1Uma viagem para um geógrafo sempre deixa mais do que fotos e lembranças. Cadernos de viagem, anotações, recortes de jornais vão se acumulando na medida em que os dias correm. Nas três estadias breves na Espanha, sendo duas delas em Barcelona, o fenômeno da mão-de-obra estrangeira me chamou a atenção. Nas Ramblas de Barcelona também se escutavam as línguas catalã e castelhana, e no fluxo de turistas estavam presentes os estrangeiros no trabalho, por vezes ilegais. Em julho de 2006, no centro de Madri o contato com autóctones (espanhóis) foi raro. Camareiras, atendentes de lojas, trabalhadores em ciber-cafés, outros empregos do setor terciário, geralmente eram estrangeiros ou descendentes. O mesmo aconteceu em Sevilha e Granada. Em Roma também não foi diferente. Coincidência ou não, em Barcelona e em Roma identifiquei paquistaneses como principais proprietários de lojas de souvenires, e romenos (as) com seus filhos lendo a sorte (ou nem tanto) nas ruas mais movimentadas. Para minha felicidade não tive de lidar somente com máquinas, cartões magnéticos e moedas, como havia comentado Sandra Lencioni, observando a ausência de pessoas, a impessoalidade, ou melhor, a ausência de pessoas que a informatização tem trazido no ramo do turismo. São os hotéis totalmente informatizados ou máquinas de café. Mas o choque foram as imagens dos barcos precários e os náufragos debilitados nas costas espanholas. O presente artigo deveu-se aos meus olhos estrangeiros diante do que vi.
2Em julho de 2006 minha estadia coincidiu com a publicação de uma série de reportagens de dados demográficos colhidos pelo Instituto Nacional de Estatística e notícias de imigrantes ilegais que chegavam às dezenas diariamente às praias das Canárias. Chegando ao Brasil continuei acompanhando o fenômeno pelos jornais El País e El Mundo, reunindo informações que me ajudassem a identificar o que estava acontecendo na demografia espanhola. Este artigo resulta de alguns olhares, surpresas e uma curiosidade. Foi feito principalmente para buscar dados e checá-los com as notícias que acompanhei pelos jornais.
3No Brasil são publicadas notícias sobre tráficos de mulheres para a Galícia e Barcelona, não sendo difícil encontrar casos de apreensão de drogas entre passageiros com o destino para cidades espanholas. Geralmente os professores de Geografia ao tratar de movimentos migratórios internacionais não encontram artigos que lidam com dados sobre esse fenômeno integrado à globalização econômica e às diferenças econômicas regionais na escala mundial. Por vezes, encontram informações em jornais ou revistas sobre latino-americanos na fronteira mexicana tentando entrar em território norte-americano. Ou publicações sobre as condições de vida de brasileiros nos EUA. Em algumas cidades brasileiras é comum alguém conhecer quem está trabalhando, por vezes de maneira ilegal, em outro país. Nesse caso, o destino mais freqüente é para os Estados Unidos da América do Norte. Trabalhadores brasileiros em terras japonesas com trabalho legal são bastante freqüentes em áreas de predomínio de população de ascendência nipônica. Geralmente pertencentes à classe média no Brasil, os migrantes aceitam trabalhos inaceitáveis no país natal, mas cujos salários estrangeiros ultrapassam a remuneração brasileira. Entre o salário e o status, vence o primeiro. Boa parte tem dúvidas quanto ao retorno e buscam o green card norte americano. No Japão, o dekassegui aos poucos pode buscar uma instalação definitiva, principalmente quando é seguido pela família ou lá constitui uma nova. Essa realidade do migrante brasileiro nos indica algumas causas do deslocamento: estagnação econômica e falta de oportunidades de mobilidade social no país de origem e redes sociais que o amparam de alguma forma no ponto de chegada.
4Necessários em países de economia em crescimento, os imigrantes enfrentam leis cada vez mais rigorosas. O processo de constituição da União Européia e a sua constante ampliação pela entrada de novos países têm levado à discussão sobre valores culturais “europeus” e não europeus. Veja-se o caso recente do Líbano. Os países que apresentavam economia estagnada – como Espanha e Portugal – receberam investimentos da CEE para a diminuição das diferenças econômicas. Os resultados começaram a aparecer, mas num panorama de reforço às regiões mais industrializadas e dinâmicas. Este é o caso da Catalunha e de Madri que concentram boa parte do PIB espanhol (Figura 1).
Figura 1: Espanha – Produto Interno Bruto a preço de mercado por comunidade autônoma e ano
Fonte: Instituto Nacional de Estadística. 2007.
5A mobilidade populacional tem sido reforçada e pode ser vista como um elemento importante da globalização econômica (Briceño, 2004). De acordo com Rabanal, os deslocamentos populacionais que predominam atualmente são espontâneos, têm caráter voluntário e suas motivações são predominantemente econômicas, além de necessários, pois aliviam as pressões demográficas resultantes dos ritmos diferentes da evolução populacional dos países de origem e destino (Rabanal, 2004). Podemos vê-los como decorrentes das desigualdades regionais, predominantemente formado por jovens e quando instalados apresentam uma fertilidade superior à média dos habitantes dos países que escolheram para viver. De algum modo a perda populacional dos países dos emigrantes é recompensada pelo envio monetário para parentes que permaneceram no país natal. Um exemplo tem sido o do Banco do Brasil em relação aos brasileiros que estão trabalhando no Japão ao facilitar transações bancárias para o Brasil.
- 1 No sítio do Eurostat encontram-se muitos dados e pode-se fazer o download do mapa, gráfico e da ta (...)
6Países europeus vêm apresentando uma dinâmica populacional de envelhecimento e baixa natalidade, após o baby boom após Segunda Guerra Mundial. Recentemente essa dinâmica tem sido modificada com a chegada de estrangeiros cujos valores sociais, culturais e religiosos apresentam uma ênfase à natalidade. Eles chegam inicialmente sozinhos e aos poucos vão reunindo os familiares. O presente artigo é apenas uma introdução ao tema e nele há algumas indicações de trabalhos mais aprofundados no que diz respeito à relação globalização, migração e emprego. Há dois estudos detalhados dos perfis dos imigrantes e o impacto populacional causado na Espanha de autoria de García e Rodríguez (2006) e Rodríguez (2004) que devem ser consultados. Assim como os dados do Instituto de Estatística da Espanha e do Eurostat1.
- 2 Instituto Nacional de Estadística. Contabilidad Regional de España base 2000 (CRE-2000). Producto (...)
7Follow the money ou siga la plata é uma frase que pode explicar boa parte do processo migratório. Em 2005 Madri foi a região que apresentou a maior taxa de crescimento econômico (+4,3% do PIB)2. Mas podemos trocar a expressão por follow the job, ou seja, siga para onde há emprego. Ou aonde ele vem aumentando em ritmo ascendente, como é o caso da Espanha (Figura 2)
- 3 Uno de cada cinco residentes en España vive por debajo del umbral de la pobreza. El Mundo. Online. (...)
8Entretanto, 19,8% da população residente vivem abaixo do limite da pobreza relativa (renda anual inferior a 7.925 euros). Pouco mais da metade dos idosos acima de 65 anos que vivem só estão nessa categoria (47,3%), e os mais atingidos são idosos ou 65 anos ou mais e os jovens com menos de 16 anos e as mulheres3.
Figura 2: Emprego por país e ano – 1992 a 2004
Fonte: Instituto Nacional de Estadística - 2007.
OBS: Não há dados para o Brasil nos anos de 1994 e 2000, e para o Marrocos nos anos de 1994 e 2004.
- 4 Españasupera ya los 44 millones de habitantes, de los que 3,7 son inmigrantes.El Mundo. 18/01/2006 (...)
- 5 Antonio López Gay analisou a dinâmica demográfica da Catalunha e da cidade de Barcelona em sua tese (...)
9A população espanhola residente na Espanha atingiu a soma de 44.108.530 pessoas em primeiro de janeiro de 2005, das quais 3.730.610 (8,5% do total) tinham nacionalidade estrangeira, de acordo com os dados da pesquisa censitária do Instituto Nacional de Estatística espanhol4. Na figura 3 há o mapa das comunidades autônomas e respectiva regionalização no Quadro 1. Os dados refletem também a desigualdade na distribuição dos aumentos demográficos no território daquele país, com o destaque para a costa mediterrânea, a região da Catalunha5 (Nordeste do país) e na cidade de Madri e arredores, enquanto houve perda populacional no interior e na região norte. Coincidentemente, nas áreas onde houve aumento populacional – a zona mediterrânea e os arredores de Madri – concentrou-se a presença de imigrantes. Entre eles os mais numerosos foram os romenos, marroquinos, britânicos e bolivianos.
10Os maiores aumentos populacionais entre 2004 e 2005 ocorreram nas comunidades autônomas de Barcelona (acréscimo de 181.887 pessoas), Andaluzia (162.281 pessoas), Madri (159.314) e a Comunidade Valenciana (149.145). Entre as que menos apresentaram crescimento estão Ceuta, Astúrias, Cantábria, La Rioja, Extremadura e Navarra, além de Melilla (enclave espanhol no norte da África) ter perdido população (-2.528). Em termos relativos, as comunidades autônomas situadas na região norte – Astúrias, Galícia e País Basco - apresentaram um ritmo mais lento no crescimento populacional, exatamente o contrário do que vem ocorrendo em Múrcia, Ilhas Baleares e Comunidade Valenciana.
Figura 3 – Espanha: Comunidades Autônomas
Quadro 1: Espanha – Regiões e Comunidades Autônomas
Regiões
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Comunidades Autônomas
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Noroeste
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Galícia, Astúrias, Cantábria
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Nordeste
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País Basco, Navarra. La Rioja, Aragão
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Madri
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Madri
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Centro
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Castela e Leão, Castela-La Mancha, Extremadura
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Este
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Catalunha, Comunidade Valenciana, Baleares (Ilhas)
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Sul
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Andaluzia, Múrcia, Ceuta, Melilla
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Canárias
|
Canárias
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11O peso da população estrangeira na população total da Espanha cresceu de 7,0% em 2004 para 8,5% em 2005. Apesar da dificuldade na análise dos dados populacionais em relação aos estrangeiros legalizados e os ilegais, essa tendência não será revertida tão cedo. Assim como não parece ceder a corrente migratória dos ilegais ou sin papeles que chegavam diariamente às costas mediterrâneas da Espanha e da Itália, além das ilhas atlânticas (Canárias, por exemplo) que acompanhei diariamente pelos jornais.
- 6 El padrón municipal revela la existencia de un millón de extranjeros en situación irregular. El Pa (...)
12Em publicação datada de julho de 2006 estimava-se que os estrangeiros em situação ilegal na Espanha totalizavam 1.101.409, pelo cruzamento o número de imigrantes do Instituto Nacional de Estatísticas com os que possuíam cartão de residente, publicado pelo Ministério do Trabalho e Assunto Sociais6. Mas há estimativas que variam desde o número de 1,6 milhões até 700 mil. Este fato ocorreu pela modificação da Lei dos Direitos e Liberdades dos Estrangeiros na Espanha e sua Integração Nacional, de novembro de 2003, que obrigou os estrangeiros que não fazem parte da comunidade espanhola sem autorização de residência permanente a renovar sua inscrição a cada dois anos. O processo de regularização começou em fevereiro de 2005 e teve como requisito o fato do imigrante ser regularizado desde antes de agosto de 2004. Isso levou à regularização massiva e ao aumento de mais de 600.000 pessoas nas estatísticas durante o ano de 2005.
- 7 Los extranjeros registrados en el padrón de 2005 son 3,9 millones, el 8,7% del total. El País. 26/ (...)
- 8 Idem.
13Dados mais precisos referem-se ao longo do ano de 2005 (e sua fonte é o Instituto Nacional de Estatísticas) apontam para crescimento total de população recenseada próxima de 44 milhões, dos quais 3,9 milhões eram estrangeiros (8,7%). O crescimento populacional no país atingiu 287 mil pessoas, das quais 154 mil eram estrangeiras (53,6%)7. O que levou à manchete dos jornais o fato da Espanha crescer demograficamente pelo aporte de estrangeiros, legais ou ilegais. Mesmo assim há um hiato de menos de 600 mil estrangeiros entre os Censos e as explicações para essa diminuição não estão claras. Mas as hipóteses levantadas para a falha são a saída do país e a falta de informação sobre a obrigatoriedade do recenseamento. As perdas maiores foram na Comunidade de Madri e nas Ilhas Baleares. Madri e Astúrias perderam população, e o contrário aconteceu com a Catalunha, Andaluzia e Comunidade Valenciana, creditado à participação estrangeira. Ela tem peso maior nas Ilhas Baleares (15,6% da população total), apesar de ter sofrido diminuição, e também é expressiva na Comunidade Valenciana, Múrcia, Madri, Ilhas Canárias e Rioja, todas elas com mais de 10%. A preferência estrangeira é menor para as comunidades de Galícia, Astúrias e Extremadura (pouco mais de 2,5%), e Ceuta, País Basco, Cantábria e Castela e Leão onde eles não atingem 4% na população total. Predominam os homens entre os imigrantes que chegam à Espanha (53%) enquanto a cifra masculina de nativos é de 51%. Há também diferenças nas faixas etárias reveladas pelo Censo: 44% dos recenseados têm entre 16 a 44 anos, mas entre os estrangeiros o valor dispara para 63,9%. Logo, é o jovem do sexo masculino o padrão mais freqüente entre recenseados que não nasceram no país8.
14Entre a migração legal e a ilegal há, obviamente, uma diferença. Esse fenômeno migratório ilegal aparece mais destacado nas notícias de jornais brasileiros para os latino-americanos que cruzam a cidade mexicana de Tijuana na direção dos Estados Unidos da América do Norte. Mas a situação entre ilegais e coiotes – pagamento, insegurança e prisão – não é diferente na fronteira marítima do Mediterrâneo ou do Atlântico. Mas não é essa a rota que mais contribui para a cota dos sin papeles.
- 9 Martin, Albert. La inmigración como gran reto del siglo XXI. El Mundo. 24 de octubre de 2006. Año: (...)
15Em 2006 a Espanha se transformou no país da União Européia onde mais aumentou o número de imigrantes, se igualando aos EUA ao superar a chegada de 200 mil pessoas em relação ao número registrado em 2003. Isso significou um aumento de 50%, superando a Itália (28%), o Reino Unido (24%) e a Alemanha (15%)9. Reino Unido, Alemanha e Espanha, na União Européia, foram os que apresentaram os maiores números de habitantes não nascidos no seu solo em 2006 (Figura 4).
16Os dados do Censo mostram o número de estrangeiros, mas como eles chegaram temos outras pistas para reconstituir esse deslocamento. Aparentemente pode se pensar que as levas de sin papeles são majoritariamente africanas. O destaque dado pela imprensa às pessoas desidratadas e sem alimento por vários dias chegando às praias, amontoadas em barcos precários ou de corpos à deriva criam um misto de horror e solidariedade. Mas talvez quando esse estrangeiro busca um trabalho o sentimento pode se modificar.
17O tráfico humano como negócio começou nas costas do Marrocos e hoje atinge o litoral da Argélia, de onde partem barcos (cayucos ou pateras) para vários destinos na Europa, com a crescente área de desembarque nas Ilhas Canárias. A travessia do estreito de Gibraltar é uma viagem de 13 quilômetros entre a costa marroquina e o litoral sul espanhol. A ilha de Forteventura das Canárias, outro destino freqüente, dista 120 quilômetros, e o deslocamento por barco dura entre 14 horas a três dias. Os ilegais são originários de toda a África, mas, sobretudo do Marrocos e dos países sub-saarianos: Camarões, Congo, Gâmbia, Gana, Guiné Bissau, Costa do Marfim, Libéria, Mali, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo (CIVALE, 2007).
Figura 4. União Européia - Populacão Estrangeira Total - 2006
- 10 3.000 ahogados, el doble de víctimas que em Líbano. El Mundo. 10/09/2006. Ano XVIII. Número: 6.113
18Estimativas apontam que o imigrante que mais impacta o espanhol através das imagens de negros debilitados chegando às praias não ultrapassa 10% da imigração ilegal, uma parcela pequena diante dos que entram com passaportes e permanecem após expirar os seis meses do visto de turista (overstayers). Mas as condições tantalizantes e extremantes cruéis das viagens realizadas por esses africanos são reveladas pela cifra de 3 mil mortos por afogamento na travessia da imigração ilegal10.
19Os dados do recenseamento revelaram um perfil da população estrangeira na Espanha, confirmaram algumas impressões e desfizeram outras. Os marroquinos predominam e em 2005 superaram o meio milhão. Seguidos de perto pelos equatorianos (400 mil), romenos (380 mil) e britânicos (270 mil). Estes dois últimos foram os que mais cresceram em 2005.
- 11 Entenda a expansão da União Européia. Folha UOL. 26/09/2006. On-line. Capturado em 28/2/2007. em: h (...)
20Ironicamente um jornalista comentou que os frágeis barcos não fizeram aumentar o número de residentes norte-africanos tanto quanto as autopistas européias e o atrativo do sol e das praias da Espanha, e que a participação dos romenos (+ 64 mil) e dos britânicos (+ 45 mil) merece destaque. As cidades de Jonquera (sede da comarca de Alt Empordà na fronteira catalã com a comarca francesa de Roussillon) e Hendaya (cidade basca em território francês na fronteira espanhola) são as entradas habituais dos romenos e búlgaros, a quem não se pedem vistos em função da iminente entrada desses países na União Européia. No momento em que passarem a fazer parte, Bulgária e Romênia responderão por cerca de 6% da população do bloco, porém apenas 1% do seu PIB. Nesse caso, a diferença econômica pode responder pelo fluxo migratório11. O aeroporto de Gerona, no extremo nordeste da Catalunha também é uma porta de entrada de imigrantes que entram legalmente, permanecem no país e ficam irregulares.
- 12 Entra en vigor la exigencia de visado para los bolivianos que quieran viajar a España. El Mundo. 0 (...)
- 13 Entraen vigor la exigencia del visado a los bolivianos que quieran entrar en España. El Pais. 01/0 (...)
21A língua espanhola é um fator que não pode ser colocado em segundo plano quando tratamos de residentes estrangeiros. Em termos relativos foram os bolivianos que mais cresceram em número entre 2004 e 2005, passando de menos de 100 mil para 134 mil (+35%). Um fato a ser destacado foi a recente mudança na solicitação de visto para a entrada de bolivianos na União Européia - Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Portugal e Suécia, sócios do acordo Schegen12, mas foi a Espanha o principal país em foco, que passou vigorar a partir de abril de 2007. Nos dias anteriores, aviões da LAB (Lloyd Aéreo Boliviano) chegaram lotados, com 400 passageiros cada um, e a estimativa das autoridades aeroportuárias de Barajas chegaram à cifra de 1.500 bolivianos diários nas semanas anteriores13.
- 14 Los extranjeros registrados en el padrón de 2005 son 3,9 millones, el 8,7% del total. El País. 26/ (...)
- 15 EXPLOTACIÓN Estadística del Padrón municipal a 1 de enero de 2006. Datos definitivos. Notas de Pre (...)
22Porém a língua não tem sido um empecilho para os poloneses, brasileiros e portugueses que relativamente cresceram 20% cada14. A distância também não parece ser um obstáculo, pois 31,26% do total de estrangeiros são oriundos da América Latina, e têm sido os mais numerosos de acordo com Viedma e Rodríguez (2005). Os nascidos na União Européia (25 países membros) somaram pouco mais de 96 mil (23,5%) dos estrangeiros. E em terceiro lugar estão os 750 mil africanos (19%), seguidos pelos nascidos no resto da Europa (645.600 e 16,62%)15.
- 16 Madridenvejece, con o sin extranjeros. El País. 25/07/2006.
23A cidade de Madri envelhece, assiste a perda de população espanhola, ganha novos habitantes estrangeiros e nela acontecem poucos nascimentos. Porém, entre 1986 e 2006 aconteceram mudanças notáveis. A idade média do habitante da cidade, formada por 25 distritos, subiu de 37 para 42 anos. A cidade perdeu habitantes até 1996. Nela residiam 3.228.057 pessoas em 1975 que foram reduzidas a 2.866.850 em 1996. Internamente coube esse resultado à baixa natalidade e o aumento da esperança de vida ao nascer. A partir desse ano o ritmo começou a se modificar. Em 1986 a taxa de natalidade era de 10 nascimentos por cada mil mulheres férteis, o que se transformou mais tarde numa diminuição do número de jovens. Os menores de 15 anos representavam pouco mais de 20% da população foram reduzidos a somente 13,6% em 2006. Analisando os distritos da cidade nota-se que o Centro é o local onde esse quadro se modifica em função da forte presença de estrangeiros, 28,6% da população total, frente à média da cidade de 15,8%. Se vinte anos antes quase 1/5 da população moradora do distrito central da cidade tinha mais de 65 anos, atualmente eles diminuíram para 17,07% em função do aumento dos estrangeiros, que também têm mais filhos. No saldo, apesar de majoritários, os espanhóis moradores do centro da cidade terão cada vez mais de repartir as praças com bebês de pais nascidos longe da Espanha. Misto de um processo de rejuvenescimento populacional estrangeiro e esvaziamento por naturais de Madri, a cidade recebeu uma renovação populacional: das 108.247 pessoas que deixaram a cidade em 2005, 102.948 eram espanholas enquanto 68.314 estrangeiros, 31.587 de municípios vizinhos da região de Madri e 39.253 de outras cidades espanholas. Vinte dos 21 distritos da cidade só tiveram aumento de população graças aos estrangeiros. O leque de nacionalidades segue o padrão nacional: equatorianos (132.719), colombianos (43.883), romenos (37.816), marroquinos (26.483) e chineses (22.228). Atualmente poucos são os argentinos que predominavam 20 anos atrás16.
- 17 Madrid necesita 700.000 inmigrantes más para mantener el crecimiento. El Mundo. 30/01/2006.
24Em 2005, o diretor do serviço de estatística da Prefeitura, Felipe Baselga estimava que a cidade precisaria de pelo menos 700 mil novos imigrantes para acompanhar o crescimento econômico mais rápido do que o crescimento vegetativo da cidade17. O que elevaria ainda mais a proporção nativo/imigrante que era o sobro da média nacional.
25Localizada geograficamente na fronteira com a França e com litoral – Costa Daurada – a comunidade autônoma da Catalunha possui portas naturais para a entrada de imigrantes. Entretanto, vem apresentando um descenso na entrada de imigrantes ilegais (- 18.000 ou 8%) de acordo com a Fundação Jaume Bonfill, que estimou os ilegais em torno de 280 mil em 2006.
- 18 Martin, Albert. La inmigración como gran reto del siglo XXI. El Mundo. 24/10/2006. Ano: XVIII. Num (...)
26De acordo com o Censo, no início de 2006 foram 939.231 estrangeiros recenseados, cinco vezes mais que no ano 2000 (181.590). Mas enquanto os estrangeiros representavam 13,1% da população catalã, em 2005 atingiam 11,4%. Isso significa mais de 600 mil imigrantes que lá vivem legalmente, predominando os marroquinos (21% do total). 17% dos migrantes ilegais são menores de 15 anos e mais da metade dos irregulares são latino-americanos, mas entre estes últimos a regularização vem aumentando. Os sin papeles africanos diminuíram enquanto ocorreu aumento entre os de origem européia e asiática. A tendência parece ser a da regularização à medida que a estadia se prolonga e o reagrupamento familiar em terras catalãs. Essa população tem em média 11 anos menos do que a população autóctone.18
- 19 Martin, Albert. Lainmigración como gran reto del siglo XXI. El Mundo. 24/10/2006. Ano: XVIII. Nume (...)
27As estatísticas mostram que a Catalunha está em quarto lugar na participação dos estrangeiros na população total (12,2%), superada pelas Ilhas Baleares (15,6%0, Comunidade Valenciana (13,4%) e Múrcia (13,3%). Os estrangeiros têm sido responsáveis pela volta de taxas mais altas de natalidade. Atualmente elas voltaram ao patamar de 1993: 1,34 filhos por mulher. Em 2005, ¼ dos nascidos tinha mãe estrangeira. Estimativas de um estudo da Caixa Catalunya apontavam que 88% do crescimento demográfico na Catalunha se devia à imigração, e apenas 11,9% aos seus nativos19.
- 20 http://www.ine.es/prensa/np447.pdf
28Em março de 2007 os dados demográficos foram atualizados e retificados pelo INE e as cifras definitivas sobre o número de recenseados em relação ao ano anterior (2005) apontaram para um aumento de espanhóis pouco mais de 18 mil (somente 1,5%) enquanto os estrangeiros aumentaram em 413.556 (+11,1%). Em termos quantitativos, as comunidades autônomas que registraram maiores aumentos populacionais foram Catalunha, Andaluzia, Comunidade Valenciana e Madri. Mas as que apresentaram os maiores aumento relativos foram Múrcia, Comunidade Valenciana, Melilla, Catalunha e Castela-La Mancha. Os dados indicam que os aumentos de população continuam acontecendo na costa do Mediterrâneo, nas comunidades autônomas de Madri e da Catalunha, enquanto as do interior e do norte apresentaram um ritmo inferior em relação às demais20. A proporção de estrangeiros sobre a população espanhola aumentou de 8,5% para 9,3% entre janeiro de 2005 e janeiro de 2006 e as comunidades onde há os maiores percentuais deles são as Baleares (16,8%), a Comunidade Valenciana (13,9%), Múrcia (13,8%) e Madri (13,3%). Os valores percentuais superam os 10% na Catalunha, Canárias e La Rioja. Através da comparação entre o número de estrangeiros em janeiro de 2005 e janeiro de 2006 observou-se que algumas regiões autônomas tiveram a preferência quanto à nova moradia. Melilla, cidade no norte da África, apresentou um crescimento de 37% no número de estrangeiros nesse período, porém quantitativamente resultou num acréscimo de 1.091 pessoas. Em termos quantitativos, na Catalunha houve o aumento do número de estrangeiros residentes de 798.904 para 913.757 e em Andaluzia de 420.207 para 488.928.
29Vários setores da economia espanhola dependem da imigração, legal ou não. Considerando todos os trabalhadores estrangeiros em situação regular no ano de 2003, eles se dividiam entre os setores econômicos: agricultura (11,5%), indústria (8,5%), construção (16%), comércio (10,7%), hotelaria (12,4%), transportes e comunicações (3,6%), outros serviços (18,6%), serviço doméstico (7,3%) e autônomos (11,5%) (Izquierdo, 2005, p. 46). Outra fonte (García e Rodríguez, 2006, p. 61-62) detalhou a diferenciação dos imigrantes por origem e tipo de ocupação em 2003: 67,86% dos originários da América Central e da América do Sul estavam no setor de serviços (majoritariamente no subsetor de serviços domésticos, e secundariamente no setor de construção (15,93%). Os africanos estavam divididos entre os setores de serviço (35,79%) e agrário (31,75%). Os asiáticos ocupavam os postos de trabalho no setor de serviços (77,60%) e indústria (10,09%). Os provenientes dos países do Leste estavam empregados no setor de serviço (50,22%), na construção (21,95%) e no setor agrário (16,53%).INFORMES Y ESTUDIOS
30Como em outros países onde há empregos que demandam menos conhecimento e especialização e a população nativa tem uma alta escolaridade e não os aceita, a Espanha vive uma rápida mudança no perfil demográfico caracterizada pela diminuição do crescimento por nascimentos de espanhóis, aumento da população estrangeira e aumento do número de crianças espanholas de primeira geração.
- 21 EL 50% del crecimiento del PIB catalán se debe a la inmigración. El Mundo. 20/07/2006. Ano XVIII. (...)
31A Caixa Catalunya, entidade financeira desta comunidade autônoma, estimou que 50% do crescimento da PIB catalão nos últimos anos deveu-se ao fenômeno da imigração. Não apenas o aumento econômico, mas também ao aumento de imigrantes inseridos na economia levou Josep Oliver, o economista autor desse estudo, a afirmar que o ritmo de crescimento da economia catalã não era compreensível sem a imigração. A recuperação das exportações e a estabilização da inversão produtiva levaram ao forte crescimento do consumo privado e à construção de moradias. Esta contribuiu para a criação de 16 mil postos de trabalho em 2006 recuperando-se aos 57 postos de trabalho perdidos entre 2002 e 200421.
- 22 Martin, Albert. La inmigración como gran reto del siglo XXI . El Mundo. 24/10/2006. Ano: XVIII. Nu (...)
32Os imigrantes ilegais que encontram as maiores dificuldades em integrar-se na sociedade, entram majoritariamente através dos aeroportos, em especial o madrileno de Barajas e pela fronteira da França, e não pelos cayucos. Gassán Saliba, secretário de imigração das Comissões Trabalhadores, estimava que essa imigração representou apenas 0,7% do total de ilegais em 2005 e estimava que não ultrapassaria 5% em 200622.