1O turismo enquanto atividade socioeconômica vem ganhando destaque por sua expressiva participação no PIB mundial, bem como pela sua capacidade de geração de emprego e renda. É um segmento capaz de alavancar a economia, além de contribuir significativamente para a preservação do patrimônio natural e cultural, uma vez que estes são matérias-primas básicas para a existência desse fenômeno.
2De acordo com Andrade (apud Raykil, 2005, p.2), o turismo “é um fenômeno social, complexo e diversificado” tanto que, devido a sua abrangência, hoje não se idealiza o turismo apenas como atividade de lazer, mas também permite a inserção de novas formas de analisá-lo, mobilizando pessoas pelos mais variados motivos para os mais diversos destinos.
3Segundo Cavalcanti e Hora (apud Rejowski e Costa, 2003, p.222), “o crescimento da atividade turística tem feito surgir novas modalidades e novos nichos de mercado”, favorecendo a necessidade de uma maior integração entre teoria e prática para poder coexistir tais modalidades.
4A interpretação dada por Beni (2001, p. 65), nos remete a uma visão de que:
O desenvolvimento do turismo provoca o desenvolvimento intersetorial, em função do efeito multiplicador do investimento e dos fortes crescimentos da demanda interna e receptiva. É atividade excelente para obtenção de melhores resultados no desenvolvimento e planejamento regional ou territorial. Por efeito do aumento da oferta turística (alojamentos, estabelecimentos de alimentação, indústrias complementares e outros), eleva a demanda de emprego, repercutindo na diminuição da mão-de-obra subutilizada ou desempregada.
5O turismo deve ter o seu desenvolvimento racionalmente pré-determinado, para que as necessidades e potencialidades sejam gerenciadas e se transformem em estratégias que conduzam à inserção do patrimônio natural, histórico e cultural no circuito econômico, evidentemente através do uso não predatório dos mesmos.
6Becker (1999, p. 76) afirma que “o caminho a ser seguido, que parece ser o ideal, é aquele em que as necessidades dos grupos sociais possam ser atendidas a partir da gestão democrática da diversidade, nunca perdendo de vista o conjunto da sociedade”. A direção, pois, do desenvolvimento sustentável deixa de ser aquela linear, única, que assumiu o desenvolvimento dominante até nossos dias; não mais a marcha de todos em uma só direção, mas o reconhecimento e a articulação de diferentes formas de organização e demandas como base e sustentáculo de uma verdadeira sustentabilidade.
7O “modelo” de desenvolvimento buscado seria então um modelo rico em alternativas, capaz de enfrentar com novas soluções a crise social e ambiental. É preciso conceber um desenvolvimento que tenha nas prioridades sociais sua razão-primeira, transformando, via participação política, excluídos e marginalizados em cidadãos. Esta parece uma verdadeira chance para a reorganização consequente da sociedade, visando a sustentação da vida e à manutenção de sua diversidade plena.
8Baseado no entendimento de que o turismo é uma atividade altamente impactante, principalmente se não planejada e vista com um eixo econômico apenas, os prejuízos são muito maiores. Portanto, o trabalho aqui proposto, buscou apresentar as relações entre as dinâmicas necessárias a partir das dimensões de sustentabilidade necessárias para fundamentar os pilares de um desenvolvimento possível do turismo no litoral sergipano. Apresentar algumas realidades impactantes e trazer algumas propostas de intervenções que sejam possíveis de serem aplicadas para a busca de um fomento sustentável da atividade, é o que propomos neste.
9Pautado na pesquisa descritiva e qualitativa, o trabalho é baseado em pesquisas realizadas no litoral sul sergipano, no período de 2014 a 2018, quanto da escrita da tese de doutorado desenvolvido pela autora, intitulada “(Re) Invenção do Turismo de Base Comunitária no Litoral Sul Sergipano: turismo e economia criativa como elos de gestão participativa”.
10O litoral de Sergipe apresenta 163 km de extensão e ocupa uma superfície de 5.514,7 km², existindo nessa área 23 municípios classificados como litorâneos, nestes 55,5km de linha de costa, 10 a 12 km de largura e uma superfície de 542 km², abarcam a APA Litoral Sul, limitando-se ao sul, pela margem esquerda do Rio Real, no limite fronteiriço com o Estado da Bahia; ao norte, pela margem direita do Rio Vaza Barris, ao leste pelo oceano Atlântico e ao oeste, por uma distância de 10 - 12km dos pontos de preamar média. De acordo com o GERCO (Programa de Gerenciamento Costeiro) estadual o litoral sergipano está dividido em litoral norte, centro e sul (Vilar e Araújo, 2010).
11O litoral sergipano é relativamente pequeno, entretanto, apresenta cenários paisagísticos e atrativos naturais com potencial turístico. Em termos geomorfológicos, registra-se em seus ambientes físicos a presença da Formação Barreiras e, principalmente, da Planície Costeira que recebe influência direta dos estuários (do rio São Francisco, do rio Japaratuba, do rio Sergipe, do rio Vaza-Barris, do complexo Piauí-Real) e do Oceano Atlântico. Em função dessa base territorial, a maior parte do litoral sergipano é ambientalmente frágil e por isso necessita de uma ocupação ordenada (Fonseca, Vilar e Santos, 2010).
12No litoral sul, verifica-se a presença de planícies e Tabuleiros Costeiros, bem como de uma elevada densidade da rede hidrográfica, o que promove uma abundância de recursos pesqueiros. Quanto aos aspectos fitogeográficos, possui uma grande área de restinga arbórea, manguezais, dunas, mata ciliar, com enclaves de mata atlântica. A variedade de atrativos naturais nessa área ocasionou processos de ocupação e usos múltiplos, numa visão mercadológica da natureza que comprometem tanto o equilíbrio ambiental quanto o quadro socioeconômico.
13O litoral sul apresenta um elevado índice de precipitação ao longo do ano, variando entre 1500 a 2000 mm. Esses valores permitem o abastecimento contínuo das correntes fluviais superficiais e das águas subterrâneas, sendo responsáveis ainda, pelo abastecimento dos corpos d’água durante os períodos de estiagem através do lençol freático (Macedo, 2014).
14Ele está composto pelos municípios de São Cristóvão, Itaporanga D’Ajuda, Estância, Santa Luzia do Itanhy e Indiaroba, totalizando uma área de 2.480 km², apresentando uma elevada fragilidade ambiental, acentuada pela presença de lagoas encaixadas entre cordões litorâneos e os atrativos naturais são ampliados pela presença de uma elevada densidade de rede hidrográfica e pela diversidade geomorfológica, que, aliados ao acesso rodoviário, facilitam a utilização do espaço como área de segunda residência para o veraneio e o turismo (Figura 01) (Fonseca, Vilar e Santos, 2010).
Figura 01 Litoral Sul Sergipano e Municípios de investigação
Crédito: Heleno dos Santos Macedo, 2017.
15O relevo caracteriza-se por altitudes modestas e se eleva à medida que se caminha para o interior. Classifica-se em planície litorânea e tabuleiros costeiros. A primeira estende-se de norte a sul ao longo de toda a faixa costeira e é formada por praias, manguezais, restingas, campos de dunas, as duas últimas com alturas de até 30 metros. A segunda, após a planície costeira, em direção ao interior forma morros e colinas com altura de até 100 metros.
16Por ser uma área geologicamente recente, essa faixa da paisagem acha-se recoberto por solos dos tipos Espodossolos Humilúvicos Hidromórficos (EKg), Neossolos Quartzarênicos Hidromórficos (RQg) e os Planossolos Háplicos Eutróficos (SXe). Em termos gerais, são arenosos, poucos profundos e constantemente drenados, apresentando fatores restritivos à sua utilização agrícola (Macedo, 2014).
17Os coqueiros adaptam-se a esse tipo de solo; arenoso argiloso dos tabuleiros (podzóicos e latossolos) é de cor avermelhada pela liberação de ferro existente na rocha, além de pobre em nutrientes; e devido à alta acidez, necessita de corretivos: adubação orgânica e fertilizante. “A textura arenosa desses solos facilita as ações erosivas, sobretudo quando o relevo é ondulado. A retirada da Mata Atlântica e a exposição desse solo às chuvas, somadas aos processos de lixiviação e de escoamento superficial, facilitando a degradação” (Brasil, 2005, p. 52 apud Santos, 2009, p.77).
18A verdadeira avalanche de conhecimentos, revelações, sensações, emoções e fantasias a que as pessoas são submetidas, levam-nas a produzir a segunda tensão, nem sempre consciente, que é a da psicossomatização ou integrativa, que destaca a incapacidade, primeiro indivíduo, seguida daquela dos grupos sociais, de inserir-se e participar da realidade global (Beni, 2001).
19Estamos envolvidos em uma nova experiência da humanidade. O que realmente está mudando é a maneira de “estar no mundo”, o tipo de relação que o homem estabelece com as coisas, com seus semelhantes, com as instituições, com seus próprios valores e consigo mesmo (Beni, 2001).
20As atitudes sociais que ensejam um regime democrático nos levam a uma sociedade ainda a democrática, porém, extremamente dependente; a sociedade brasileira ainda se encontra deficientemente integrada no sistema político. Admite-se que essa assimetria entre a mudança social e o sistema econômico-político será nos próximos anos responsável por graves conflitos. A mudança econômico-política que será experimentada nesta e na próxima década, e que sem dúvida repercutirá muito fortemente sobre a realidade social, não será harmônica, nem regular, nem homogênea. Será uma mudança marcada por muitas contradições e paradoxos (Beni, 2001).
21Diante disso, a sociedade sente necessidade de se desfazer temporariamente da rotina massificante gerada por esses conflitos e imposições sociais e políticas e isso faz com que seja colocada à nossa disposição a “indústria” do lazer que, de certa forma, faz o papel de amiga e conselheira. Ela se apoderou de nosso tempo livre e nos oferece não apenas satisfações, como também cria, se necessário, as expectativas e os desejos correspondentes.
22No cotidiano “escondem-se” relações sociais e culturais que a ênfase na polarização teórica trabalho/lazer deixa escapar. Isso porque esses polos são vistos como uma espécie de “gavetas” da vida social (Silveira, 2007).
23Outro ponto interessante é a polaridade interdependente quando se aborda o turismo e a viagem, o turismo de “guetos” e o turismo alternativo, embora seus proponentes tentem fugir do turismo de massa entrando em contato com a comunidade local, na realidade “sem querer” os turistas alternativos fazem o papel de batedores desse turismo de massa (...), preparando o advento das “hordas” de turistas (Krippendorf, 2000).
24Existem, basicamente, dois tipos de perspectivas, que também tem convergências e conflitos entre si. As perspectivas macrossociais, que enfocam grandes tendências, instituições em geral, as objetividades, as estruturas, classes, entre outras, e as perspectivas microssociais, analisando processos cotidianos, ações sociais, subjetividades, crenças, valores, sujeitos, entre outros (Silveira, 2007).
25No turismo, essa segmentação significa distinguir diversas faixas da chamada “população alvo”, aquela para a qual vai se vender um serviço turístico. Nada conterá o uso dessas categorizações, mas é sempre necessário o cuidado para não confundir com outras construções teóricas das ciências sociais (Silveira, 2007).
26É preciso atentar às características sociais dessas segmentações e do próprio turismo enquanto segmente constituído de segmentos sociais e econômicos. Para muitos pesquisadores da área, a segmentação de mercado, ocorre pela heterogeneidade no consumo, pela alteração nos desejos e anseios dos turistas (Ansarah, 1999).
27Entende-se por impactos socioculturais os impactos sobre a população local (residentes habituais e fixos na comunidade), mas também sobre os turistas e a sua sociedade de origem. Alguns autores como Talavera (2002, p. 78), distinguem entre impacto social e impacto cultural:
O impacto social do turismo está associado a mudanças mais imediatas e define aquelas que ocorrem na estrutura social local, na qualidade de vida, nas relações sociais e na adaptação nas comunidades de destino ao turismo. Por outro lado, o impacto cultural categoriza mudanças mais graduais e processuais que vão ocorrendo à medida que o turismo se desenvolve, como a aculturação turística e as mudanças nas normas culturais, na cultura material e nos padrões culturais. Os impactos socioculturais resultam, portanto, das relações sociais que se estabelecem entre os residentes e os visitantes. A intensidade e forma desses impactos variam dependendo do tipo do visitante, das diferenças culturais entre os grupos, do grau de adaptação dos visitantes e dos costumes locais (Talavera, 2002, p. 78)
28No plano cultural, o turismo contribui para preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural; gera uma atividade socioeconômica sobre o mercado receptor e crise empregos; facilita os laços de comunicação e entendimento entre os povos e sociedades que produzem problemas raciais ou de xenofobia; no âmbito trabalhista produz aumento social de emprego e criação de novos postos de trabalho; pode permitir a comunicação e a paz com os mercados emissores. Impactos negativos Efeitos de aculturação e imitação: se produzem trocas nos gostos e hábitos de cultura da comunidade receptora, ao estar exposta aos hábitos e gostos da emissora (horários, atividades de descanso, comidas, vestuário, trato pessoal, gostos sexuais modificados); Estabelece umas trocas urbanísticas, meio ambientais e arquitetônicos que influenciam e modificam a demografia do mercado receptor; Pode produzir fenômenos de repetição; Modificação das relações sociais no meio rural e urbana ao receber de forma regular correntes turísticas massivas; Instabilidade do mercado receptor por motivos políticos (ditadura, estado de exclusão) e sociais (regras, insegurança, severas normas de circulação), produz uma redução do fluxo; Prejuízos e barreiras sociais por intolerância, indiferença, xenofobia, racismo, idioma; Pode, ao contrário, ser objeto de ambientes que repercutem negativamente nas relações turísticas futuras; Problemas com a gastronomia (água potável); Boa ou má atenção médica-sanitária: controle da higiene e limpeza nos lugares turísticos (Talavera, 2002).
29A superlotação rebaixa o valor da experiência de férias, cria tensão entre a própria população residente e “em casos extremos a população local pode ser impedida de desfrutar das instalações naturais de seu próprio país ou região” (Archer e Cooper, 2002).
30Outras definições de impactos do turismo são abordadas por Montejano (1996) e esse ressalta que “a atividade turística não só tem repercussões psicossociais a nível individual ou de grupo, mas também no conjunto da sociedade” (Montejano, 1996). Isso pode ser notado tanto na comunidade emissora, quanto na comunidade receptora de fluxos turísticos.
31Swarbrooke (2000) afirma que é “dado atenção aos impactos negativos do turismo sobre a sociedade local e sua cultura. Entretanto, é importante reconhecer que os efeitos podem ser também positivos”. Neste sentido a culinária local também pode ser exaltada, pois conforme Ruschman (2000) “o artesanato, a gastronomia, as tradições, a história, a arquitetura e as atividades de lazer” são responsáveis pela atração de turistas, pois muitos turistas buscam através da gastronomia familiarizar-se, para se sentirem integrados com a cultura local, levando a que determinados pratos de um destino mantenham suas raízes.
32O impacto sociocultural do turismo é manifestado através de uma gama enorme de aspectos, desde as artes e o artesanato até o comportamento fundamental de indivíduos e grupos coletivos. Os impactos podem ser positivos, como nos casos em que o turismo preserva ou mesmo ressuscita as habilidades artesanais da população, ou aumenta o intercâmbio cultural entre duas populações diferentes. Os impactos também podem ser negativos, como a comercialização ou a degeneração das artes e do artesanato e a comercialização de cerimônias rituais da população anfitriã. Os impactos podem prejudicar também o intercâmbio cultural, apresentando uma visão limitada e distorcida de uma das populações (Cooper, 2001). No Quadro 01, apresentam-se de forma resumida, os impactos sociais positivos e negativos identificados pelos autores Smith (1989); Droullers e Milani (2002); OMT (2003) e Oliveira e Salazar (2011).
33Há uma série de maneiras pelas quais se podem examinar as relações entre o desenvolvimento do turismo e as mudanças socioculturais e socioeconômicas. O desenvolvimento do produto turístico está inseparavelmente vinculado à contribuição que pode dar ao desenvolvimento econômico geral (Quadro 02). A sustentabilidade deixou de ser um ideal, passando a ser uma necessidade” (OMT, 2003). A industrialização e o modo de produção capitalista trouxeram vários problemas ambientais, como a alta concentração populacional devido à urbanização acelerada e o contínuo crescimento demográfico, uso excessivo dos recursos naturais ou com cada vez menor capacidade de absorção e de reciclagem de resíduos, contaminação do ar, do solo, das águas, desmatamento entre outros.
Quadro 01 Impactos positivos e negativos sociocultural do turismo.
Organização: Lillian Alexandre, 2017, baseado nos autores (Smith, 1989; Droullers e Milani, 2002; OMT, 2003; Oliveira e Salazar, 2011).
Quadro 02 Dimensões de Impactos do turismo
Organização: Lillian Alexandre, 2017, baseado em Doullers e Milane (2002).
34A evidente degradação da qualidade de vida a colocou na agenda global das questões voltadas a infraestrutura, saneamento básico e ao meio ambiente (OMT, 2003).
35Segundo Barretto (2000) “as ciências econômicas estudaram os impactos positivos, referente ao dinheiro proveniente dos turistas que entram em uma localidade. Através da Geografia, os problemas gerados pelo excesso de habitantes temporários, causados ao meio ambiente natural e humano passaram a receber maior atenção”. Os impactos na cultura local, provocados pelo contato entre padrões culturais diferentes, influenciando mudanças nos hábitos locais por aculturação, estudados pela Antropologia. Estes estudos [...] permitem relativizar a influência do fenômeno em relação à dos meios de comunicação (no caso da questão cultural) e em relação a outras indústrias (no caso da poluição ambiental), sem contar que evidenciam o importante papel que o turismo vem tendo na recuperação do patrimônio histórico, dos museus, da cultura popular e das tradições (Barretto, 2000).
36De maneira geral, ordenar o território significa conjugar a ocupação do solo e o uso dos recursos ambientais de acordo com a capacidade que a base territorial pode suportar, sendo necessário analisar o ambiente em suas potencialidades, vulnerabilidades e limites (Vilar e Araújo, 2010).
37O litoral sergipano apresenta um cenário territorial diversificado, apresentando ao mesmo tempo características urbanizadas, rurais e espaços naturais protegidos. Entretanto, não é difícil identificar nos municípios costeiros de Sergipe intervenções antrópicas sem o devido respeito às legislações pertinentes e sem o devido planejamento, colocando em risco o desejado equilíbrio ambiental, agravando assim, os conflitos e contradições presentes na estrutura territorial (Fonseca, Vilar e Santos, 2010).
38O turismo no litoral sul passou a ser uma alternativa econômica há mais de trinta anos, provocando influências na organização do espaço a partir da instalação de equipamentos de usos turísticos e com a geração de novos fluxos de pessoas com finalidade turística, embora permaneça viciado na exploração do segmento de sol e praia, com um público que busca o diferente, o novo, não apenas em termos de paisagens, mas essencialmente em busca de novas experiências. O espaço socialmente produzido no litoral caracteriza-se por segregar seus habitantes originais, pois passa a ser ocupado por residências para veraneio e por condomínios fechados, destinados a uma população de alto poder aquisitivo (França, 2005).
Figuras 02 Praia do Saco e invasão do mar
Crédito: Lillian Alexandre, 2016
39Observa-se nas Figuras 02 A, B, C, D, E e F, o avanço da erosão entre os anos de 2014 a 2017, causado uma erosão costeira que é “essencialmente produto da elevação do nível do mar e/ou de um balanço sedimentar negativo do sistema praial, sendo difícil individualiza-los” (Souza et al, 2005).
40Dentre os fatores de erosão costeira no Litoral Sul do Estado podemos citar: urbanização da orla marítima (Caueiras e Abaís), com eventual ocupação da pós-praia, implantação de estruturas rígidas ou flexíveis, paralelas ou transversais à linha de costa como muros/muretas e entroncamentos, que interferem na circulação de correntes costeiras e geralmente intensificam os problemas erosivos (Fontes, et al, 2011).
41A utilização de rochas (entroncamento) que são usadas na região da Praia do Saco para tentar sanar o avanço da erosão transformam a paisagem e não resolvem o problema, pois as construções avançam ainda mais, como o caso dos condomínios de Segunda Residência, que invadem os espaços ambientais, criando problemas como esses, visíveis. Além desse, outros não tão perceptíveis, como o caso da falta de espaços de áreas que outra servia para a cata das mangabas, por venda dos terrenos as grandes construtoras e ainda, o número excessivo de passeios de bugres nas dunas, fazendo com que a mesma avance para o lado da pista, invadindo construções (aterrando-as) e criando problemas de segurança nas rodovias (Figura 03 e 04).
Figura 03 Condomínio Belle Ville, Praia do Saco.
Crédito: Lillian Alexandre, 2017.
Crédito: Lillian Alexandre, 2017.
Figura 04 Avanço das dunas na Praia do Saco.42Toda essa área faz parte da Unidade de Conservação Área de Preservação Ambiental, denominada APA do Litoral Sul, através do decreto nº 13.468, de 22 de janeiro de 1993, que compreende a área situada entre a foz do Rio Vaza Barris e a desembocadura do Rio Real, com uma extensão de cerca de 55,5 km de costa e largura variável de 10 a 12km.
43A APA conta com a presença das praias mais habitadas do litoral sul, destacando-se Caueira, Saco e Abais, observam-se também áreas de restingas arbóreas, manguezais e manchas preservadas de Mata Atlântica (Figuras 05, 06, 07 e 08). Compreende ainda uma área de grande fragilidade ambiental formada por dunas, lagoas e manguezais, que vem sofrendo em virtude das atividades turísticas e econômicas, notadamente após a abertura e pavimentação asfáltica da rodovia SE-100 (Fonseca, Vilar e Santos, 2010).
Figuras 5 a 8
Crédito: Lillian Alexandre, 2017.
44Não obstante, a ocupação da referida APA está juridicamente condicionada aos dispositivos de controles inerentes à sua condição de Unidade de Conservação de Uso Sustentável ou de Uso Direto e Consultivo, que apesar de menos rígidos do que em outras categorias, vão da proibição de agrotóxicos, de terraplanagem, instalação de indústrias de riscos, entre outros, bem como, mesmo as atividades permitidas estarão sujeitos ao licenciamento prévio (Santos, et al, 2010).
45É relevante enfatizar que se encontram nos municípios comunidades em que a pesca artesanal por muito tempo foi e ainda é a base de sustentação, muito embora, no cenário atual, essa realidade venha sendo modificada devido o surgimento de outras atividades, principalmente, ligadas ao turismo, tais como: a prestação de serviços nas casas de veraneio (caseiros, domésticos, pedreiros, etc) e nos bares e restaurantes (Santos, et al, 2010).
46Em regra, os atores do turismo se voltam para o olhar econômico, como mostramos ao longo dos nossos estudos, pois é o formato de base para o dito desenvolvimento local e com ele, a geração do emprego e da renda, mas é preciso reiterar também a importância das demais dimensões, tanto na construção de políticas mais realistas, eficazes e condizentes para se alcançar esse desenvolvimento, quanto o olhar para o lugar em que elas serão executadas, pois o que vem ocorrendo nos dias atuais, é uma grande marginalização dos atores sociais envolvidos no turismo sustentável por essas políticas, além da depredação do patrimônio natural local.
47A exclusão do seu lugar, para a abertura da chegada do “desenvolvimento” cria guetos, conflitos e amplia a desigualdade social local, desvirtuando um turismo que pode ser inclusivo, protetivo e para além da exploração econômica e ambiental imposta pelas grandes construtoras e empresas do setor.
48Pensar na prática que a teoria do desenvolvimento é também tão dinâmica quanto as questões que emergem do turismo, é corroborar para que o caráter interdisciplinar pelo qual o turismo se faz necessário e consequentemente, fomente o local, é olhar para o sistema em toda a sua grandeza, é perceber que as dimensões que fazem parte de sua conjuntura teórica, deve ser almejada na prática e que a percepção da dinâmica entre os diversos atores e sujeitos locais não acontecem fora dele unicamente, mas principalmente dentro dele.
49O turismo aqui mencionado, não é um elemento isolado, não se constrói de forma unilateral ou sob o aspecto econômico apenas, esse turismo que se defende é aquele em que há o humano, direta e indiretamente agindo, construindo pilares e nas dimensões da sustentabilidade, pautado nas relações entre esses atores sociais inquietos, mutantes e transdisciplinares, que hora irão compreender o seu papel no sistema, ora irão dificultar ou mesmo negar o processo como um todo.
50Atrelar novas reflexões a ele é torná-lo de fato sustentável nos dias atuais, mais reais possíveis, o discurso da teoria, em que, “o fazer-se hoje reflete no que teremos amanhã”. Há que se pensar em um novo perfil de turista/visitante em um mundo repleto de tecnologia e transferi-las de forma eficiente, pois atender a percepção da comunidade local, sobre esse novo turista, que tem acesso aos dados do local, que muitas vezes ele (comunidade) não detém. Falar em sustentabilidade, quando não há diálogo entre os envolvidos e responsáveis pela gestão das localidades, não faz com que haja o desenvolvimento integrado do qual estamos almejando, nem tão pouco a falta de envolvimento do público e do privado nessas localidades, pode acelerar esse processo de forma adequada. Estes atores que fazem o sistema de turismo acontecer e movem de fato a cadeira de turismo é que se precisa envolver nesse novo modelo.