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Crónica de campo

Cadernos de campo: Saba – Relação entre a variabilidade hidrológica e a Segurança Alimentar na Bacia Amazonica: uma analise da fronteira Brasil-Peru

Carnets de terrain : Saba - Relation entre la variabilité hydrologique et la Sécurité Alimentaire dans le Bassin de l'Amazone : une analyse de la frontière Brésil-Pérou
Field notebooks: Saba - Relationship between hydrological variability and food security in the Amazon Basin: an analysis of the Brazil-Peru border
Tatiana Schor, Josyane Ronchail, Heitor Paulo Pinheiro, Thiago Guimarães Franco, Misael Pantoja Carneiro, Fernanda Cabral Cidade et Gabriela Colares Santana

Texte intégral

1Em plena pandemia, com saudades de fazer campo, encontro perdido no meio de meus arquivos um lindo relato de campo que produzi junto com a equipe de campo durante uma viagem de Iquitos no Peru a Tabatinga no Brasil.

2A viagem realizada em outubro de 2014 só nos trás boas recordações e um enorme aprendizado. Ter o hábito de escrever cadernos de campo é um dos grandes aprendizados na geografia. Descrever os locais, as pessoas, as comidas, as dificuldades e alegrias permite uma reflexão atemporal sobre o processo de conhecimento e leva ao mundo acadêmico um pouco do lirismo e da subjetividade inerente as ciências humanas.

Preambulo 1– o encontro em La Paz

3Trabalhávamos em projetos distintos, em países distantes, mas por razões diversas chegamos ao mesmo tema – qual o impacto da variabilidade hidrológica na produção rural na bacia Amazônica? E no caso dos eventos extremos – cheias e secas acima das médias históricas, longas ou curtas demais, chuva de menos ou demasiada? Quais as melhores variáveis para se juntar aspectos socioeconômicos da produção de alimentos com elementos hidrológico e climáticos?

4Na Quinta Reunião Científica do ORE-HYBAM "Hidroclima y Biogeoquímica de las águas de los Andes a la Amazonía", realizado em La Paz - Bolívia do 7 ao 11 de outubro de 2013, em um painel paralelo duas geografas se encontram. Uma apresentando uma discussão sobre os preços dos alimentos em Iquitos e sua comparação entre as cidades/calhas de rio: Puccalpa/Ucayali - Iquitos/Loreto - Tarapoto/San Martin, especificamente com relação aos possíveis impactos dos custos do transporte. A outra sobre a transformação dos hábitos alimentares e urbanização no Amazonas e suas relações com o sistema hidrológicos. Identificação mútua.

5Volta-se cada uma para seu país. Eis que surge um edital o IRD de ação emergente e propõem-se o SABA - Relação entre a variabilidade hidrológica e a Segurança Alimentar na Bacia Amazonica: uma análise da fronteira Brasil-Peru. Aprovado em conjunto com o Projeto “Cidades Amazônicas: dinâmicas espaciais, rede urbana local e regional” Pronex/FAPEAM-CNPq coordenado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades na Amazônia Brasileira – Nepecab, parte-se para a concepção e organização de um trabalho de campo entre Iquitos (Peru) e Tabatinga (Brasil).

Preambulo 2 - Dos trajetos não globalizados

6Organizar um campo na Amazônia é uma tarefa ingrata. A primeira ideia foi de alugar um barco e fazer os trechos no barco alugado, assim facilitaria a questão alimentar, hospedagem e transporte. De Manaus ou Paris a tarefa foi se tornando um pesadelo. Não existem informações disponíveis e confiáveis na rede de computadores, nem nas listas de telefone. O sistema de transporte entre as cidades e vilas no trajeto que nos interessava não está no mundo globalizado. Permanece no mundo do vivido, como diria Henri Lefebvre.

7Mandamos um emissário, Thiago Marinho, para a fronteira tentar descobrir um barco que pudesse nos levar de Tabatinga ou Santa Rosa ou Letícia para Iquitos. Impossível. Os barcos Brasileiros têm que ter uma autorização para adentrar o território peruano, e nenhum dos possíveis candidatos tinham. Os barcos disponíveis em Santa Rosa, peruanos, não passaram no crivo segurança/limpeza/confiança. Teríamos que mudar os planos.

8Jannise Chong, uma ex-aluna do mestrado do INPA, colega e peruana, havia retornado a Iquitos recentemente e colocamo-la na linha. “Jannise, Socorro!!”. Rapidamente Jannise nos mandou as diversas alternativas para se chegar de Tabatinga a Iquitos onde já havíamos decidido encontrar Josyane que chegaria de Paris por Lima, para resolver algumas questões relativa aos recursos no IRD/Lima. Poderia se ir em “Motor-Nave”, uma espécie de barco regional misturado com balsa, de ferro que levaria uns 4 dias para chegar em Iquitos, devido a distância no tempo de seca. Nos custaria, em rede 80 Nuevos Soles, sendo que o Sole estava 1-1 com o Real. Outra opção seria o Rápido Iquitos Santa Rosa, que levaria umas 10-12 horas, por 200 soles e por fim uma companhia aérea que sairia de Letícia e chegaria em Iquitos em duas horas por 240 soles, só as sextas.

Figura 1 Meios de transportes das cidades

Figura 1 Meios de transportes das cidades

Fotografias: Gabriela Colares, 2014.

9Decisão óbvia. Saímos de Manaus na quinta dia 4 de setembro e pegaríamos o voo em um Focker 55 da companhia Satena – AeroTransporte. Agora como comprar a passagem? Só na fronteira. Mais um pedido de SOS e desta vez quem nos atendeu foi Moisés Tavares-Pinto, mestrando que trabalha aspectos da comercialização da carne de caça na região. Prontamente Moisés comprou as passagens e tudo parecia em ordem.

10Porém ordem na Amazônia tem outras dimensões. Chegamos em Tabatinga, véspera de feriado e de jogo Brasil-Colômbia, dois momentos no qual a fronteira fecha. Feriado cívico, Avenida da Amizade fecha com desfiles de todas as escolas brasileiras e as convidadas colombianas. Com dificuldade saímos de Tabatinga e chegamos ao aeroporto em Letícia.

Figura 2 Tabatinga (AM)

Figura 2 Tabatinga (AM)

Fotografias: Gabriela Colares, 2014

Figura 3 Figura: Leticia (Colombia).

Figura 3 Figura: Leticia (Colombia).

Fotografias: Gabriela Colares, 2014.

11Malas revistadas e fila no balcão da companhia. Ao apresentarmos os documentos o atendente disse “Pero, não saíram do Brasil”! Como assim? Teríamos que voltar a Polícia Federal para sair do Brasil! Detalhe: a Polícia Federal fico no final da Avenida da Amizade!! Corre-corre e conseguimos. Saímos do Brasil, entramos e saímos da Colômbia e finalmente, em Iquitos entramos no Peru! Mundo de Carimbos!

Figura 4 O trajeto

Figura 4 O trajeto

Iquitos (05-11/09/14)

12Jannise nos espera. Passamos a conhecer a cidade. Interessante e barulhenta com seus milhares de peque-peques! O pai de Jannise, Sr. Gustavo, nos guia pelas ruas tortuosas do Bairro de Belén e do centro histórico. Nos levam conhecer os bairros mais distantes e saciam nossa sede de conhecimento.

13Cidade intrigante. Cheia de mistérios e lendas, com casarios do tempo da borracha e casebres que se perpetuam no espaço e tempo da cidade. Vários aspectos nos chamam a atenção: os frangos frescos, os ovos de tracajá, o comercio forte e que vai até altas horas da noite, o transporte e os alimentos que vem de diversas regiões do país.

Figura 5 Fachadas de Iquitos

Figura 5 Fachadas de Iquitos

Acervo Nepecab.

14Na Agência Agrária de Iquitos nos informamos que existem 3 grandes empresas de produção de frango de corte: a Don Pollo (multinacional) com 18 granjas/ aproximadamente 750 mil aves; Los Gran Hermanos Monasi (que um deles é candidato a governador e seu símbolo é um pintinho) com 6 granjas/aproximadamente 220mil aves e a Nitaia com 8 granjas e aproximadamente 130 mil aves. Todas estas três empresas tem granjas incubadoras. Na região tem 32 granjas no Departamento de Ucayali, 10 granjas na província de Requenas e 70 em Iquitos. Com isso Iquitos é autossuficiente em frango de corte, diferente do Amazonas-Brasil que importa do Paraná os frangos congelados. Porém Iquitos não é autossuficiente na produção de ovos e milho, a grande maioria vem de San Martín.

15A região de San Martín apareceu como importante local de produção e comercialização de alimentos para Iquitos e até Caballococha encontramos a produção e comercialização de San Martín.

16Em Iquitos há a comercialização de materiais recicláveis, que se dá através das sucatarias locais chamadas de chatarras. Estas chatarras são sucatarias de pequeno porte, que diferentemente das existentes na Amazônia Brasileira comercializam diversos materiais recicláveis (alumínio, plástico, papel, papelão) e agem como coletoras dos recicláveis e os mandam diariamente para seus galpões localizados nas áreas periféricas da cidade.

17Dois foram os galpões visitados, onde se identificou o processo de separação, prensagem e trituração dos recicláveis com os maquinários disponíveis. Esses processos de beneficiamento dos recicláveis são feitos por funcionários contratados que trabalham semanalmente de segunda a sábado ganhando entre 20 a 30 soles por dia, vale ressaltar que as condições de trabalho desses funcionários não são ideais e nem apropriadas, mas ainda assim não são piores que as dos catadores que trabalham e vivem no lixão de Iquitos, chamado de “botadero”, pois os resíduos sólidos urbanos são depositados sem a menor descriminação. São cerca de 100 famílias lá vivem e dependem das sucatarias de Iquitos para comercializar os recicláveis coletados. A cidade de Lima é o destino dos materiais recicláveis coletados de Iquitos, onde são enviados de 10 a 20 toneladas quinzenalmente.

Figura 6 Chatarras em Iquitos

Figura 6 Chatarras em Iquitos

Fotografias: Fernanda Cidade, 2014.

18A noite em Iquitos é animada. O comércio fica aberto até tarde. Os casinos funcionam 24hs e a sorveteria até a meia-noite! O calor ameniza e passear pela cidade é agradável e divertido.

O entorno: Nauta; Indiana e Mazan (11/09/14)

19O entorno de Iquitos é um emaranhado de rios produtivos. Visitamos três cidades: Nauta no rio Maranón, Indiana no rio Amazonas e Mazan no rio Napo.

Figura 7 Mosaico com a entrada das cidades

Figura 7 Mosaico com a entrada das cidades

1= Nauta; 2= Indiana; 3=Mazán.

Fotografias: Gabriela Colares, 2014.

20Para Nauta fomos de van pela “carretera”. Interessante relevo, colinas e morros, terra firme, firme com areais que pelo que nos relataram no passado eram dunas de areia branca mas que devido a extração desapareceram.

21É nesta estrada que até o 40Km encontramos muitas granjas. É a área de produção de frango. Também vimos de maneira esparsa outras plantações e pasto sem gado. Após este limite fica menos ocupada, mas mesmo assim com mata secundária e pastos.

22Nauta é uma cidade maior do que esperávamos na beira do rio Mara ñón. Lá fomos muito bem atendidos pelo Gerente da Agência Agrária Engenheiro Agrônomo Enrique Soria Lopes que nos contou diversas informações sobre a produção local e os mercados de produtos agrícolas. San Martín, via Pucalpa, Yurimaguas (48 horas de barco entre Nauta e Yurimaguás), aparece como importante fonte de produtos e insumos para a produção rural. A estrada, inaugurada em 2005 aparece como vetor de transformação, deslocando diversos moinhos de arroz para Iquitos e diminuindo a atividade produtiva em Nauta. Antes demorava de 8-10 horas de lancha para ir de Nauta a Iquitos e com a estrada apenas 1,5 hora.

23No mapa Indiana e Mazan ficavam uma paralela a outra, sendo que Indiana na margem esquerda do rio Amazonas e Mazan na margem direita do rio Napo. Então com esta perspectiva em mente decidimos sair cedo de Iquitos, desembarcar em Indiana pegar o tuc-tuc e irmos primeiro a Mazan e depois a Indiana. No rápido que pegamos logos vimos que a realidade não era bem a representada no mapa! Mazan tem um porto que dá na margem esquerda do rio Amazonas que é ligada por estrada e Indiana fica mais abaixo.

24Desembarcamos primeiro em Indiana. Surpreendente linda. A praça principal bem cuidada com seu jardim com as arvores cortadas em formato de diversos animais, peixes, galinhas, jacarés e até elefante! O mercado também estava limpo e havia um comércio miúdo na frente do mercado com peixes, ovos e galinhas. Em Indiana fomos atendidos pela Prefeita Janet Reategui Rivadeneyra, enérgica e interessada em possibilidades para os jovens do município. Quando indagamos sobre os efeitos da cheia de 2012 ela nos respondeu que trouxe grandes prejuízos mas também benefícios, pois como o município foi muito afetado pela cheia passou da categoria de “pobre” para o de “ extrema pobreza” o que beneficiou o município pois foram incluídos em várias ações e políticas públicas que trouxeram benefícios financeiros para a população. Comentário interessante, havíamos discutido entre nós as políticas e o uso político dos eventos extremos na Amazônia e a Prefeita mostrou uma forma.

25Indiana tinha 8 horas de luz elétrica e encontramos um vendedor de TV a cabo que com o tempo de sobra nos apresentou a cidade.

Figura 8 Figura 6: Indiana e a estrada a Mazan,

Figura 8 Figura 6: Indiana e a estrada a Mazan,

Fotografias: Gabriela Colares, 2014

Figura 9 Jardinagem em Indiana

Figura 9 Jardinagem em Indiana

Fotografias: Gabriela Colares, 2014

26O trajeto entre Indiana e Mazan é muito bonito. Todo gramado, parece um imenso jardim, e o rio Napo não deixa de ser impressionante. Em Mazan encontramos a estação meteorológica bem cuidada e funcionando. Conversamos sobre a merenda escolar e na Amazônia Peruana, diferente do estado do Amazonas no Brasil, ainda sofre com a comida enlatada que vem de fora - “crackers, frango enlatado”.

27Em Mazan fomos atendidos pelo jovem engenheiro agrônomo Paul Anderson Navas Chaves, que estava de saída para visitar uma comunidade e atrasou seus planos só para conversar conosco! Enorme honra! Nos explicou que em Mazan se produz “yuca, pollos, platanos e cerdos” em 73 comunidades chegando a quase 20 mil habitantes sendo que aproximadamente 6 mil na sede do município. Ele julga que a maior parte da produção vai a Iquitos e tem muita expectativa com relação a produção de cacau pois estão incentivando. Também nos informou que a maioria das pessoas são pescadoras e que a maior parte do pescado do rio Napo é levado diretamente a Iquitos. Quando perguntamos como foi a enchente de 2012 ele nos respondeu que afetou muito a economia e a saúde aumentando os casos de dengue, malária e diarreias. Também mencionou o aumento das políticas públicas para o município.

Figura 10 Comunidade de Mazan

Figura 10 Comunidade de Mazan

Fotografias: Gabriela Colares, 2014.

Pebas (12-14/09/14)

28Começamos o trajeto descendo o rio Amazonas com o rápido “Flipper”, com o qual combinamos um intrincado esquema de nos deixar e nos pegar dias depois nas cidades programadas para a visita. Rio baixo, praias enormes. Bonito.

29Pebas fica na margem esquerda do rio Ampiyacu, que deságua no rio Amazonas na margem esquerda. A cidade é bem próxima do rio Amazonas e de vários pontos podemos ver o encontro das duas aguas, os pôr-do-sol são lindos e entende-se porque o artista renomado como Francisco Grippa constrói sua casa-castelo lá.

Figura 11 Obras e a casa do artista plástico Francisco Grippa

Figura 11 Obras e a casa do artista plástico Francisco Grippa

Fotografias: Gabriela Colares, 2014.

30Na prefeitura fomos atendidos pelo professor Danzo Guerra Nuñez, que nos contou vários aspectos das políticas de desenvolvimento social e da produção rural no município. Pebas tem 156 anos e antes, na década de 90 tinha um Banco Agrário que fomentava muito a produção local, mas com a saída dele as coisas começaram a decair. Hoje existem cooperativas de créditos que na verdade atuam como financeiras privadas. Nos contou que as terras no entorno da cidade têm títulos definitivos, o que facilita a tomada de empréstimos. Estão também na expectativa do cacau. A cidade de Pebas tem aproximadamente 3 mil habitantes em 800 e tantas casas.

31Danzo usou a expressão “antes esta cuenca era uma dispensa” para relatar como as mudanças nos hábitos alimentares mudou a produção local. A comunidade mais produtiva e maior é Nuevo Pebas. Uma comunidade “israelita” um grupo oriundo do Altiplano extremamente produtivos. Nesta localidade tem-se muita plantação em terra firme pois é alta.

32Na cidade tem três pollerias, que não são granjas mas pequenas produções de galinhas. Pebas não é autossuficiente em alimentos, muito menos em “pollos”. Nesta época do ano se consome muito pescado pois com a temporada de seca vem a temporada de pesca. Também existem duas psigranjas, que estão semiabandonadas. Nos relatou que se abate 1 boi por semana dizendo que este é um sinal de melhora nas condições de vida da população, pois antes era um boi por mês. Outro sinal de melhora nas condições é o aumento de padarias – agora são 5. A cidade é pequena, o mercado é pequeno, mas o fluxo de rabetas (pequenas embarcações) e de mercadorias no porto é intenso. A cada chegada do “motor-nave” se desembarca tudo que se pode imaginar – cimento, botijas de gás, arroz, milho, tartaruga.

Figura 12 Movimento no porto Pebas

Figura 12 Movimento no porto Pebas

Fotografias: Gabriela Colares, 2014.

33A iluminação pública em Pebas vai das 18:00-23:00. E a água para o cotidiano e potável falta. Incrível viver ao lado do maior rio do mundo e ter que se preocupar com água! Observamos pouca captação de água da chuva. E banho de cuia!

34Fomos procurar a observadora da estação meteorológica em Pebas. Uma senhora simpática, Silvia, que cuida a estação desde 1985. Nos contou um pouco da variação e mudanças no clima, se referindo aos ventos de Sta. Rosa que normalmente aconteciam em agosto e agora são mais frequentes em outubro. Nos mostrou as planilhas que preenche e nos deu uma aula de como ser uma boa observadora.

35Silvia também é dona de uma “polleria” com 3 galpões com aproximadamente 800 frangos cada que vende no mercado local e no seu restaurante. Também tem uma horta ao lado com bananas e “aji” doce (pimentão) e picante (pimenta). Ela nos explica que muitos comerciantes trazem seus frangos de Yurimaguás e de Iquitos, e que ela compra os pintinhos direto de Lima, que vão de avião para Iquitos e de lá de barco para Pebas. Silvia entusiasmada com nossa visita nos leva passear pela cidade e nos apresenta mais um artista local Rember Yahuarcani Lopez de incrível criatividade.

Figura 13 Cidade de Pebas

Figura 13 Cidade de Pebas

Fotografias: Gabriela Colares, 2014.

36A paisagem em Pebas gruda na memória.

Figura 14 Paisagem de Pebas

Figura 14 Paisagem de Pebas

San Pablo de Loreto (14-17/09/14)

37A saída de Pebas em direção a San Pablo se deu em meio ao movimento forte de um útil porto recebendo e despachando cargas e viajantes. Antes de chegar ao destino, pelas margens do Amazonas se vê bastantes comunidades, como Novo Pebas, Alto Monte, Santo Isidoro; e plantações, como as de arroz.

38O modo de como chegar via fluvial na cidade pode ser dividido em dois a partir do porto onde se desembarca. O novo porto e o antigo dividem a preferência das embarcações, quem desembarca no novo encontra estrutura portuária parecida com de Pebas (não quanto ao movimento de gargas e pessoas) e quem desembarca no antigo porto encontra os escorregadios barrancos amazônicos. Difícil é entender o motivo de ainda se utilizar um porto sem condições mínimas de desembarque.

39A San Pablo de importância histórica pelo leprosário e passagem de Che Guevara aumentou a ansiedade e disposição, assim não teve barranco capaz de deter a equipe. Seguiu-se em busca de um lugar para as acomodações.

40Junto ao período seca na Amazônia vem um calor de torrar, um abafado de sufocar, sentidos apenas quando se chega aqui. Seguimos! A equipe é muito forte! Depois de duas hospedagens lotadas, encontramos uma com vagas para todos.

41A San Pablo de importância histórica pelo leprosário e passagem de Che Guevara não tem infraestrutura turística que condiz. Nossa pequena hospedagem era escura e suja. No andar de baixo quartos sem janela mas com banheiro e no de cima algumas janelas e um banheiro coletivo sem agua encanada e com baldes insuficientes. A falta d'agua para uso cotidiano é o que mais nos impressiona.

42A primeira saída pela cidade, ao fim da tarde, serviu para um encontro com um monumento homenageando Che Guevara e casualmente com uma funcionária da prefeitura muito disposta a ajudar. Atrás da estátua do Che está o Banco de la Nacion (a única cidade nestes meios com banco), a prefeitura municipal; a frente uma aconchegante praça. Caminhamos até o entardecer, magnifico.

  • 1 Membro da Associação Evangélica da Missão Israelita do Novo Pacto Universal (AEMINPU), de origem pe (...)

43Na manhã seguinte, seguimos com Seu Sebastião, um agricultor “israelita”1, para conhecer sua plantação de cacau. Seguimos por uma estrada, com lama até as canelas, na qual o governo havia loteado com lotes de 100m x 1.000m. Paisagem entrecortada por fragmentos florestais, pastos e plantações.

Caballococha (17-19/09/14)

44Chegamos em Caballococha depois de termos deixado a lancha em Chimbote, pois a entrada para o lago estava muito seca. No barranco negociamos com um barqueiro para nos levar até a cidade. Fomos lentamente sob um sol escaldante navegando por um canal seco rodeado por altos barrancos. Demoramos muito, parecia mais longe que o percurso anterior!

45Chegamos em Caballococha na hora do almoço. Quente. Muito quente. Fomos a pousada conhecida, deixamos a bagagem, tomamos uma ducha (um luxo!) e fomos almoçar no mercado. Decidimos ir a Cushillococha, um vilarejo uns quarenta minutos de Tuc-Tuc na beira de um lago lindo. É uma comunidade indígena bem estruturada. A praça central tem lindas estatuas de madeira – um índio na canoa olhando o lago, uma cobra grande e um caçador.

46Voltando a cidade encontramos o agente da Agência Agrária Percy Gomez que nos contou que a cidade estava em “estado de emergência” pois os narcotraficantes haviam assassinado um coronel do exército peruano! Depois das 21hs ninguém na rua! E não teria como irmos visitar comunidades em determinadas áreas. Marcamos conversas nas agências locais e uma visita a comunidade de Pallo Seco no lago onde plantam Camu-Camu. Anoiteceu e voltamos a pousada e o silêncio pesado tomou conta.

47A região de Caballococha é bem produtiva, e camu-camu, uma fruta regional riquíssima em vitamina C, é um dos produtos que a Agência Agrária apoia. Visitamos uma plantação que fica em uma ilha, pois a fruta é de várzea. Pena que não era época!

48Devido a situação tensa em Caballococha, encurtamos a visita e tomamos o rumo ao Brasil.

Triplice fronteira: Leticia (Colombia), Tabatinga (Brasil), Santa Rosa (Peru)- (20-25/09/14)

49Depois de uma tensa viagem pelo rio Amazonas no meio de uma tempestade que jogou a pequena embarcação para todos os lados chegamos em Letícia. Com a seca o local para atracar estava do outro lado da ilha que fica em frente ao porto de Letícia. Recuperamos do susto e começamos a caminhada por pinguelas e pontes por quase meia hora até conseguir atravessar a ilha e chegar na cidade.

50Em Letícia estamos em casa. Locais conhecidos e trajeto finalizado!

Temas transversais

Pratos típicos

Figura 15: Comidas típicas de Iquitos

Figura 15: Comidas típicas de Iquitos

51Fotografias: Gabriela Colares, 2014.

Mercados e feiras

52A visita aos mercados e feiras da Amazônia Peruana leva os não habituados a uma experiencia para além do comum. O Peru, por essa parte visitada, parece oferecer um universo de sensações, questionamentos e discussões, os mercados e feiras não seriam diferentes. Nos mercados em Iquitos até os de Caballococha, passando pelos de Nauta, Pebas e San Pablo de Loreto há de se comprovar o quanto possuem, ao comercializar produtos frescos, secos, ou industrializados, dinâmica própria e papel fundamental na manutenção da segurança alimentar local e regional.

53Ao começar pela feira de Caballococha por algumas razões. Primeira, não se trata de uma feira! A organização é outra. Tão importante quanto a feira o mercado possui atividade diária, em horário comercial e tem circulação de mercadoria diluída nos dias na semana. Em CaballoCocha pela manhã chegam os peixes, verduras e legumes frescos, carne de gado e de caça, que são logo vendidos, mas durante o resto dos dias as bancas permanecem vendendo produtos industrializados e verduras oriundas de outras partes do país.

54Segunda, os sinais da fronteira cada vez mais evidente. É claro não apenas no mercado, mas seria uma tentativa escorregadia afirmar o mesmo para a cidade toda, sendo que foi visitada apenas lugares como o centro, o hotel, a agência agrária, e o mercado. Mas no mercado a presença de produtos oriundos da agroindústria brasileira chama a atenção com especial atenção ao frango industrializado que é vendido descongelado e fora do plástico como também o arroz e o açúcar.

55Não só os produtos indicavam a proximidade da fronteira, mas as pessoas também, meio brasileiros, meio peruanos. conhecemos um peruano-brasileiro, nascido em São Paulo de Olivença no estado do Amazonas e criado em CaballoCocha, de nome Patrício Paixão, produtor rural em Pallo Seco comunidade distante 30 min de “rabeta” (pec-pec) com motor 5.0 da cidade, com 1 hectare de camu-camu, melancia e mandioca para o abastecimento de CaballoCocha e Iquitos.

56Terceiro, possui bastante carne de boi e em vários cortes (até mesmo a cabeça inteira do animal). No mercado municipal de Iquitos também aparece bem como em San Pablo, mas nenhum dos dois na mesma proporção de CaballoCocha.

57Se em CaballoCocha a organização do mercado se mostra uma, em San Pablo de Loreto é outra. Como não poderia deixar de ser no (diversificado e ao mesmo tempo similar) modo de vida amazônico, o mercado em San Pablo possui igualdades e diferenças marcantes.

58Na cidade onde Che Guevara deixou uma lembrança histórica, o pequeno mercado está à beira do rio apesar do atual período de seca ter separado os dois por um imenso pedaço de chão barrento e malcuidado. É dividido entre comerciantes com galpões separados (talvez próprios), comerciantes em um enorme galpão comunal, e comerciantes sem galpões. Sua atividade é em horário comercial para os galpões particulares e apenas pela manhã ou até onde durar o estoque para os outros.

59Nos galpões separados se encontra os comércios com maior variedade de produtos (alimentos – frescos ou industrializados, vestimentas, calçados, panelas, bebidas, matérias escolares, por exemplo). No galpão comunal a maior concentração era de peixes, frango, carne de caça, verduras e frutas frescas, pães, farinha. Os outros comerciantes vendiam seus produtos na rua, em cima de lonas ou dentro de panelas, baldes, potes (na Amazônia Brasileira isso não é nada incomum), e os produtos de concentração eram peixes, frango, verduras e frutas frescas, queijos. Destaque para o arroz, amendoim, milho, mandioca e banana de produção e abastecimento local presentes em todo o mercado.

60Assim todos se organizam em apenas uma rua, paralela ao Rio Amazonas. O galpão comunal estava com os fundos para o rio, ao seu lado, e frente cercado de galpões particulares, seguidos dos que estavam negociando seus produtos na rua.

61A diversificação está por ser a primeira efetivamente, dentre as visitadas, a se encontrar produtos de origem brasileira no meio dos produtos locais: Arroz (Brilhante), açúcar (Itamarati), café (Maratá) solúvel, pimenta e frango industrializado (Vale Sul – Santa Catarina)! Como o pollo de Iquitos não chega em San Pablo e localmente não se produz o suficiente, o frango brasileiro entra e é vendido em preço a baixo do pollo regional. A similaridade aos outros mercados da Amazônia peruana se mostra na variedade de grãos e vegetais de origem natural e infelizmente na depredação da floresta, nesse caso com a pesca de jacarés com menos de 50 centímetros, vários jacarés.

62Nos chamou atenção o fato de servirem feijão, saboroso apesar de frio, no lugar onde se comprou o almoço e isso não aconteceu em nenhum outro restaurante das cidades antes visitadas. Não se pôde conhecer todos os pratos de todos os restaurantes em todas a cidades visitadas, tarefa quase impossível, e não era o objetivo do trabalho. Mas depois imaginei se teria coerência analisar em alguma medida a produção rural local a partir da comida servida nos restaurantes e como relacionar os pratos com as flutuações hidrológicas?

63Para comercializar os produtos in natura a cidade de Iquitos possui o Mercado Belén localizado no centro da cidade e outros diversos pontos de comercialização na cidade geralmente ao longo de logradouros. O mercado de Belén é caracterizado por grandes diversidades de produtos oferecidos, entre eles roupas, artesanatos, remédios naturais e produtos in natura. No mercado há produtores e locais e intermediários, mas os produtos in natura são abastecidos pelos intermediários que compram os produtos dos produtores locais no porto da cidade. Com o que foi visto no mercado principal da cidade também se observa que a diversidade dos produtos oferecidos reflete a rica cultura gastronômica de Iquitos, onde, apesar de o mercado de Belén ser abastecido por intermediários, todos os produtos são frescos e de preço acessível a toda a população local.

Esportes e lazer

Figura Esportes e lazer

Figura Esportes e lazer

64A ideia de ter um objeto a se ver é importante, deixa o campo mais prático, ágil. Se sabe minimamente por onde começar, até o objeto tomar seu próprio caminho e forma na pesquisa. Pero, o “não-objeto” aparece suavemente e, com a atenção centrada no que se quer ver, desaparece camuflado no cotidiano, aquele cotidiano de Henri Lefebvre.

65Das tantas coisas chamando nossa atenção durante o campo, sobre o objeto, nos assustamos quando relembramos de cada momento nas cidades e percebemos a quantidade de equipamentos de incentivo ao esporte elas tinham. Esportes? Sim, esportes! Não estava nas feiras e mercados, nem nas plantas de água, muito menos ainda na produção rural local ou nos botadeiros.

66Em San Pablo, no calçadão em frente ao rio tem uma quadra com grama sintética de vôlei. Seguindo para dentro da cidade uma quadra poliesportiva onde se pode jogar futsal, basquete e vôlei. Na escola, uma quadra no mesmo sistema. E no caminho para o botadeiro municipal uma outra em construção.

67Em todas as cidades visitadas encontramos quadras com grama sintética, prontas para serem usadas pelos jovens que se desenvolviam no vólei e no futebol. Diferença gritante as cidades na Amazônia Brasileira que no máximo encontramos futebol de várzea.

68As praças também são interessantes. Tanto em Iquitos quanto em Indiana e CaballoCocha as praças têm uma centralidade e importância como ponto de encontro que é difícil pensar em similar nas demais regiões da Amazônia Brasileira, talvez seja resquício da colonização espanhola que permite ao esquadrinhar o tecido urbano introduzir praças e manter suas funções no tempo.

Figura 17 Agradecimentos

Figura 17 Agradecimentos

Da esquerda para a direita: Seu Patrício (Pallo Seco), Percy (Caballococha), Escola Agrotécnica de Caballo Cocha, Silvia (Pebas), Agência Agrária (Indiana), Família da Janicy (Iquitos).

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Notes

1 Membro da Associação Evangélica da Missão Israelita do Novo Pacto Universal (AEMINPU), de origem peruana. Conhecidos localmente como “israelitas”, são fortes produtores e possuem plantações e criações de animais importantes no abastecimento das cidades fronteiriças

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Table des illustrations

Titre Figura 1 Meios de transportes das cidades
Crédits Fotografias: Gabriela Colares, 2014.
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/39018/img-1.jpg
Fichier image/jpeg, 424k
Titre Figura 2 Tabatinga (AM)
Crédits Fotografias: Gabriela Colares, 2014
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/39018/img-2.jpg
Fichier image/jpeg, 431k
Titre Figura 3 Figura: Leticia (Colombia).
Crédits Fotografias: Gabriela Colares, 2014.
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/39018/img-3.jpg
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Titre Figura 4 O trajeto
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Titre Figura 5 Fachadas de Iquitos
Crédits Acervo Nepecab.
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Titre Figura 6 Chatarras em Iquitos
Crédits Fotografias: Fernanda Cidade, 2014.
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Titre Figura 7 Mosaico com a entrada das cidades
Légende 1= Nauta; 2= Indiana; 3=Mazán.
Crédits Fotografias: Gabriela Colares, 2014.
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Titre Figura 8 Figura 6: Indiana e a estrada a Mazan,
Crédits Fotografias: Gabriela Colares, 2014
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Titre Figura 9 Jardinagem em Indiana
Crédits Fotografias: Gabriela Colares, 2014
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Titre Figura 10 Comunidade de Mazan
Crédits Fotografias: Gabriela Colares, 2014.
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Titre Figura 11 Obras e a casa do artista plástico Francisco Grippa
Crédits Fotografias: Gabriela Colares, 2014.
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Titre Figura 12 Movimento no porto Pebas
Crédits Fotografias: Gabriela Colares, 2014.
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/39018/img-12.jpg
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Titre Figura 13 Cidade de Pebas
Crédits Fotografias: Gabriela Colares, 2014.
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/39018/img-13.jpg
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Titre Figura 14 Paisagem de Pebas
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Titre Figura 15: Comidas típicas de Iquitos
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/39018/img-15.jpg
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Titre Figura Esportes e lazer
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Titre Figura 17 Agradecimentos
Légende Da esquerda para a direita: Seu Patrício (Pallo Seco), Percy (Caballococha), Escola Agrotécnica de Caballo Cocha, Silvia (Pebas), Agência Agrária (Indiana), Família da Janicy (Iquitos).
URL http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/docannexe/image/39018/img-17.jpg
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Pour citer cet article

Référence électronique

Tatiana Schor, Josyane Ronchail, Heitor Paulo Pinheiro, Thiago Guimarães Franco, Misael Pantoja Carneiro, Fernanda Cabral Cidade et Gabriela Colares Santana, « Cadernos de campo: Saba – Relação entre a variabilidade hidrológica e a Segurança Alimentar na Bacia Amazonica: uma analise da fronteira Brasil-Peru  »Confins [En ligne], 51 | 2021, mis en ligne le 11 septembre 2021, consulté le 07 décembre 2024. URL : http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/39018 ; DOI : https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/confins.39018

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Auteurs

Tatiana Schor

Universidade Federal do Amazonas, tschor@ufam.edu.br

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Josyane Ronchail

Maître de conférences à l’Université Paris Diderot, UMR7159 LOCEAN-IPSL, josyane.ronchail@locean-ipsl.upmc.fr

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Heitor Paulo Pinheiro

Universidade Federal do Amazonas – Ufam, pinheiro.heitor@gmail.com

Thiago Guimarães Franco

Universidade Federal do Amazonas – Ufam, thiagoguimaraesfranco@gmail.com

Misael Pantoja Carneiro

Universidade Federal do Amazonas – Ufam, misaelpantoja@gmail.com

Fernanda Cabral Cidade

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Gabriela Colares Santana

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