Navigation – Plan du site

AccueilNuméros10ThématiqueA invenção da memória e da identi...

Thématique

A invenção da memória e da identidade em O menino grapiúna e Terras do Sem Fim

Mírian Sumica Carneiro Reis

Résumé

Published with a forty-year gap between them, The Violent lands (1942) and The Grapiuna Boy (1981), by Jorge Amado, create links between the representations of a fictional setting about a Brazilian cocoa producer, with their characters (colonel, prostitutes, gunmen, explored agriculturalists) and the writer’s memories: a boy born and raised in the south of Bahia and inserted in its geographical, historical and cultural scenario. In this work, we analyzed how memory and fiction are intertwined in these two Amado’s books. We discuss notions of biography and autobiography, fiction and portraits of reality, in the process of inventing and representing identities which not only concerning historical reports, but they also build different strategies to witness history.

Haut de page

Entrées d’index

Géographique :

Bahia, Brasil
Haut de page

Texte intégral

  • 1 Cadernos de literatura brasileira (edição Jorge Amado), Instituto Moreira Salles. n° 3. São Paulo, (...)
  • 2 Amado, Jorge, Navegação de cabotagem: apontamentos para um livro de memórias que jamais escreverei (...)
  • 3 Amado, Jorge, O menino grapiúna (Ilustrações de Floriano Teixeira, 9. ed.), Rio de Janeiro: Record, (...)

Eu nunca tomo notas. Como escrevo sobre aquilo que vivi, aquilo que conheço, uso muito minha memória.1

Minha criação romanesca decorre da intimidade, da cumplicidade com o povo. Aprendi com o povo e com a vida, sou um escritor e não um literato, em verdade sou um obá – em língua ioruba da Bahia obá significa ministro, velho, sábio : sábio da sabedoria do povo.2

Que outra coisa tenho sido senão um romancista de putas e vagabundos ? Se alguma beleza existe no que escrevi, provém desses despossuídos, dessas mulheres marcadas com ferro em brasa, os que estão na fímbria da morte, no último escalão do abandono3 (Jorge Amado, O menino grapiúna).

1No ano de 1980, a revista Vogue solicitou a Jorge Amado um texto para publicação em uma edição comemorativa dos seus cinquenta anos de carreira literária. Desse pedido nasceu a autobiografia O menino grapiúna, publicado sob forma de livro em 1981 em tiragem limitada, em comemoração ao centenário da cidade de Ilhéus, e em 1982, em escala comercial. No pequeno livro, de letras graúdas e muitas ilustrações de Floriano Teixeira, são contadas as peripécias dos primeiros anos de vida do autor, mas, para além das aventuras de um menino, há o relato de um homem amadurecido, ciente da sua importância como escritor e como cidadão. O livro é composto por dezoito capítulos curtos, que desvelam ao leitor explicações e interpretações feitas pelo autor que, em alguns momentos, revisa sua obra produzida até então, bem como antecipa temas e histórias que se desdobrarão em produções posteriores.

2Neste livro, o autor aponta, não para uma explicação da sua literatura, já que ele insiste em afirmar em diversas entrevistas que não é um literato (dentro dos moldes clássicos da literatura), mas o método e o mote da sua escritura : a história da gente da Bahia, mesclada à sua própria, pois a perspectiva que norteia sua ficção é a da memória. Por isso, o esforço de rememoração baseia-se na reconstrução de imagens do vivido, numa possibilidade de atualização do passado no presente da diegese narrativa. O acesso a experiências anteriores, por maior que seja o empenho em priorizar a(s) verdade(s), se dá por uma reconfiguração das cenas passadas, marcadas por recordação, reminiscência, esquecimento e seleção, como num filme em que as imagens são antecipadas, atrasadas, editadas conforme a prioridade do enredo.

3Diferentemente do que ocorre no romance realista tradicional, em que a construção de imagens confunde-se com um esforço descritivo que visa ilustrar o real da forma mais fidedigna possível, pautada na referencialidade, nas escritas da memória a perspectiva se desloca para o olhar do narrador. Assim, a narrativa com ênfase no referencial objetivo vai cedendo espaço ao plano do imaginário e o foco narrativo se descola do ele, objeto, para um “eu” que assume uma voz e uma identidade, mesmo quando se coloca na condição de “ele”. Em O menino grapiúna, as vozes da narrativa se alternam entre a primeira pessoa de um contador de causos que relata as suas memórias e a onisciência do escritor que se intitula “o menino” e assim se despersonaliza, objetivado no relato não apenas pessoal, mas também histórico e fundador de cidades e identidades.

4Jorge Amado, o autor da obra e também personagem ficcionalizado na narrativa, consegue, em sua autobiografia, fazer a intersecção dos dois tipos arcaicos de narrador apontados por Walter Benjamin em seu famoso ensaio sobre a obra de Nicolai Leskov :

  • 4 Benjamin, Walter, « O narrador – considerações sobre a obra de Nicolai Leskov », in Magia e técnica (...)

A experiência que passa de pessoa para pessoa é a fonte a que recorreram todos os narradores. E, entre as narrativas escritas, as melhores são as que se distinguem das histórias orais contadas pelos inúmeros narradores anônimos. Estre estes, existem dois grupos, que se interpenetram de múltiplas maneiras. A figura do narrador só se torna plenamente tangível se temos presentes esses dois grupos. “Quem viaja tem muito o que contar”, diz o povo, e com isso imagina o narrador que vem de longe. Mas também escutamos com prazer o homem que ganhou honestamente sua vida sem sair do seu país e que conhece suas histórias e tradições. Se quisermos concretizar esses dois grupos através dos seus representantes arcaicos, podemos dizer que um é exemplificado pelo camponês sedentário, e outro pelo marinheiro comerciante.4

5Para Benjamin, o narrador moderno é aquele que agrega os dois tipos de narradores arcaicos em uma mesma experiência, pois, desde o sistema corporativo medieval os saberes do mestre sedentários uniam-se aos dos aprendizes migrantes, caracterizando a interpenetração de experiências peculiar da narrativa moderna. Como contador de casos que Jorge Amado reivindica ser, ele é, ao mesmo tempo, o homem da terra, menino que nasceu e cresceu concomitantemente com a nação grapiúna, e o escritor engajado que viajou por diversas partes do mundo e pôde vivenciar e partilhar experiências que se somaram às suas memórias. O menino grapiúna propõe-se a contar as histórias de gênese, tanto do escritor andarilho que a produz para comemorar seus cinquenta anos de vida literária, quanto de uma identidade que hoje é assumida por toda uma comunidade.

6É com a voz do narrador moderno que o relato autobiográfico d’O menino grapiúna se inicia. Ao invés do corriqueiro método das autobiografias (eu nasci em... na cidade de...), o autor anuncia o seu método : são « causos » trazidos da memória e esta não se forma necessariamente do que foi vivenciado, mas do que se experimenta também pelo que se ouve contar e que passa a compor o imaginário tanto individual quanto coletivo. Assim, o capítulo inicial apresenta o primeiro momento do autor, o seu renascimento, dez meses depois do nascimento, como se sua vida começasse a partir do momento em que se pode contar algum feito heroico sobre ela :

  • 5 Amado, Jorge, Op.Cit., p. 13-14.
    * Para maior clareza na compreensão e localização das citações, as (...)

De tanto ouvir minha mãe contar, a cena se tornou viva e real como se eu houvesse guardado memória do acontecido : a égua tombando morta, meu pai, lavado em sangue, erguendo-me do chão. [...]. Ainda conseguiu o ferido levantar o filho e leva-lo até a cozinha onde dona Eulália preparava o jantar. Entregou-lhe o menino coberto com o sangue paterno. Sucedeu no distante ano de 1913. Eu nascera em agosto de 1912 naquela mesma roça de cacau, de nome Auricídia.5

7Batizado pelo sangue paterno, o menino traz na memória a herança do projeto fundador de uma identidade forjada a partir das histórias de desbravamento de matas e lutas por terras na região cacaueira do Brasil, o sul da Bahia, numa época em que o cacau era denominado como fruto de ouro e atraía para a região gente de todos os cantos do país. Na sua maioria, homens pobres em busca de melhores condições de vida e de enriquecimento rápido, tanto pelo plantio e comércio do cacau como pelo comércio de armas, animais e vidas, no qual jagunços bons de pontaria valiam tanto ou mais que bons trabalhadores das roças. O mesmo ocorre com as histórias da cidade da Bahia – como era chamada Salvador em tempos idos – e seus becos e ladeiras, macumbas e feitiços, prostitutas e vagabundos, numa História contada do ponto de vista dos oprimidos, projeto ideológico do autor, vaticinado pelos vários batismos experimentados ainda menino.

  • 6 Amado, Op.Cit., p. 25.

8É assim, por exemplo, o contato com a varíola, batismo imunizador, quando uma enchente destrói as primeiras plantações de cacau feitas pelo pai do autor, o coronel João Amado, e obriga a família a abrigar-se no antigo lazareto da cidade de Ferradas. Lá, a visão dos bexigosos mortos pela peste ou mesmo a dos miraculosos (os sobreviventes da varíola), com seus rostos escalavrados pelas pústulas da doença encravaram-se na memória do menino, que a transforma em dilema e castigo em suas histórias. Dilema dos trabalhadores nos romances do cacau, dilema dos pobres da cidade da Bahia, castigo de Omolú pela maldade dos homens (como em Capitães de Areia). O período de abrigo no lazareto imunizou o autor contra a doença, mas ao mesmo tempo o contagiou com as imagens do sofrimento dos doentes, para sempre « A bexiga e os bexigosos povoam meus livros, vão comigo pela vida afora ».6

  • 7 Lejeune, Philippe, O pacto autobiográfico: de Rousseau à internet (Organização: Jovita Maria Gerhei (...)

9No enredo autobiográfico, o microcosmo autoral aponta para o macrocosmo de uma coletividade representada em várias de suas obras ficcionais. O relato de Jorge Amado reflete um método similar ao proposto por Philippe Lejeune, para quem a estrutura autobiográfica pode seguir dois sistemas : « Um sistema referencial “real” (em que o compromisso autobiográfico, mesmo passando pelo livro e pela escrita, tem valor de ato) e um sistema literário, no qual a escrita não tem pretensões à transparência, mas pode perfeitamente imitar, mobilizar as crenças do primeiro sistema. »7 No sistema literário, o dos seus romances, Jorge Amado reescreve e ressignifica cenas biográficas na (re)construção das histórias de si e da Bahia, onde a escritura representa uma espécie de tradução (às vezes traição, às vezes invenção) das experiências vividas e da História. Como afirma Élvya Ribeiro Pereira, ao analisar o romance Tocaia Grande, de 1984,

  • 8 Pereira, Élvya Ribeiro, « Os lugares da utopia: uma leitura de Tocaia Grande », in Olivieri-Godet, (...)

Jorge Amado é, antes de tudo, um escritor comprometido com o burburinho da existência, com o vai-e-vem das pessoas simples no contato carnal com a vida. Em Tocaia Grande, dá-se uma adesão irrestrita às tramas cotidianas da vida simples, às estratégias de resistência popular, aos discursos das margens, ao prazer dos sentidos, à força vital da libido e às projeções líricas e românticas do desejo.8

10A característica humanista da obra de Jorge Amado, destacada na citação acima, prevalece desde os seus primeiros romances, ainda escritos sob a perspectiva do engajamento de esquerda que marcou a trajetória do escritor durante longo período, e se desdobra até as últimas obras, quando o teor partidário é suavizado em função de um humanismo a-panfletário do romance de costumes. Tanto uma vertente quanto a outra estão expostas criticamente em O menino grapiúna. Deslocando a história biográfica para o âmbito da invenção ficcional, o autor utiliza a memória como estratégia de escrita e, como reforço ao seu papel de contador de causos, insere nos seus enredos ficcionais fatos e nomes reais, subvertendo critérios estruturalistas de forma e de linguagem romanesca e inaugurando verdades, sem compromisso com uma Verdade utópica.

  • 9 Cf. Mahony, Mary Ann, « Um passado para justificar o presente: memória coletiva, representação hist (...)

11É o que ocorre em Terras do sem fim. Talvez seja este o romance em que a biografia do autor narrada em O menino grapiúna seja desdobrada em personagem da trama de modo mais enfático. Dando continuidade ao projeto iniciado por Cacau em 1933, Terras do sem fim, de 1942, é também um romance onde a história local vira ficção e as lutas reais entre os coronéis cacauicultores e seus aliados assume o centro do enredo. A partir do relato das disputas factuais9 pelo território de mata da região de Sequeiro do Espinho, hoje Itajuípe, entre os irmãos Badaró e Basílio de Oliveira, Jorge Amado constrói um panorama histórico e fundacional do sul da Bahia que, por um lado, humaniza os senhores de terras, mas por outro, a contrapelo da história oficial, denuncia seus horrores e desmandos.

12A despeito de um aparente protagonismo das famílias consideradas importantes, as imagens que se ressaltam no romance são as dos homens e mulheres pobres e explorados que fizeram a riqueza da região, com suor e sangue. As pessoas e os fatos são apresentados sob o prisma da rememoração e da invenção, e as figuras do pai e do tio do autor se transfiguram na caracterização de Sinhô e Juca Badaró, mas também se mesclam na composição do personagem de Basílio de Oliveira, nomeado, no romance, como Horácio da Silveira. Esse imbricamento entre pessoas reais e personagens do romance é indicada em O menino grapiúna, implícita e explicitamente a partir de um olhar diferenciado que o autor confere à narrativa de Terras do sem fim.

13Até este romance, a denúncia das desigualdades e injustiças sociais seguia o método do realismo socialista e os seus personagens acabavam por destoar, paradoxalmente, da realidade que pretendiam denunciar porque eram representados de modo maniqueísta : todos os oprimidos eram bons e puros ou, quando do contrário, eram apenas ignorantes ; todos os opressores eram maus, duros e injustos. Terras do sem fim humaniza os personagens, livra-se de maniqueísmos e consegue, enfim, cumprir o papel de fundação de identidade que o projeto romântico do autor concluirá anos depois em Tocaia Grande, como afirma Élvya Ribeiro Pereira :

  • 10 Pereira, Élvya Ribeiro, Op.Cit., p. 149.

Neste sentido, Tocaia Grande se insere numa linha discursiva da literatura brasileira que remonta ao projeto “fundacional” romântico, o qual se caracteriza pela preocupação com um lastro histórico cujo sentido simbólico repousaria na reconstrução ou na invenção das marcas da origem. Tal projeto fundacional prima por conceber a imagem de nação a partir de uma focalização monumental da história marcada pela unidade de seus elementos (território, povo, cultura, origem).10

14Na saga de fundação da nação grapiúna, o coronel João Amado, pai de Jorge Amado, é exemplar dos coronéis apresentados no romance. Ele saiu de Sergipe ainda jovem para realizar no sul da Bahia o sonho desbravador de fazendeiro de cacau. Em nome desse sonho, chegou a perder tudo o que tinha investido numa pequena e primeira roça por causa de uma enchente. Trabalhou, junto com a esposa, cortando e costurando couro para a fabricação de tamancos enquanto juntava dinheiro para tentar novamente enriquecer com o cacau e assim o fez. Para se tornar coronel, contratou jagunços, enfrentou intempéries, coagiu e explorou os pobres. Mas era também, paradoxalmente, um homem sensível e bom, exemplar do mito do self made man. Numa leitura minuciosa de Terras do sem fim, percebe-se um pouco de João Amado na tirania esclarecida de Sinhô Badaró e na determinação inquebrantável de Horácio da Silveira, oponentes e iguais em ideologia e projetos.

15História familiar e ficção se unem também em torno da figura de Álvaro Amado, tio de Jorge Amado. Dele emanam as características de Juca Badaró e também do malandro João Magalhães, vagabundo renomado na cidade da Bahia que decide ir embora para Ilhéus, tanto para fugir da polícia quanto para enriquecer nas terras do cacau. Lá ele assume a falsa identidade de engenheiro e capitão reformado e consegue, enganando a todos desposar Don’Ana Badaró. Jogadores, trapaceiros, mulherengos e articuladores, ambos os personagens se apresentam, cada um a seu modo, a partir da caracterização feita em O menino grapiúna do tio Álvaro, a quem são dedicados o décimo primeiro e o décimo segundo capítulos como longas partes de outros :

  • 11 Amado, Jorge, Op.Cit., p. 71-72, grifos meus.

Os personagens das obras de ficção resultam da soma de figuras que se impuseram ao autor, que fazem parte de sua experiência vital. Assim são os coronéis do cacau nos livros onde trato da região grapiúna, nos quais tentei recriar a saga da conquista da terra e as etapas da construção de uma cultura própria. Creio que em todos esses coronéis há um pouco do meu tio Álvaro Amado. Personalidade sedutora, teve-me sempre sob sua proteção, dava-me categoria de amigo, por vezes de cúmplice.
Irmão mais moço de meu pai, tio Álvaro seguiu-lhe o exemplo, ainda adolescente veio de Sergipe para fazer-se grapiúna. Fazendeiro, comerciante, inventando negócios os mais diversos, sempre risonho e alegre. De todos os seus múltiplos ofícios, o jogo foi o mais constante e o preferido, podia atravessar dias e noites com o baralho na mão, namorando com a sorte, esperando o momento justo para a grande jogada.11

16Também parte da experiência vital do autor foi o convívio com os jagunços. Homens duros, bons de pontaria, mercenários da morte, que são humanizados pelo contato com o menino que não sabia ver essas características como defeitos, pois, em sua inocência infantil, reconheceu nesses homens a fidelidade e a ignorância miserável :

  • 12 Idem, p. 51.

A quem mais admirava senão a Argemiro, de temerária fama, ou a Honório, um gigante negro que se repete nos meus livros, a partir de “Cacau” ? Diante de Honório todos tremiam. Constava que já liquidara não sei quantos, posso garantir que era de uma bondade sem limites, de uma delicadeza sem igual.12

17As presenças de Argemiro e Honório, personagens da vida real, se confundem ficcionalizadas no personagem de Damião, o melhor e mais cruel jagunço dos Badaró, em Terras do sem fim. De pontaria inigualável, o negro cuja fama chegara a ser noticiada em jornais da capital era também aquele a quem as crianças amavam :

  • 13 Amado, Jorge, Terras do sem fim (Ilustrações de Clóvis Graciano, 57. ed.), Rio de Janeiro: Record, (...)

As crianças da fazenda adoravam o negro Damião que servia de cavalo para as mais pequenas, que ia buscar jaca mole nas grandes jaqueiras, cachos de banana-ouro nos bananais onde viviam as cobras, que selava cavalos mansos para os maiorezinhos passearem, que levava todos para o banho no rio e lhes ensinava a nadar. As crianças o adoravam, para elas ninguém era melhor que o negro Damião.
Sua profissão era matar, Damião nem sabe mesmo como começou. O coronel manda, ele mata. Não sabe quantos já matou, Damião não sabe contar além de cinco, e ainda assim pelos dedos. Tampouco lhe interessa saber. Não tem ódio de ninguém, nunca fez mal a pessoa alguma.13

18Mesmo tenho propalada a fama de assassino, Damião é um dos muitos heróis populares que compõem a história da nação grapiúna. Ele não tem culpa por seus crimes posto que é apenas um instrumento da ambição do coronel. Na verdade, Damião é descrito como vítima, quase infantilizado em sua bondade de homem amigos das crianças que, tal como muitas delas não sabe sequer contar sem a ajuda dos dedos. Sua caracterização é resquício do embate socialista presente nas obras de Jorge Amado, mas também vestígio do sentimento infantil de simpatia e inocência legado ao escritor que, adulto, descreve seu personagem com as tintas da memória de criança.

19N’O menino grapiúna, o sentimento da criança pelos famigerados empregados do pai é de gratidão e camaradagem. Foram eles que lhe inseriram em uma das suas muitas « universidades », como o autor gosta de chamar as experiências herdadas do convívio com vários tipos de pessoas. Argemiro e Honório levavam o menino Jorge para as casas das rameiras, nos becos suburbanos, e isto era um segredo de adultos que envaidecia e ensinava o menino : nas casas das mulheres-da-vida, ele recebeu afagos maternais, fraternais, enamorados e ardentes, sucessivamente. Foi também nesses lugares que se forjou a admiração por mulheres capazes de vencer a miséria, o preconceito e o repúdio social, a partir do contato com as histórias individuais de exploração, amores desiludidos e desenganos.

  • 14 Amado, Jorge, O menino grapiúna, p. 58.
  • 15 Amado, Jorge, Terras do sem fim, p. 122.
  • 16 Idem, p. 124.

20Não é à toa que Jorge Amado reivindica para si a condição de “romancista de putas e vagabundos.14 Das memórias desse convívio íntimo com as prostitutas que o acalentaram na infância nasce o elogio e a defesa dedicados a elas em Terras do sem fim, em prosa poética, no primeiro capítulo da parte intitulada « Gestação de Cidades ». Neste capítulo conta-se a história de três irmãs : « Lúcia, a das negras tranças ; Violeta, a dos olhos mortos ; Maria, a mais moça das três ».15 A história, que começa com a fórmula de contos de fadas de “Era uma vez”, revela, na verdade, o destino trágico das heroínas esquecidas ou detratadas pela história. Levadas e iludidas pelo patrão, pelo feitor e pelo amor, respectivamente, as três viram-se unidas no destino de prostitutas quando, passada a mocidade, o patrão e o feitor foram embora e o amor de Maria morreu. Não há julgamentos nem moralismos na descrição das irmãs, pelo contrário : na perspectiva do romance, também elas são vítimas da tragédia social que lastreia os mitos da fundação das cidades, gestadas em seus ventres irmanados na exploração e no abandono, destino cruel reservado aos menos favorecidos. O capítulo se encerra em poesia : « Cadê as tranças de Lúcia, os seios de Violeta, cadê o amor de Maria ? Era uma vez três irmãs numa casa de putas pobres. Unidas do sofrimento, unidas nos desespero, Maria, Lúcia, Violeta, unidas no seu destino ».16

  • 17 Candido, Antônio, Brigada ligeira e outros escritos, São Paulo: Editora da UNESP, 1992, p. 55.

21É através da poesia imersa em sua prosa que Jorge Amado realça o valor dos seus heróis e suaviza o caráter documental do romance, no que Antonio Candido considerou como dialética entre poesia e documento. Para além da crítica de fundo estruturalista que condena a falta de composição ou seja, de capacidade ordenadora do escritor ; no seu senso de proporção, de equilíbrio, de distribuição dos valores expressivos17, Antonio Candido reconhece em Terras do sem fim características próprias do romance histórico, o que, para o crítico, é o viés que soluciona a tensão dialética entre poesia e documento.

  • 18 Amado, Jorge, O menino grapiúna, p. 111.

22O elo entre tais características é a presença do mar, histórico e geográfico, caminho de chegada e partida de homens, máquinas, desenvolvimento ; mas também como força poética que expõe e vivifica o aspecto documental e histórico do drama do cacau. É o mar o aporte possível para que o menino grapiúna, tornado escritor de sua gente, possa trazer à tona, em sua escrita, as histórias que conta em seus romances. No enlace entre romance e autobiografia, o mar é a ponte que permite o acesso da voz autoral daquele que teve seu primeiro amor de menino diante do mar, nos subúrbios de Ilhéus, que por ele viajou da roça de cacau onde se criou para o colégio jesuíta na Bahia, e daí para o mundo (Dos estritos limites do internato, fui salvo pelo mar – o mar de Ilhéus, a praia do Pontal, as marés mansas e a tempestade18).

23« O mar » foi o título do primeiro texto em que se reconhece o seu talento para a literatura, quando o Padre Cabral, seu iniciador na leitura dos clássicos, vaticina o futuro de escritor :

  • 19 Idem, p. 118.

Na aula seguinte, entre risonho e solene, anunciou a existência de uma vocação autêntica de escritor naquela sala de aula. Pediu que escutassem com atenção o dever que ia ler. Tinha certeza, afirmou, que o autor daquela página seria no futuro um escritor conhecido. Não regateou elogios. Eu acabara de completar onze anos.19

  • 20 Amado, Jorge, Terras do sem fim, p. 285, grifos meus.

24Esse mesmo menino transforma-se em personagem em Terras do sem fim. A ele caberá a missão de contar a história da fundação da nação grapiúna, de que fora testemunha. Já no final do enredo, no julgamento do coronel Horácio por crimes de morte, o autor surge ficcionalizado : « Um menino, que anos depois iria escrever as histórias dessa terra, foi chamado por um meirinho para sacar da urna o nome dos cidadãos que iriam constituir o conselho da sentença ».20

  • 21 Idem, p. 286.

25Tornar-se personagem do enredo, neste caso, é uma forma de garantir ao seu relato o argumento de autoridade de quem vivenciou os fatos : « E desse lugar assistiu a todo o julgamento, escutando de olhos acesos os debates. Mesmo pela madrugada, quando alguns assistentes cochilavam nos bancos, o menino seguia nervoso o desenrolar do espetáculo ».21 Ele traz consigo a vivência dos fatos, mesmo que de forma ainda pouco inteligível para a sua consciência de criança, mas com a lucidez que vai se desdobrar em sabedoria mais adiante, quando, com o passar dos anos, os fatos sentidos transformam-se em experiência narrável, pois, conforme afirma Maurice Halbbwachs em A memória coletiva :

  • 22 Halbwachs, Maurice, A memória coletiva (Tradução: Beatriz Sidou), São Paulo: Centauro, 2006, p. 90, (...)

A vida de criança mergulha mais do que se imagina nos meios sociais pelos quais ela entra em contato com um passado mais ou menos distanciado, que é como o contexto em que são guardadas as suas lembranças mais pessoais. É neste passado vivido, bem mais do que no passado apreendido pela história escrita, em que se apoiará mais tarde a sua memória. (...). Neste sentido é que a história vivida se distingue da história escrita : ela tem tudo o que é necessário para constituir um panorama vivo e natural sobre o qual se possa basear um pensamento para conservar e reencontrar a imagem de seu passado.22

  • 23 Amado, Jorge, O menino grapiúna, p. 290.

26Seguindo essa afirmação de Halbwachs, conclui-se que não é sem propósito que o menino grapiúna recebe a missão de recontar as histórias da formação de seu povo. Quando elege a perspectiva infantil para porta-voz da memória coletiva, Jorge Amado reivindica para o narrador a inocência, a curiosidade e a poesia que advém do olhar infantil. Um rapaz ou um jovem adulto manipulariam essas histórias conforme influências ideológicas, mesmo que ainda imprecisas. Para a criança, as paixões são outras, como demonstrado no trecho referente ao final do julgamento quando, perguntado pelo pai sobre o que mais gostara, o menino responde : « De tudo, de tudo, gostei mais foi do homem de anelão falso, o que sabe histórias... ».23

  • 24 Candido, Antonio, Op.Cit., p. 49.

27É do lugar de testemunha da história que Jorge Amado escreve, como afirma Antonio Candido : « Os seus livros penetram na poesia do povo, estilizam-na, transformam-na em criação própria, trazendo o proletário e o trabalhador rural, o negro e o branco, para a sua experiência artística e humana, pois que ele quis e soube viver a deles ».24

28Assumindo a condição de « sábio da sabedoria do povo », Jorge Amado reinventa os mitos da nação grapiúna, valendo-se, para isto das versões colhidas na história oficial e, principalmente, das histórias ouvidas e vividas. Desse modo, ele tensiona os principais arquétipos que compõem esses mitos : o primeiro, o do povo que se ergue a partir da coragem desbravadora e do suor do rosto, encarnado na figura de Horácio da Silveira, tropeiro que, por mérito próprio e meios criminosos ascendeu à condição de coronel ; e o segundo, o da tradição escravocrata que trocou a cultura do açúcar pela do cacau, mas manteve os valores e atitudes herdadas da aristocracia que a família Badaró representava.

29Conforme estudo de Mary Ann Mahony intitulado « Um passado para justificar o presente : memória coletiva, representação histórica e dominação política », o passado escravocrata era (e ainda o é, na visão da autora) uma mácula que os herdeiros do cacau tentam relegar ao esquecimento histórico. O arquétipo do desbravador soa muito mais heroico para a memória de um povo do que a verdade histórica do horror escravagista. Segundo Mahony,

  • 25 Mahony, Mary Ann, Op.Cit., p. 776-777.

A nova geração da elite cacaueira, em sua maioria filhos e netos dos primeiros cacauicultores, ignorava o fato de que alguns de seus avós haviam se utilizado de mão-de-obra escrava. Tendo sido criados com histórias sobre os desbravadores heroicos, de acordo com Odette Rosa da Silva, eles acreditavam que seus antepassados foram pioneiros que conquistaram a floresta apesar de muitas dificuldades. Viam a si mesmos como os herdeiros daqueles primeiros heróis regionais lutando para plantar cacau a despeito das imensas dificuldades criadas por governos incompetentes, trabalhadores inquietos e especuladores internacionais.25

  • 26 Amado, Jorge, Terras do sem fim, p. 94.

30Seguindo o projeto ideológico de dar voz aos silenciados pela história, em Terras do sem fim, Jorge Amado desmitifica essa versão heroica da história do cacau e tensiona, sob a forma do romance histórico, as « verdades » que os mitos de formação encerram. A despeito das tentativas de apagamento, as marcas da escravidão são evidentes na cultura e na miscigenação racial do povo grapiúna, bem como se estenderam para o tratamento dado aos trabalhadores das roças de cacau. No romance, a irmã de leite de Don’Ana Badaró é uma mulata, provavelmente filha bastarda do avô de Don’Ana, o patriarca Marcelino Badaró, de crueldade propalada pela região, com a negra Risoleta, cozinheira da casa-grande dos Badaró. Para o recém-chegado à roça, o trabalhador mais antigo diz : « Eu era menino no tempo da escravidão... Meu pai foi escravo, minha mãe também... Mas não era mais ruim que hoje... As coisas não mudou, foi tudo palavra ».26

31Desse modo, o relato das disputas entre coronéis tensiona também as vertentes históricas, desnudando-as a despeito das tentativas de reinvenção propostas pela decadente, mas ainda assim elite herdeira do cacau. Em O menino grapiúna, Jorge Amado reforça o caráter de impostura próprio dos ideólogos elitistas e da sua necessidade de criação de heróis que estão sempre à margem do povo. Escapando do relato sobre as memórias de infância, é a voz do adulto, já decepcionado com a ideologia comunista que defendeu durante tantos anos, que afirma :

  • 27 Amado, Jorge, O menino grapiúna, p. 62.

Os líderes e os heróis são vazios, tolos, prepotentes, odiosos e maléficos. Mentem quando se dizem intérpretes do povo e pretendem falar em seu nome, pois a bandeira que empunham é a da morte, para subsistir necessitam da opressão e da violência. (...). Não podem suportar a liberdade, a invenção e o sonho, têm horror ao indivíduo, colocam-se acima do povo, o mundo que constroem é feio e triste. Assim tem sido sempre, quem consegue distinguir entre o herói e o assassino ?27

32No enlace entre história e ficção, poesia e documento, as memórias, individual e coletiva, desvelam outras verdades, filtradas pela perspectiva de quem testemunhou fatos e se sensibilizou, de alguma forma, com a violência desencadeada por eles. A busca por verdades, segundo Deleuze, não é um ato de boa vontade como defende a filosofia, que só contempla as verdades abstratas, frutos da inteligência. Para ele, as ideias formadas pela inteligência acabam seguindo uma vertente lógica composta por uma seleção arbitrária de fatos. Essas ideias

  • 28 Deleuze, Gilles, Proust e os signos (Tradução: Antônio Carlos Piquet e Roberto Machado, 2. ed.), Ri (...)

São gratuitas porque nascidas da inteligência, que somente lhes confere uma possibilidade, e não de um encontro ou de uma violência, que lhes garantiria a autenticidade. As ideias da inteligência só valem por sua significação explícita, portanto convencional. Um dos temas em que Proust mais insiste é este : a verdade nunca é fruto de uma boa vontade prévia, mas o resultado de uma violência sobre o pensamento. As significações explícitas e convencionais nunca são profundas ; somente é profundo o sentido, tal como aparece encoberto e implícito num signo interior.28

33A proposta de Deleuze pode servir como reforço à condição de autoridade do discurso de Jorge Amado. Em seu romance, ele é impelido a falar de verdades históricas porque foi afetado por elas. Ele fala em nome de um povo, cede-lhe a voz, mas se insere como o menino guardião do relato e, com isso, sai do lugar de poder ocupado por todos aqueles que pretendem falar em nome de outros, pois o menino é também parte dessa alteridade a que o discurso pretende privilegiar. Só um menino nativo, que gostasse de histórias, poderia transmitir o legado histórico e cultural de memórias brotadas da « melhor terra do mundo para o plantio de cacau, aquela terra adubada com sangue », a terra da nação grapiúna.

Haut de page

Bibliographie

Amado, Jorge, O menino grapiúna (Ilustrações de Floriano Teixeira, 9. ed.), Rio de Janeiro : Record, 1986.

Amado, Jorge, Navegação de cabotagem : apontamentos para um livro de memórias que jamais escreverei (Ilustrações de Anna Letycia et alli, 2. ed.), Rio de Janeiro : Record, 1992.

Amado, Jorge, Terras do sem fim (Ilustrações de Clóvis Graciano, 57. ed.), Rio de Janeiro : Record, 1995.

Benjamin, Walter, « O narrador – considerações sobre a obra de Nicolai Leskov »,. in Magia e técnica, arte e política : ensaios sobre literatura e história da cultura (Tradução : Sérgio Paulo Rouanet, 7. ed.), São Paulo : Brasiliense, 1994.

Candido, Antonio, Brigada ligeira e outros escritos, São Paulo : Editora da UNESP, 1992.

Cadernos de literatura brasileira – edição Jorge Amado. Instituto Moreira Salles, n° 3. São Paulo, março de 1997.

Deleuze, Gilles, Proust e os signos (Tradução : Antônio Carlos Piquet e Roberto Machado, 2. ed.), Rio de Janeiro : Forense Universitária, 2010.

Halbwachs, Maurice, A memória coletiva (Tradução : Beatriz Sidou), São Paulo : Centauro, 2006.

Lejeune, Philippe, O pacto autobiográfico : de Rousseau à internet (Organização : Jovita Maria Gerheim Noronha, Tradução : Jovita Maria Gerheim Noronha e Maria Inês Coimbra Guedes), Belo Horizonte : Editora UFMG, 2008.

Mahony, Mary Ann, « Um passado para justificar o presente : memória coletiva, representação histórica e dominação política » in Cadernos de Ciências Humanas – Especiaria. Universidade Estadual de Santa Cruz. v. 10, n° 18, jul-dez 2007, p. 737–793. Disponível em :
http://www.uesc.br/revistas/especiarias/ed18/traducao_mahony.pdf. Acessado em 12/05/2012.

Pereira, Élvya Ribeiro, « Os lugares da utopia : uma leitura de Tocaia Grande », in Olivieri-Godet Rita e Penjon Jacqueline, Jorge Amado : leituras e diálogos em torno de uma obra, Salvador : FCJA, 2004.

Haut de page

Notes

1 Cadernos de literatura brasileira (edição Jorge Amado), Instituto Moreira Salles. n° 3. São Paulo, março de 1997, p. 45.

2 Amado, Jorge, Navegação de cabotagem: apontamentos para um livro de memórias que jamais escreverei (Ilustrações de Anna Letycia et alli, 2. ed.), Rio de Janeiro: Record, 1992, p. III.

3 Amado, Jorge, O menino grapiúna (Ilustrações de Floriano Teixeira, 9. ed.), Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 57-58.

4 Benjamin, Walter, « O narrador – considerações sobre a obra de Nicolai Leskov », in Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura (Tradução: Sérgio Paulo Rouanet, 7. ed.), São Paulo: Brasiliense, 1994 (Obras escolhidas, v. 1), p. 198-199.

5 Amado, Jorge, Op.Cit., p. 13-14.
* Para maior clareza na compreensão e localização das citações, as referências ao romance Terras do sem fim e à autobiografia O menino grapiúna presentes no corpo do texto serão apresentadas com a repetição dos títulos das obras e as páginas.

6 Amado, Op.Cit., p. 25.

7 Lejeune, Philippe, O pacto autobiográfico: de Rousseau à internet (Organização: Jovita Maria Gerheim Noronha. Tradução: Jovita Maria Gerheim Noronha e Maria Inês Coimbra Guedes), Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008, p. 57.

8 Pereira, Élvya Ribeiro, « Os lugares da utopia: uma leitura de Tocaia Grande », in Olivieri-Godet, Rita e Penjon, Jacqueline, Jorge Amado: leituras e diálogos em torno de uma obra, Salvador: FCJA, 2004, p. 146-147.

9 Cf. Mahony, Mary Ann, « Um passado para justificar o presente: memória coletiva, representação histórica e dominação política », in Cadernos de Ciências Humanas – Especiaria, Universidade Estadual de Santa Cruz. v. 10, n° 18, jul-dez 2007, p. 737–793. Também disponível em :
http://www.uesc.br/revistas/especiarias/ed18/traducao_mahony.pdf. Acessado em 12/05/2012.

10 Pereira, Élvya Ribeiro, Op.Cit., p. 149.

11 Amado, Jorge, Op.Cit., p. 71-72, grifos meus.

12 Idem, p. 51.

13 Amado, Jorge, Terras do sem fim (Ilustrações de Clóvis Graciano, 57. ed.), Rio de Janeiro: Record, 1995, p. 61-62.

14 Amado, Jorge, O menino grapiúna, p. 58.

15 Amado, Jorge, Terras do sem fim, p. 122.

16 Idem, p. 124.

17 Candido, Antônio, Brigada ligeira e outros escritos, São Paulo: Editora da UNESP, 1992, p. 55.

18 Amado, Jorge, O menino grapiúna, p. 111.

19 Idem, p. 118.

20 Amado, Jorge, Terras do sem fim, p. 285, grifos meus.

21 Idem, p. 286.

22 Halbwachs, Maurice, A memória coletiva (Tradução: Beatriz Sidou), São Paulo: Centauro, 2006, p. 90, grifos meus.

23 Amado, Jorge, O menino grapiúna, p. 290.

24 Candido, Antonio, Op.Cit., p. 49.

25 Mahony, Mary Ann, Op.Cit., p. 776-777.

26 Amado, Jorge, Terras do sem fim, p. 94.

27 Amado, Jorge, O menino grapiúna, p. 62.

28 Deleuze, Gilles, Proust e os signos (Tradução: Antônio Carlos Piquet e Roberto Machado, 2. ed.), Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p. 15.

Haut de page

Pour citer cet article

Référence électronique

Mírian Sumica Carneiro Reis, « A invenção da memória e da identidade em O menino grapiúna e Terras do Sem Fim »Amerika [En ligne], 10 | 2014, mis en ligne le 30 juin 2014, consulté le 13 décembre 2024. URL : http://0-journals-openedition-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/amerika/4888 ; DOI : https://0-doi-org.catalogue.libraries.london.ac.uk/10.4000/amerika.4888

Haut de page

Auteur

Mírian Sumica Carneiro Reis

Universidade Federal do Rio de Janeiro
miriansumica@gmail.com

Haut de page

Droits d’auteur

CC-BY-SA-4.0

Le texte seul est utilisable sous licence CC BY-SA 4.0. Les autres éléments (illustrations, fichiers annexes importés) sont « Tous droits réservés », sauf mention contraire.

Haut de page
Rechercher dans OpenEdition Search

Vous allez être redirigé vers OpenEdition Search