1Este trabalho refere-se a um Projeto de Pesquisa institucional em vigência (2017-2019) do qual participam inúmeros pesquisadores de universidades públicas do estado de Mato Grosso do Sul, a saber Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. A pesquisa envolve ainda acadêmicos do curso de Geografia (Licenciatura e Bacharelado) de modo a contribuírem com análises científicas sobre a temática. Desse modo, regularmente são produzidos relatórios científicos encaminhados e analisados pela instituição na qual está cadastrada a referida pesquisa.
- 1 A circulação pode ser tanto material, quando o que circula são pessoas, mercadorias e objetos; ou p (...)
2No atual período caracterizado pela convergência da técnica, da ciência e da informação, a circulação (seja ela material ou imaterial1) se destaca como elemento intrínseco e indissociável aos processos produtivos. De forma que constantemente são criadas e ampliadas as possibilidades para especialização dos lugares, o que contribui para o estabelecimento de uma intensa divisão territorial do trabalho (SANTOS, 1996).
3Dado tal fato, observa-se que a circulação é um elemento básico e essencial do desenvolvimento econômico, e compreendemos, portanto, que se constitui como uma das bases de diferenciação geográfica (ARROYO, 2006). Em decorrência disso, temos que os transportes tonificam a materialização da circulação. Nessas condições, as justificativas que se avolumam sobre a necessidade de se desenvolver pesquisas relacionadas a temática “Transportes e Circulação” são cada vez mais inerentes à compreensão do processo de integração territorial e à constituição e participação na organização da rede técnica de transportes. Além disso, as análises dedicadas a esta abordagem, também visam compreender sua relação com o ordenamento e planejamento territorial, fatores cruciais a formulação e execução de políticas públicas inerentes ao setor.
4Dentro dessa prerrogativa, entendemos que é essencial contribuir na esfera teórica e metodológica com pesquisas que se dedicam a análise do setor de transportes e circulação, tendo em vista que o tema tem apresentado importantes resultados na compreensão dos impactos na produção e reprodução do espaço geográfico (SILVEIRA, 2011).
5Soma-se ainda a necessidade de ampliar o debate sobre esta temática, sobretudo quando se trata de um contexto regional de valorização de novos territórios (CAMILO PEREIRA; FONSECA, 2017). Assim, temos que tais análises na atualidade trazem novas leituras e significados para se refletir sobre a importância dos transportes no contexto regional, o que justifica o recorte espacial sobre a indissociabilidade dos fixos e dos fluxos no estado de Mato Grosso do Sul, atribuindo-lhe um olhar tanto empírico e quanto teórico sobre sua dinâmica de desenvolvimento econômico e regional.
6Nessa análise de valorização espacial, corroboramos teoricamente com Arroyo (2006, p. 81) ao afirmar que o desenvolvimento e a difusão dos meios de transportes criam as condições para que os lugares se especializem. Assim, a autora reverbera no sentido de que a “circulação repercute sobre a produção, obrigando-a modernizar-se. Os fluxos multiplicam-se, diversificam-se, tornam-se ainda mais importantes para a realização da produção”
7O setor de transportes e a materialização da circulação se colocam como elementos essenciais às dinâmicas econômicas e produtivas, que tanto movimentam cargas, como pessoas e dentro dessa lógica, temos observado um incremento particular no que tange ao desenvolvimento dos diferentes modais de transportes na atualidade, seja devido à maior demanda e oferta, seja pelos investimentos em infraestrutura, que se colocam como fatores intrínsecos ao desenvolvimento econômico e regional.
8Ao estar inserido em um cenário de crescimento econômico e de demanda de investimentos, o setor de transportes, no que tange à infraestrutura, está envolto por ações de planejamento público. Nessa óptica, é importante ressaltar que entendemos a infraestrutura de transportes como “um dos elementos organizadores e produtores do espaço” (LAMOSO, 2009, p. 43).
9Acrescemos ainda, conforme destaca Oliveira (2016, p. 47) que: “as infraestruturas e os meios de transportes são parte de um processo de transformações produtivas em que as dinâmicas em um setor significam consequências em outros setores do conjunto dos meios de produção”.
10Tendo como base essas prerrogativas, a infraestrutura de transportes em Mato Grosso do Sul, foi elencada nos últimos anos pela continuidade do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mais precisamente pelo Programa de Investimentos em Logística (PIL) que se constituiu como uma estratégia nacional de desenvolvimento iniciada no Governo Dilma Rousseff e, posteriormente desencadeou-se uma Medida Provisória criando Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).
11Por meio de uma lógica de planejamento baseada em políticas públicas e seus instrumentos de viabilização e modernização do setor de transportes, buscamos compreender dentre outros elementos, como tem se configurado e processado a dinâmica da fluidez territorial a partir dos principais fixos no estado de Mato Grosso do Sul e quais seus impactos na produção e reprodução do espaço regional.
12Dois pontos precisam ser avultados nessa análise de compreensão sobre a fluidez territorial: 1. a problemática que envolve o planejamento estatal que se configura por políticas de Estado permeadas pelo confronto político-partidário, por disputas e interesses distintos e por pactos de poder que envolvem obstáculos à celeridade e efetividade da implantação do planejamento público; 2. o território, em decorrência de suas peculiaridades e usos distintos (excludentes e seletivos) que é impactado de formas distintas com influências em seu ordenamento.
13Nesse contexto, entendemos que o estado de Mato Grosso do Sul se coloca como um vetor de desenvolvimento econômico, considerando as diferentes modalidades de transportes, bem como as diferentes funções e objetivos de cada setor de transporte na produção e reprodução do espaço regional. Por isso, tem-se a intenção de se identificar de que modo as políticas públicas têm promovido a essencialidade da circulação por meio de incentivos, investimentos e planejamento no setor de infraestrutura de transportes.
14Vale ressaltar que a perspectiva apontada de análise dos fixos e dos fluxos em Mato Grosso do Sul, se compreende a partir do aporte teórico de Milton Santos (2002), o qual destaca que:
Fixos e fluxos possuem uma relação de complementaridade, haja vista que [...] juntos, interagindo, expressam a realidade geográfica e é desse modo que conjuntamente aparecem como um objeto possível para a geografia. Foi assim em todos os tempos, só que hoje os fixos são cada vez mais artificiais e mais fixados ao solo; os fluxos são cada vez mais diversos, mais amplos, mais numerosos, mais rápidos (SANTOS, 2002, p. 62).
15Nessa análise, Santos (2002, p. 61) conclui que: “os fluxos são um resultado direto ou indireto das ações que atravessam ou se instalam nos fixos, modificando a sua significação e o seu valor, ao mesmo tempo em que, também, se modificam”.
16Esse processo, que envolve várias ações institucionais e vultosos investimentos estatais e privados, corrobora para uma intensificação dos fluxos materiais e imateriais que ocorrem em espaços cada vez mais amplos do mercado mundializado, aumentando as possibilidades do espraiamento geográfico das atividades econômico-produtivas que, por vezes, atingem áreas antes, até certa medida, posicionadas às margens dos circuitos produtivos predominantes.
17Isso não ocorre, todavia, de forma idêntica em todos os lugares, portanto é necessário compreendermos que a circulação atua como uma das bases da diferenciação geográfica (ARROYO, 2006), de uma forma consideravelmente intensa na atualidade.
- 2 Ver Silveira; Camilo Pereira (2017).
18É patente que diante da forte expansão da mobilidade geográfica do capital2, as novas conjunturas e demandas corporativas induzem a valorização de outros territórios de desenvolvimento e um cenário de maior racionalidade na circulação, não apenas em razão dos avanços técnicos por meio da implantação de sistemas de objetos, mas também através da política e de sistemas de normas, por meio de um sistema de ações essenciais para a promoção da fluidez e da porosidade territorial (SANTOS; SILVEIRA, 2001), visando sempre formas mais rápidas, racionais e precisas de deslocamentos pelo território nacional.
19Toda esta dinâmica corresponde, logicamente, a forma como as possibilidades de circulação estão estabelecidas e/ou podem se estabelecer no estado de Mato Grosso do Sul, a escala geográfica de análise deste projeto. Nesse sentido, na lógica de integração territorial e da relação entre produção e circulação, o setor de transportes tem grande influência na dinâmica econômica do país e para a organização do território.
20Assim, este projeto de pesquisa tem o objetivo de analisar o setor de transportes no estado de Mato Grosso do Sul, enquanto um setor de valorização de novos pontos e uso do território, inserido no processo de dinamização da economia regional e nacional. Para isso, destacamos que a pesquisa aborda algumas discussões importantes na perspectiva da ciência geográfica, tendo como base o desenvolvimento regional, a fluidez e os fixos produtivos (que empreendem uma dinâmica econômica atrelada aos deslocamentos de carga e passageiros a partir desse recorte espacial), as infraestruturas e, consequentemente os sistemas de transportes e circulação.
Mapa 01 - Mato Grosso do Sul (Brasil): Localização geográfica e principais sistemas de transporte
- 3 A rota Bioceânica é um projeto que busca viabilizar através de rodovias, a comunicação entre países (...)
- 4 No ano de 2015 foi aprovada a Declaração de Assunção, por meio da qual foi criado Grupo de Trabalho (...)
21Além disso, o estado de Mato Grosso do Sul faz parte de um importante corredor nacional de escoamento da produção agropecuária, o que nos leva a compreender seu papel na economia nacional, tendo em vista a viabilização do Corredor Rodoviário Bioceânico3projetado desde a capital sul-mato-grossense Campo Grande, passando pelo município fronteiriço de Porto Murtinho, pelo norte do Paraguai e da Argentina, em direção aos portos do Norte do Chile. Nessa perspectiva, este projeto também buscará dar subsídios teórico e prático à Rede de Universidades do Corredor Bioceânico4.
22Nesta análise também se soma o fato de que Mato Grosso do Sul se constitui um território marcado pelas dinâmicas fronteiriças, o que nos revela múltiplas e complexas relações com alguns países vizinhos sul-americanos. Desse modo, compreende-se, de acordo com Paixão (2006, p. 50), que as fronteiras passaram a encerrar espaços territoriais de igual conteúdo ideológico, o que de certo modo implica no estrangulamento da circulação, de sua fluidez, sobretudo material. Assim, para o autor: [...] é presumível que, em determinados casos, as fronteiras sejam mais que o bordejamento entre dois países”.
23Em síntese, as discussões correlatas envolvem análises que buscam retratar o planejamento e ordenamento territorial; a importância de novas territorialidades; os investimentos públicos e privados em infraestruturas a partir de instrumentos de viabilização de políticas públicas, sobretudo de circulação; as redes técnicas de transportes no estado; os sistemas de movimento (infraestruturas e meios de transportes), indicadores de viabilização que atentem para as externalidades positivas e negativas do Corredor Rodoviário Bioceânico, dentre outros elementos.
24Para isso, considera-se os principais modais de transportes compreendendo a relação com o conceito de logística desenvolvido na Geografia (SILVEIRA, 2011), a articulação com os grandes projetos de desenvolvimento (SOUZA, 2008), bem como com os eixos de circulação do estado de Mato Grosso do Sul.
25As transformações recorrentes da evolução socioespacial, dos ciclos econômicos, das revoluções logísticas, da concorrência, assim como do intenso uso das vantagens e facilidades que a tecnologia produz, tem feito com que, espacialmente, os lugares se contraiam num processo de aproximação legitimamente explorado pela mundialização do capital (CHESNAIS, 1996), que economicamente, ora converge, ora diverge os espaços de interesse do capital.
26Tais transformações estão inseridas num mercado global que coordena as características inerentes à circulação, para que estas engendrem mais movimento, maior flexibilidade, inovações econômicas, reestruturação técnica e, sobretudo, um maior fluxo, seja de pessoas, mercadorias, informações ou capital. A prerrogativa da sociedade atual impõe as metamorfoses necessárias à mobilidade territorial (LÉVY, 2001).
27A articulação entre os territórios perpassa os limites espaciais e projeta-se temporalmente no contexto de análise. Desse modo, os transportes de modo geral configuram-se como um setor que tem absorvido as mais intensas transformações estruturais, tecnológicas e econômicas, as quais se revelam como um elemento sincronizado às estratégias de desenvolvimento econômico e regional.
28Na perspectiva de compreender este ramo geográfico da Geografia dos Transportes, nos concentramos em Silveira (2011), o qual define essa abordagem de forma ampla e integrada, conforme exemplifica em suas palavras:
A circulação em uma forma mais totalizadora, capaz de conectar, através das relações sociais, o homem com o meio, sendo a ação fundamental do movimento rumo ao desenvolvimento. A circulação deixa de forma explícita sua marca no espaço geográfico (técnica, ações e normas em perfeitas combinações) e, para isso, tem como atributos menores, os transportes e a logística. O transporte, em seu caráter mais específico, tomou corpo quando os transportes, já utilizados pelo movimento positivista (modelos de localização espaciais), foram amplificados pelo neopositivismo e por seus modelos analíticos de ordenamento do espaço (num novo apanhado instrumental advindo dos avanços da tecnologia da informação e dos dados estatísticos). A logística como estratégias diversas, planejamento e gestão de transportes e de armazenagem assim, como em muitas situações as comunicações (SILVEIRA, 2011, p. 22-23).
29A necessidade de formas rápidas e precisas de circulação no território demanda o aperfeiçoamento dos meios de transportes. Nesse mérito, para compreender e analisar as dinâmicas promovidas pelo crescimento da movimentação de cargas e passageiros no Brasil e, mais especificamente, no estado de Mato Grosso do Sul, faz-se pertinente, uma fundamentação teórica e empírica que enfoque alguns elementos essenciais para essa abordagem.
30Desta forma, no que tange ao referencial teórico destacamos ainda uma abordagem que dialeticamente pretende compreender os modais de transporte em Mato Grosso do Sul a partir de alguns conceitos, termos e categorias de análise tais como: o circuito espacial da circulação, as redes corporativas, a integração territorial, os fluxos e fixos, a fluidez territorial, porosidade territorial, os sistemas de objetos e movimento, sistemas de ações e normas, assim como as inovações tecnológicas aliadas às ações públicas nas diferentes escalas do poder.
31Assim, compreendemos que tem se projetado uma reestruturação na dinâmica da circulação, na medida em que seu desenvolvimento demanda investimentos em infraestruturas, modernização tecnológica, adequação funcional dos fixos aos fluxos e incremento estratégico no planejamento e nas estratégias de Governo, o que repercute economicamente para o país que cada vez mais amplie sua rede de relações econômicas e sociais em suas diversas regiões e com outros países.
32Santos (2002) destaca que o imperativo da sociedade atual influenciado pelo meio técnico-científico-informacional exige uma fluidez territorial que remonta uma perspectiva intensamente renovadora, ou seja, a fluidez demanda o aperfeiçoamento de novas técnicas, de novos sistemas de objetos que intensificam os sistemas de ações, com isso a especialização infraestrutural dos fixos é fator fundamental para a expansão do setor.
33Santos e Silveira (2004) afirmam que com o meio técnico-científico-informacional, os círculos de cooperação instalaram-se em um nível superior de complexidade e numa escala geográfica de ação mais ampla, com a produção de fixos mais especializados e tecnologicamente melhor equipados, como forma de impulsionar a circulação territorial articulando-se à lógica capitalista. Nessa concepção, Arroyo (2006) alega que a circulação é uma das bases de diferenciação geográfica, por isso o interesse e a disputa dos territórios pela maior fluidez. Contudo, para que os fluxos se perpetuem, é necessária a criação de fixos produtivos e de redes corporativas.
34Na medida em que essa integração territorial foi proporcionada pelo setor de transportes, ampliou-se a importância dos fixos produtivos que interligavam os pontos nodais do país, nesse aspecto, as redes técnicas se sobrepõem nessa questão.
35Nesse sentido, as abordagens deste projeto buscam compreender, sinteticamente as análises sobre a materialização da circulação territorial. Considera-se, inicialmente, as explicações de Pini (1995, p. 140) para quem a circulação baseia-se na: “manifestation tangible sous forme de flux de marchandises, persones, capitaux, idées, informations des relations entre les lieux”. A partir das análises desse autor e de demais complementações buscamos compreender o papel da circulação na contemporaneidade aliado as ações públicas de investimentos no setor.
36Para tratar os sistemas de objetos e ações busca-se as considerações de Santos (2002) que contribuem para a compreensão do espaço como um conjunto indissociável de fixos e fluxos. Assim, os fluxos são os resultados direto ou indireto das ações e atravessam ou se instalam nos fixos, modificando a sua significação e o seu valor, ao mesmo tempo em que, também se modificam. Contel (2001) também traz uma contribuição inerente a esta abordagem, ao tratar dos sistemas de movimento como um conjunto indissociável de sistemas de engenharia (os fixos) e de sistemas de fluxos.
37Ainda nessa análise, a fluidez do e no território demanda transformações técnicas de infraestrutura. Dentro dessa perspectiva, Santos (2002) considera que a criação de fixos produtivos leva o surgimento de fluxos que exigem vias atmosféricas para balizar o seu próprio movimento, e isso é a dialética entre a frequência e a espessura dos movimentos no período contemporâneo que demandam a construção e modernização dos sistemas de engenharia que garantem a movimentação aérea no espaço.
38Nesse mesmo raciocínio, temos que as bases da competitividade estão diretamente ligadas à capacidade de inovar (COUTINHO, 1992). A velocidade das ações e das transformações em todo processo produtivo, desde a fase inicial até a circulação e o consumo em si, tem maximizado a incorporação de estratégias que já não mais estão apenas relacionadas às técnicas de administração interna das empresas, mas também ao padrão de permanência e inovação das empresas no mercado. Desse modo, compreender a competitividade empresarial, no que se refere a criação de circuitos espaciais de produção que são viabilizados pela circulação e pelos transportes, nos leva a analisar a dinâmica do desenvolvimento econômico regional, como forma de verificar as estratégias imanentes à lógica da mobilidade geográfica do capital.
39Ao discutir as estratégias empresariais no setor de transportes, propõe-se uma abordagem a partir das bases conceituais de Michel Porter (1986, 1989, 1999), que descreve a função da vantagem competitiva no mercado concorrencial. Para o autor, a necessidade de criar vantagens competitivas é fundamental para consolidação num mercado competitivo, uma vez que é mediante a estratégia e a inovação corporativa que as empresas conseguem manipular e constituir um mercado de acordo com seus interesses. A aderência conceitual do autor é pertinente quanto ao seu posicionamento estratégico na discussão sobre constituição da “vantagem competitiva”, considerada pelo mesmo como uma estratégia eloquentemente distinguível e compulsoriamente exequível.
40Complementa-se ainda nesta discussão teórica a importância que as redes têm no setor aéreo. No tocante a isso, baseamo-nos na rede corporativa, da qual Castillo (2003) assinala como sendo um conjunto de equipamentos e infraestruturas especializadas e implantadas no território com o propósito de atender a determinados segmentos. Nesse sentido, consideramos a análise do autor sobre as redes corporativas como elemento basilar para compreender a dinâmica da fluidez territorial, tendo como principal característica a articulação entre redes, fluxos e fixos.
41A partir dessa propositura, elencamos também os referenciais de Castells (2002) para identificar e analisar a dinâmica dos fluxos e a correlação entre oferta/demanda, já que o autor considera que a organização da sociedade se baseia na lógica espacial ao qual denomina de espaço de fluxos.
42Acresce-se ainda Pereira e Kahil (2006) que destacam as redes como uma estrutura organizacional e técnica, mas também, e principalmente, um instrumento de organização política e social. Se constitui de forma diferenciada pelos agentes para o estabelecimento de fluxos tangíveis ou intangíveis produzindo um controle vertical (hierárquico) da produção e dos territórios.
43Analisando especificamente as redes a partir da Geografia dos Transportes, Pini (1995, p. 141) alega que: “la réseau de transport est défini par ses composantes, c’est-à-dire des lieux, et par les actions liaisons les joignant pour un mode de transport donné”. Nesse sentido, as diferentes abordagens sobre o termo contribuem para a busca de uma conceituação mais precisa e focada na rede a partir da perspectiva dos transportes. Nesse trabalho, as redes são compreendidas não somente em suas dimensões técnicas, mas também considerando o resultado de seus elementos sociais e econômicos na produção e reprodução do espaço regional.
44Ainda nessa concepção, as pesquisas e considerações de Pons e Reynes (2004) serão cruciais como aporte teórico para a compreensão da dinâmica da mobilidade territorial relacionada à Geografia dos Transportes.
45Concomitantemente, temos ainda as análises de Silveira (2009) que considera as evoluções e revoluções logísticas e suas implicações territoriais. A partir dessa abordagem é possível compreender a influência exercida pela tecnologia na modernização dos meios de transportes, a lógica empreendida pelo capital, buscando com isso configurar uma assimetria entre desenvolvimento tecnológico e mobilidade geográfica do capital.
46Em relação a infraestrutura como elemento organizador do território baseamo-nos em Lamoso (2009, p. 43) para a qual a “infraestrutura é o suporte para a produção, a circulação e o consumo de mercadorias geradas pelas atividades produtivas e um dos elementos organizadores e produtores de espaço, influenciando no desenvolvimento econômico”.
47Em relação a base empírica do recorte espacial selecionado e definido neste projeto, qual seja: o estado de Mato Grosso do Sul, teoricamente nos detemos as análises de pesquisas de autores que tem orientado suas abordagens para compreender o recorte supracitado. Nesse sentido, as principais referências que analisam direta e/ou indiretamente a temática da Geografia dos Transportes em Mato Grosso do Sul são: Lamoso (2008, 2009, 2011), Souza (2008), Abreu (2014), Aredes (2014), Queiroz (2004, 2008), dentre outros.
48Desse modo, este projeto abordará os referenciais teóricos elencados justapondo demais bibliografias que se fizerem necessárias à compreensão da pesquisa. De forma geral, a conceituação de termos utilizados pela Geografia e as fundamentações geográficas clássicas, bem como trabalhos específicos sobre os transportes contribuem como base para a formulação e o encaminhamento da pesquisa.
49Na lógica da circulação, dos fixos e dos fluxos, do planejamento e da implementação de políticas públicas se torna essencial compreender que esses elementos são condicionados e condicionam-se a partir de uma complexidade de reprodução seletiva e excludente, que coexiste mediante uma determinada hierarquia dos lugares que se dá como base de uma produtividade espacial. É nesse sentido, que Arroyo (2006) atesta que “a partir da construção de certas formas – aquelas encarregadas de garantir a fluidez – e a partir do desenho de certas normas – aquelas que regulam a porosidade” que podemos identificar e abordar as inúmeras faces e desdobramentos dos diferentes usos do território.
50Nessa óptica, que objetiva-se a partir desse esquadrinhamento analisar e identificar as características gerais do desenvolvimento dos meios de transportes e a dinâmica econômica da circulação no estado de Mato Grosso do Sul, tendo como base os sistemas de fixos e fluxos (SANTOS, 2002) e as ações governamentais de políticas públicas de planejamento e investimentos nos diferentes modais de transportes e na infraestrutura, como forma de compreender a dinâmica econômica promovida pelo setor ao estado, a fim também de analisar a infraestrutura como um elemento organizador do território e promotor de desenvolvimento econômico regional.
51Considerando esse apanágio de análise principal, é essencial fluidificar essa abordagem a partir de outras e mais proposições que se constituem medulares a essa pesquisa. Portanto, busca-se analisar os principais modais de transportes no estado de Mato Grosso do Sul, o uso (se cargas e/ou passageiros), investigando também a prioridade à determinados modais, que se constitui como um elemento historicamente definido na circulação territorial no Brasil.
52As discussões e caracterização da influência dos diferentes modais na organização da dinâmica territorial de Mato Grosso do Sul e suas relações teórico-conceituais à luz da Geografia, se fundamenta como um eixo norteador das análises, para isso pretende-se discutir teoricamente conceitos pertinentes a Geografia dos Transportes e da Circulação.
53Como destacado anteriormente, o fomento para aa materialização do Corredor Rodoviário Bioceânico a partir de Mato Grosso do Sul é uma realidade posta na atualidade e discutida ativamente nos âmbitos teóricos e políticos. Desse modo, entende-se que a implementação desta rota requer diagnósticos de viabilização dos setores de transportes (rodoviário e hidroviário) com vistas a fornecer informações teórico-prática, tais como apontar os efeitos multiplicadores, diretrizes e cenários para gestão territorial, bem como das implicações econômicas que os setores de transportes geram na produção do espaço regional.
54Tal abordagem nos leva a compreender e analisar as implicações espaciais e econômicas que as ações governamentais produzem no ordenamento territorial do estado, de modo que as redes corporativas se configuram essenciais no processo de circulação territorial, no direcionamento dos fluxos e na compreensão e defesa de um processo de valorização de outros e novos territórios.
55A consolidação dos pressupostos teórico-metodológicos se dá por meio de levantamentos e revisões bibliográficas que na análise proposta é compreendida como um momento da pesquisa que deve ser constantemente priorizada no desenvolvimento do projeto.
56Esta etapa permite identificar as grandes áreas de interesse relacionadas as temáticas citadas, bem como os direcionamentos teóricos que permitem compreender o empírico e promover uma relação sempre profícua.
57Sendo assim, parte-se de uma análise documental sobre o conhecimento da literatura geográfica referente ao tema para a construção da base teórica, como forma de aprofundar as análises e solidificar o método no qual esta pesquisa será fundamentada. Progressivamente, pretende-se compreender como estão estruturadas as principais políticas de Governo, em seus diferentes níveis, no que tange aos mecanismos disponíveis ao financiamento da renovação dos sistemas de transportes, considerando os principais programas federais e estaduais que estão inseridos nesse processo, bem como os impactos na organização do território.
58Em síntese, buscará relacionar a base teórico-conceitual às análises de campo, como forma de articular teoria e prática no sentido de contribuir para as pesquisas que tratam da temática Geografia dos Transportes em Mato Grosso do Sul na atualidade.
59Com isso, os materiais e método utilizados para execução desse projeto baseiam-se em procedimentos inerentes a uma pesquisa de base geográfica, dos quais podemos elencar: pesquisa bibliográfica, levantamento de dados e bibliografias especializadas sobre o setor de transportes, análise de revistas, jornais, relatórios e informes sobre os sistemas de transportes.
60Somado a isso é essencial considerar a importância dos trabalhos de campo. Desse modo, testificamos das ideias de Suertegaray (2002, s/p):
A pesquisa de campo constitui para o geógrafo um ato de observação da realidade do outro, interpretada pela lente do sujeito na relação com o outro sujeito. Esta interpretação resulta de seu engajamento no próprio objeto de investigação. Sua construção geográfica resulta de suas práticas sociais. Neste caso, o conhecimento não é produzido para subsidiar outros processos. Ele alimenta o processo, na medida em que desvenda as contradições, na medida em que as revela e, portanto, cria nova consciência do mundo.
61Incorpora-se ao trabalho de campo, a coleta de dados estatísticos em anuários do setor de transportes que envolvem uma minuciosa pesquisa junto aos órgãos e instituições vinculadas ao setor, tais como: levantamento de dados na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT), Ministério de Transportes (MIT), Ministério de Integração Nacional, Ministério de Desenvolvimento e Comércio Exterior (MDIC), Ministério do Planejamento (MP), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Banco de Dados de Infraestrutura e Transportes (BIT), Empresa Brasileira de Logística (EPL), Programa de Investimento em Logística (PIL); em esfera estadual junto ao Governo do Estado de Mato Grosso do Sul: a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, do Planejamento, Ciência e Tecnologia (SEMAC), a Secretaria de Estado de Obras Públicas e de Transportes (SEOP) e Rede de Universidades do Corredor Bioceânico.
62E os mecanismos de pesquisa documental que também se agregam às entrevistas nos órgãos governamentais e autarquias estaduais, às tabulações de dados, análise de dados, compilação dos dados e análise comparativa das estatísticas, à produção de material cartográfico, mapas, cartogramas, elaboração de tabelas, gráficos, diagramas etc.
63O produto deste projeto de pesquisa tem como fundamento propor uma análise ampla em termos de temática e específica em termos de recorte espacial. O desenvolvimento econômico do setor de transporte se constitui pela efetivação do processo de circulação territorial. Disso advém uma abordagem que tem como espectro central observar o papel de outros e novos territórios sequiosos de valorização e inserção mais proeminente na dinâmica econômica que perpassa pela constituição dos fixos e pela materialização dos fluxos.
64No intuito de considerar essa proposição que enfatiza-se esse recorte espacial, ou seja, o estado de Mato Grosso do Sul, como forma de compreender suas dinâmicas de produção do espaço regional a partir de elementos cruciais a essa abordagem: como a institucionalização do planejamento por meio de políticas públicas em que o setor privado tem se configurado como protagonista dessa trama contemporânea do capitalismo e do processo de desenvolvimento desigual e combinado.
65Assim, consideramos que as análises abordadas sobre os fluxos e os fixos na dinâmica econômica do estado de Mato Grosso do Sul somadas às abordagens sobre o planejamento público e o Corredor Bioceânico, com foco para o setor de transportes e para a lógica da circulação territorial, nos trará interpretações ávidas de novas leituras e interpelações da produção do espaço regional, no sentido de compreender sua valorização na dinâmica da mobilidade geográfica do capital e no ordenamento territorial.