1Apresentamos neste trabalho os resultados da pesquisa de iniciação científica, que se transformou em monografia de conclusão do curso de Geografia na USP (ALMEIDA, 2016). Desenvolvida no período 2014-2016, a pesquisa foi selecionada para um intercâmbio de pesquisa no Laboratoire Image, Ville, Environnement (LIVE), da Universidade de Estrasburgo e do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), na França, no primeiro semestre de 2016.
2Fizemos uma comparação entre as cidades de São Paulo (Brasil) e Paris (França), no que diz respeito aos espaços da homossexualidade masculina. A escolha de comparar São Paulo com Paris deu-se devido à possibilidade de realizar o intercâmbio e aprofundar os estudos da pesquisa já em desenvolvimento sobre as espacialidades de homens gays em São Paulo.
3Analisamos e representamos cartograficamente as seguintes variáveis: os espaços frequentados por homens gays, os espaços do sexo anônimo entre homens e o uso de aplicativo de celular para relações amorosas e/ou sexuais. Também mapeamos os dados dos cônjuges com parceiros do mesmo gênero. No entanto, como encontramos esses dados, na escala necessária, apenas para São Paulo, e por não comprometer o processo metodológico do estudo, resolvemos não incluir tais dados aqui. Apresentamos as estruturas elementares de cada variável e, ao final, um modelo de síntese das espacialidades homossexuais.
4“Espacialidades” (LUSSAULT, 2003) é um conjunto de escolhas espaciais que os indivíduos fazem cotidianamente baseados em seu próprio “capital espacial” (LÉVY, 1994). Este é o conjunto de experiências que guiam as operações espaciais. Nosso objetivo foi entender em que medida as espacialidades homossexuais masculinas constroem o espaço urbano e em que medida elas são construídas por ele. Nossa hipótese de que quanto mais urbanidade tem uma cidade, mais beneficiadas são as espacialidades, nos levou para uma discussão sobre o gueto gay (LEROY, 2005; PUCCINELLI, 2014). Acreditamos na necessidade de superar o debate ultrapassado acerca do gueto gay, assim como na necessidade de retomar a discussão acerca da justiça espacial (RAWLS, 2008; LÉVY, 2015).
5A análise comparativa realizada aqui é composta também por uma análise temporal (1995 e 2016), a fim de não perder o diálogo com as discussões da Geografia renovada, que considera o espaço como uma composição de tempos pretéritos.
6Os limites territoriais apresentados são os do município de São Paulo e do departamento de Paris. Apesar de esses recortes não contemplarem a cidade em si (o urbano), eles apresentam dados mais acessíveis para análise, o que nos permite iniciar uma discussão.
- 1 Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros.
7Coletamos os dados dos locais de encontro gay em São Paulo no trabalho de Pascual (1995) para 1995 e no Guia Gay São Paulo para 2016; os dados de locais do sexo anônimo são do Guia Gay Brasil, organizado por outras pessoas e específico para esta prática. Para São Paulo, pudemos confirmar a existência dos endereços em mais de um guia (GUIA LGBT, 2015; GUIA DIVERSIDADE, 2011). Para Paris, utilizamos os dados de Remes (1995) para 1995; para 2016, os dados compilados nos guias online do site do Centre LGBT1 Paris Ile-de-France (organização política) e Gay Scout (guia internacional de turismo gay). No site Lieux de Drague encontramos os dados do sexo anônimo. Diferente dos outros, estes são inseridos no site de forma aberta e colaborativa por usuários e praticantes.
8Refletimos sobre os dados, a representação em classes, o processo de discretização e as estratégias de comunicação. Todo o nosso percurso cartográfico teve como guia a Semiologia Gráfica de Bertin (1998 [1967]). Para elaborar mapas que não caíssem na inflexibilidade (FONSECA, 2004) da métrica euclidiana e apresentassem com mais riqueza as estruturas do fenômeno analisado, baseamo-nos na Cartografia Analítica e Transformacional, de Cauvin, Escobar e Serradj (2008), Cauvin, Reymond e Serradj (1987), além das contribuições de Fonseca (2004) e Dutenkefer (2010; 2015) para pensar os limites e os novos rumos da Cartografia.
9A vida gay pública na cidade de São Paulo na década de 1950 era limitada a algumas ruas e avenidas. Ainda com uma elite concentrada no centro, era comum encontrar artistas, intelectuais e boêmios, entre outros, dentre os quais muitos homossexuais, reunidos nos mesmos espaços de socialização e lazer. Os principais pontos de encontro se localizavam nas Avenidas São João e Ipiranga, e arredores (SILVA, 2005).
10Essa concentração permaneceu até meados dos anos 1990, como aponta Pascual (1995). O Mapa 1 nos apresenta a espacialidade homossexual masculina em São Paulo em 1995 a partir dos locais de encontro (bares, boates, praças etc.). Nele, os espaços mais significativos são postos em evidência através da transformação da forma e do tamanho dos distritos do município: expansão (vermelho), quando há uma quantidade significativa de endereços naquele local; contração (azul), quando o oposto ocorre.
Mapa 1 – Estrutura espacial da concentração de endereços frequentados por homossexuais masculinos em São Paulo em 1995
11Os locais de encontros eram mais numerosos no distrito da República, e de menores proporções nos distritos do entorno. Interessante é notar uma tímida expressão do fenômeno na zona leste do município, fora da concentração. Os bairros em expansão na época, nas áreas mais afastadas do centro, como as zonas sul e leste, não tinham muitos locais de encontro homossexual.
12Os Jardins abrigavam alguns desses endereços, mas era nas áreas mais centrais do município que eles se concentravam. Havia lá uma distinção socioeconômica e cultural: a Boca do Luxo, constituída por bairros frequentados por homossexuais de melhor situação econômica, como o Vila Buarque; e a Boca do Lixo, áreas mais estigmatizadas, como a Praça da República, frequentada por homossexuais pobres. (PASCUAL, 1995).
13É de extrema importância localizar essa descrição historicamente: no início dos anos 1980, a Ditadura Militar entrava em decadência. Ainda assim, a repressão que persistia intensificou-se para os homossexuais, que eram perseguidos por blitzes policiais em bares e casas noturnas. Não só eles: prostitutas, travestis e qualquer outro grupo que desafiasse a ‘moral e os bons costumes’. Mas a resistência existia nas figuras dos movimentos sociais. (OCANHA, 2014).
- 2 Gíria homossexual para designar homens gays com comportamento extravagante e efeminado.
14Como resultado, as concentrações nas áreas mais estigmatizadas migraram para a Rua Marquês de Itu, onde os bares eram frequentados principalmente por homossexuais intelectuais da classe média, em nada parecidos com as bichas pobres e ‘pintosas’2, ou com as travestis das avenidas São João e Ipiranga. Neste novo point, só era detido quem estava na calçada (PERLONGHER, 1987). Soma-se a isso, a estigmatização dos homossexuais em razão da epidemia do HIV/AIDS nos anos 1980 e 1990.
15No início dos anos 2000, surge na cidade um mercado específico para o homossexual de classe média, solteiro, com independência financeira e interesse em investir em lazer e turismo. Chamado de o pink business, esse mercado trouxe uma nova de visibilidade para os homens gays, tanto nos espaços públicos como nas mídias.
16Atualmente, próximo dos endereços de encontro na República está o Shopping Frei Caneca, considerado o “shopping gay” e ponto de encontro de muitos homossexuais de classe média. No lado oposto da Avenida Paulista, estão os Jardins, com um grande número de bares e boates destinadas ao público homossexual (SIMÕES; FRANÇA, 2005). Assim como nas boates localizadas na Lapa e na Barra Funda, os preços desses estabelecimentos e as normas de vestuário e comportamento nas áreas citadas acima, são um fator de diferenciação em relação aos estabelecimentos do Centro, relativamente mais baratos e frequentados por pessoas de classes baixas (VICENTE, 2015).
17Os locais de encontro apresentam atualmente uma distribuição maior que há duas décadas. No Mapa 2 é possível visualizar esses espaços. A imagem evidencia quais deles são mais relevantes para o cotidiano desses sujeitos. Nos mapas apresentados até agora e a seguir, é possível apreender uma probabilidade de interação social homossexual, em razão das concentrações e dos vazios de pessoas com os mesmos interesses.
Mapa 2 – Estrutura espacial da concentração de endereços frequentados por homossexuais masculinos em São Paulo em 2016.
18Além da concentração no Centro, observa-se um movimento de expansão para as áreas mais afastadas das zonas sul e leste. Isso diz respeito às alternativas criadas por moradores dessas áreas, que promovem atividades culturais e de lazer com a proposta de acolher a diversidade sexual e de gênero.
19A caça – ou cruising, em inglês; la drague, em francês –, termos pelos quais é conhecida a busca por paqueras e relações sexuais anônimas, acontece em saunas, sex clubs, cinemas pornôs e locais públicos de ‘pegação’ (banheiros, parques, praças). Além das relações sexuais, esses espaços promovem uma sociabilidade diferente daquela encontrada nos espaços da expressão da homossexualidade, porque seus frequentadores, em geral, não se identificam com a imagem do homossexual desses espaços – muitos até não se identificam como homossexuais. Assim, existe uma diferença entre os espaços de expressão pública da homossexualidade, e os espaços do anonimato e da discrição.
20Pensando nos termos de Blidon (2008), os locais de encontro gay seriam melhor definidos como espaços da sexualidade, nos quais são construídos os códigos e as representações de si, enquanto que os locais do sexo anônimo seriam os espaços do sexo, onde o objetivo não é a construção de uma sexualidade – não que isso não ocorra –, mas o sexo propriamente dito. A questão da identidade é colocada pela geógrafa e por Boivin (2018) como uma outra esfera. O espaço da identidade homossexual é composto por um contexto mais amplo no qual são elaborados valores, práticas sociais e o sentimento de pertencimento coletivo.
21No Mapa 3, vemos a distribuição espacial do sexo anônimo entre homens. O número de endereços é reduzido em relação aos espaços da sexualidade, mas a sua dispersão é maior. Presentes na maior parte dos distritos de São Paulo, os endereços mapeados dizem respeito a locais discretos, a maioria não direcionada para relações sexuais, como as saunas de clubes esportivos, banheiros de bares, de terminais de ônibus, de estações de trem e metrô. São também praças e parques públicos, frequentados geralmente à noite.
22Mapa 3 – Estrutura espacial da concentração de endereços frequentados por homens para relações sexuais anônimas em São Paulo [2012-2016].
23Apesar da dispersão dos espaços do sexo anônimo, o mapa mostra uma concentração no centro de São Paulo, que pode ser usada como um parâmetro para medir a urbanidade. Afirmamos isso tendo em mente uma lógica originada na construção teórica de Lévy (1999): as áreas com maior urbanidade, em geral, são caracterizadas por maior diversidade e densidade. Os centros urbanos são lugares do anonimato, dos fluxos rápidos de pessoas. Portanto, esses lugares estão relacionados com expressão de desejos que fogem à norma heterossexual nos locais citados.
24Simões e França (2005) apontam para uma diferença entre o Centro e os Jardins: diferente do primeiro, o último não apresenta cinemas pornográficos, nos quais a frequentação de homens em busca de relações anônimas é grande. Isso não significa que nessas áreas não existam outros locais para esse tipo de interação. Rosa et al. (2008, p. 6) nos informam sobre a diversidade sociológica dos cinemas pornôs: “héteros curiosos, bichas pobres e bichas finas, jovens e coroas, michês, malandros e aproveitadores de toda espécie”, o que nos afasta do homem gay jovem e da classe média. Se há, entre os frequentadores, aqueles que se identificam como heterossexuais ou bissexuais – e alguns são casados com mulheres –, isso evidencia que os espaços da sexualidade não são os mesmos espaços do sexo e que esses sujeitos não se assimilam a identidades estáveis, o que coloca em evidência a fluidez das identidades sociais modernas, assim como “a redefinição constante destas nas práticas metropolitanas cotidianas” (BOIVIN, 2018, p. 300, tradução nossa).
25Paris tem um histórico antigo de espaços frequentados por homossexuais. Em 1920, a cidade já era uma referência na Europa para homossexuais e acolhia alguns dos artistas e escritores mais prestigiados do período, como Proust, Colette, Satie, Gide, Diaghilev, Stein, entre outros (LEROY, 2005). Algumas décadas depois, um conjunto de ruas na área central da cidade se consolidou no que alguns chamaram de bairro gay de Paris. Aqui estamos falando do Marais gay, que é uma parte do bairro histórico do Marais, localizado à margem direita do Rio Sena, nos 3º e 4º arrondissements.
26No final do século XIX, houve uma transformação no Marais: pequenas indústrias e comércios foram instalados e as mansões da antiga aristocracia foram divididas em apartamentos com preços muito baixos em razão de sua situação precária. O Marais naquele momento era um bairro indesejado pelas classes média e alta e sua população era de trabalhadores. Nos anos 1960 e, principalmente, 1970, houve o fenômeno da gentrificação: a instalação de pequenas indústrias e comércios, o preço do aluguel subiu, a classe média resolveu se mudar para lá e a classe trabalhadora foi expulsa. Dos anos 1960 até o fim do século, o decréscimo populacional no bairro foi por volta de 40%. (SIBALIS, 2004)
27Nos anos 1970, alguns empresários gays resolveram promover um estilo de vida homossexual mais aberto a partir da criação de diversos estabelecimentos comerciais direcionados especificamente a homossexuais, todos em proximidade um do outro. Iniciou-se aí o projeto de criação intencionada de um gueto gay. Mas nem todos foram a favor. Segundo Sibalis (2004, p. 1740, tradução nossa) na França, onde os valores universais são mais valorizados pelo discurso político dominante em detrimento do multiculturalismo e dos direitos das minorias, “a existência de um gueto gay foi percebida como uma ameaça às bases da solidariedade nacional e tornou-se uma questão de significativo alcance ideológico”.
28Os contrários argumentavam sobre a confinação dos homossexuais dentro de uma área geográfica com fronteiras. Dentre eles, estavam aqueles identificados como assimilacionistas à heteronormatividade (ideia que organiza as sociedades ocidentais de que a heterossexualidade é a única sexualidade normal e, por isso, superior às outras), que, para evitar o preconceito, preferiam se misturar e seguir a norma; e aqueles mais radicais, que objetivavam acabar com o gueto, ao mesmo tempo que negavam a assimilação à norma, defendendo a alteridade.
29A década de 1980 assistiu ao surgimento de muitos desses estabelecimentos, assim como de mídias para homossexuais (as revistas Gai Pied e Maques). O turismo, a economia e a afirmação identitária a partir do espaço criaram uma época: a do consumo em massa, da saída do armário e da abertura da cidade para os homossexuais (LEROY, 2005).
30O Mapa 4 mostra qual era a espacialidade homossexual masculina em 1995. A probabilidade de sociabilidade gay era restrita a apenas alguns pontos específicos de Paris para além do Marais. Além da concentração no bairro, é possível observar também uma pequena concentração a noroeste da cidade.
Mapa 4: Estrutura espacial da concentração de endereços frequentados por homossexuais masculinos em Paris em 1995.
31Estar localizado no centro histórico de Paris, ser facilmente alcançado pelo transporte público, ter edifícios já construídos e baratos foram as condições necessárias para que o Marais crescesse rápido e com sucesso. (SIBALIS, 2004).
32Dos 250 estabelecimentos direcionados aos homossexuais em Paris na primeira década do século XXI, a maior parte se condensava no Marais (SIBALIS, 2004). Diferente de suas vizinhas Londres e Berlim, Paris não manteve o espírito comunitário, festivo, político e vanguardista que essas outras cidades apresentaram na construção de uma identidade espacial homossexual (LEROY, 2005, p. 586), sendo tal construção baseada, principalmente, no comércio homossexual – o que não significa a ausência de movimentos políticos.
33Blidon (2008a) apresenta um dado interessante que remete à ideia de cidade como locus de libertação. Em pesquisa, ela perguntou para gays e lésbicas em diversas localidades na França, onde era mais fácil viver a sua homossexualidade. As respostas foram:
341. cidade (92%, sendo que em Paris foi 96%);
352. banlieues das grandes cidades (51%);
363. banlieue parisiense (48%);
374. cidades médias (32%); e
385. aldeias (villages) (18%).
39Com base nisso, sustentamos a nossa hipótese de que quanto mais urbanidade uma cidade tem, maior o sentimento de liberdade para expressar a homossexualidade.
- 3 Cf. BUTLER, Judith. Humain, inhumain. Le travail critique des normes. Paris: Éditions Amsterdam, 20 (...)
40Mesmo sendo as grandes cidades os lugares mais seguros para se assumir homossexual, por outro lado, a violência nelas é mais explícita. Em outro trabalho, Blidon (2008a, p. 8) fala do apagamento ao qual os homossexuais estão submetidos, ao não poderem dar as mãos ou se beijar em público. De acordo com esta geógrafa, em termos butlerianos3, podemos chamar esse apagamento de um “modo ontologicamente suspenso”, uma vez que a heteronormatividade permite que os homossexuais sejam visíveis, porém desprovidos de qualquer humanidade, ao serem obrigados a normatizarem-se ou serem excluídos. É uma violência simbólica, nos termos de Bourdieu ([1998] 2012), e que, por vezes, está internalizada nos próprios homossexuais.
41Não esqueçamos que o espaço não é um palco, mas uma construção da sociedade (LÉVY, 1999). Assim, da mesma forma que a sociedade pode criar um espaço com diversidade e densidade, ela também pode criar um espaço que nega essas características. Se a sociedade define a heterossexualidade como norma, o espaço, por sua vez, será heteronormativo.
42Atualmente, os locais frequentados por homossexuais em Paris continuam se concentrando na margem direita do rio Sena, mas observamos uma significativa expansão para fora dos limites do Marais (Mapa 5). Não podemos deixar de notar a quantidade de endereços mapeados que não são bares e boates: os restaurantes e cafés, que são frequentados por pessoas de todas as orientações sexuais. Boivin (2018) nos diz para ter um olhar mais crítico na análise desse fato como uma ampliação da aceitação da homossexualidade, já que muitos guias turísticos publicam os endereços dos estabelecimentos que lhes pagam para isso. Isso geraria uma falsa imagem da espacialidade homossexual nos guias, já que outros locais de encontro perdem lugar para os patrocinadores das publicações.
Mapa 5: Estrutura espacial da concentração de endereços frequentados por homossexuais masculinos em Paris em 2016.
43O que o mapa nos mostra é que os homens gays em Paris têm identificação espacial com mais espaços dentro da cidade do que os homossexuais em São Paulo – o uso da cidade é maior. Mas, lembramos, essa é a visão dos guias turísticos. E não é que ela não seja verdadeira. Supomos que o homem gay de classe média/alta e branco está mais representado nesses guias que os homens gays negros, de classe baixa.
44Os espaços do sexo anônimo entre homens em Paris são microespaços menos abertos ao público “de fora” e independentes dos locais institucionais e do Marais. Esses espaços são mais “seguros” para aqueles que não são assumidos. A internet surge também como um espaço de socialização anônima, mas a prática da caça no espaço público se constitui em uma atividade única e por si só prazerosa. De acordo com Lassaube (2014), os locais sórdidos e lúgubres somados à possibilidade de encontros únicos constituem uma excitação erótica.
45Vemos no Mapa 6 que as áreas mais significativas, ao contrário de São Paulo, são afastadas do centro. Podemos atribuir a isso a ideia de que o espaço do sexo anônimo não ocupe o mesmo lugar da homossexualidade em Paris.
Mapa 6: Estrutura espacial da concentração de endereços frequentados por homens para relações sexuais anônimas em Paris [2014-2016].
46A repressão também existe e ela é principalmente institucional. Em Paris, a administração do Museu do Louvre decidiu instalar grades nas escadas de incêndio da área comercial do Carrossel do Louvre, a fim de impedir a circulação de homens que buscavam encontros anônimos naqueles locais (LASSAUBE, 2014). É possível observar uma política higienista, uma vez que se busca extinguir do espaço público o que se considera desviante e sujo. A prática não desaparece, apenas fica menos visível aos olhos das autoridades de segurança e mais dispersa.
47Leroy (2005) considera que esses espaços representam uma ruptura no espaço heteronormativo. O sexo gay no espaço público transgride o uso previsto do espaço, mas também desterritorializa a heterossexualidade, que é produzida e reproduzida em todos os lugares.
48Segundo Guillaume (p. 2003, p. 413, tradução nossa), gueto é um “território delimitado no meio de uma cidade, onde uma categoria da população é assimilada à residência e submetida a contratos para sair dele”. Estamos falando de segregação. Caldeira (2000) enxerga a segregação como uma característica própria e importante do espaço urbano, que se manifesta de diferentes formas ao longo da história. Para ela, a separação e a diferenciação social são regras de organização do espaço urbano. Aqui, consideramos a segregação também como uma lógica contrária ao princípio do urbano, o contato (LÉVY, 1999).
49Não é possível atribuir um juízo de valor binário (bom ou ruim) ao gueto, porque isso é insuficiente para analisá-lo. Consideramos o gueto gay – no nosso caso, estamos falando especificamente o gueto gay, já que a relação das lésbicas com o espaço público tem outras lógicas de organização (BLIDON, 2008) e não é o objeto de estudo desta pesquisa – como um agente duplamente ativo. Enquanto configuração transgressora das normas da cidade, ele pode criar um reconhecimento simbólico a fim de reivindicar o reconhecimento da homossexualidade como uma das sexualidades possíveis e não menos respeitável. Por outro lado, enquanto configuração subversiva ao princípio do contato, ele cria distância, separação, evitando a copresença com diversidade.
50Simões e França (2005, p. 2) apontam para o que chamam de dimensão política e cultural do gueto, que seria um conjunto dos “deslocamentos dos sujeitos por lugares em que se exercem atividades relacionadas à orientação e à prática homossexual”. MacRae (1983) nos anos 1980 publicou uma espécie de manifesto em defesa do gueto homossexual paulistano, sob a argumentação de que os lugares identitários dos homossexuais têm o potencial de empoderamento dessas pessoas para uma futura “saída do armário” e do próprio gueto.
51O mesmo trabalho já citado de Perlongher (1987) mapeou o que o autor chamou de “gueto gay”. Utilizando, a princípio, a definição de gueto da Escola de Chicago, ele verificou que em São Paulo não existe um gueto gay nos moldes clássicos, mas sim um gueto formado por rede de trocas. Perlongher refere-se à nomadização territorial. Logo, não existiria uma área geográfica precisamente delimitada. Nesse sentido, Perlongher se aproxima dos autores acima.
52Para esses autores, os espaços de sociabilidade homossexual constituem um gueto. Ora, gueto é segregação espacial e eles mesmos concordam que não existe segregação espacial de homossexuais em termos concretos em São Paulo. Vemos que as espacialidades de homens gays não se limitam a fronteiras, materiais ou imateriais, pelo menos não de forma rígida.
53Concordamos com as ideias apresentadas por Puccinelli (2014, p. 180) sobre o gueto gay. Após fazer uma discussão teórica sobre a ideia de gueto, relacionando-a com as questões de segregação espacial, classe, raça, produção cultural, entre outras, o autor concorda que não temos um gueto homossexual nos termos dos guetos tão conhecidos de cidades estrangeiras, como o de São Francisco. Mas não o nega em absoluto. Muitas pessoas utilizam o termo ‘gueto gay’, e a partir daí, ele pondera que talvez o mais importante seja analisar por que esse termo aparece nas falas das pessoas e a qual contexto elas se referem, de forma a “se atentar para como as palavras surgem em textos sem contextos, e dar maior visibilidade aos contextos que informam um texto”.
54Mesmo que exista uma tentativa de ressignificação do termo gueto, acreditamos que ela é insuficiente e até limitadora, porque o termo evoca, em primeiro lugar, a dimensão espacial (CALDEIRA, 2000; GUILLAUME, 2003; LEROY, 2005).
55Leroy (2005) é ainda mais crítico. Para ele, a ideia de gueto não diz respeito apenas ao espacial ou territorial (podendo significar algo no campo da linguagem), mas ao utilizarmos a palavra, podemos deslizar de seu significado enquanto entidade espacial para o de comunidade, que é uma categoria social, e em seguida para o comunitarismo, uma prática social, resultando em uma confusão de ideias e na criação, de fato, de segregação.
56Pensando sobre o bairro do Marais, Leroy (2005, p. 597-598) aponta que apesar da quantidade e densidade de estabelecimentos comerciais destinados a homossexuais, o Marais é um bairro com frequentadores diversos, tanto parisienses como turistas. Daí ele complementa seu argumento “contra” o gueto: ora, “a visibilidade gay não se alimenta da relação com os outros?”. Além do mais, como pensar em um reconhecimento enquanto gueto se entre os próprios homossexuais há grupos que não necessariamente mantêm contato entre si e se identificam como parte de subgrupos, como os musculosos, os ursos, os coroas, os mais jovens, as divisões de classe, de raça, e que inclusive frequentam estabelecimentos diferentes e têm sociabilidades e espacialidades distintas? Leroy se questiona novamente: “a existência de uma pluralidade de comunidades não contradiz a existência de um gueto?”.
- 4 PITTE, J.-R. L’avenir du Marais. Cahiers du Centre de Recherches et d’Études sur Paris et l’Ile-de- (...)
57O geógrafo Jean-Robert Pitte (1997, p. 524 apud SIBALIS, 2004, p. 1753, tradução nossa), afirma que o encorajamento de agrupamentos étnicos ou culturais, de forma geral, cria uma sociabilidade restrita a um minúsculo território. Para ele, o desenvolvimento dos guetos é perigoso, porque ele elimina a sociabilidade e a urbanidade.
58Em 2008, houve uma proposta da Associação Casarão Brasil de atribuir à Rua Frei Caneca o título de “rua gay” de São Paulo, justificado pelo adensamento de estabelecimentos comerciais frequentados por gays na rua e em seus arredores. Mas nem todos foram a favor da ideia: a associação de bairro Sociedade dos Amigos e Moradores de Cerqueira César (Samorcc) considerou o título um estigma para o bairro; já a Associação da Parada LGBT de São Paulo (APOLGBT), também foi contra, mas defendeu que é necessário que os homossexuais ocupem todos os espaços da cidade, e não se guetifiquem.
59Mas por que a Rua Frei Caneca e não a Avenida Vieira de Carvalho ou o Largo do Arouche? Ao comparar esses endereços, Vicente (2015) apresenta uma reflexão sobre o perfil dos frequentadores desses locais e demonstra uma diferenciação econômica e cultural ao analisar os preços de entrada e consumação dos estabelecimentos e seus costumes estéticos (vestuário, cuidados com o corpo). Tanto os valores de entrada dos estabelecimentos são mais caros na região da Frei Caneca, quanto os padrões estéticos de seus frequentadores são mais rígidos e hegemônicos, alinhados ao consumismo. Já na região do Arouche, é possível encontrar festas que reúnem pessoas com padrões não-hegemônicos, sejam eles estéticos, etários, culturais ou econômicos. Enxergamos isso como a seleção de um tipo gay: branco, de classe média/alta, com o padrão de beleza colonizado.
60A fim de verificar a frequentação de homossexuais em um ponto específico das áreas de estudo, coletamos os dados da densidade por m² dos usuários do aplicativo Grindr, uma rede social para encontros entre homens. O aplicativo, disponível para celulares, permite que o usuário construa um perfil seu e, ao se conectar à internet e ligar o GPS, ele pode visualizar e interagir com os outros perfis de pessoas ao seu entorno.
61Os pontos escolhidos foram o Largo do Arouche, em São Paulo, e a Rue des Archives, em Paris. Em ambos os locais, o ponto central foram bares-restaurantes listados em guias de turismo gay. Como a nossa análise foi feita com uma escala micro, não podemos concluir para São Paulo e Paris inteiras, mas temos aqui indicadores que servem para a análise da urbanidade.
62O resultado pode ser visualizado nos Mapas 7 e 8, para São Paulo e Paris, respectivamente. A quantidade de perfis encontrados em ambos os períodos foi praticamente a mesma, mas as densidades dos círculos desenhados nos mapas mostram que à noite, os usuários se concentram mais perto do ponto de coleta. Essa análise nos leva à conclusão de que há maior frequentação e concentração de homossexuais nos pontos de coleta no período noturno, já que os arredores concentram mais pontos de encontro homossexual. Apontamos que tanto o Largo do Arouche, quanto a Rue des Archives apresentam uso misto, com bares e boates ao lado de edifícios residenciais.
Mapa 7: Probabilidade de encontro de parceiros afetivos ou sexuais para homens nos arredores do Largo do Arouche, São Paulo
Mapa 8: Probabilidade de encontro de parceiros afetivos ou sexuais para homens nos arredores da Rue des Archives, Marais, Paris
63Os valores expressam a média dos dados coletados duas vezes ao dia (tarde e noite) em três dias da semana (segunda, terça e sexta), de forma a não privilegiar os finais de semana, quando ocorrem mais festas. As concentrações durante o dia também foram significativas, com um raio de maior alcance. O Largo do Arouche está em uma área caracterizada como um polo do setor comercial, onde há um fluxo grande de pessoas durante o dia. Também é facilmente observável que muitos homossexuais moram na vizinhança.
64O que podemos concluir desses dois mapas é que a probabilidade de encontrar um parceiro amoroso ou sexual no aplicativo Grindr é maior à noite, mas os resultados à tarde não são exageradamente menores. Isso significa que a presença de homossexuais nas regiões estudadas é quase constante durante todo o período do dia: em momentos comuns do dia a dia, com maior movimentação do lazer noturno. Por sua vez, esse dado não nos autoriza afirmar que essas áreas são frequentadas exclusiva ou predominantemente por homossexuais, mas que esses sujeitos também estão lá presentes.
65A justiça é um dos componentes estruturadores da sociedade, cujos princípios são a igualdade, a equidade e a diferença (RAWLS, 2008). Sendo social a substância da cidade, podemos dizer que urbanidade e justiça são inseparáveis. A cidade é privilegiada pelas relações entre espaço e política, que mantêm uma relação simbólica subjetiva além de uma relação material, uma vez que nela se torna evidente a unidade do social (LÉVY, 1994).
66Para Blidon (2011), uma das poucas geógrafas a trabalhar com esse enfoque, a justiça social é uma política que propõe acabar com todas as formas de opressão, pautada no reconhecimento da alteridade.
67Uma forma de injustiça espacial são as segregações. Neste caso, elas são mais evidentes quando falamos dos guetos, mas se relacionam também com as violências cotidianas que os homossexuais sofrem, tais como são o medo de demonstrar afeto ao seu parceiro nos espaços públicos e comuns, medo de se comportar e se vestir fora da heteronormatividade, não ter espaços seguros e acolhedores, como a escola etc. A homossexualidade se beneficiaria da justiça espacial ao poder sair da esfera do privado e se expressar publicamente, assim como a heterossexualidade, sem precisar de justificativas.
- 5 Centros de Cidadania, da Coordenação de Politicas para LGBT – Secretaria Municipal de Direitos Huma (...)
68A implantação de Centros de Cidadania LGBT5 nas zonas central, norte, sul e leste do município de São Paulo, na gestão de Fernando Haddad (PT), é um tipo de política que promove a aproximação dos LGBTs dessas regiões para que eles se informem e discutam as suas necessidades e pautas. Longe de ser uma política implantada de cima para baixo, esses Centros organizam as pessoas LGBT enquanto grupo social e, por isso, são espaços de construção da identidade LGBT.
- 6 “Prefeitura troca e amplia bandeiras do arco-iris no Largo do Arouche”. Disponivel em: http://www.p (...)
69Pode parecer que a instalação de bandeiras do movimento LGBT no Largo do Arouche e na Avenida Vieira de Carvalho6 seja um exemplo da promoção da visibilidade LGBT nesses locais. Na verdade, a visibilidade já existe porque a cidade é um “espaço privilegiado de liberação sexual, [que] outorga à sexualidade o direito à visibilidade” (CATTAN; LEROY, 2010). Mas não nos confundamos. Como nos diz Boivin (2018, p. 289-290), a visibilidade é social no que diz respeito à expressão, presença e deliberação em espaços de comunicação; individual no que diz respeito ao indivíduo e a sua escolha em assumir-se para as pessoas que o cercam; política porque permite a criação de identificação “sexo-política” coletiva e a organização por reivindicação de direitos e representação; e geográfica “enquanto presença, concentração ou localização em um território”. Interessa-nos saber o quanto os LGBTs são visíveis na cidade.
70Por outro lado, independente de a visibilidade homossexual já existir, em maior ou menor medida, as concentrações de locais de encontro, ao contrário do que afirma Boivin (2018), ainda são fundamentais para entendermos as espacialidades homossexuais. Nem todos os homossexuais frequentam esses espaços, mas seu conjunto assume um papel representativo da liberação sexual da cidade. Papel esse que validam a cidade como um lugar mais livre para a sexualidade. Por isso, pensamos na ação da Prefeitura de São Paulo como um reconhecimento da visibilidade LGBT naquela região.
71Por outro lado, vemos o processo de gentrificação pelo qual passa o Largo do Arouche, e toda a região da Bela Vista-Consolação, com empreendimentos residenciais construídos para perfis socioeconômicos que não condizem com o dos frequentadores daquela região, assim como o projeto da construção de um boulevard francês no Largo, sem consulta aos frequentadores, moradores, comerciantes e movimentos sociais. A contradição da cidade está no jogo de interesses, que nega a todos fora da heteronormatividade o direito à visibilidade.
72Por fim, pensamos que a injustiça espacial em relação à homossexualidade só pode ser combatida com representação, poder político, reconhecimento social, ocupação (e resistência contra a expulsão) no espaço heteronormativo da cidade. A justiça espacial define-se, assim, como o direito à cidade e o direito à diferença, da forma como explorados por Lefebvre ([1968] 2001; 1970).
73Após a construção dos mapas apresentados até aqui, retiramos deles informações que pudessem sintetizar a dinâmica espacial da homossexualidade masculina em São Paulo e em Paris. Por fim, elaboramos dois modelos de síntese dos espaços da homossexualidade em São Paulo (Figura 1) e em Paris (Figura 2). Seguimos os fundamentos da proposta de Roger Brunet (2000) para a representação gráfica das estruturas elementares espaciais.
Figura 1: Modelo de síntese das espacialidades homossexuais masculinas em São Paulo.
Figura 2: Modelo de síntese das espacialidades homossexuais masculinas em Paris.
74Vemos que em São Paulo, os espaços da homossexualidade estão localizados em uma pequena área no centro do município. As zonas leste e sul são identificadas como áreas de expansão e/ou deslocamento desses espaços. Os espaços do sexo gay, por sua vez, constituem a área ao entorno daqueles, e também no interior. Apesar de serem um pouco mais dispersos no município, a maior concentração ainda é encontrada na região central.
75O que podemos entender da organização do espaço urbano de Paris no que se refere à homossexualidade é que as espacialidades homossexuais estão espalhadas pela cidade, com uma concentração significativa no Marais. É bastante difícil enxergar uma organização de segregação quando os indivíduos usufruem de diversos espaços localizados em praticamente toda a extensão do departamento parisiense para realizar as ações cotidianas que lhes interessam, como se mostrou ser o caso.
76Observamos que as espacialidades homossexuais masculinas não estão constituídas em uma lógica de segregação espacial, um gueto, em nenhuma das cidades analisadas. A partir dos mapas apresentados, pudemos ver que em Paris existe um núcleo no bairro do Marais, onde há maior quantidade de endereços de encontro, o que faz sentido, dado o histórico desse bairro, que apresenta, há décadas, estabelecimentos de lazer, cultura e política direcionada a esses sujeitos. No entanto, as espacialidades homossexuais em Paris se estendem para outras áreas além do Marais, muitas outras áreas da cidade, o que significa maior interação no espaço urbano.
77São Paulo, por sua vez, apresenta também uma concentração de locais de encontro na região central, especificamente nos bairros República e Bela Vista, porém tem uma extensão proporcionalmente menor das espacialidades homossexuais, delimitadas pelas novas centralidades econômicas e culturais, como os distritos Jardim Paulista e Pinheiros. Ainda assim, nota-se um movimento de expansão e migração para as zonas sul e leste, em razão dos movimentos homossexuais e políticas públicas específicas para a população homossexual dessas regiões.
78A concentração nos centros históricos nos indica que esses centros são dotados de maior urbanidade que o resto da cidade, já que permitem maior diversidade. A maior compactação territorial das espacialidades gays em São Paulo pode ser um indicador de urbanidade. Paris estaria à frente com seus espaços de sociabilidade e visibilidade mais amplos.
79Constatamos que as espacialidades homossexuais são uma forma de resistência da urbanidade nas duas cidades estudadas, porque elas se baseiam em uma lógica de contato e relações, e que elas atuam em um jogo de poder com outras espacialidades no espaço público.
80Vimos que a concentração de estabelecimentos comerciais ainda é importante para se pensar no reconhecimento social da homossexualidade. Ao lado deles, devem ser considerados os locais de encontro no espaço público, os locais do sexo anônimo e os espaços de organização política e criação de identidade. Tal reconhecimento é um processo de produção espacial, que envolve deslocar, alterar ou destruir as estruturas espaciais já existentes e construir novas.
81Não existe direito à cidade no espaço heteronormativo. Enquanto permanecer a assimilação da homossexualidade à heterossexualidade, menos subversiva é a visibilidade gay. São aqueles que desafiam os limites da visibilidade ao não aceitarem os limites dos bares e boates, ao não se censurarem no espaço público, ao continuarem transando nos banheiros e praças públicas, que nos levam para outro espaço urbano, um pouco mais justo.