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Dossiê Paraná em suas diversas escalas

Características geográficas do Estado do Paraná frente aos desastres naturais

Caractéristiques géographiques de l'État du Paraná face aux catastrophes naturelles
Geographical features of the state of Paraná in the face of natural disasters
Gonçalves M. et Vizintim M. F.B.

Résumés

Le but principal de cet article est d'avoir une compréhension du risque de catastrophes naturelles dues à des phénomènes d'inondation dans le Paraná en relation entre le risque et la vulnérabilité, suivant le modèle conceptuel de risque. Pour analyser le risque et la vulnérabilité de l'État du Paraná face à la survenue d'inondations, la cartographie des événements, de leur probabilité de sensibilité spatiale et temporelle de la vulnérabilité de la population exposée sont devenus indispensables. Ce travail a été élaboré, sur le plan méthodologique, en deux étapes : la première, avec l'analyse du danger dans l'État du Paraná à partir d'études de probabilité des inondations et la susceptibilité à la survenue de ces événements ; la deuxième, à l'analyse de la vulnérabilité, constitué d'études de la population exposée et les actifs exposés à des événements et de la vulnérabilité sociale des municipalités de l'État. Toutes les variables du modèle de risque conceptuel utilisé dans cette étude ont été élaborées grâce à des indicateurs et des indices qui ont servi à différencier les communes en fonction de leur sensibilité, de la probabilité, de la population exposée, des biens exposés et de la vulnérabilité sociale. Ces valeurs ont été utilisées pour former d'autres indices pour l'analyse des risques et de la vulnérabilité et, enfin, l'indice de risque à la survenance de catastrophes naturelles liées aux inondations dans l'État du Paraná.

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Texte intégral

1Quando se analisa os fenômenos da natureza em uma área, agindo sobre uma população ou sociedade, é preciso entender e compreender de maneira ampla as interações destes elementos no espaço. É necessário diferenciar e classificar os processos e a dinâmica da natureza, distinguir as formas de ocupação e compreender os costumes e culturas impressas pelas comunidades locais.

2“O estudo das interações entre os diversos elementos do espaço é um dado fundamental da análise. Na medida em que função é ação, a interação supõe interdependência funcional entre os elementos” (SANTOS, 2012, p. 18). Estas interações são fundamentais em uma análise integrada, na qual a leitura do estrato geográfico não é uma simples soma de fatores ou fenômenos, mas sim a maneira como estes influenciam e interagem com outros elementos deste estrato.

3O estudo apresentado surgiu da necessidade de análise qualitativa dos componentes do espaço geográfico do Estado do Paraná frente aos desastres naturais, especificamente os alagamentos, inundações, enxurradas e deslizamentos. A qualificação destes componentes foi fundamental para subsidiar a criação e experimentação de um modelo conceitual aplicado a análise de riscos à ocorrência de desastres naturais como forma de identificar e entender os locais mais expostos, criando indicadores e índices capazes de demonstrar a dinâmica do espaço geográfico de acordo com suas características.

4As análises voltadas para os estudos ambientais, em que as interações sociedade-natureza se manifestam intensamente, atribuindo aos estudos uma visão sistêmica e, ao mesmo tempo totalizadora, permitem entender de maneira mais completa e autêntica alguns fenômenos da natureza e da sociedade e as interações entre elas, mesmo que não envolva todos os elementos existentes em um determinado local.

[...] somos obrigados, mesmo na teoria, a encontrar a base racional e consistente a fim de considerar em nossos estudos algo menos do que o número total de aspectos variáveis compreendidos no complexo total de um lugar. Que padrão comum da medida poderá ser utilizado para determinar quais os aspectos que devam ser direcionados como mais, e não como menos, significantes na formação do caráter variável de uma área?” (HARTSHORNE, 1978, pg. 39).

5Pois bem, considerando a afirmação e o questionamento que Hartshorne trouxe como obrigação, mesmo que teórica, julgou-se que os componentes presentes neste estudo são significativos para dar início ao entendimento de como um fenômeno de ordem natural age em um extrato geográfico, atuando sobre a sociedade, imprimindo sua força e se tornando um desastre.

6Para isso aplicou-se o conceito GTP em três tempos na tentativa de compreender como se dá à atuação da natureza, mesmo que antropizada, e suas forças como fonte de eventos naturais perigosos. Como a sociedade se comporta diante destes eventos, entendendo a maneira como a dinâmica social, econômica e cultural pode ser suporte para barrar, ou ao menos amenizar, a intensidade destes eventos, se tornando o recurso diante da fonte e ressurgimento por meio da cultura, forma de agir e pensar, com seus costumes, símbolos e tradições.

O tempo do geossistema é aquele da natureza antropizada: é o tempo da fonte, das características bio-físico-químicas de sua água e de seus ritmos hidrológicos. O tempo do território é aquele do social e do econômico, do tempo do mercado ao tempo do “desenvolvimento durável”: é o tempo do recurso, da gestão, da redistribuição, da poluição-despoluição. O tempo da paisagem é aquele do cultural, do patrimônio, do identitário e das representações: é o tempo do retorno às fontes, aquela do simbólico, do mito e do ritual (BERTRAND; BERTRAND, 2009, p. 313).

7Para tanto, entendeu-se que o conceito GTP aplicado à análise territorial por meio de um modelo conceitual capaz de classificar quantitativamente e qualitativamente áreas de acordo com graus de risco pode ter papel integrador de temas, elementos, entidades e atributos que se relacionam, e, que de maneira sistêmica, estão associados aos desastres naturais. Para isso, foram observadas algumas premissas básicas da pesquisa geográfica, como enunciado por Milton Santos.

[...] a quantificação correspondente a cada elemento não pode ser feita de forma apriorística, isto é, antes de captarmos o seu valor qualitativo. Nesse caso, como, aliás, em qualquer outro, a quantificação só se pode dar a posteriori. Isto é tanto mais verdadeiro porque cada elemento do espaço tem um valor diferente segundo o lugar em que se encontra. (SANTOS, 2012, p. 20).

8Tal constatação permeou a elaboração do modelo conceitual e trouxe a necessidade de elaboração da análise qualitativa presente neste artigo, pois, para diferenciar as áreas com maior ou menor risco de ocorrência de desastres naturais, conferindo-lhes valores, foi preciso qualificar os componentes do espaço geográfico, utilizando para isso o conceito GTP.

Componentes do Geossistema

9O Geossistema como tempo da fonte traz em seus componentes os elementos inerentes à natureza. As forças gravitacionais e os fenômenos que são ocasionados por elas; a dinâmica atmosférica e suas ações na superfície terrestre; o terreno, extrato e substrato modelado pela ação de vários fatores, inclusive o homem; os solos, produto do intemperismo que age sobre as rochas no tempo geológico; e as águas superficiais, traduzidas na hidrografia, bacias hidrográficas e seus índices hidrológicos e morfométricos. Os componentes do Geossistema levados em consideração nas análises qualitativas presentes neste estudo foram: geologia; relevo; solos; clima; hidrografia.

10Para as análises sobre os riscos de desastres naturais, especificamente nos desastres decorrentes de deslizamentos, na qualificação da geologia destacam-se os componentes que atuam nos processos de morfogênese e/ou pedogênese, em especial a litologia. Para esse maoeamento foi utilizada uma adaptação da metodologia apresentada por Crepani et al (2001), desenvolvida a partir do conceito de Ecodinâmica (TRICART, 1977), na qual é realizada a reinterpretação das informações temáticas disponíveis a partir de conceitos da morfodinâmica.

Para a morfodinâmica, o grau de coesão das rochas é a informação básica utilizada para a definição de valores que representem maior estabilidade ou vulnerabilidade. Nas rochas mais coesas prevalecem os processos de intemperismo e formação de solos (pedogênese) e nas rochas menos coesas prevalecem os processos erosivos, modificadores das formas de relevo (morfogênese) (GOMES, 2000, p. 100).

11Nos desastres naturais decorrentes de deslizamentos, a coesão das rochas funciona como no processo de formação de solos. Onde prevalecem os processos de pedogênese e as rochas são mais coesas o risco de deslizamentos é menor, já onde a coesão é menor e prevalecem os processos de morfogênese o risco aumenta. De uma forma geral, estes fatores estão ligados à litologia, expressa por meio de valores de estabilidade e vulnerabilidade (Mapa 1 e Tabela 1).

12O Estado do Paraná possui grande diversidade de tipos de rocha e a formação litológica influencia diretamente nos processos dinâmicos do relevo e suas transformações, inclusive com ocorrências de deslizamentos, justificando o mapeamento e utilização destas informações na qualificação dos processos da dinâmica geológica na análise de risco de deslizamento.

Tabela 1 - Valores de estabilidade/vulnerabilidade e indicadores de risco de diferentes litologias

Litologia

Valor de estabilidade / vulnerabilidade

Indicador de risco

(Crepani et al., 1996)

Quartzitos ou metaquartzitos

1

1

Riólito, Granito, Dacito

1,2

Granodiorito, Quartzo Diorito, Granulitos

1,3

Migmatitos, Gnaisses

1,4

Fonólito, Nefelina Sienito, Traquito, Sienito

1,5

2

Andesito, Diorito, Basalto

1,6

Anortosito, Gabro, Peridotito

1,7

Milonitos, Quartzo muscovita, Biotita, Clorita

1,8

Piroxenito, Anfibolito Kimberlito, Dunito

1,9

3

Hornblenda, Tremolita, Actinolita xisto

2

Estaurolita xisto, Xistos granatíferos

2,1

Filito, Metassiltito

2,2

Ardósia, Metargilito

2,3

Mármores

2,3

4

Arenitos quartzosos ou ortoquartzitos

2,4

Conglomerados, Subgrauvacas

2,5

Grauvacas, Arcózios

2,6

Siltitos, Argilitos

2,7

5

Folhelhos

2,8

Calcários, Dolomitos, Margas, Evaporitos

2,9

Sedimentos Inconsolidados, Aluviões, Colúvios

3

Fonte: o próprio autor

Mapa 1 – Litologia do Estado do Paraná

Mapa 1 – Litologia do Estado do Paraná

13Os relevos “constituem os pisos sobre os quais se fixam as populações humanas e são desenvolvidas suas atividades, derivando daí valores econômicos e sociais que lhe são atribuídos” (MARQUES, 2003, pg. 25).

[...] o relevo é um fiel espelho das condições ambientais vigorantes nos geossistemas, pois que resulta da ação do clima sobre as rochas e, desta forma, realça uma homogeneidade, retrato de um conjunto de processos cujo resultado final são tipos de solos, de relevo e de vegetação, que espelham as condições físicas vigorantes no decorrer do tempo geológico (VEADO; TROPPMAIR, 2001, pg. 381).

14Para a compreensão da ocorrência de desastres naturais o relevo tem papel fundamental em sua evolução, amplitude e magnitude, possuindo vários componentes que contribuem para os eventos que podem evoluir para um desastre, especialmente a declividade e os tipos de relevos associados.

15Para representar o risco do componente declividade e tipos de relevo foram adaptadas as classes de acordo com EMBRAPA (2006) que qualificam condições de declividade, comprimento de encostas e configuração superficial dos terrenos, que afetam as formas topográficas das áreas analisadas.

16Nos riscos de alagamento e enchente a declividade influência através das características planas do relevo, quanto mais plano maior o risco, já nos deslizamentos e enxurradas o risco é inverso, quanto mais acidentado o relevo, quanto maior a declividade, maior o risco.

17É possível observar no Mapa 2 que os locais com o relevo mais acidentado encontram-se na região da Serra do Mar e nas escarpas entre os planaltos, especialmente entre o segundo e o terceiro planalto. Já as áreas mais planas estão localizadas próximas às áreas de inundação dos rios Paraná, na confluência com o Rio Ivaí e na região litorânea.

Mapa 2 – Declividade e Tipos de Relevo do Estado do Paraná

Mapa 2 – Declividade e Tipos de Relevo do Estado do Paraná

18As características do solo também se mostram um fator de grande importância para a análise dos riscos de desastres naturais decorrentes de alagamentos, enxurradas, enchentes e principalmente deslizamentos.

O solo [...] é uma coleção de corpos naturais, constituídos por partes sólidas, líquidas e gasosas, tridimensionais, dinâmicos, formados por materiais minerais e orgânicos que ocupam a maior parte do manto superficial das extensões continentais do nosso planeta, contém matéria viva e podem ser vegetados na natureza onde ocorrem e, eventualmente, terem sido modificados por interferências antrópicas (EMBRAPA, 2006, p. 32).

19Para entender como se dá o comportamento das forças e da dinâmica da atmosfera nos solos nos tipos de desastres observados, analisou-se os aspectos que influenciam diretamente nas ocorrências, em especial diferenciando a textura e a permeabilidade, uma diretamente ligada à outra. Sendo que a textura, quantidade de argila, silte e areia presente no solo, determinam, entre outras coisas, a permeabilidade do solo e seu grau de desagregação.

20Para caracterização dos grupamentos texturais dos solos do Estado do Paraná (Mapa 3), utilizou-se a definição de EMBRAPA (2006):

  • Textura arenosa - compreende as classes texturais areia e areia franca;

  • Textura média - material com menos de 35% de argila e mais de 15% de areia, excluídas as classes texturais areia e areia franca;

  • Textura argilosa - material com teor de argila entre 35% e 60%;

  • Textura muito argilosa - material com teor de argila superior a 60%;

  • Textura siltosa - material com menos de 35% de argila e menos de 15% de areia.

21Aplicados à análise de risco de ocorrência de alagamentos, enchentes e enxurradas, o risco se apresenta maior quanto mais argiloso for o solo, isso porque tal textura confere ao solo menor permeabilidade devido ao pequeno tamanho dos poros, e estes solos ocupam mais de 70% das áreas do Estado. Em contrapartida para a ocorrência de deslizamentos, quanto mais arenosa for a textura maior será o risco, uma vez que as partículas dos solos não possuem grande capacidade de agregação, sendo facilmente erodidos. Os solos de textura arenosa e média/arenosa ocupam quase 9% do território do Paraná.

Mapa 3 – Textura dos Solos do Estado do Paraná

Mapa 3 – Textura dos Solos do Estado do Paraná

22O clima é fator fundamental para o geossistema, pois surge como controlador dos processos e da dinâmica (CHRISTOFOLETTI, 1999). Além disso, o clima é desencadeador de todos os desastres naturais que estão sendo analisados neste estudo, no qual o aspecto principal é a dinâmica das águas, seu incremento por meio das chuvas e a ação delas no relevo.

23Para isso, dois aspectos são fundamentais nesta análise, a precipitação média e as chuvas intensas. A primeira fornece o panorama e a distribuição geral das chuvas na área de estudo, sendo primordial para o conhecimento das condições de umidade do solo. A segunda é fator preponderante para definir onde estão as áreas com maiores riscos de chuvas intensas, causadoras diretas dos alagamentos e enxurradas e fatores de contribuição nas enchentes e deslizamentos.

A precipitação média sobre uma área é calculada ponderando-se a precipitação média entre isoietas sucessivas (normalmente fazendo a média dos valores de duas isoietas) pela área entre as isoietas, totalizando esse produto e dividindo pela área total (VILLELA; MATTOS, 1975, p. 55).

24O resultado desta medida, transformada em produto cartográfico (Mapa 4), forneceu a espacialização das médias anuais de pluviosidade no Estado, representando os locais com maior quantidade de chuvas e consequentemente com maior probabilidade de saturação dos solos devido à ocorrência de chuvas intensas. Os locais com maior pluviosidade média se encontram na região do litoral e Serra do Mar, e na região extremo sul e sudoeste.

25As chuvas intensas são normalmente determinadas a partir de relações intensidade-duração-frequência (curvas IDF) das precipitações sobre a bacia contribuinte. Expressas sob forma de tabelas ou equações, as curvas IDF fornecem a intensidade da precipitação para qualquer duração e período de retorno. Pode-se obter uma lâmina ou altura de precipitação, multiplicando-se a intensidade dada pela IDF pela sua correspondente duração (SUDERHSA, 2002).

26Para o Estado do Paraná o mapa com as isoietas das chuvas intensas (Mapa 5) foi obtido através do cálculo realizado em 28 postos pluviométricos constantes no Atlas de Recursos Hídricos do Estado do Paraná (SEUDERHSA, 1998) e obtido através da aplicada da equação:

27Onde:

28i= intensidade da chuva em mm/h

29t= duração das chuvas em minutos

30Tr= tempo de recorrência em anos

31a, b, m, n= coeficientes

32As equações continham o tempo de duração das chuvas de acordo com o tempo de concentração das respectivas bacias em que foram levantados os dados. Para o tempo de recorrência optou-se pela utilização de 10 anos.

Mapa 4 – Pluviosidade Média Anual no Estado do Paraná

Mapa 4 – Pluviosidade Média Anual no Estado do Paraná

Mapa 5 – Chuvas Intensas no Estado do Paraná

Mapa 5 – Chuvas Intensas no Estado do Paraná

33O entendimento da dinâmica hídrica na análise ambiental passa pela delimitação das bacias hidrográficas (Mapa 6), análise da localização dos rios e padrões de drenagem, identificando áreas de inundação, definindo bacias com maior ou menor risco de ocorrência de enchentes e enxurradas de acordo com índices hidrológicos e morfométricos.

34Para a determinação dos parâmetros morfométricos da rede de drenagem seguiu-se a metodologia proposta por Horton (1945) e aplicada segundo as condições ambientais e físicas do Brasil por Villela & Mattos (1975) e Christofoletti (1979). Para isso foram utilizados parâmetros como: coeficiente de compacidade; densidade de drenagem; gradiente de energia dos rios; e acúmulo de fluxo.

35O coeficiente de compacidade da bacia (Kc) (Mapa 7) é a relação entre o perímetro da bacia e a raiz da área da bacia. Este coeficiente determina a distribuição do deflúvio ao longo dos cursos d’água, e é em parte responsável pelas características das enchentes, ou seja, quanto mais próximo do índice de referência que designa uma bacia de forma circular, mais sujeita a enchentes será a bacia. É obtido pela fórmula:

36Onde:

37Kc = Coeficiente de compacidade;

38P = Perímetro da bacia (km);

39A = Área da bacia (km²).

40O índice de referência 1,0 significa que a bacia possui forma circular e o índice de referência 1,8 significa que a bacia possui forma alongada. Quanto mais próximo de 1,0 for o valor deste coeficiente, mais acentuada será a tendência para maiores enchentes. Isto porque em bacias circulares o escoamento será mais rápido, pois a bacia descarregará seu deflúvio direto com maior rapidez produzindo picos de enchente de maiores magnitudes. Já nas bacias alongadas o escoamento será mais lento e a capacidade de armazenamento maior.

41A densidade de drenagem (Dd) (Mapa 8), expressa em km/km², é a relação entre o comprimento dos canais e a área da bacia, obtida pela fórmula:

42Em que:

43Dd = Densidade de drenagem;

44Lt = Comprimento dos canais (km);

45A = Área da bacia (km²).

Mapa 6 – Bacias Hidrográficas do Estado do Paraná

Mapa 6 – Bacias Hidrográficas do Estado do Paraná

Mapa 7 – Coeficiente de Compacidade das Bacias Hidrográficas do Estado do Paraná

Mapa 7 – Coeficiente de Compacidade das Bacias Hidrográficas do Estado do Paraná

Mapa 8 – Densidade de Drenagem das Bacias Hidrográficas do Estado do Paraná

Mapa 8 – Densidade de Drenagem das Bacias Hidrográficas do Estado do Paraná

46Assim, sintetizam-se neste item os componentes do geossistema que contribuem ou atuam para que ocorram eventos naturais, muitas vezes extremos e que, aliados aos componentes do território e da paisagem, apresentados a seguir, dão contorno aos desastres naturais.

Componentes do Território

47No caso dos desastres naturais, o território, por meio do acesso a recursos financeiros, infraestruturas básicas, bens e serviços e oportunidades de se estabelecer em locais seguros para se viver são fatores determinantes para que um evento natural não se torne catastrófico.

48Assim, pela ausência de infraestruturas necessárias ou pela vulnerabilidade social, uma população se torna mais exposta ao risco do que outra, sendo estas variáveis um dos aspectos de análise do presente estudo, expressos no Índice de Vulnerabilidade Social (IVS), grau de urbanização, densidade populacional e análise de redes de transporte e comunicação.

49De acordo com Katzman (1999; 2001), as situações de vulnerabilidade social devem ser analisadas a partir da existência ou não, por parte dos indivíduos ou das famílias, de ativos disponíveis e capazes de enfrentar determinadas situações de risco.

50A vulnerabilidade social é uma configuração complexa de características que incluem bem estar pessoal, meios de subsistência, resistência a eventos adversos, autoproteção e redes políticas, sociais e institucionais (CANNON; TWIGG; ROWELL, 2003).

51No caso dos desastres naturais, muitos fatores colaboram para que populações vulneráveis sejam mais afetadas, seja pelos padrões construtivos das habitações, seja pela falta ou deficiência da infraestrutura do entorno, seja pela dificuldade de superação econômica dos efeitos de um desastre, no caso de perdas materiais.

52Para a análise da vulnerabilidade social no Estado do Paraná, utilizou-se a metodologia de mapeamento através do IVS (Índice de Vulnerabilidade Social) proposto pelo IPEA (2015). Este índice, construído a partir de indicadores do Atlas do Desenvolvimento Humano (ADH) no Brasil, procura destacar as diferentes situações indicativas de exclusão e vulnerabilidade social no território brasileiro, numa perspectiva que vai além da identificação da pobreza entendida apenas como insuficiência de recursos monetários.

[...] o IVS traz dezesseis indicadores estruturados em três dimensões, a saber, infraestrutura urbana, capital humano e renda e trabalho, permitindo um mapeamento singular da exclusão e da vulnerabilidade social para os 5.565 municípios brasileiros (conforme malha municipal do Censo Demográfico 2010) e para as Unidades de Desenvolvimento Humano (UDHs) das principais Regiões Metropolitanas (RMs) do país (IPEA, 2015, p. 12).

53De acordo com IPEA (2015), o IVS possui três dimensões: IVS Infraestrutura Urbana; IVS Capital Humano; e IVS Renda e Trabalho. Essas dimensões correspondem a conjuntos de ativos, recursos ou estruturas, cujo acesso, ausência ou insuficiência indicam que o padrão de vida das famílias encontra-se baixo, sugerindo, no limite, o não acesso e a não observância dos direitos sociais, ou, no caso desta análise, fragilidade quanto à exposição ou superação de algum desastre natural.

54Para a análise da vulnerabilidade social (Mapa 9) no modelo proposto, a aplicação do IVS se deu por meio de uma adaptação da escala do próprio índice presente no Atlas da Vulnerabilidade Social dos Municípios Brasileiros (IPEA, 2015).

Para os municípios que apresentam IVS entre 0 e 0,200, considera-se que possuem muito baixa vulnerabilidade social. Valores entre 0,201 e 0,300 indicam baixa vulnerabilidade social. Aqueles que apresentam IVS entre 0,301 e 0,400 são de média vulnerabilidade social, ao passo que, entre 0,401 e 0,500 são considerados de alta vulnerabilidade social. Qualquer valor entre 0,501 e 1 indica que o município possui muito alta vulnerabilidade social. (IPEA, 2015, p.18).

55A adaptação ocorreu para padronizar a escala à situação do Paraná, pois não se observou municípios com IVS maior que 0,500, sendo que o menor valor observado foi 0,461. Assim, por meio de método estatístico de quebras naturais, a escala foi adaptada, e os valores considerados foram: municípios com IVS entre 0 e 0,200 muito baixa vulnerabilidade social; entre 0,201 e 0,250 baixa vulnerabilidade social; valores entre 0,251 e 0,300 média vulnerabilidade social; valores entre 0,301 e 0,350 alta vulnerabilidade social; e municípios com valores de 0,351 a 0,461 representam municípios com muito alta vulnerabilidade social.

Mapa 9 – Índice de Vulnerabilidade Social dos Municípios do Estado do Paraná - 2010

Mapa 9 – Índice de Vulnerabilidade Social dos Municípios do Estado do Paraná - 2010

56O grau de urbanização e a densidade populacional dos municípios são de fundamental importância para a análise dos riscos de desastres naturais, uma vez que representam áreas delimitadas com aglomerado populacional, tornando maior a possibilidade de que um fenômeno da natureza afete um maior número de pessoas.

57O grau de urbanização de um município está ligado à diferença entre a população urbana e rural, quanto maior a população urbana em detrimento da rural, maior o grau de urbanização. Na análise do risco de ocorrência de desastres naturais este fator influência na delimitação de municípios com maior concentração de pessoas nas cidades.

58É possível observar no Mapa 10 que predomina nos municípios com maior população um maior grau de urbanização, especialmente nas chamadas regiões metropolitanas. Existe no Paraná 77 municípios com população rural maior que a população urbana, a maioria localizada na região central do Estado, diminuindo a aglomeração de pessoas nesta região e consequentemente a probabilidade de ocorrência de desastres naturais que afetem um grande número de pessoas.

Mapa 10 – Grau de Urbanização dos Municípios do Estado do Paraná em 2010

Mapa 10 – Grau de Urbanização dos Municípios do Estado do Paraná em 2010

59Para melhor delimitar as áreas com maior aglomeração de pessoas procedeu-se o mapeamento das áreas mais densamente povoadas, realizando o cálculo da densidade demográfica em todos os setores censitários dos municípios do Estado. Este mapeamento corroborou com a informação da existência de maior aglomeração de pessoas nas regiões metropolitanas e grandes cidades, como era de se esperar.

60Estes locais, especializados no Mapa 11, possuem maior risco de ocorrência de desastres naturais decorrentes de eventos incidentes nas cidades, podendo afetar um grande número de pessoas dependendo da intensidade e abrangência do fenômeno.

Mapa 11 – Densidade Populacional nos Municípios do Estado do Paraná em 2010

Mapa 11 – Densidade Populacional nos Municípios do Estado do Paraná em 2010

61As redes são elementos inerentes à formação dos territórios, fazem a interligação dos lugares e pessoas, escoam a produção, trazem suprimentos, auxiliam no envio e recebimento de notícias, disseminam ideias e reproduzem padrões.

As redes são uma forma utilizada especialmente pelos agentes do capital para a organização dos circuitos de propagação e emprego do saber e do conhecimento (Rullani, 2009) [...] sempre significando interdependência, conexão, relação entre sujeitos, lugares e territórios (SAQUET, 2011, p. 63).

62No caso dos desastres naturais, é preciso fazer uso dessas redes para que se possa amenizar de alguma forma suas consequências. Podem-se utilizar as estradas no transporte de contingente de pessoas para auxiliar em trabalhos, para evacuar áreas de risco ou para levar mantimentos, medicamentos e demais suprimentos necessários aos locais de crise.

63As redes de comunicação possuem importância em planos e ações de emergência e contingencia, levando e trazendo notícias sobre locais a serem evacuados ou evitados, transmitindo notícias de locais afetados ou realizando a comunicação da previsão de eventos futuros.

64Além disso, no caso do desastre ocorrido, as redes podem sofrer colapsos deixando comunidades ou populações sem qualquer tipo de comunicação ou ligação com outros locais, especialmente por vias terrestres ou aquáticas.

65Assim, nesta análise buscou-se observar a capacidade que os municípios possuem de se comunicar ou se interligar, seja por vias terrestres, materializadas em rodovias e ferrovias, seja por meios de comunicação como rádio e televisão.

66Para as infraestruturas de transporte (Mapa 12), interessou na análise observar a quantidade de interligações que os locais possuem, por rodovias consideradas primárias, secundárias ou terciárias, além de ramais de ferrovia, expressando a capacidade de evacuação e mobilidade que os locais possuem.

67É possível observar um eixo de integração entre os principais municípios do Estado, com a capital Curitiba e sua região metropolitana sendo o principal centro de ligação do Estado. A região norte, com Londrina e Maringá em segundo nível de importância. Depois as regiões oeste, com Cascavel e Foz do Iguaçu, região dos Campos Gerais, com Ponta Grossa e a região centro-sul, com Guarapuava, em papéis de terceira importância.

68Ao redor destes municípios que podemos chamar de pólos, orbitam municípios menores mas que são servidos das mesmas redes de comunicação. Porém, é possível observar que, mais afastados destes eixos, os municípios possuem ligações únicas por algum tipo de rodovia, em especial municípios da região central e de regiões extremas próximos aos limites do Estado, ligados por rodovias secundárias ou terciárias.

Mapa 12 – Rede Rodoferroviária do Estado do Paraná

Mapa 12 – Rede Rodoferroviária do Estado do Paraná

69No caso das redes de comunicação, os meios de comunicação como rádio e televisão (Mapa 13) foram os aspectos analisados e levados em consideração, observando que os municípios com maior número e diversidade de tipos de meios de comunicação possuem menor risco de sofrerem colapso em suas redes, enquanto que, municípios com ausência ou deficiência nos meios de comunicação representam locais de maior risco.

Mapa 13 – Emissoras de Rádio e TV nos Municípios do Estado do Paraná

Mapa 13 – Emissoras de Rádio e TV nos Municípios do Estado do Paraná

70Percebe-se que os meios de comunicação possuem o mesmo padrão das infraestruturas dos meios de transporte terrestre, com maior existência e diversidade de emissoras de rádio e televisão nos principais municípios do Estado, tendo maior vulnerabilidade as regiões centrais do Estado, em especial os pequenos municípios.

Componentes da Paisagem

71A Paisagem na análise dos riscos de ocorrência de desastres naturais é, sem dúvidas, o elemento de maior subjetividade, porém, não possui menos importância que o território ou o geossistema, mesmo porque a paisagem pode ser considerada a evolução dos dois primeiros, o ressurgimento através de multitemporalidades.

Ver é ver através da cultura. A atenção nasce pelo relato. A cultura, quer dizer, nós vemos e escutamos através de símbolos nos quais o invisível ou esquecido aparece e vive de uma maneira figurada. Isso não vai de si mesmo, mas é produzido; corresponde a trabalho, à arte, mais frequentemente a um trabalho redacional, frequentemente diante de resistências. Por essa razão, conhecer o aspecto sensível da cultura é tão importante quanto a coragem e o conhecimento objetivo (BECK, 2001, p. 389).

72Seja materializado em patrimônio histórico, documental, natural ou arqueológico, seja representado por diferentes comunidades tradicionais e com representações, símbolos, mitos e modos de vida deferentes do habitual, seja por seu caráter de proteção ou preservação, ambiental ou cultural, seja como for, a paisagem expressa o resultado de uma práxis coletiva que não pode, de forma alguma, ser negligenciado em uma análise geográfica.

73Concretamente podemos identificar a importância de se incorporar o tempo da paisagem à análise de riscos de desastres com um simples levantamento feito sobre o desastre ocorrido no município de Mariana-MG em 5 de novembro de 2015. O desastre afetou diretamente o patrimônio histórico e paisagístico da região, destruindo capelas e obras sacras do século XVIII, trechos da Estrada Real, afetando o conjunto paisagístico do encontro do Rio Piranga com o Ribeirão do Carmo e causando estragos em marcos turísticos de cidades de toda a região. Esse fato corroborou com a preocupação em incorporar a paisagem na análise dos riscos de ocorrência de desastres naturais.

74Dar luz ao patrimônio cultural em uma análise geográfica significa carregá-la com uma carga histórica necessária para que a mesma transpasse entre gerações, se mantendo viva ao trazer elementos antepassados ou com cargas culturais diferentes dos habituais.

A história de um estado, de uma cidade, de um povoado, de um bairro ou de uma família pode ser contada por meio de várias formas. Uma delas pode ser realizada pelo estudo do seu patrimônio cultural exemplificado através dos monumentos, ícones, equipamentos rurais e urbanos, assim como de sua apropriação do patrimônio natural, identificados através dos rios, quedas d’água, montanhas, bosques, florestas e fauna (PARANÁ, 2016b).

75Preservar este patrimônio se torna obrigação de todos, independentemente de fazer parte direta de sua história ou não, pois, em determinado tempo histórico, as diferentes culturas e o patrimônio deixado como legado será de grande utilidade para a busca de resposta a diferentes questionamentos.

76Um dos objetivos da análise do patrimônio cultural frente ao risco de desastres é esse sentimento de preservação, dando o devido valor à paisagem e seu risco de perda.

77O patrimônio cultural possui algumas variáveis a serem consideradas como indicadores no estudo proposto: o patrimônio documental exemplificado pelas fotografias, filmes ou qualquer documento gerado por instituições públicas e privadas; o patrimônio histórico arquitetônico representado indistintamente por toda espécie de edificação militar, civil e religiosa; o patrimônio natural, compreendendo áreas de importância preservacionista e histórica, beleza cênica, enfim, áreas que transmitem à população a importância do ambiente natural para que nos lembremos quem somos, o que fazemos, de onde viemos e, por consequência, como seremos; e o patrimônio arqueológico que representa os sítios testemunhos de povos e vidas primitivas.

78Para esse inventário do patrimônio cultural do Paraná foram utilizados os dados obtidos por município existentes no sitio da Secretaria de Estado da Cultura do Estado do Paraná (http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/​), representados no Mapa 14.

Mapa 14 – Patrimônio Cultural nos Municípios do Estado do Paraná

Mapa 14 – Patrimônio Cultural nos Municípios do Estado do Paraná

79A diversidade cultural traz aspectos positivos em tempos de eminente crise do modo de vida da maioria da população. Atividades e modos de vida alternativos ao sistema atual, formas diferentes de exploração não predatória dos recursos naturais, formas de interação com o meio e com as pessoas, enfim, muitos aspectos inerentes às comunidades tradicionais espalhadas pelo Brasil.

80Para o modelo criado de análise de risco o fator comunidades tradicionais foi subdividido nas diversas comunidades encontradas no Estado do Paraná: indígenas; quilombolas; faxinais; caiçaras; cipozeiras e ilhéus, apresentadas no Mapa 15

81De acordo com a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, instituída pelo Decreto nº 6.040 de 7 de fevereiro de 2007, as comunidades tradicionais são:

Grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, possuidores de formas próprias de organização social, ocupantes e usuários de territórios e recursos naturais como condição à sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição (BRASIL, 2007).

82Os quilombos brasileiros constituíram-se pela implementação de outra forma de vida, de uma outra estrutura política, com o uso coletivo da terra formando as bases de uma sociedade fraterna e livre das formas mais cruéis de preconceitos e de desrespeito a sua humanidade (MUNANGA & GOMES, 2006).

83Os quilombos do Brasil podem ser considerados “uma cópia do quilombo africano reconstituído pelos escravizados para se opor a uma estrutura escravocrata, pela implantação de outra estrutura política na qual se encontravam todos os oprimidos” (MUNANGA, 1995/6, p.57).

84Já as comunidades caiçaras são formadas por indivíduos e comunidades do litoral dos Estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro que possuem um gênero de vida que combina a agricultura de subsistência, baseada na mandioca, com a pesca (ADAMS, 2000).

85As comunidades cipozeiras, localizadas no litoral do Estado do Paraná, possuem uma identidade coletiva que se constitui predominantemente pelos acessos aos recursos naturais presentes na Mata Atlântica. O trabalho nestas comunidades está voltado principalmente ao corte do Cipó-Imbé, com o qual produzem artigos artesanais que contribui significativamente para a obtenção de renda (LADIK; SOUZA, 2010).

86Localizados na região centro-sul do Estado do Paraná estão as comunidades de faxinais que possuem como característica a forma harmônica de utilização de áreas interligadas e cobertas por vegetações de Floresta com Araucárias. Essa harmonia na utilização de espaços coletivos que diferencia os Faxinais das outras comunidades tradicionais, permitindo o uso de criadouros extensivos e comuns, ou seja, coletivos ou comunitários, bem como, extração de erva mate e de algumas espécies vegetais para consumo, como fonte de energia ou outras atividades de interesse comunitário para a geração de renda. Este princípio é resultante da relação confiança entre os faxinalenses, presente na realização de algumas tarefas na forma de organização de mutirões (NERONE, 2000; CHANG, 1988).

87Os Ilhéus são comunidades das ilhas do Rio Paraná que praticam a cultura de subsistência, isto é, cultivavam milho, arroz, feijão, mandioca e banana, e praticavam pesca artesanal para sustento dos membros de sua família, sem fins lucrativos. Essas comunidades sofreram intensa transformação devido às construções das usinas de Itaipu e Porto Primavera (SILVA; BELLINI, 2008).

88As comunidades indígenas do Paraná, atualmente divididas em três etnias indígenas: Guarani, Kaingang e Xetá vivem em 17 Terras Indígenas (T.I.) demarcadas pelo governo federal. A economia dessas comunidades indígenas baseia-se na produção de roças de subsistência, pomares, criação de galinhas e porcos. Para complementar a renda familiar os indígenas trabalham na produção e venda artesanato como cestos, balaios, arcos e flechas. Ao longo do tempo esses territórios foram diminuindo em decorrência da ideia de possuírem muita terra e não fazerem bom uso dela. Sendo assim, foram desapropriadas para utilização da sociedade nacional e para atender ao interesse de madeireiras e outros grupos que visavam explorar os recursos naturais de suas terras (ALMEIDA, 2011; PARANÁ, 2016b).

89A maioria destas comunidades é localizada longe dos grandes centros ou até mesmo afastada de áreas urbanas, não possuindo infraestrutura adequada ou mesmo acesso a bens e serviços. Muitas vezes são comunidades não monetarizadas, que não possuem trabalho formal e vivem de trabalhos artesanais, de plantação, coleta ou de exploração vegetal.

Cerca de 5 milhões de pessoas no Brasil fazem parte de comunidades tradicionais. [...] desde os mais conhecidos, como indígenas e quilombolas, até os de menor expressão, como os faxinais (que vivem no Paraná, plantam mate e criam porcos) e os pomeranos (etnia européia que vive no Espírito Santo). Grande parte desses povos mora em lugares distantes e não tem acesso às políticas governamentais, o que os torna mais suscetíveis à pobreza. (BEDINELLI, 2009 apud GRZEBIELUKA, 2012, p.119).

90Estes fatos trazem um quadro de vulnerabilidade maior para estas comunidades, que, por sua importância histórica e cultural devem possuir um tratamento diferenciado dentro do modelo proposto, uma vez que, além do fato de serem vulneráveis socialmente, também são diferenciados culturalmente.

Mapa 15 – Comunidades Tradicionais do Estado do Paraná

Mapa 15 – Comunidades Tradicionais do Estado do Paraná

91A localização exata destas comunidades, além de expressar a territorialidade de suas existências, pode conferir a estas áreas um grau de risco maior que as demais. O grau de risco atribuído pode ser medido de acordo com o tipo de comunidade e a vulnerabilidade que pode ser observada de acordo com dados socioeconômicos.

Considerações finais

92O detalhamento e a qualificação dos componentes do modelo conceitual de risco trazidos neste artigo serviram para que as análises quantitativas que venham a ser feitas posteriormente a este estudo, trouxessem mais do que uma simples atribuição de valor, fornecendo uma minuciosa descrição e análise da área de estudo e de seus componentes, necessárias para um posterior entendimento e valoração das escalas de risco existentes em cada componente.

93As variáveis dos geossistemas, como fonte dos eventos naturais perigosos, se mostraram importantes indicadores qualitativos para as áreas que possuem suscetibilidade natural à ocorrência de alagamentos, enchentes, enxurradas e deslizamentos.

94O território, como tempo do recurso, forneceu importantes subsídios para o entendimento de como os aspectos sociais e de infraestrutura influenciam negativamente ou positivamente na potencialização dos efeitos de um evento natural perigoso incidindo sob determinada área.

95Já a paisagem, como tempo do ressurgimento, com seus aspectos culturais, foi importante para estabelecer as áreas de influência das paisagens a serem protegidos e preservados em caso de incidência de eventos perigosos, indicando os locais com maiores vulnerabilidades culturais, por representarem resquícios de formas diferentes de sociedades.

96Por fim, os índices qualitativos originados da combinação das análises permitiram traçar um panorama do Estado com relação ao risco de ocorrência de desastres naturais. Cada componente do GTP forneceu elementos capazes de expressar os fenômenos presentes na análise do espaço, gerando subsídios para um minucioso entendimento do risco de ocorrência de desastres naturais no Estado do Paraná.

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Titre Mapa 1 – Litologia do Estado do Paraná
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Titre Mapa 6 – Bacias Hidrográficas do Estado do Paraná
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Référence électronique

Gonçalves M. et Vizintim M. F.B., « Características geográficas do Estado do Paraná frente aos desastres naturais »Confins [En ligne], 33 | 2017, mis en ligne le 23 décembre 2017, consulté le 09 décembre 2024. URL : http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/confins/12669 ; DOI : https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/confins.12669

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Auteurs

Gonçalves M.

Universidade Estadual de Londrina, marcelogeo@yahoo.com.br

Vizintim M. F.B.

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