
29Entre os primeiros, estão os países com os rendimentos mais altos da Europa e da América do Norte, a Austrália, a África do Sul, bem como a América do Sul, que vimos ser muito “carnívora”. A eles se junta todo um arco de países do Leste e do Sul do Mediterrâneo, que, embora consumam pouca carne suína – pois a maioria tem o Islã como religião dominante –, aumentaram seu consumo de outros tipos de carne (ovina, bovina e sobretudo de aves) por conta da disponibilidade crescente de importações provenientes de países que produzem a preços baixos.
30Trata-se principalmente da Austrália e Nova Zelândia para a primeira, e dos Estados Unidos e Brasil para a segunda. Note-se que um país desse grupo, a Arábia Saudita, é um dos dois países do mundo no qual a prevalência é mais alta, juntamente com os Estados Unidos. Por outro lado, a prevalência é baixa na maioria dos países africanos e muito baixa na Ásia, incluindo os países mais populosos do mundo, como a Índia e a China, pelo menos por enquanto (até que todo o país tenha adotado o regime alimentar de Hong Kong).
- 9 Seus nomes foram incluídos, supondo que os leitores não os identificariam facilmente nesta represen (...)
31Uma das dificuldades envolvendo os mapas mundiais é que a extrema heterogeneidade da superfície dos países torna por vezes difícil ver que os menores se encontram às vezes em situações extremas, mesmo que se utilizem cores muito vivas. É aqui o caso de três pequenos países insulares do Pacífico9 que estão entre aqueles com maior prevalência. Tal dificuldade pode ser contornada pelo uso da anamorfose (figura 18), que exagera o seu tamanho até alcançar aquele que eles "merecem" segundo a prevalência de obesidade que os afeta.
32Uma vez destacada a situação preocupante dessas ilhas, restava chamar a atenção para os países onde a crescente prevalência da obesidade afeta milhões de pessoas. A figura 19 mostra que é o caso, no continente americano, dos Estados Unidos, México, Argentina e Venezuela; na Europa, do Reino Unido, de seus ex-domínios da Austrália, Nova Zelândia e África do Sul. Uma vez mais, surge o arco dos países do leste e do sul do Mediterrâneo, com o fator agravante de uma população numerosa e em rápido crescimento. Na Ásia, somente a Malásia apresenta uma alta prevalência de obesidade, mas naqueles onde ela é baixa – incluindo os países mais populosos do mundo – China e Índia – uma comparação dos semicírculos que representam o número de casos de obesidade em 1976 e 2016 mostra uma evolução rápida e preocupante.
33A desigualdade entre os países do mundo está também associada a uma desigualdade entre homens e mulheres: a figura 20 mostra que, em ambos os lados de um índice 100 que indicaria um equilíbrio, a obesidade feminina é maior nos países de maior renda – América do Norte, Europa e Austrália (assim como Argentina e Bolívia) –, enquanto é mais masculina na África, no Oriente Médio e na Ásia, com valores muito mais altos, indicando um grande desequilíbrio.
34A figura 21 apresenta uma configuração semelhante, que descreve a evolução da obesidade entre 1976 e 2016 (primeiro e último ano para os quais existem dados disponíveis nas estatísticas on-line da OMS). São a África e, sobretudo, a Ásia que registram os maiores crescimentos. Embora exista alguma manipulação nesse aumento percentual, que obviamente ocorre mais facilmente a partir de taxas baixas do que a partir de taxas já altas, a tendência é, no entanto, clara.
Co-incidências?
35A observação e a correlação desses mapas mostram que, em muitos países do mundo, existe uma correspondência entre uma oferta abundante de carne e a obesidade. Tal oferta não é apenas de carne bovina, especialmente no caso dos países mediterrâneos, mas se aproxima disso se adicionarmos a carne ovina, e ainda mais se somarmos as calorias de todas as carnes (incluindo carne de porco e aves). Além disso, as modificações induzidas na produção agrícola (daí o nosso desvio pela soja) e o uso das terras convidam a olhar para a saúde dos ecossistemas, e não apenas para a saúde dos homens, como, aliás, faz hoje um número crescente de autores.
36Não será abordada aqui a causalidade, uma vez que a prevalência crescente da obesidade depende de numerosos fatores (genéticos, exercício físico, outros componentes do regime alimentar, em especial os produtos ricos em açúcares, sais e gorduras): o fator genético é frequentemente apresentado como a razão da obesidade massiva nas ilhas do Pacífico (que não se encontra nas ilhas do Mediterrâneo).
37No entanto, o consumo de carne é hoje, com certeza, um marcador pertinente. É certamente um dos fatores, entre outros, de uma causalidade que reflete um processo complexo. É evidente que as co-incidências detectadas nos mapas não são apenas coincidências.
38Se nos aventurarmos um pouco em análise prospectiva, podemos argumentar, nesta base, que caso as populações e os países que iniciam uma transição alimentar permaneçam da mesma maneira seguindo os países que os precederam neste caminho, eles correm o risco de também ver uma associação crescente entre consumo de carne e obesidade. No entanto, essas são apenas conjecturas baseadas numa projeção das tendências observadas ao longo das últimas décadas e que enfatizam a importância a ser dada às futuras mudanças nos padrões de consumo.
Notes
1 Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), Statistics Division (ESS), http://www.fao.org/faostat/en/
2 https://www.articque.com/solutions/cartes-et-donnees/
3 Produção + importações - exportações + variações de estoque (diminuição ou aumento) = oferta para uso nacional. Fonte: FAO Statistics Division
4 A segunda, uma vez que parece ter sido ultrapassada recentemente pela Índia.
5 É por esse motivo que os exportadores brasileiros de carne alertaram o novo Presidente da República para as possíveis consequências negativas de sua decisão de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, seguindo os Estados Unidos.
6 União aduaneira entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
7 "Meat consumption, health, and the environment", H. Charles J. Godfray et al., Science 20 Jul 2018: Vol. 361, Issue 6399, eaam5324, DOI: 10.1126/science.aam5324 et Nutrition et systèmes alimentaires, rapport HLPE 2017, http://www.fao.org/3/I7846FR/i7846fr.pdf
8 https://www.who.int/topics/obesity/en/ ou https://www.who.int/topics/obesity/fr/
O sobrepeso e a obesidade são definidos como um acúmulo anormal ou excessivo de gordura corporal que representa um risco à saúde. O Índice de Massa Corporal (IMC) é uma forma simples de medir a obesidade na população: corresponde ao peso de uma pessoa (em quilogramas) dividido pelo quadrado de sua altura (em metros). Uma pessoa com um IMC de 30 ou mais é geralmente considerada obesa.
9 Seus nomes foram incluídos, supondo que os leitores não os identificariam facilmente nesta representação incomum.
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Référence électronique
Hervé Théry et Patrick Caron, « Circulação, consumo mundial de carne e obesidade: coincidências ou co-incidências? », Confins [En ligne], Traductions, mis en ligne le 27 mars 2023, consulté le 10 décembre 2024. URL : http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/50749 ; DOI : https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/confins.50749
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