Revista Landa: Chamada para publicação 2021/2
Prazo para envio dos trabalhos: 30 de setembro de 2021
“Errare humanum est”
“Errare humanum est” alguém disse em latim e se repetiu infinitas vezes, com não menos conhecidas variações incluindo o coisa-ruim: perseverar no erro é diabólico, de Santo Agostinho a São Bernardo. O provérbio ressurge inclusive na música popular brasileira dos anos 70, na famosa canção homônima de Jorge Ben, fazendo eco às então recentes explorações do espaço extraterrestre da Guerra Fria. De uma maneira ou outra, a frase sempre teve o intuito de consolar a inconsolável humanidade. Mas digamos que o seu melhor atributo consiste no errare e não no humanum, numa certa diabólica errância que refuta um certo humanismo.
Nem ser nem estar, mas errar, errar à vontade, contra o recorrente e maiúsculo Erro da mundialização capitalista, disparado no espaço latino-americano com o colonialismo europeu.
Assim, optamos, optemos por quem tenha optado por errar com minúsculas: são essas poéticas do erro criativo que invocamos aqui nesta Chamada da revista Landa. Da contribuição milionária de todos os erros de Oswald de Andrade ao eterno mal-entendido da fuga para diante de César Aira; das literaturas errabundas e minoritárias de Deleuze e Guattari até o Grupo Erro, desterrado e nosso…
Nestes tempos erráticos e estranhos, e a partir da opção pelo deserto acima mencionada, a revista Landa abre sua chamada para trabalhos que abordem momentos, nuances e cenas desse “escrever errado” que não poucas vezes foi a própria deriva de uma instituição que, como lembrava Georges Bataille, “não é inocente e, culpada, deveria se confessar como tal”.
Trabalhos que não respeitem as normas editoriais não serão aceitos. As normas podem ser consultadas em: http://www.revistalanda.ufsc.br/normas.html
Os originais deverão ser enviados por correio eletrônico ao endereço: revistalanda@gmail.com
Chamada para publicação 2022/1
Prazo para envio dos trabalhos: 10 de março de 2022
No entre-lugar, o capitalismo realmente existente
Em artigo de 1986, assim como em Postmodernism, or, The Cultural Logic of Late Capitalism (1991), Fredric Jameson elaborava uma distinção entre as literaturas primeiro e terceiromundistas, que se processaria por díspares níveis de consciência em relação com a própria situação no sistema-mundo. Desse modo, enquanto a lógica do imperialismo cultural produziria uma visão epistemologicamente viciada, que reduziria seus objetos às ilusões de uma multidão de subjetividades fragmentadas, a cultura do chamado “terceiro mundo” tenderia a um materialismo que frequentemente produziria alegorias sociais como uma maneira de cartografar a própria situação no quadro da totalidade que denominamos capitalismo.
Sem dúvida, essa diferença deve seus pressupostos à dialética do amo e do escravo, que Hegel, Marx, e depois Lukács, elaboraram, que tem como pressuposto fundamental a ideia de que é privilégio epistemológico dos dominados compreender sua própria situação. O amo está petrificado, mas o escravo não o está em absoluto. Enquanto o primeiro precisa de uma prolongação das condições existentes para preservar o seu privilégio, o segundo sabe da necessidade de modificação dessas condições na sua luta por reconhecimento.
Silvia Rivera Cusicanqui e José Carlos Mariátegui, talvez questionando alguns dos termos de Jameson, e certamente evidenciando a imensa heterogeneidade que cabe no que ele chama de “terceiro mundo”, partilhariam entretanto a ideia de um privilégio materialista dos dominados, e a tendência de um pensamento, situado ao sul da geopolítica do conhecimento, a se posicionar, não somente em prol do reconhecimento, mas também no agir e escrever contra as condições existentes.
Na sua quarta fase, o capitalismo se apresenta do mesmo modo que esses enormes prédios de fachadas espelhadas que se tornaram o estilo arquitetônico preferencial das instituições financeiras: sem profundidade, dá ao usuário aquilo que o usuário demanda, em forma de imagem. O imperialismo cultural, que muito avançou desde os tempos do artigo de Jameson, e também via teoria, nos devolve o que sobre ele projetamos: na passagem do século XX ao século XXI, nos levou a uma crítica da sociedade disciplinar que acabou dando insumos à sociedade de controle; a um abstrato anti-estatalismo que confluiu com os interesses neo-liberais; a um abandono da hipótese socialista que deplorou o “socialismo realmente existente” sem combater o capitalismo realmente existente; a uma crítica do conhecimento que inclusive na sua inflexão biopolítica pode estar hoje tendendo aos mais abstrusos negacionismos; a uma crítica do antropoceno que acalenta o discurso de um capitalismo protecionista do meio ambiente.
Hoje, que as condições impostas pela pandemia se somam à tabula rasa neoliberal, sabemos que não há sobrevivência sem política, que não há saúde sem cuidado, que o capital privado não existe para nos cuidar, que o estado –entendido como um espaço poroso, heterogêneo e contingente– é um dispositivo que podemos, e devemos, reapropriar.
Podemos, portanto, afirmar que estamos em situação de Double bind, capturados entre imperativos conflitantes que não podemos nem ignorar nem simplesmente satisfazer. Habitando a contradição, a contemporaneidade regional, pelo lado micro, nos empurra à derrota de nos pensarmos apenas como sobreviventes, ou reexistentes, sem possibilidades de luta; por outro, pelo lado macro, nos leva à criação de grandes mapas que, coincidindo em magnitude com o mapa do império, também tendem a mimetizar sua ruína.
Entre a cartografia cognitiva e a alienação subjetivista, haverá uma alternativa para o entre-lugar? Existirá essa alternativa agora que nos perguntamos se combatendo entre nós o fantasma do outro, não teremos deixado de ouvir os nossos próprios espectros? Não teremos nos resignado a esse cinismo das democracias formais? América Latina não terá sido tomada por isso que Mark Fisher denominava realismo capitalista? O entre-lugar, não terá se tornado um lugar confortável? Há literaturas e artes que, na América Latina da passagem do século XX ao XXI, tenham elaborado e confrontado o capitalismo realmente existente? De que maneiras isso aconteceu e acontece?
É a partir dessas perguntas que a revista Landa abre sua chamada para trabalhos que abordem essa passagem entre realismo e real. Convidamos os interessados e interessadas a pensar essa passagem nas artes e nas literaturas das Américas e de suas sombras.
Trabalhos que não respeitem as normas editoriais não serão aceitos. As normas podem ser consultadas em: http://www.revistalanda.ufsc.br/normas.html
Os originais deverão ser enviados por correio eletrônico ao endereço: revistalanda@gmail.com
Prazo para envio dos trabalhos: 10 de março de 2022
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