1Atualmente, as ferramentas que têm sido utilizadas para avaliar a sustentabilidade de Instituições de Ensino Superior (IES) se baseiam na mensuração de indicadores (COSTA, 2012). No entanto, apresentam listas extensas, o que pode representar maior demanda de tempo e de custos para a execução dessa avaliação. A esse respeito, ressalta-se que, dentre um universo de indicadores, existem aqueles que são relevantes no contexto de uma IES, mas ferramentas empregadas não têm oferecido maneiras de selecioná-los.
2Uma técnica que pode contribuir para seleção de indicadores ambientais de sustentabilidade relevantes é a consulta a especialistas por meio de uma análise de relevância, isto é, que leve em consideração o peso de cada indicador. Essa consulta, segundo Rigby et al. (2001), além de oferecer a possibilidade de estabelecer um consenso por meio de assessoria técnica, insere, no processo de elaboração de uma proposta, uma consideração explícita de prioridades relativas que podem ser alocadas em diferentes critérios de sustentabilidade. No Brasil, estudos recentes, como os de Leite et al. (2014), Brandão et al. (2014), Cooper et al. (2014), Kitzmann e Anello (2014) e Weber (2016), têm tratado sobre o tema sustentabilidade no contexto da IES. Porém, nenhum tem se proposto a analisar a relevância e a selecionar indicadores de sustentabilidade para essas instituições.
3Face o exposto, pode-se sintetizar o problema desta pesquisa na seguinte pergunta: que indicadores ambientais de sustentabilidade podem ser selecionados na medida em que demonstrarem mais relevância para uma IES? Portanto, este trabalho buscou, a partir de uma consulta a especialistas, selecionar os indicadores ambientais de sustentabilidade mais relevantes para a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) no ano de 2015.
4Desse modo, a investigação e a resolução do problema em questão podem contribuir, teoricamente e empiricamente, para a seleção de indicadores ambientais de sustentabilidade mais relevantes para IES, uma vez que os resultados alcançados podem ser utilizados como uma fonte de consulta teórica, bem como de aplicação para outras IES. No que concerne à estrutura, este artigo é composto, além desta Introdução, pelas seções Indicadores de Sustentabilidade, Indicadores Ambientais de Sustentabilidade, Sustentabilidade no Contexto das IES, Metodologia, Resultados e Discussão e, por fim, Conclusões.
5Sustentabilidade é um termo originário da palavra latina sustentare, que significa suster, sustentar, suportar, conservar em bom estado, manter, resistir. Nesse sentido, tudo aquilo que seja capaz de ser suportado ou mantido é considerado sustentável (SICHE, et al. 2007). No âmbito organizacional, tem sido conveniente entender sustentabilidade como um "Triple Bottom Line" (SARTORI; LATRÔNICO; CAMPOS, 2014). Essa visão consiste em 3P: people, planet e profit (pessoas, planeta e lucro), ou seja, a sustentabilidade é a integração entre os pilares ou dimensões social, ambiental e econômica (ELKINGTON, 1994). Nesse contexto, para as organizações contribuírem de maneira progressiva para a sustentabilidade, deve-se partir do reconhecimento de que os negócios precisam de mercados estáveis e que devem possuir habilidades tecnológicas, financeiras e de gerenciamento que possibilitem a transição rumo ao desenvolvimento sustentável (ELKINGTON, 2001).
6Por outro lado, o termo indicador, do verbo latino indicare, significa revelar ou apontar para anunciar ou fazer tornar público. Os indicadores podem ser utilizados para comunicar o progresso em direção a uma determinada meta, como, por exemplo, o desenvolvimento sustentável. Além disso, podem ser utilizados como um recurso que deixa mais perceptível uma tendência ou fenômeno, que não seja imediatamente detectável (HAMMOND, et. al., 1995). Na visão de Kardec, Flores e Seixas (2002), os indicadores são guias que permitem medir a eficácia de ações tomadas, bem como aquilo que foi programado e realizado, a exemplo de uma avaliação de desempenho em uma organização para identificar seus pontos fortes e fracos. Para Bellen (2008), os indicadores são informações simplificadas cuja comunicação é mais clara sobre fenômenos complexos. Esse autor pontua que os indicadores têm como objetivo principal agregar e quantificar informações de uma maneira que sua significância fique mais aparente. Portanto, pode-se afirmar que os indicadores de sustentabilidade são informações que medem, nas dimensões econômica, social e ambiental, o nível de sustentabilidade de um determinado sistema. Os indicadores da dimensão ambiental da sustentabilidade ou indicadores ambientais de sustentabilidade, escopo deste artigo, serão discutidos na sequência.
7A dimensão ambiental da sustentabilidade ou a sustentabilidade ambiental pode ser compreendida como um processo de desmaterialização da atividade econômica. Isto é, uma diminuição do processamento de materiais para reduzir a pressão sobre os sistemas naturais e ampliar a prestação de serviços ambientais (BARTELMUS, 2003).
8No entendimento de Foladori (2002), a sustentabilidade ambiental é a que se refere ao equilíbrio e à manutenção dos ecossistemas, à conservação e à manutenção genética, à manutenção dos recursos abióticos e à integridade climática. O conceito aborda a concepção de que quanto mais modificações realizadas pelo homem na natureza, menor será sua sustentabilidade e quanto menor a interferência humana na natureza, maior será sua sustentabilidade (FOLADORI, 2002).
9Nesse sentido, para Sachs (1993), a sustentabilidade ambiental tem como objetivo o uso de recursos naturais renováveis e a limitação de uso de recursos não-renováveis; a redução do volume de resíduos e de poluição, por meio de conservação e reciclagem; a autolimitação do consumo material; a utilização de tecnologias limpas; e a definição de regras para proteção ambiental. A GRI (2013) corrobora com isso assinalando que a sustentabilidade ambiental se refere aos impactos sobre sistemas naturais, incluindo ecossistemas, terra, ar e água, abrangendo o desempenho relacionado à insumos, como material, energia e água, e à produção, como emissões de gases, de efluentes e de resíduos.
10Desse modo, os indicadores ambientais de sustentabilidade são informações que devem contemplar o desempenho referente à biodiversidade, à conformidade ambiental, e a outras informações relevantes, tais como as despesas com meio ambiente e os impactos de produtos e serviços (GRI, 2013). As IES, que se encontram distribuídas por todo o território nacional e mundial, ocupam, portanto, um lugar expressivo para contribuir com a sustentabilidade, tanto no papel de ensino quanto no de atividade antrópica interventora do meio ambiente. A sustentabilidade nessas instituições será discutida a seguir.
11As IES têm exercido um papel significativo para a sustentabilidade, uma vez que podem assumir dois objetivos principais: o primeiro é o de contribuição para a educação em prol da sustentabilidade, ou seja, a inclusão da sustentabilidade na formação dos discentes e docentes; e o segundo é o de contribuição como organização que implementa práticas de sustentabilidade nas suas atividades e serviços, servindo como um modelo de boas práticas para a sociedade (TAUCHEN; BRANDLI, 2006). Dessa forma, uma IES sustentável, aponta Shriberg (2002), é aquela que se esforça para integrar questões ambientais, sociais e econômicas nas suas funções principais de ensino, pesquisa, serviços e operações. Essa definição serve para medir a proximidade a uma IES sustentável ideal, tendo em vista que se desconhece uma IES que obedeça a todos esses critérios (SHRIBERG, 2002).
12A avaliação da sustentabilidade de IES vem sendo conduzida com o suporte de várias ferramentas baseadas em indicadores específicos, gerados em estruturas conceituais consistentes. Em alguns casos, essas ferramentas e seus respectivos indicadores têm sido adaptações de modelos concebidos para outros tipos de organizações, como é o caso da Global Reporting Initiative (GRI, 2013), cuja estrutura de indicadores foi adaptada por Lozano (2006) para as IES (COSTA, 2012). Em outros casos, foram desenvolvidas ferramentas de avaliação específicas para as IES, a exemplo do ‘Campus Sustainability Assessment Framework’, proposto por Cole (2003), do ‘The College Sustainability Report Card’, elaborado para avaliar IES americanas e canadenses, e do ‘UI Green Metric World University Ranking 2015’ (COSTA, 2012).
13Diante disso, percebe-se que tais ferramentas têm apresentado listas extensas de indicadores. Contudo, podem haver aqueles que são considerados relevantes no contexto de uma IES. Nesse sentido, a seguir, será apresentada a metodologia utilizada para selecionar os indicadores ambientais relevantes para campus Natal da UFRN.
14Nesta seção, será apresentada uma breve caracterização do objeto de estudo e, em seguida, as etapas da pesquisa utilizadas para selecionar os indicadores.
15O Campus Universitário Central da UFRN possui uma área total de 123 hectares e se localiza entre os bairros de Lagoa Nova, Nova Descoberta, Capim Macio e Candelária, à oeste do Parque Estadual Dunas do Natal, conforme apresentado na Figura 1. O campus foi construído em 1970, 12 anos após a criação da universidade, que no início era do estado do RN e somente em 1960 foi federalizada (NATAL, 2009). A universidade, atualmente, oferece 84 cursos de graduação presencial, 9 cursos de graduação à distância e 86 cursos de pós-graduação, possuindo mais de 37.000 estudantes, 3.146 servidores técnico-administrativos e 2.000 docentes efetivos (UFRN, 2015).
Figura 1 – Mapa de localização da área de estudo
16O Parque das Dunas, limítrofe ao campus, criado em 1977, possui uma área de 1.172 hectares e é considerado o maior parque urbano sobre dunas do Brasil. É uma parte integrante da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica Brasileira reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e tem sido importante para a qualidade de vida da população natalense, uma vez que tem contribuído para a recarga do principal aquífero subterrâneo da cidade, o barreiras, além de vir oferecendo outros serviços ambientais como a purificação do ar e o abrigo para fauna e flora (RIO GRANDE DO NORTE, 2015).
17As características da UFRN e do Parque das Dunas demonstram a importância da universidade, tanto na formação de discentes, docentes e pesquisadores, quanto na atividade antrópica interventora do meio ambiente e transformadora do espaço físico. Nesses contextos é que devem ser centrados os esforços para a definição de indicadores ambientais. As etapas da pesquisa para a definição desses indicadores serão elucidas na subseção seguinte.
18Para consecução deste artigo, foram realizadas pesquisas bibliográfica e documental acerca de seus temas norteadores, quais sejam: indicadores de sustentabilidade, indicadores ambientais de sustentabilidade e sustentabilidade no contexto das IES. Nesse sentido, foram consultados, em âmbito nacional e internacional, artigos científicos de periódicos, dissertações, teses e relatórios. Também foi realizada pesquisa de campo, haja vista que foram efetivadas entrevistas informais com os especialistas (VERGARA, 2009). Ademais, a fim de atingir o objetivo proposto, foram executadas seis etapas, conforme adaptação dos procedimentos metodológicos propostos por Callado e Fensterseifer (2010).
19Na primeira etapa, levantaram-se os indicadores ambientais de sustentabilidade de IES. Conforme pontua Costa (2012), foram escolhidos os indicadores ambientais da Global Reporting Initiative (GRI, 2013), por fornecer uma visão geral de indicadores e pelo seu amplo uso em nível internacional; do The College Sustainability Report Card-2011, pela objetividade, foco e simplicidade de uso e; da UI GreenMetric World University Ranking-2015, por vir sendo considerada, na atualidade, a principal ferramenta para avaliação de sustentabilidade de IES. Como resultados desse levantamento, foi identificado um total de 110 indicadores ambientais, distribuídos nessas ferramentas conforme a Tabela 1.
Tabela 1 – Quantidade de indicadores ambientais de sustentabilidade identificados nas ferramentas
Ferramentas
|
Quantidade de indicadores ambientais
|
Global Reporting Initiative (GRI)
|
30
|
The College Sustainability Report Card-2011 (TCSRC)
|
41
|
UI GreenMetric World University Ranking -2015 (UIGMWU)
|
39
|
Fonte: elaborado pelos autores adaptado de GRI (2013), The College Sustainability Report Card-2011 (2011) e UI GreenMetric World University Ranking -2015 (2015).
20Na segunda etapa, excluíram-se os indicadores ambientais pertencentes a mais de uma lista das ferramentas, ou seja, indicadores considerados repetidos devido a suas semelhanças. Após esse filtro, a lista final ficou composta por 50 indicadores ambientais.
21Na terceira etapa, elaborou-se o instrumento de coleta de dados: o questionário com os 50 indicadores ambientais. Cada questão se referia a um desses indicadores, que foram divididos conforme os níveis de relevância da Escala de Likert, como exemplificado na Figura 2. A cada nível de relevância, foi atribuído um peso para quantificar o nível de relevância do indicador ambiental para o contexto da UFRN Campus Natal.
Figura 2 – indicador ambiental e seu nível de relevância por peso
Fonte: elaborado pelos autores (2015), com base em Gil (2008)
22Na quarta etapa, iniciada após a finalização dos questionários, selecionaram-se os especialistas. Para tanto, a amostragem, de acordo com Vergara (2009), foi do tipo não probabilística por acessibilidade e por tipicidade, isto é, os especialistas não foram selecionados por procedimento estatístico, mas pela facilidade de acesso. O seguinte critério foi julgado como característica relevante para seleção dos especialistas: a formação acadêmica e, principalmente, a experiência profissional na área ambiental. Assim, foram selecionados 6 especialistas, todos analistas ambientais de um órgão público ambiental, com experiência em análise de estudos ambientais, com conhecimento empírico sobre questões ambientais da UFRN e com graduação e/ou pós-graduação nas áreas de gestão ambiental, biologia, geografia e engenharia civil.
23Na quinta etapa, enviaram-se os questionários para os especialistas ponderarem o nível de relevância dos indicadores. Desse modo, houve um contato inicial para avisá-los que foram selecionados e a marcação de uma entrevista informal com o intuito de: esclarecer o objetivo da pesquisa e seus temas norteadores; explicar o conteúdo do questionário; e dirimir possíveis dúvidas. Em seguida, os questionários eletrônicos foram enviados para os e-mails dos especialistas.
24Na sexta e última etapa, realizaram-se a análise de relevância e a seleção dos indicadores. Para isso, foi efetuado o cálculo da média aritmética simples dos pesos atribuídos pelos 6 especialistas para cada indicador. Por fim, foram agrupados os indicadores que obtiveram as maiores médias, selecionando 6, que, de acordo com Camino e Müller (1993), estão em uma faixa considerada ideal (entre 6 e 8).
25Para iniciar a exposição dos resultados e a discussão, será apresentada, a seguir, na Tabela 2, a lista dos 50 indicadores selecionados das ferramentas de avaliação de sustentabilidade de IES. Os indicadores estão dispostos em ordem alfabética, acompanhados de sua respectiva ferramenta de origem.
Tabela 2 – Lista dos 50 indicadores ambientais de sustentabilidade selecionados
Indicadores
|
Ferramenta*
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1 - Abastecimento de alimentos de fazendas e hortas do próprio campus
|
TCSRC
|
2 - Aparelhos de uso eficiente de água (Aparelhos convencionais, parcialmente substituídos por aparelhos de uso eficiente, Totalmente substituídos por aparelhos de uso eficiente)
|
UIGMWU
|
3 - Área total (metro quadrado)
|
UIGMWU
|
4 - Área total edificada (metro quadrado)
|
UIGMWU
|
5 - Certificação Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) para construções sustentáveis concebida pela Organização não governamental-ONG americana U.S. Green Building Council (USGBC)
|
TCSRC
|
6 - Clima da região
|
UIGMWU
|
7 - Consumo total de água (metro cúbico)
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GRI
|
8 - Consumo total de energia (kWh)
|
GRI
|
9 - Consumo total de energia (kWh) por fontes renováveis (Biodiesel, Biomassa limpa, Energia solar, Energia eólica, Energia hidráulica)
|
GRI
|
10 - Emissões de NO e SO e outras substâncias significativas (por peso)
|
GRI
|
11 - Emissões de substâncias que destroem a camada de ozônio (por peso)
|
GRI
|
12 - Emissões diretas e indiretas de Gases de Efeito Estufa (por peso)
|
GRI
|
13 - Estratégias, medidas em vigor e planos futuros para a gestão de impactos na biodiversidade
|
GRI
|
14 - Existência de um site de sustentabilidade
|
UIGMWU
|
15 - Impactos ambientais significativos do transporte de produtos, materiais e outros bens utilizados no campus
|
GRI
|
16 - Índice de biodiversidade de corpos d'água e afins afetados significativamente pela disposição de esgotos e águas pluviais
|
UIGMWU
|
17 - Iniciativas para diminuir o consumo de energia como o uso de aparelhos eficientes
|
GRI
|
18 - Iniciativas para mitigar os impactos ambientais
|
GRI
|
19 - Iniciativas que priorizam a compra de alimentos de agricultores e produtores locais
|
TCSRC
|
20 - Manutenção da frota de veículos a motor do campus
|
UIGMWU
|
21 - Materiais utilizados por peso ou volume
|
GRI
|
22 - Número de bicicletas que são encontradas no campus em um dia
|
UIGMWU
|
23 - Número de carros entrando no campus diariamente
|
UIGMWU
|
24 - Número de espécies na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) e em listas nacionais de conservação discriminadas pelo nível de risco de extinção
|
GRI
|
25 - Número de eventos acadêmicos relacionados ao meio ambiente e sustentabilidade
|
UIGMWU
|
26 - Número de organizações estudantis relacionadas ao meio ambiente e sustentabilidade
|
UIGMWU
|
27 - Número de publicações acadêmicas sobre o meio ambiente e sustentabilidade
|
UIGMWU
|
28 - Número de veículos de propriedade do campus
|
UIGMWU
|
29 - Percentual e volume total de esgoto tratado e reutilizado
|
GRI
|
30 - Peso total por tipo de resíduos sólidos gerados
|
GRI
|
31 - Política de incentivo de uso de bicicletas por meio de aluguel de bicicletas
|
TCSRC
|
32 - Política de transporte concebida para limitar ou diminuir a área de estacionamento no campus
|
TCSRC
|
33 - Política de transporte gratuito em torno do campus e / ou para destinos locais
|
TCSRC
|
34 - Política de transporte projetado para limitar o número de veículos a motor usado no campus
|
UIGMWU
|
35 - Política para reduzir o uso de papel e plástico
|
UIGMWU
|
36 - Política para reduzir os Gases de Efeito Estufa e as reduções obtidas
|
UIGMWU
|
37 - Política para utilização de critérios de construção verde em todas as construções e reformas (Ventilação natural, Iluminação natural, Construção eficiente)
|
UIGMWU
|
38 - Porcentagem de área coberta de vegetação na forma de floresta
|
UIGMWU
|
39 - Porcentagem de área coberta de vegetação plantada (incluindo gramados, jardins, telhados verdes, plantio interno)
|
UIGMWU
|
40 - Porcentagem de área permeável
|
UIGMWU
|
41 - Porcentagem de materiais utilizados que contém no todo ou em parte material reciclado ou biodegradável
|
GRI
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42 - Programa de compostagem de resíduos orgânicos alimentares
|
TCSRC
|
43 - Programa de reciclagem de resíduos sólidos
|
TCSRC
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44 - Programa de reciclagem para óleo de cozinha usado
|
TCSRC
|
45 - Programa para reduzir o desperdício de alimentos
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TCSRC
|
46 -Programa que facilita o uso continuado de itens em bom estado (em vez de eliminação), tais como mobiliário de fim de semestre
|
TCSRC
|
47 - Recursos totais de pesquisa dedicados à investigação sobre ambiente e sustentabilidade
|
UIGMWU
|
48 - Total de gastos ou investimentos em proteção ambiental
|
GRI
|
49 - Tratamento e disposição de esgotos (Disposto não tratado para vias navegáveis, Tratado individualmente fossa séptica, Tratamento centralizado antes da disposição, Tratamento para reuso)
|
UIGMWU
|
50 - Valor monetário de pagamentos de multas ou número de sanções não-monetárias por descumprimento a legislação ambiental
|
GRI
|
Global Reporting Initiative (GRI); The College Sustainability Report Card (TCSRC) e; UI GreenMetric World University Ranking (UIGMWU).
Fonte: elaborado pelos autores (2015) adaptado de GRI (2013), The College Sustainability Report Card-2011 (2011) e UI GreenMetric World University Ranking -2015 (2015).
26A Figura 3, logo abaixo, apresenta um diagrama com os principais termos e suas relações dentre os 50 indicadores ambientais de sustentabilidade selecionados. Pontua-se que o diagrama foi desenvolvido com o auxílio do software de mineração de textos, o SOBEK.
Figura 3 – Diagrama com os principais termos e relações dos indicadores ambientais de sustentabilidade
Fonte: elaborado pelos autores (2015); SOBEK (2015).
27Com base no resumo dos indicadores exposto no diagrama, é possível inferir que, no geral, a finalidade principal dos indicadores é fornecer um valor numérico dos mais diversos aspectos do meio ambiente, a saber: número de carros, de bicicletas, de animais em extinção, de eventos acadêmicos, de publicações científicas e de organizações estudantis relacionados ao meio ambiente e à sustentabilidade. Outro foco dos indicadores que fica evidente no diagrama são as políticas e os programas voltados para a redução ou o uso eficiente dos mais diversos insumos utilizados nas IES.
28No que concerne à análise dos indicadores mais relevantes para o Campus Natal da UFRN, apresenta-se, no gráfico representado na Figura 4, o comportamento das respostas dos especialistas dentro dos níveis da Escala de Likert. Nesse gráfico, observa-se que somente 3 especialistas fizeram uso do nível “Nenhuma relevância” para a avaliação dos indicadores, totalizando 8 indicadores com esse nível. Assim, entende-se que a lista dos 50 indicadores selecionados pelas ferramentas (Global Reporting Initiative; The College Sustainability Report Card; e UI GreenMetric World University Ranking) não foge ao contexto específico do Campus Natal da UFRN. Em outras palavras, na opinião dos especialistas, somente 8 indicadores (16% do total) não possuem nenhuma relevância para o campus analisado, entendendo-se, dessa forma, que o campus não foge ao contexto geral das ferramentas de que os indicadores foram retirados.
Figura 4 – Comportamento das respostas dos especialistas pela Escala Likert
Fonte: elaborado pelos autores (2015).
29Em contrapartida, os níveis “Pouca relevância”, “Média relevância”, “Relevante” e “Muita relevância”, receberam, respectivamente, 20, 37, 48 e 42 votos. Os números apontam que os níveis mais baixos de relevância foram pouco explorados pelos especialistas. Ou seja, mais uma vez é possível perceber que o campus universitário em estudo não foge muito, na opinião dos especialistas consultados, à realidade de outras IES que fazem uso dos indicadores ambientais das ferramentas de avaliação de sustentabilidade consultadas.
30Conforme esmiuçado na Metodologia, cada nível de relevância da Escala Likert recebeu um peso de 1 a 5. A ponderação das respostas atribuídas pelos 6 especialistas para cada indicador permitiu selecionar os indicadores que obtiveram as maiores médias aritméticas simples de pesos e, portanto, maior relevância, os quais serão apresentados na Tabela 3, abaixo.
Tabela 3 – Indicadores ambientais de sustentabilidade mais relevantes
Indicadores
|
Média de pesos
|
Estratégias, medidas em vigor e planos futuros para a gestão de impactos na biodiversidade
|
4,83
|
Consumo total de energia (kWh)
|
4,83
|
Iniciativas para diminuir o consumo de energia como o uso de aparelhos eficientes
|
4,83
|
Consumo total de água (m³)
|
4,83
|
Programa de reciclagem de resíduos sólidos
|
4,83
|
Iniciativas para mitigar os impactos ambientais
|
4,83
|
Fonte: elaborado pelos autores (2015).
31Conforme observado na Tabela 3, os 6 indicadores ambientais de sustentabilidade apresentados foram os considerados mais relevantes, uma vez que, ao agrupar os indicadores com as maiores médias, esses apresentaram o mesmo valor de peso médio (4,83). Como apontado anteriormente, Camino e Muller (1993) recomendam que a quantidade ideal de indicadores seja, em cada dimensão, entre 6 e 8. Por esse motivo, foram adotados somente os 6 indicadores supracitados. Respeitar essa quantidade ideal é importante porque quanto maior o número de indicadores, maior o número de dados, de informação e de recursos dispendidos para medir e monitorar os indicadores ao longo do tempo, o que pode influenciar na exequibilidade da avaliação de sustentabilidade.
32Prosseguindo com a discussão dos resultados da Tabela 3, analisando agora os indicadores, pode-se perceber que esses convergiram para quatro temas: gestão de impactos ambientais, consumo de energia, consumo de água e reciclagem de resíduos sólidos. Nesse contexto, interpreta-se que os especialistas julgaram o indicador ambiental “Estratégias, medidas em vigor e planos futuros para a gestão de impactos na biodiversidade” com muita relevância para a UFRN devido a instituição estar localizada ao lado do Parque Estadual Dunas do Natal. Segundo informações do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e do Meio Ambiente (IDEMA), órgão gestor do Parque das Dunas, o Parque possui um ecossistema de dunas rico e diversificado, no qual a flora reúne mais de 270 espécies arbóreas distintas e 78 famílias, representada por mais de 350 espécies nativas; e a fauna está representada por cerca de 180 espécies dentre mamíferos, répteis, aves e invertebrados, como borboletas, aranhas e escorpiões (RIO GRANDE DO NORTE, 2013).
33Em relação aos indicadores ambientais de sustentabilidade “Consumo total de energia (kWh)” e “Iniciativas para diminuir o consumo de energia como o uso de aparelhos eficientes”, interpreta-se que os especialistas julgaram mensurar com muita relevância tais indicadores porque, conforme assinalam Brandão, Malheiros e Leme (2014), o uso da energia elétrica é um aspecto fundamental para as atividades de ensino, pesquisa e gestão de uma IES. O monitoramento do consumo desse insumo é fundamental para qualquer planejamento. Portanto, o consumo de energia elétrica consiste em um indicador fundamental para geração de informações que sirvam de base para proposição de ações que diminuam o consumo de energia elétrica da UFRN, o que pode ser alcançado por meio de iniciativas como o uso de aparelhos eficientes.
34O próximo indicador na lista final é o “Consumo total de água (m³)”. Após a revisão bibliográfica e a caracterização da área de estudo, é possível afirmar que este indicador foi votado com muita relevância pelos especialistas porque, da mesma forma que ocorre com a energia elétrica, o monitoramento do consumo de água é também fundamental para o desenvolvimento e o aprimoramento de programas de uso racional de insumos (BRANDÃO; MALHEIROS; LEME, 2014). Por exemplo, os laboratórios de ensino e pesquisas podem ser os setores que mais necessitam desse insumo. Este indicador tem como propósito identificar o consumo total de água da UFRN, o que pode contribuir para um monitoramento do consumo de água dessa instituição. É a partir da informação sobre consumo de água que se pode propor programas para diminuir o consumo de tal recurso natural.
35Sobre o indicador ambiental “Programa de reciclagem de resíduos sólidos”, interpreta-se que os especialistas o julgaram com muita relevância para a UFRN devido à geração de resíduos sólidos recicláveis ser, notadamente, um problema ambiental presente na atual sociedade. Brandão, Malheiros e Leme (2014) corroboram pontuando que a geração de resíduos de uma sociedade pode ser vista como um reflexo de seus hábitos de consumo e dar atenção à sua geração é de fundamental importância para iniciativas de gestão de uma IES. Cooper et al. (2014) julgam que, para formação de um plano diretor voltado para sustentabilidade de IES, o tema resíduo sólido é essencial e a elaboração de uma política de gestão voltada para esse tema deve buscar a redução, a reutilização, a reciclagem e destinação final adequada e segura de todos os tipos e classes de resíduos gerados na IES.
36Ademais, ainda sobre a alta relevância do indicador ambiental “Programa de reciclagem de resíduos sólidos”, cabe destacar que os especialistas podem ter levado em consideração as exigências legais da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305 de 2010). Tal indicador tem como propósito identificar a presença de programas de reciclagem de resíduos sólidos na instituição. Nesse sentido, entende-se que a reciclagem, conforme preconizada na Lei 12.305 de 2010, é um tipo de destinação final ambientalmente adequada que, além de evitar riscos e danos à saúde pública, pode minimizar os impactos ambientais adversos e contribui com a diminuição do consumo de materiais, energia e água na IES à medida que aquilo que será reciclado seja transformado, novamente, em insumo e reinserido em atividades na instituição (BRASIL, 2010). A título de exemplo, os resíduos de papéis provenientes de atividades administrativas podem ser reciclados na própria IES, sendo transformados em novos papéis para uso em outras atividades, como papel toalha para banheiros.
37Por fim, acerca do indicador ambiental “Iniciativas para mitigar os impactos ambientais”, pode-se inferir que os especialistas o julgaram com alta relevância para a UFRN porque é um indicador genérico, isto é, que abrange a identificação de qualquer iniciativa para diminuir os impactos ambientais provenientes das atividades da instituição. Assim, a presença de programas para diminuir o consumo de energia elétrica, de água ou de materiais, bem como para tratar resíduos sólidos e efluentes, diminuir a mortandade da fauna e da flora, reduzir o ruído de máquinas ou atividades, por exemplo, podem ser contemplados nesse indicador ambiental.
38Além dos indicadores mais relevantes, também serão apresentados os indicadores ambientais com as menores médias de pesos, segundo a perspectiva dos especialistas, conforme Tabela 4, abaixo.
Tabela 4 – Indicadores ambientais de sustentabilidade que obtiveram as menores médias
Indicadores
|
Média de pesos
|
Emissões diretas e indiretas de Gases de Efeito Estufa (por peso).
|
3,00
|
Abastecimento de alimentos de fazendas e hortas do próprio campus.
|
3,00
|
Número de espécies na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) e em listas nacionais de conservação discriminadas pelo nível de risco de extinção.
|
2,83
|
Emissões de substâncias que destroem a camada de ozônio (por peso).
|
2,83
|
Emissões de NO e SO e outras substâncias significativas (por peso).
|
2,50
|
Fonte: elaborado pelos autores (2015).
39Nesse caso, foram apresentados 5 indicadores ambientais com as menores médias porque o 6º indicador com menor média ficou empatado no valor de média 3,17 com mais 5 indicadores, portanto, foi julgado que seria demasia apresentar 11 indicadores ambientais com menores médias. É importante destacar, na Tabela 4, que a maioria dos indicadores que obtiveram as menores médias de pesos estão relacionados às emissões de Gases de Efeitos Estufa e a outras substâncias nocivas à atmosfera.
40Corroborando com a revisão bibliográfica realizada neste artigo, conclui-se que os indicadores de sustentabilidade são informações que medem, nas dimensões econômica, social e ambiental, o nível de sustentabilidade de um determinado sistema. Nesse contexto, os indicadores ambientais são informações que devem contemplar o desempenho referente à biodiversidade, à conformidade ambiental, às despesas com o meio ambiente e aos impactos de produtos e serviços. Além disso, pode-se afirmar que uma IES que busca a sustentabilidade é aquela que se esforça para integrar questões ambientais, sociais e econômicas nas suas funções principais.
41Quanto à análise da ponderação dos indicadores ambientais de sustentabilidade feita pelos 6 especialistas, constatou-se que, de um universo de 50 indicadores ambientais para IES, 6, com as maiores médias, foram considerados mais relevantes para a UFRN (Tabela 3) e, portanto, selecionados. Em contraponto, 5 indicadores ambientais, com as menores médias de pesos, foram considerados indicadores menos relevantes para a UFRN (Tabela 4). A partir disso, observou-se que os 6 indicadores selecionados foram distribuídos em 5 temas, quais sejam: gestão de impactos na biodiversidade, consumo de energia, consumo de água, reciclagem de resíduos sólidos e mitigação de impactos ambientais.
42Destarte, pode-se dizer que essas conclusões se fazem pertinentes, uma vez que contribuem, a partir de uma perspectiva de especialistas, com uma proposta de indicadores ambientais de sustentabilidade relevantes para a UFRN, bem como, de um modo geral, para pesquisas relacionadas à seleção de indicadores relevantes para qualquer IES em um contexto similar. Contudo, consideram-se algumas limitações na execução desta pesquisa, como a escassez de trabalhos relativos ao tema estudado e, sob o viés metodológico, a quantidade de especialistas consultados (6). A esse respeito, sublinha-se que tal número não pôde ser superado porque somente os especialistas supracitados se dispuseram a participar do estudo. Sendo assim, como recomendação para trabalhos futuros, sugere-se uma amostra maior de especialistas, caso seja possível, e a continuidade da seleção dos indicadores das outras dimensões: a social e a econômica.