1A sociabilidade urbana pressupõe um conjunto de práticas que permite que indivíduos possam estabelecer relações de proximidade social, contatos e interações diversas (Simmel, 1986 e Simmel 1983), porém, com o advento da reestruturação urbana e dos novos arranjos espaciais, há uma série de novas questões e uma significativa mudança locacional na sociabilidade urbana contemporânea.
2 Por meio da divisão territorial do trabalho, a cidade é estruturada tendo algumas áreas mais propícias à realização da sociabilidade - pela forma e/ou pela função, sendo as “áreas centrais” os ápices para tal advento. Henri Lefebvre (1999) afirmou que não existe cidade nem qualquer realidade urbana que não tenha um centro, logo, este se faz fundamental para a existência do fato urbano e da cidade. O centro urbano possui o importante papel dentro da divisão territorial do trabalho da gestão e da difusão de bens e serviços, entre outros. Ele permite que se tenha a conformação da totalidade do espaço urbano, articulando, ainda que contraditoriamente, áreas urbanas com diferentes funções, localizações e padrões socioespaciais.
3 O centro urbano, tradicionalmente, foi e continua sendo, um espaço de encontros e, portanto, da sociabilidade, ainda que marcado pelas diferenças enquanto lócus de poder – da gestão territorial. E, também, o lugar de ver e ser visto, do contato e da exposição, das trocas econômicas, sociais, políticas e culturais - a realização da esfera pública (Sennet, 2016 [1974], Low, 2003, Low e Smith, 2006, Serpa, 2016 e Gomes, 2001), um ponto de convergência e de dispersão, da centralidade, em suas múltiplas possibilidades, temporalidades e escalas (Sposito, 1991).
4 A urbanização contemporânea tem sido produzida sob o novo paradigma da policentralidade, conforme debatido epistemologicamente por Clark (2002), com base em ampla pesquisa e análise da literatura produzida. Neste sentido, depreende-se uma nova lógica de produção e reprodução dos espaços urbanos. O autor, aponta uma mudança na divisão territorial do trabalho e dos fluxos urbanos de maneira completa, o que conduz a uma redefinição das diferentes expressões de centralidades, logo, uma reorientação da concentração e dos lugares da realização da sociabilidade urbana.
5 O espaço urbano é, pois, contraditoriamente produzido (Côrrea,1977 e Gottdiener, 1993), com disputas e conflitos pautados por classes e camadas sociais, cada qual com suas respectivas estratégias espaciais e capacidades de fazer valer sua influência na produção do espaço – do poder de decisão. Assim, agentes imobiliários, proprietários fundiários, agentes capitalistas empreendedores, movimentos sociais, organizações políticas e não governamentais, sempre permeados pelas normativas e demais ações do Estado e seus órgãos de governo, concorrem para fazer valer seus interesses, de acordo com suas forças políticas e econômicas, e buscam decidir a conformação do espaço urbano. Assim, a cidade é resultante de conflitos constantes para produção e apropriação, demarcando uma fragmentação mais efetiva de seu espaço.
6 Então, a cidade policêntrica termina por permitir reorientação lugares dos conflitos, pois há uma multiplicação das áreas de interesses comuns, ou seja, a velha divisão da cidade entre “centro e periferia”, onde a periferia – na perspectiva sociológica e geométrica – era produzia mais afastada do interesse direto de grandes capitais, avançou para a cidade policêntrica, onde cada espaço – central ou periférico – passou a ser alvo de disputas e interesses, seja para o uso ou para o mercado. Com isso, espaços historicamente periféricos, passaram a receber ações de grandes capitais e houve um significativo crescimento e difusão dos conflitos no tecido urbano.
7 Neste cenário, a difusão de shopping centers passou a constituir como um novo paradigma da produção do espaço urbano (Silva, 2020 e Silva, 2017) por ter uma dinâmica de atuar em áreas geometricamente periféricas (Silva, 2020) e reorientar os fluxos para consumo de bens e serviços, numa redefinição das centralidades.
8 Assim, pretende-se com este artigo, debater este conjunto de questões sobre as novas contradições na produção, reprodução e apropriação do espaço urbano, por meio de shopping centers, que expressam centralidades de grande escala e permitem novos conflitos entre os agentes produtores do espaço que influenciam alterações na realização da sociabilidade urbana contemporânea.
- 1 Pesquisa desenvolvida em nível de iniciação científica (PIBIC/CNPq), como parte das atividades da p (...)
9Para tanto, utilizar-se-á, o caso do empreendimento denominado Independência Shopping, na cidade de Juiz de Fora (MG) - vizinho de um bairro com precariedade socioeconômica e com ação de um movimento social organizado. Tomou-se por base pesquisa empreendida nos anos de 2017, 2018 e 2019, valendo-se de fontes secundárias (IBGE, Prefeitura Municipal de Juiz de Fora, Associação Nacional de Shopping Centers, entre outras), ampla pesquisa bibliográfica e normativa/legislação, mapeamentos, observações gerais e entrevistas com diversos atores envolvidos, divididos nas seguintes categorias: um membro do movimento social (coordenação e ativismo), 10 frequentadores do shopping center, um membro da administração do shopping center e outras conversas informais com pessoas que acompanharam os processos estudados. As entrevistas foram realizadas in loco ou por meio de ferramentas de vídeo conferência. E, ainda, houve análise em redes sociais, em especial no Facebook, sobre a incorporação do shopping center na sociabilidade urbana. Com isso, o artigo está organizado em três itens: 1. O Independência Shopping e a redefinição das centralidades urbanas de Juiz de Fora; 2. Shopping centers e movimentos sociais, conflitos da cidade policêntrica; 3. Sociabilidade urbana e contradições socioespaciais1.
10Juiz de Fora é uma cidade média localizada na Zona da Mata mineira, no entroncamento entre a BR 040 e a BR 267 e rodovias estaduais que permitem acesso às principais metrópoles da região Sudeste: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Ao longo da história, a cidade de Juiz de Fora passou por processos de reestruturação espacial que permitiram sua consolidação como importante centro econômico e financeiro regional. De área de passagem para o escoamento do ouro nos séculos XVIII e XIX (Ferreti, 2012) à importante centro industrial e logístico no século XX (Amaral, 2011), a cidade passou por um processo de ostracismo econômico e financeiro a partir da década de 1960, a medida que a capital Belo Horizonte ganhava dinamismo e centralidade.
11Assim, desde os anos de 1960, a cidade se destacou com a atuação crescente de grandes projetos urbanos desenvolvidos por promotores imobiliários locais ou oriundos de metrópoles próximas, que começaram a investir na instalação de universidades, condomínios fechados, hospitais, centros comerciais e de negócio e, em especial, de shopping centers, desenvolvendo um agudo processo de reestruturação urbana recente, tal qual estudados por Soja (1993), Scott e Soja (1996) e Sposito (2007).
- 2 A rede brMalls foi fundada em 2006, com sede no Rio de Janeiro. A companhia administra empreendimen (...)
12A partir da década de 2000, a escala da reestruturação urbana ganhou contornos mais complexos. Atores econômicos, com destaque aos promotores imobiliários de escala nacional e internacional, começaram a atuar de maneira mais intensa em alguns setores da cidade, como é o caso da rede brMalls2, a maior empresa administradora de shopping centers da América do Sul, que no ano de 2008 iniciou a construção do que viria a se tornar o maior shopping center do estado de Minas Gerais (Abrasce, 2016) – o Independência Shopping. Este reforçou a tendência geral do setor, que a partir da década de 1990, iniciou um processo de interiorização desses empreendimentos pelo país (Abrasce, 2016 e Silva, 2017) com a instalação de shopping centers em cidades médias e pequenas, como evidencia o Mapa 1, que mostra a espacialização de empreendimentos administrados pela rede brMalls em cidades médias brasileiras, sobretudo nas regiões Sudeste e Sul do país, reforçando a já histórica concentração desses empreendimentos nessas regiões brasileiras.
Mapa 1. Shopping centers da rede BRMalls
Elaboração própria
13O Independência Shopping foi inaugurado em 2008, localizado no bairro de classe média Cascatinha, o empreendimento foi construído pela empresa Argo Construtora, subsidiária da brMalls, com larga atuação em cidades médias. O empreendimento conta com uma Área Bruta Locável (ABL) de 85.000 m², em 165 lojas (sendo quatro lojas âncoras), cinco salas de cinema e 1.300 vagas de estacionamento, distribuídos em três pisos. O empreendimento possui também academia de ginástica, área de exposição para estandes e museus itinerantes, agências bancárias e serviços públicos, como uma agência dos Correios e do Detran-MG.
14Segundo estimativas feitas por executivos ligados à administração do shopping center (Abrasce, 2019), o empreendimento atrai cerca de 2 milhões de pessoas por ano, oriundas do entorno regional e até mesmo das metrópoles mais próximas, como Rio de Janeiro e Belo Horizonte, por relações próximas comerciais e de serviços. Em tamanho, é considerado o maior shopping center do estado de Minas Gerais, portanto, o maior da cidade, que conta ainda com outros dois shopping centers: o Santa Cruz Shopping Center e o Shopping Jardim Norte (Mapa 3). A localização do empreendimento é alvo de controvérsias, pois parte dele está localizada no bairro Cascatinha e parte considerável, no bairro São Mateus: o primeiro considerado um bairro de elite e o segundo de classe média, ao mesmo tempo em que se encontra próximo a um bairro de classe social de menor poder aquisitivo, com predominância de autoconstruções, de trabalhadores braçais e com grande porcentagem de população negra, o Dom Bosco.
15A localização do empreendimento na Região de Planejamento 09 reforçou essa área como vetor de expansão urbana de Juiz de Fora. Desde a década de 1990, os bairros Cascatinha e São Mateus, sobretudo o eixo viário da chamada Avenida Independência (atual Itamar Franco), vem sendo alvo de vultosos investimentos imobiliários, criando um grande eixo de estrutura comercial que se estende do bairro Cidade Alta ao Cascatinha.
16A construção do shopping center nessa área da cidade consolidou uma série de outros empreendimentos feitos anteriormente pelo poder público, por capitais, inclusive internacionais e grandes incorporadores imobiliários, como o Hospital Maternidade Santa Terezinha, uma rede de supermercados voltados para a classe A e B, chamada Empórios Bahamas, a Universidade Federal de Juiz de Fora e o Cascatinha Country Club, com apoio do Poder Municipal, como se verifica no Mapa 2. Chama-se de mapa de influência por ser a área que sofreu influência direta da implantação do empreendimento, tanto de construções civis quanto de fluxos urbanos.
Mapa 2. Area de influência do Independência Shopping
Elaboração própria
17O Independência Shopping está localizado distante do Centro Principal de Juiz de Fora, destoando da tendência de localização espacial dos outros dois shopping centers da cidade que se concentram na área central. Ademais a área central da cidade de Juiz de Fora é uma área que, mesmo em meio a formação de novas áreas centrais, se mantém vigoroso e densamente ocupado. A concentração de galerias, lojas de rua e até mesmo shopping centers demonstra uma tendência do Executivo Municipal que desde a década de 1960 valoriza a ocupação residencial e comercial do Centro, muito em razão da topografia limitada da cidade, marcada por áreas de encostas íngremes e por uma política de controle da urbanização (Amaral, 2011).
18Porém, a partir da década de 1990, uma mudança de postura do Executivo Municipal, aliada a entrada de novos capitais e um discurso de “planejamento estratégico” (Ferreti, 2012 e Arantes, 2002) privilegiaram uma (re) produção do espaço em direção às áreas periféricas e a consequente formação de novas áreas centrais orientadas pelas tendências do chamado empresariamento urbano (Harvey,1989). Ilustrando esse fenômeno, tem-se a gestão do prefeito Alberto Benjani (Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB), que teve dois mandatos como prefeito de Juiz de Fora, entre 1989 e 1992 e 2006 a 2008, quando renunciou por denúncias de envolvimento em esquemas de corrupção. A gestão deste prefeito ajudou a fortalecer o discurso de insegurança na área central de Juiz de Fora (Amaral, 2011) e promoveu a mudança dos centros comerciais, econômicos e residenciais para os bairros da Cidade Alta e Cascatinha a partir da realização de Operações Urbanas e mudanças legislativas no Plano Diretor do município. Desse modo, o discurso do Poder Público, a atuação de grandes agentes econômicos e mudanças na legislação urbanística de uso e ocupação do solo urbano conferiu a formação de novas áreas centrais. O Mapa 3 ilustra a localização dos quatro shopping centers da cidade: o Shopping Jardim Norte; o Santa Cruz Shopping Center e o Mister Shopping, ambos na área central, do Shopping Alameda (que constituiu na prática, uma galeria), em Passos e do Independência Shopping, no bairro Cascatinha, indicando evidentemente a constituição de uma nova centralidade.
Mapa 3. Situação geográfica de Juíz de Fora (MG) e a localização dos shopping centers – 2019.
Elaboração Patrick Santiago
19Neste sentido, os shopping centers passaram a figurar como elementos decisivos na reestruturação espacial, demarcando a redefinição das centralidades e dos vetores de expansão e de valorização da terra urbana. Tal processo segue, portanto, a mudança paradigmática analisada por Clark (2001), discutindo a transição da cidade monocêntrica à cidade policêntrica e por Silva (2017), com o subsequente debate sobre o papel dos shopping centers neste processo, constituindo uma mudança significativa da forma espacial das cidades e dos espaços de convívio e centralidade.
20 Conforme debatido por Soja (1993), Scott e Soja (1996) e Sposito (2007), a reestruturação urbana refere-se a um processo espacial de mudança nos parâmetros que estruturam os espaços, implementando alterações nos fluxos, nas formas e na essência da produção espacial. Os shopping centers, que são equipamentos urbanos criados nos Estados Unidos no início da fase de forte urbanização sob o regime de acumulação fordista, em especial, como suporte comercial e de serviços à produção dos subúrbios afastados dos centros urbanos, passou a ser difundido de maneira importante no Brasil, com destaque ao período posterior aos anos de 1990 (Hoyt, 1959, Pintaudi, 1989; Berry, 2012 e Silva, 2017). Nos últimos 20 anos, conforme analisou Silva (2017), houve um avanço significativo destes empreendimentos para as cidades médias, o que alterou, inclusive, os fluxos extra-regionais, pois estes terminam por permitir maior difusão de redes e franquias, até então presentes unicamente nas metrópoles (Cruz, 2019).
- 3 Para aprofundamento conceitual sobre Centro e Centralidade urbana, sugere-se a leitura de Barton (1 (...)
21 Silva (2017) elenca como fatores importantes da incorporação e das transformações produzidas por meio dos shopping centers: - ampliação dramática do preço da terra nos arredores; - ampliação da complexidade da divisão territorial do trabalho, com maior “competição” para localização da estrutura comercial e de serviços; - alteração nos fluxos da mobilidade espacial urbana; - a constituição de importantes formas simbólicas e formação de espaços para a realização da esfera pública, em especial, o lazer, encontros etc. Por atraírem outros investimentos, terminam por consolidar, mesmo que com relativa proximidade do Centro Principal3 , como no caso de Juiz de Fora, o chamado por Hartshorn e Muller (1989), Suburban Downtown, uma área que passa a competir por investimentos, por meio de seus agentes empreendedores e proprietários fundiários.
22 Com isso, cidades como Juiz de Fora, passaram a apresentar uma complexidade em suas estruturas urbanas que permitem maiores facilidades para a reprodução capitalista e ampliam as desigualdades socioespaciais por reservarem áreas especificas para privilegiarem aos grandes empreendimentos, ao passo que deixam outras áreas, de padrão socioespacial de menor poder aquisitivo, com baixos investimentos de um modo geral. Porém, está complexidade torna algumas áreas enclaves que destoam dos arredores e dos investimentos, passiveis de conflitos para a garantia de suas viabilidades (Caldeira, 2000).
23Nesta esteira, a instalação do Independência Shopping na Avenida Itamar Franco, gerou uma série de mudanças na estrutura urbana do entorno imediato que impactou significativamente todo tecido urbano. Como consequência dessas mudanças, conflitos começaram a surgir, envolvendo movimentos sociais, ativismos de bairro, comunidade acadêmica, Executivo Municipal e empreendedores imobiliários, entre eles, a rede brMalls, assunto que será tratado no tópico a seguir.
24Como relatado anteriormente, o Independência Shopping é um equipamento urbano que promoveu alterações significativas na estrutura da cidade e nas relações entre diferentes atores sociais. Para a instalação do empreendimento, a Prefeitura de Juiz de Fora, sob o comando do prefeito Alberto Benjani (PSDB), realizou a Operação Urbana Independência Shopping, no ano de 2007. Essa operação buscava não apenas garantir a instalação do empreendimento, mas também, realizar inúmeras alterações viárias e urbanísticas em um eixo que compreendia a Avenida Independência (rebatizada de Avenida Itamar Franco em 2011), parte do bairro Cascatinha e a Avenida Deusdetih Salgado, áreas imediatamente próximas ao empreendimento.
25Em janeiro de 2007 teve início a Operação Urbana Independência Shopping, instituída pela lei municipal nº 11.404, que em um dos seus artigos principais autorizava a construção do empreendimento imobiliário e comercial Independência Shopping:
Artº 1: em conformidade com o disposto no artigo 44, inciso II, do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora (PDDU) no artigo 182 da Constituição Federal e nos arts 28 a 34 da lei Federal nº 10.257, de 12 de fevereiro de 2001 (Estatuto da Cidade) fica aprovada a Operação Urbana Independência Shopping compreendendo um conjunto de intervenções a serem executados por um empreendedor privado, visando a construção de um shopping center de propriedade da empresa BRMALLs, localizado na Avenida Independência, no bairro Cascatinha com parâmetros urbanísticos diferenciados”. (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2008).
26Como evidenciado no trecho da lei 11.404, extraído da legislação que autorizou a Operação Urbana, junto à construção do empreendimento, uma série de mudanças e alterações viárias e urbanísticas seriam implementadas, visando a facilitação do acesso ao empreendimento e uma valorização da terra, por meio dos investimentos em infraestrutura urbana. Entre os principais alvos dessa mudança, encontram-se as vias de acesso, como ilustrado nesses trechos que seguem:
“II- [...] serviços de urbanização da via de ligação entre o trevo do loteamento Estrela Sul e a Avenida Independência, na altura da “Curva do Lacet”, compreendendo terraplanagem nos greides determinados em projetos de drenagem, inclusive em redes fluviais de água e esgoto, colocação de postes em concreto, rede elétrica e iluminação pública” (Prefeitura de Juiz de Fora, 2008 grifo do autor)
“III [...] execução de todas as alterações necessárias no trevo de acesso ao loteamento Estrela Sul e no trevo existente entre as avenidas Independência e Dr. Paulo Japiassu Coelho compreendendo ainda a colocação de sinalização vertical e horizontal da via e de seu entorno”. (Prefeitura de Juiz de Fora, 2008).
27As “alterações necessárias” discutidas no último trecho se referem a um projeto que duplicava a mão na Avenida Itamar Franco e previa a construção de uma passarela que interligaria a referida avenida às outras duas vias principais da cidade: a Avenida Doutor Paulo Japiassu Coelho e a Avenida Deusdetih Salgado; tudo isso sob a alegação de que resultaria numa maior fluidez no trânsito e permitiria “conectar moradores de bairros nobres de Juiz de Fora ao novo empreendimento” (Tribuna de Juiz de Fora, 2008). Porém, os órgãos municipais técnicos responsáveis pelo Transporte e Obras Públicas, emitiram pareceres contrários a essa intervenção, alegando futura saturação da via e aumento de acidentes de trânsito naquela área. Mesmo diante do alerta, esse trecho da Operação Urbana foi aprovado, ignorando o parecer negativo da Secretaria de Transportes e da Secretaria de Obras Públicas e, com isso, infringindo um dos códigos presentes na Lei Orgânica Municipal (1989), que determina que toda e qualquer modificação viária ou urbana deve ser aceita de forma unanime por todas as secretarias ligadas ao Executivo Municipal (Lei Orgânica Municipal, 1989).
28Depreende-se, assim, uma importante característica das cidades médias para atração de capitais externos, que é a subserviência em nome do discurso do “progresso e da geração de empregos”. A força econômica dos grandes grupos de shopping centers, em especial da brMalls, a maior rede brasileira, reverte-se em poder político para fazer valer seus interesses na conformação da produção da cidade de acordo com seus interesses e estratégias espaciais. Nas metrópoles, por terem de competir com outros grandes grupos e interesses, não encontram as mesmas facilidades para alteração de leis e normativas urbanas (Silva, 2017). Comparativamente, estes efeitos ou impactos seriam diferentes se localizados em áreas urbanas metropolitanas, pois haveria maior capacidade de ação do poder público frente aos grandes capitais.
29A construção do Independência Shopping trouxe conflitos de ordem social muito marcantes para o entorno imediato. Vizinho ao empreendimento está o Bairro Dom Bosco, que integra a Região de Planejamento 81, junto com os bairros Cascatinha e São Mateus. A história do bairro Dom Bosco (foto 1), está ligada a população de origem quilombola e rural, que após a abolição da escravatura em 1888, auxiliados pela Igreja Católica e obras de caridade correlatas, ocuparam áreas de uma antiga fazenda abandonada, fundando ali o que seria o futuro bairro (Ferreti, 2011). Segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento de Juiz de Fora (2016), 75% dos moradores do bairro se autodeclaram como negros, a esmagadora maioria trabalha no ramo da construção civil ou como operários em fábricas e grande parte das moradias é de autoconstrução, multifamiliar e seus moradores possuem renda máxima de até dois salários-mínimos (Ferreti, 2011). As condições do bairro destoam dos outros dois bairros vizinhos: São Mateus e Cascatinha, ambos considerados bairros de classe média e alta, marcada por uma forte verticalização e a presença de apartamentos de alto padrão e um forte setor de serviços.
30A construção de um shopping center voltado para as classes A e B nessa área, rapidamente evidenciou a discussão sobre o acesso e uso da cidade historicamente negado aos moradores do bairro Dom Bosco. O embate se tornou mais evidente quando uma área, usualmente ocupada por moradores deste bairro, conhecida como Curva do Lacet, foi utilizada pelos administradores do Independência Shopping como continuidade do empreendimento. Ao longo dos últimos anos, a Curva do Lacet foi a principal área de socialização dos moradores do bairro Dom Bosco, com atividades que incluíam jogos de futebol, piqueniques, cultos religiosos e festas. Com a instalação do empreendimento, essa área passou a ser utilizada como um gramado de acesso ao Independência Shopping e embora não explicitamente, teve seu uso parcialmente interditado aos moradores do Dom Bosco (Foto 2).
Foto 2. Curva do Lacet transformada em gramado para acesso ao Independência Shopping.
Acessado em: 25/08/2020. Disponível em: https://tribunademinas.com.br/noticias/politica/20-02-2014/curva-do-lacet-pode-receber-verba-federal.html
31Atento às violações no direito à cidade dos moradores do Dom Bosco, estudantes do curso de Arquitetura da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) se mobilizaram e criaram, em conjunto com moradores do bairro, um movimento ativista de bairro conhecido como “MAIS JF”, movimento social espontâneo. Este, por meio de reuniões e conselhos deliberativos, pressiona o Poder Público e os administradores do shopping center para reverter a decisão de apropriação da Curva do Lacet.
32 Em audiência pública realizada pela Prefeitura municipal, moradores do bairro e administradores do Independência Shopping, ficou decidido que uma nova área de lazer - um campo de futebol com grama sintética – seria construída numa área distante do bairro Dom Bosco. Tal medida suscitou revolta entre os moradores e o movimento MAIS JF, que decidiram realizar atividades de apropriação e uso da Curva do Lacet por meio de saraus, eventos infantis, rodas de conversa, reuniões e eventos esportivos objetivando recuperar o controle simbólico desse espaço, como mostra a Foto 3:
Foto 3. Ato realizado pelo movimento MAISJF contra o uso da Curva do Lacet pelo Independência Shopping
Autor: Luís Marcelo (09/04/2018)
33A atuação do movimento ativista MAISJF em Juiz de Fora demonstra uma nova força dos chamados ativismos de bairro (Souza, 1989) nas cidades médias brasileiras. Essas formas de movimento social são mais localizadas, geralmente surgem a partir de pautas e objetivos específicos e não tem pretensões universalizantes ou de mudanças em larga escala (Souza, 1989). Nesse sentido, o movimento MAISJF é considerado diferenciado em relação aos demais ativismos desse tipo: ao defender uma pauta específica que é a luta contra a apropriação de um espaço de uso historicamente coletivo por agentes privados, defendem a ligação dessa pauta local a uma discussão sobre a luta pelo direito a cidade e a justiça espacial. Ademais, o fato de ser um movimento ativista de cidade média coloca a questão de que as recentes e profundas mudanças de ocupação, uso e produção desse tipo de cidade e a introdução de atores com níveis escalares cada vez mais complexos.
34O shopping center é um espaço privado de uso coletivo, portanto, pressupõe-se que o acesso a esse espaço é permitido por força de lei para todo e qualquer indivíduo, aparentemente, sem nenhuma limitação de classe social, cor, idade, etnia ou orientação sexual. Porém, implicitamente, esses empreendimentos reforçam códigos, signos e ideias que limitam o acesso e a permanência de determinados grupos sociais, sobretudo os historicamente marginalizados a esses espaços, como afirmou Padilha (1992).
35Erigidos como verdadeiros “templos de mercadoria e consumo” (Pintaudi, 1992), uma das razões fundantes para a existência desses empreendimentos nas cidades capitalistas é a maximização do lucro e a reprodução ampliada do capital através do consumo. Nos últimos anos, diversos shopping centers passaram por adaptações para atingir um público consumidor maior: a introdução de atividades de lazer e serviços adotaram esses locais como alternativa de lazer e sociabilidade em momentos de ócio frente a uma cidade “insegura” e com seus espaços públicos relegados a indivíduos tidos como socialmente indesejáveis.
36O Independência Shopping é um empreendimento voltado para as classes A e B (Abrasce, 2019), tendo toda sua estrutura de lojas e atividades pensadas para atingir esse público alvo. Porém, por ser o maior shopping center de Juiz de Fora, acaba se tornando destino de parcela considerável dos moradores da cidade e do entorno regional, o que acaba suscitando uma série de conflitos sociais. Nos últimos anos, um fenômeno interessante vem sendo observado: grande parte dos frequentadores notou uma mudança no padrão de lojas do empreendimento, com um forte apelo por lojas de grandes cadeias internacionais e grifes estadunidenses e europeias, como aponta o Gráfico 1, a seguir:
Gráfico 1. Pesquisa sobre mudança no padrão de lojas em shoppings
Fonte: Pesquisa realizada por meio de formulário eletrônico com perguntas direcionadas aos frequentadores do shopping center, no ano de 2018 e 2019. O formulário foi postado na página do facebook do empreendimento e as respostas foram por adesão espontânea. Todos os que responderam às perguntas foram consultados para verificação de identidade, para checagem de perfil e contatos para esclarecimentos adicionais.
- 4 Seguiu-se orientação metodológicas das questões desenvolvidas por Baltar e Brunet (2012) para compr (...)
37Concomitante a inserção de lojas de grifes e grandes redes internacionais, o empreendimento iniciou um processo de expansão física, com um aumento de 20% de sua ABL original (BrMalls, 2015) e uma série de mudanças arquitetônicas interna e externamente. A partir dessas modificações de perfil e de estrutura, é possível correlacionar com um possível aumento de conflitos de cunho social no interior do empreendimento. A partir da análise dos dados, comentários e reações da página do Independência Shopping, na rede social Facebook4, pode-se constatar que diante da introdução de tais mudanças, relatos de racismo e perseguição de segurança ou indiferença de lojistas a pessoas negras ou consideradas “não adequadas”, aumentou consideravelmente, como apontam os relatos a seguir:
“Os funcionários das lojas te tratam bem ou mal, não pelo que você é, mas de acordo com a roupa que você veste.”
(Mulher negra frequentadora do shopping center relatando caso de racismo por parte dos funcionários em página no Facebook, postado em:02/06/2014))
“Só não gostei porque na hora que paramos no estacionamento veio (SIC) duas crianças pedindo dinheiro. Achei um absurdo porque o estacionamento é caro e no momento não vi nenhum segurança.”
(Homem branco frequentador do shopping center relatando incômodo com a presença de crianças em situação de rua em um dos pisos estacionamentos, postado em: 23/07/2017)
38Tal questão remete o debate à questão da sociabilidade e da realização da esfera pública de relações. Sendo o shopping center um espaço de propriedade privada e de acesso coletivo, com um conjunto de signos que atrai grande número de frequentadores interessados no consumo de bens e serviços e, também portanto, na sociabilidade, nos termos já apresentados por Simmel (1983). Dávila (2016) analisa a relação entre classes sociais e a convivência/conflitos nos shopping centers na América Latina. A autora aponta a relação de que os conflitos existentes na sociedade de um modo geral terminam por serem realizados também dentro dos shopping centers, com casos de racismo, homofobia, discriminações sociais em geral etc, inclusive, tornando-se locais de protestos e reivindicações.
39Desta maneira, percebe-se que os conflitos sociais nos shopping centers acabam por serem amplificados por conta do espaço delimitado de pequenas dimensões, quando comparado ao conjunto da cidade. Conforme já debatido por Corrêa (1995), a cidade é simultaneamente fragmentada e articulada, socialmente produzida e apropriada de maneira seletiva e excludente (Silva, 2006). O processo de segregação espacial, conforme debatido por Harvey (1980) permite que se assentem as diferenciações sociais na cidade, demarcando profundamente as áreas de moradia e de frequentação das diferentes camadas/classes sociais. Neste sentido, na maneira como a cidade capitalista é produzida tem-se uma praticamente “naturalização” das diferenças por estas estarem consolidadas pelo processo de segregação residencial e na respectiva diferenciação por padrões espaciais entre as áreas do espaço urbano.
40Como destacado por Dávila (2016), países latino-americanos, como o Brasil, possuem uma contradição social bastante forte, como índices de riqueza e pobreza bastante acentuados, porém, há uma frequentação significativa destes segmentos sociais nos shopping centers. Neste sentido, estes empreendimentos, terminam por realizar às vezes da esfera pública de relações sociais, porém, com diferenças significativas.
41Silva (2017 b) afirmou que nos anos de 1960, 1970 e 1980 os shopping centers chegaram ao Brasil e diferentemente da origem dos Estados Unidos, por aqui assumiu o sinônimo de status social, marcados pela diferenciação social, localizado em áreas de maior poder aquisitivo, como nos Jardins, em São Paulo, ou na Zona Sul do Rio de Janeiro, sendo, portanto, progressivamente adotados pelas elites como seus lugares de consumo. Tal fato ocorre em paralelo ao processo de urbanização acelerado e de ampliação dos conflitos sociais urbanos, com crescimento dos índices de violência e criminalidade. Com isso, os shopping centers passaram a transmitir a sensação de segurança e controle, diferente das áreas centrais tradicionais, que se tornaram, no imaginário social das elites, áreas abarrotadas de pessoas, com a presença de mendicância, violência etc.
42Porém, após os anos de 1990, houve uma crescente popularização dos shopping centers, logo, os espaços que eram de frequência praticamente exclusiva das elites ou das chamadas classes médias de elevado poder aquisitivo, passou a ser disputado também pelas camadas mais populares, iniciando uma nova face dos conflitos sociais urbanos. Buscando “confortar” as camadas mais abastadas, nas metrópoles foram produzidos shopping centers predominantemente destinados ao consumo de bens e serviços de elevados preços, portanto, bastante seletivos, como os empreendimentos Espaço JK, em São Paulo e Village Mall, no Rio de Janeiro. Mas, a maioria dos empreendimentos continuou com o princípio da abrangência do consumo, mesclando o consumo popular e elitizado nos mesmos empreendimentos.
43No entanto, diferentemente das áreas centrais tradicionais e espaços públicos em geral, em que se têm a esfera pública de relações realizada em áreas de propriedade pública, onde há um conjunto de regras escritas (leis e demais normativas) e não escritas, códigos e hábitos socialmente e historicamente elaborados (Gomes, 2001), que possibilitam a convivência e a sociabilidade, nos shopping centers, embora também submetidos ao imperativo das mesmas leis e normativas urbanas, por se tratarem de empreendimentos privados e com os controles realizados por sistema próprio de vigilância e segurança, o cumprimento das regras se faz segundo seus próprios arbítrios, impondo e utilizando como preferirem o uso das práticas de dissuasão, de constrangimento ou do uso da força. Desta maneira, aqueles que pretendem frequentar estes espaços precisam se submeter ao conjunto de práticas e ações impostas, inclusive, se submeterem à diferenciação de tratamento entre os frequentadores.
44Silva (2020) debate a popularização e difusão dos shopping centers na metrópole do Rio de Janeiro e aponta a frequência crescente da população mais pobre nestes empreendimentos, fato que tem, portanto, alterado profundamente a centralidade urbana e as diferentes maneiras de realização da sociabilidade urbana. O caso em tela possui, entretanto, alguns elementos diferenciais, que é a presença de uma área de moradia popular, originária de população quilombola, em que seus moradores exerceram, em conjunto com a Mais JF, reivindicações e pressões sobre o empreendimento e que, apesar de tudo, frequentam o shopping center, sendo um elemento que se soma ao conjunto de contradições espaciais urbanas.
45As contradições sociais geradas a partir do Independência Shopping não se limitam apenas a não permanência e a restrição de acesso de certos grupos sociais ao shopping center, mas também, a própria estrutura arquitetônica do empreendimento que evoca as contradições espaciais urbanas que marginalizam o bairro Dom Bosco.
46A estrutura arquitetônica externa do empreendimento também corrobora para discursos implícitos de limitação de acesso a esse espaço. Consta no site oficial do Independência Shopping um fragmento em menção a estrutura arquitetônica do shopping center:
O Independência Shopping é o primeiro grande shopping de Juiz de Fora. Está estrategicamente localizado em um das principais vias da cidade. Sua arquitetura moderna segue as últimas tendências internacionais: um shopping em curva, com vitrines avançadas que facilitam a visibilidade das lojas, corredores amplos e iluminação natural. Juntam-se a estes diferenciais as varandas externas que permitem uma linda vista panorâmica da cidade. Com mix sofisticado de marcas locais e nacionais, o shopping possui 165 lojas e forte ancoragem, 3 pisos de estacionamento e um completo corredor de serviços, sem contar com cinco salas de cinema multiplex e a operação de lazer Adventure Land. Com a chegada do shopping, Juiz de Fora se consolida como cidade polo da região e capital da Zona da Mata, atraindo cerca de 2 milhões de pessoas do entorno, além de visitantes do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. (INDEPENDÊNCIA SHOPPING, 2019, grifo nosso)
47A Foto 4 mostra detalhes da arquitetura do empreendimento:
48O formato arrojado do shopping center, em curva, permitiu a instalação de uma área que permite uma vista para a “cidade” como apregoado pelo Independência Shopping. Interessante notar que a “cidade” que é contemplada a partir dessa vista refere-se aos bairros de classe média e alta Cascatinha e São Mateus, vizinhos ao empreendimento, como evidenciado na imagem panorâmica da vista, na Foto 5:
Foto 5. Vista dos bairros de Cascatinha e São Mateus, de dentro do Independência Shopping
Fonte: Google Imagens. Acesso em: 18 de agosto de 2020. Disponível em: https://www.tripadvisor.com.br/LocationPhotoDirectLink-g887228-d3981982-i282859991-Independencia_Shopping-Juiz_de_Fora_State_of_Minas_Gerais.html
49Em contrapartida, a outra parte externa do empreendimento, fechada e sem visibilidade é voltada para o bairro popular Dom Bosco, como evidenciado na Foto 6:
Foto 6. Fachada externa do Independência Shopping voltado ao bairro Dom Bosco.
Fonte: Google Imagens. Acesso em 18 de agosto de 2020. Disponível em: http://nellspinola.blogspot.com/
50As informações reforçam que não somente os discursos implícitos, mas a própria forma espacial de um equipamento urbano ajuda a reforçar as contradições sociais urbanas existentes. Juiz de Fora e o Independência Shopping se tornam, assim, um interessante lócus de análise para entender os discursos e práticas de hostilidade a determinados grupos sociais presentes na forma como o espaço urbano é (re) produzido e as formas espaciais são criadas.
51Os fatos debatidos e analisados na cidade de Juiz de Fora, em especial nas ações e processos que envolvem o Independência Shopping, são constantes nos shopping centers em geral, no Brasil e no mundo, com destaque para países em que as contradições sociais são mais agudas, mas precisam ser compreendidos diante do contexto mais amplo das contradições sociais capitalistas e da mudança de comportamento no que diz à aceitação do convívio social e da crescente busca por signos de distinção social.
52Neste sentido, a cidade policêntrica apresenta questões novas ao debate sobre a produção e a apropriação dos seus espaços que precisam de um conjunto maior de pesquisas e reflexões para se compreender a alteração espacial das diferentes expressões da centralidade urbana, tendo o shopping center como um novo vetor de expansão e foco dos conflitos.
53Deste modo, o estudo da sociabilidade urbana, nos diferentes estratos sociais, precisa incluir os shopping centers como elemento importante para compreensão da urbanização contemporânea.